sexta-feira, 29 de junho de 2007

Dialética do Esclarecimento - 60 anos

Jun 26th, 2007 by Isabela

Primeira capa de Dialektik der AufklärungA “Diálética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos” de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer embora concluída em 1944 ainda durante a guerra, saiu pela primeira vez em 1947 pela Editora Querido em Amsterdam com o título Dialektik der Aufklärung.

Para comemorar os sessenta anos deste clássico, uma obra rica, fascinante e ainda muito atual, trago capa da primeira edição (à esquerda), capas reduzidas de edições em alguns países e citações extraídas da edição traduzida por Guido Antônio de Almeida (professor de filosofia da UFRJ), publicada pela Jorge Zahar Editor.

Do Prefácio: “Se uma parte do conhecimento consiste no cultivo e no exame atentos da tradição científica (especialmente onde ela se vê entregue ao esquecimento como um lastro inútil pelos expurgadores positivistas), em compensação, no colapso atual da civilização burguesa, o que se torna problemático é não apenas a atividade, mas o sentido da ciência. (p. 11). […] Não alimentamos dúvida nenhuma — e nisso reside nossa petitio principii — de que a liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecedor. (p. 13). […] A naturalização dos homens hoje em dia não é dissociável do progresso social. O aumento da produtividade econômica, que por um lado produz as condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. (p. 14). […] A enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo” (p. 15).

Do capítulo O Conceito de Esclarecimento: “No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. (p. 19 — talvez a parte mais conhecida da obra, não poderia deixar de citá-la) […] O esclarecimento é totalitário. (p. 22) […] Do medo o homem presume estar livre quando não há nada mais de desconhecido. (p. 29) […] A essência do esclarecimento é a alternativa que torna inevitável a dominação. Os homens sempre tiveram de escolher entre submeter-se à natureza ou submeter a natureza ao eu. (p. 43) […] A maldião do progresso irrefreável é a irrefreável regressão. (p. 46 — uma das minhas favoritas). […] É da imaturidade dos dominados que se nutre a hipermaturidade da sociedade.” (p. 47)

“No mundo da troca, quem está errado é quem dá mais; o amante, porém, é sempre o que ama mais.” (Do Excurso I — Ulisses ou Mito e Esclarecimento, p. 75)

Dialética do EsclarecimentoDo capítulo A Indústria Cultural: “O que é novo na fase da cultura de massas […] é a exclusão do novo. A máquina gira sem sair do lugar. Ao mesmo tempo que já determina o consumo, ela descarta o que ainda não foi experimentado porque é um risco. É com desconfiança que os cineastas consideram todo manuscrito que não se baseie, para tranqüilidade sua, em um best-seller. Por isso é que se fala continuamente em idea, novelty e surprise, em algo que seria ao mesmo tempo familiar a todos sem jamais ter ocorrido. (p. 127) […] Divertir significa sempre: não ter que pensar nisso, esquecer o sofrimento até mesmo onde ele é mostrado. (p. 135) […] O que se busca é assistir e estar informado, o que se quer é conquistar prestígio e não se tornar um conhecedor.” (p. 148)

Dialética do EsclarecimentoO conceito armchair thinking que eles desenvolveram é muito interessante e também vale a pena ser citado. A nota do tradutor diz que literalmente, armchair thinking é “pensamento de poltrona; pensamento ocioso, que não se baseia na prática ou na experiência, especulação.” É do capítulo Elementos do Anti-Semitismo, p. 188, que extraio esta pérola, para finalizar:

Na era do vocabulário básico de trezentas palavras, a capacidade de julgar e, com ela, a distinção do verdadeiro e do falso estão desaparecendo. Na medida em que o pensamento deixa de representar uma peça do equipamento profissional, sob uma forma altamente especializada em diversos setores da divisão de trabalho, ele se torna suspeito, como um objeto de luxo fora de moda: “armchair thinking“.

Dialectic of Enlightenment Dialectic of Enlightenment La Dialectique de la Raison Dialéctica de la Ilustración

O mundo depois de 11 de setembro

Otávio Ianni

No curso dos tempos modernos, de vez em quando a história revela-se inexorável e errática, assustadora e fascinante. Tudo o que parecia estabelecido, quieto em sua calma, mesmo alheio e distante, de repente pode revelar-se instável, abalado, fora do lugar, estranho. A despeito de que tudo continue aonde estava, quieto em sua calma, de repente já não é mais o mesmo. Modifica-se a sua expressão, significado ou entonação. Tanto é assim, que indivíduos ou coletividades logo são presos. Susto e desespero ou entusiasmo e alucinação.

