sexta-feira, 6 de julho de 2007

Série nr º 1 - BIOCOMBUSTÍVEIS - A internacionalização do genocídio


Em artigo publicado no "Granma", o presidente de Cuba e líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, denuncia a tentativa de Bush, diante do iminente esgotamento a que o domínio dos cartéis e monopólios levaram a matriz energética dos EUA, de utilizar áreas dedicadas à produção de alimentos para postergar o fim de um modelo de desperdício à custa de mais exploração sobre o mundo

FIDEL CASTRO

A reunião de Camp David acaba de terminar. Todos escutamos com interesse a entrevista coletiva dos presidentes dos Estados Unidos da América e do Brasil, bem como as notícias referentes à reunião e as opiniões expressas.

Diante das demandas do seu visitante brasileiro quanto às tarifas alfandegárias e aos subsídios que protegem e apóiam a produção norte-americana de etanol, Bush não fez a mais mínima concessão em Camp David.

O presidente Lula atribuiu isso ao encarecimento do milho que, de acordo com suas palavras, aumentou em mais de 85%.

Já antes, o jornal The Washington Post publicou o artigo da máxima autoridade do Brasil, em que expôs a idéia de converter os alimentos em combustível.

Não é minha intenção magoar o Brasil, nem me intrometer em assuntos relativos à política interna desse grande país. Foi precisamente no Rio de Janeiro, sede da Reunião Internacional sobre o Meio Ambiente, há exatamente 15 anos, onde denunciei com veemência, num discurso de 7 minutos, os perigos ambientais que ameaçavam a existência de nossa espécie. Naquela reunião estava presente Bush pai, como presidente dos Estados Unidos, que, num gesto de cortesia, bateu palmas perante aquelas palavras, como também o fizeram os outros presidentes.

Ninguém em Camp David respondeu à questão fundamental. Onde e quem vai fornecer os mais de 500 milhões de toneladas de milho e de outros cereais de que os Estados Unidos, a Europa e os países ricos precisam para produzir a quantidade de galões de etanol que as grandes empresas norte-americanas e de outros países exigem como contrapartida de seus enormes investimentos? Onde e quem vai produzir a soja, as sementes de girassol e a colza, cujos óleos essenciais esses mesmos países ricos vão converter em combustível?

BALANÇO

Um número de países produz e exporta seus excedentes de alimentos. O balanço entre exportadores e consumidores era já tenso, disparando os preços desses produtos. Em prol da brevidade, não tenho outra alternativa do que me limitar a assinalar o seguinte:

Os cinco produtores principais de milho, cevada, sorgo, centeio, aveia e outros cereais que Bush quer converter em matéria-prima para produzir etanol, fornecem ao mercado mundial, segundo dados recentes, 679 milhões de toneladas. Por sua vez, os cinco consumidores principais, alguns dos quais também são produtores desses grãos, precisam atualmente de 604 milhões de toneladas por ano. O excedente disponível se reduz para menos de 80 milhões de toneladas.

Esse esbanjamento colossal de cereais para produzir combustível, sem incluir as sementes oleaginosas, apenas serviria para poupar aos países ricos menos de 15% do consumo anual de seus automóveis vorazes.

Bush, em Camp David, declarou a sua intenção de aplicar essa fórmula em nível mundial, o que não significa outra coisa senão a internacionalização do genocídio.

O presidente do Brasil, em sua mensagem publicada pelo The Washington Post, na véspera do encontro em Camp David, afirmou que menos de 1% da terra cultivável brasileira é dedicada à cana para a produção de etanol. Essa superfície é quase o triplo daquela que se empregava em Cuba quando se produziam quase 10 milhões de toneladas de açúcar, antes da crise da URSS e da mudança climática.

O nosso país leva mais tempo produzindo e exportando açúcar, no início com base no trabalho dos escravos que chegaram a ser mais de 300 mil nos primeiros anos do século XIX, e converteram a colônia espanhola no primeiro exportador do mundo. Quase cem anos depois, nos primórdios do século XX, na pseudo-república, cuja plena independência frustrou a intervenção norte-americana, só imigrantes antilhanos e cubanos analfabetos carregavam o peso da cultura e do corte da cana. A tragédia de nosso povo era o chamado tempo morto, pelo caráter cíclico dessa cultura. Os canaviais eram propriedade de empresas norte-americanas ou de grandes latifundiários de origem cubana. Portanto, temos acumulado mais experiência do que qualquer outro sobre o efeito social dessa cultura.

No domingo passado, 1º de abril, a CNN informava a opinião de especialistas brasileiros que afirmam que muitas das terras dedicadas à cultura da cana foram adquiridas por norte-americanos e europeus ricos.

Nas minhas reflexões publicadas em 29 de março expliquei os efeitos da mudança climática em Cuba, ao qual se acrescentam outras características tradicionais do nosso clima.