São muitos os acontecimentos que assinalam tanto continuidades quanto descontinuidades, rupturas e reo-rientações, progressos e decadências, glórias e desilusões. Na vida dos povos e nações, bem como de indivíduos e coletividades, ocorrem acontecimentos que assinalam o possível e o impossível, o evidente e o inexplicável. Em alguns casos o acontecimento assinala nitidamenta que termina um processo, uma época; que se inicia algo desconhecido, podendo ser não só surpreendente, mas terrificante e entusiasmante. É provável que tenha sido assim: em 1492, quando Colombo deu a notícia de que chegou ao outro lado do mundo, logo corrigida por Vespúcio, anunciando o Novo Mundo; em 1789, quando ocorre a notícia da queda da Bastilha; em 1917, quando os bolchevistas tomam o Palácio de Inverno em São Petersburgo; e em 11 de setembro de 2001, quando as imagens divulgadas mundialmente mostram que as torres gêmeas do World Trade Center, em New York, e um dos ângulos do Pentágono, em Washington, estão desabando.

Esta é a idéia: há acontecimentos que adquirem significados e conotações excepcionais, reveladores. São eventos heurísticos, por suas implicações históricas e teóricas. Podem ser vistos como experimentos científicos, já que tornam mais explícitos nexos, continuidades, descontinuidades, tensões e contradições insuspeitas em um momento anterior. É como se fosse uma explosão, atingindo a realidade e o imaginário, de tal maneira que logo se distinguem melhor relações, processos e estruturas de dominação e apropriação recônditos, que não se percebiam. De repente, abalam-se os quadros sociais e mentais de referência de uns e outros, indivíduos e coletividades, em todo o mundo. Quando desabam as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York e um dos ângulos do Pentágono, em Washington, a opinião pública mundial defronta-se com um acontecimento excepcional, altamente revelador, propriamente heurístico. Com ele abrem-se possibilidades insuspeitadas anteriormente para a interpretação de relações, processos e estruturas de dominação política e apropriação econômica, em escala nacional e mundial. Vários nexos sociais, políticos, econômicos e culturais, de permeio a jogos de forças sociais e operações geopolíticas, logo se tornam mais evidentes, visíveis, transparentes, em escala nacional, regional e mundial.

Em um instante, no centro da maior potência mundial, dois dos seus mais notáveis símbolos são agredidos e desmoronam, arruinados. Em um instante, o poder econômico e o poder militar, compreendendo o monopólio da exploração e o monopólio da violência, são postos em causa , deixando de ser intocáveis. São as duas principais alavancas da supremacia das elites governantes e classes dominantes norte-americanos no mundo. Simbolizam as teias, redes ou sistemas com os quais essas elites e classes se associam com elites governantes e classes dominantes da maioria das nações do mundo. Nesse sentido é que o mundo assiste atônito e assustado, surpreendido e fascinado, o desabar de dois pilares do neoliberalismo e do ocidentalismo, isto é, do capitalismo. Em pouco tempo, em todo o mundo, muitos se dão conta de que muita coisa saiu do lugar; o que parecia estabelecido, quieto em sua calma, revela-se desconhecido. De repente instala-se a descontinuidade, instabilidade, aflição, medo, terror. O que parecia um acidente de engenharia, arquitetura ou urbanismo, logo se revela acontecimento histórico, com implicações econômicas, políticas, sociais e culturais. Abala-se o mapa do mundo, movendo-se territórios e fronteiras, expectativas e horizontes, ideais e convicções, glórias e ilusões.

São várias e muito importantes as revelações com as quais se defrontam indivíduos e coletividades, povos e nações, em todo o mundo.

Primeiro, logo fica evidente que está em marcha a globalização do terrorismo. Seja pelas intenções dos seus agentes, assim como pelos efeitos provocados pelos seus atos, bem como pelas reações em geral, particularmente das elites governantes e classes dominantes, em todo o mundo, o ataque terrorista do dia 11 de setembro de 2001 assinala mais um aspecto importante da globalização de tensões sociais. As motivações de seus agentes podem ter sido anárquicas ou niilistas, reacionárias ou revolucionárias, em todos os casos, no entanto, estão em causa tensões sociais importantes ou incidentais, mas mundiais. Aí estão o ocidentalismo e o orientalismo, o islamismo e o cristianismo, em geral acionados pelo capitalismo.