Na nossa ilha, pobre e longe do consumismo, não haveria sequer pessoal suficiente para suportar os duros rigores do cultivo e do atendimento aos canaviais no meio do calor, das chuvas ou das secas crescentes. Quando açoitam os furacões, nem sequer as maquinarias mais perfeitas podem fazer a colheita das canas caídas e retorcidas. Durante séculos não existiu o hábito de queimá-las, nem o solo era compactado sob o peso de maquinarias complexas e caminhões enormes; os fertilizantes nitrogenados, à base de potássio e fosfóricos, hoje muito custosos, nem sequer existiam, e os meses secos e úmidos se alternavam regularmente. Na agricultura moderna não há rendimentos elevados possíveis sem a rotação das culturas.

A Agência Francesa de Imprensa transmitiu no domingo, 1º de abril, informações preocupantes a respeito da mudança climática, que peritos reunidos pelas Nações Unidas consideram como uma coisa já inevitável e de graves conseqüências nas próximas décadas.

"A mudança climática afetará consideravelmente o continente americano, pois gerará mais tormentas violentas e ondas de calor, que na América Latina provocarão secas, com a extinção de espécies e, inclusive fome", segundo o relatório da ONU que deve ser aprovado na semana próxima, em Bruxelas.

"No fim deste século, cada hemisfério sofrerá problemas de água e, se os governos não tomarem medidas, o aumento de temperaturas incrementará os riscos de ‘mortalidade, poluição, catástrofes naturais e doenças infecciosas", adverte o Painel Intergovernamental da Mudança Climática (IPCC).

"Na América Latina, o aquecimento já está degelando os glaciais dos Andes e ameaça a floresta Amazônica, cujo perímetro pode ir se tornando numa savana", continua afirmando o telex.

"Por causa da grande quantidade de pessoas que vive perto das costas, os Estados Unidos também se expõem a fenômenos naturais extremos, como o demonstrou o furacão Katrina em 2005."

"Este é o segundo relatório do IPCC de uma série de três, que se iniciou em fevereiro passado com um primeiro diagnóstico científico onde se estabelecia a certeza da mudança climática."

"Nesta segunda entrega de 1.400 páginas, em que é analisada a mudança por setores e regiões e da qual a AFP obteve uma cópia, considera-se que, embora sejam tomadas medidas radicais para reduzir as emissões de dióxido de carbono à atmosfera, o aumento das temperaturas em todo o planeta, nas próximas décadas, já é certo", conclui a informação da agência francesa de notícias.

CAVALHEIRO

Como era de esperar, Dan Fisk, assessor de Segurança Nacional para a região, declarou no mesmo dia da reunião de Camp David que "na discussão de assuntos regionais, o tema de Cuba seria um deles, e não precisamente para abordar o tema do etanol — a respeito do qual o presidente convalescente Fidel Castro escreveu um artigo na quinta-feira — mas o da fome que tem criado no povo cubano".

Diante da necessidade de responder a este cavalheiro, vejo-me no dever de lembrar-lhe que o índice de mortalidade infantil em Cuba é menor que o dos Estados Unidos. Pode se garantir que não existe nenhum cidadão sem assistência médica gratuita. Todo mundo estuda e ninguém carece de oferta de trabalho útil, apesar de quase meio século de bloqueio econômico e da tentativa dos governos dos Estados Unidos da América de renderem o povo cubano mediante a fome e a asfixia econômica.

A China jamais empregaria uma só tonelada de cereais ou de leguminosas para a produção de etanol. Trata-se de uma nação de economia próspera, que ultrapassa recordes de crescimento, onde nenhum cidadão deixa de receber as rendas necessárias para bens essenciais de consumo, apesar de que 48% de sua população, que ultrapassa os 1,3 bilhões de habitantes, trabalha na agricultura. Antes pelo contrário, propôs-se fazer poupanças consideráveis de energia, eliminando milhares de fábricas que consomem cifras inaceitáveis de eletricidade e hidrocarbonetos. Muitos dos alimentos mencionados eles os importam de qualquer canto do mundo, após transportá-los milhares de quilômetros.

Dezenas e dezenas de países não produzem hidrocarbonetos e não podem produzir milho e outros grãos, nem sementes oleaginosas, porque a água não dá para cobrir suas necessidades mais elementares.

Numa reunião convocada em Buenos Aires pela Câmara da Indústria de Óleos e pelo Centro de Exportadores sobre a produção de etanol, o holandês Loek Boonekamp, diretor de Mercados e Comércio Agrícola da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), declarou à imprensa: "Os governos ficaram muito entusiasmados; deveriam ter um olhar frio sobre se deve existir apoio tão forte ao etanol".

"A produção de etanol apenas é viável nos Estados Unidos; em nenhum outro país, a não ser que sejam aplicados subsídios".

"Isto não é maná do céu e não temos que nos comprometer cegamente", continua o telex. "Hoje os países desenvolvidos incentivam para que os combustíveis fósseis sejam misturados com biocombustíveis em cerca de 5%, e isso já pressiona sobre os preços agrícolas. Se esse corte aumentasse para 10%, seria necessário 30% da superfície plantada nos Estados Unidos e 50% da Europa. Por isso, pergunto se isso é sustentável. O aumento da demanda de cultivos para o etanol produzirá preços mais altos e instáveis."

As medidas protecionistas hoje se elevam a US$ 0,54 por galão e os subsídios reais atingem cifras muito mais altas.

Aplicando a simples aritmética que aprendemos no segundo grau, se comprovaria que a simples mudança das lâmpadas incandescentes por fluorescentes, como expressei na minha reflexão anterior, contribuiria com uma poupança de investimento e de recursos energéticos equivalente a trilhões de dólares, sem utilizar um só hectare de terra agrícola.

Enquanto isso, notícias públicas procedentes de Washington afirmam textualmente através da AP: "O misterioso desaparecimento de milhões de abelhas em todo o território dos Estados Unidos tem deixado os apicultores à beira do ataque de nervos e preocupa inclusive o Congresso, que irá debater nesta quinta-feira a crítica situação de um inseto chave para o setor agrícola".

"Os primeiros sinais sérios deste enigma surgiram pouco depois do Natal no estado da Flórida, quando os apicultores se deram conta de que as abelhas tinham se dissipado".

"Desde então, a síndrome que os peritos batizaram como o Problema do Colapso das Colméias (CCD, pelas siglas em inglês), tem diminuído em 25% os enxames do país".

"Foi perdido mais de meio milhão de colônias de abelhas, com uma população ao redor de 50 mil abelhas cada uma", disse Daniel Weaver, presidente da Federação Norte-americana de Apicultores, que sublinhou que o mal afeta aproximadamente 30 dos 50 estados do país. O curioso do fenômeno é que em muitos dos casos não se encontram restos mortais.

"Os laboriosos insetos polinizam cultivos avaliados entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões, segundo um estudo da Universidade de Cornell".

"Os cientistas levantam todas as hipóteses, dentre elas, a de que algum pesticida tenha provocado danos neurológicos nas abelhas e alterado o seu sentido da orientação. Outros culpam a seca, e inclusive, as ondas dos telefones celulares, mas o certo é que ninguém sabe na verdade qual é o verdadeiro motivo desencadeante."

GUERRA

O pior pode estar por acontecer: uma nova guerra para garantir os fornecimentos de gás e petróleo, que coloque a espécie humana à beira do holocausto total.

Há órgãos de imprensa russos que, invocando fontes de inteligência, têm informado que a guerra contra o Irã vem sendo preparada em todos os seus detalhes há mais de três anos, no dia em que o governo dos Estados Unidos da América decidiu ocupar Iraque na sua totalidade, desatando uma guerra civil odiosa e interminável.

Enquanto isso, o governo norte-americano destina centenas de bilhões de dólares ao desenvolvimento de armas de tecnologia altamente sofisticada, como as que utilizam sistemas microeletrônicos, ou novas armas nucleares que poderiam estar sobre os alvos uma hora depois de terem recebido a ordem.

Os Estados Unidos ignoram olimpicamente que a opinião mundial é contra todo o tipo de armas nucleares.

Demolir até a última fábrica iraniana é uma tarefa técnica relativamente fácil para um poder como o dos Estados Unidos. O difícil poderia vir depois se uma nova guerra for desencadeada contra outra crença muçulmana que merece todo o nosso respeito, como as outras religiões dos povos do Oriente Próximo, Médio ou Extremo, anteriores ou posteriores ao cristianismo.

A captura dos soldados ingleses nas águas jurisdicionais do Irã parece uma provocação exatamente igual à dos chamados "Irmãos ao Resgate", quando violando as ordens do presidente Clinton avançavam sobre as águas da nossa jurisdição e a ação defensiva de Cuba, absolutamente legítima, serviu de pretexto ao governo dos Estados Unidos para promulgar a famosa Lei Helms-Burton, que viola a soberania de outros países. Poderosos meios massivos de publicidade sepultaram no esquecimento aquele episódio. Não são poucos os que atribuem o preço do petróleo de quase US$ 70 por barril, atingido na segunda-feira, aos temores de um ataque ao Irã.

De onde os países pobres do Terceiro Mundo vão tirar os recursos mínimos para sobreviverem?

Não exagero, nem uso palavras desmedidas, atenho-me aos fatos.

Como pode ser constatado, são muitas as faces obscuras do poliedro.

3 de Abril de 2007



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Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

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