Segundo, o que se apresentou de início como um “ataque terrorista” logo se revela um ato político da maior importância, desdobrando-se em um processo político de ampla envergadura, compreendendo a guerra e a coalisão de paises contra o terrorismo; a mobilização da máquina de guerra da mais poderosa nação do mundo contra a mais débil nação do mundo; a pretexto de combater o terrorismo, mobilizando o terrorismo de Estado. Em poucos dias, praticamente o mundo todo se viu direta e indiretamente envolvido na guerra pela “justiça infinita”, pela “liberdade duradoura”, contra as nações classificadas pelas elites governantes e classes dominantes norte-americanas e de outras nações da coalisão como pertencentes ao “eixo do mal”. Assim, logo fica evidente, para muitos, em todo mundo, qual é a geopolítica em que se baseia a diplomacia norte-americana. Diante do ataque terrorista, antes mesmo de saber quais seriam os indivíduos, grupos, organizações, ou instituições responsáveis, logo se declara a retaliação, a guerra, o ataque terrorista da mais poderosa potência mundial contra a mais frágil das nações. Em lugar da negociação, inclusive da negociação possível através da Organização das Nações Unidas (ONU ), deflagram-se as fúrias do capital, com os braços armados visíveis e invisíveis, ostensivos e clandestinos; com a cumplicidade e colaboração de nações européias. Em face de um ataque de terrorismo, partindo de alguma parte de uma nação classificada como pertencente ao “eixo do mal”, deflagra-se uma “guerra assimétrica” e fundamentalista desde que o que se autodenomina “eixo do bem”. Ao mesmo tempo, ou principalmente, as elites governantes e classes dominantes norte-americanas instalam-se no Afeganistão, ocupando uma posição geopolítica importante na Ásia Central.

Terceiro, o acontecimento do dia 11 de setembro de 2001, pode ser visto, simultaneamente, como “ataque terrorista”, “ato político” e ação revolucionária. Tanto em si, pelos objetivos e símbolos que atinge como pelo vasto processo político que deflagra, adquire uma radicalidade surpreendente e generalizada. Pela primeira vez na história da supremacia mundial dos Estados Unidos da América do Norte fica comprovado, para uns e outros, nos Estados Unidos e em todo o mundo, que a mais poderosa potência mundial é vulnerável. Uma potência imperial cujas elites governantes e classes dominantes sempre apresentam como excepcional, modelo e farol da humanidade, de repente descobre-se vulnerável, agredida por algum inimigo incógnito, invisível, ubíquo. Em uma manhã de sol, aviões domésticos de passageiros transformam-se em mísseis balísticos intercontinentais, tecendo novas relações transnacionais e explicitando outras, antes pouco evidentes. Um acontecimento com o qual se pode levantar a hipótese de que globalização rima, simultaneamente, com integração, fragmentação e revolução. Quarto, a presença dos Estados Unidos no cenário mundial torna-se ainda mais evidente. A supremacia que se tornara mais explícita com o fim da Guerra Fria, a desagregação do bloco soviético e a transformação do mundo socialista em uma vasta e lucrativa fronteira de expansão do capitalismo mundial, logo se torna escandalosa; com a declaração de guerra, em outubro de 2001, contra o Afeganistão e a promessa de agressão militar aos paises definidos como pertencentes ao “eixo do mal”; tudo isso com ampla colaboração ativa e passiva das elites governantes e classes dominantes de nações européias e e outras partes do mundo, em uma poderosa coalisão do “eixo do bem” contra o “eixo do mal”; em defesa da “civilização ocidental cristã”, do capitalismo em seu novo ciclo de globalização.

Quinto, entra em curso um vasto e pervasivo processo de controle de indivíduos e coletividades da própria sociedade norte-americana e também nas sociedades européias, com ramificações por outras sociedades nacionais asiáticas, africanas e latino-americanas. Está em curso um processo de direitização, com evidentes ingredientes nazifascistas. Reduzem-se ou eliminam-se direitos democráticos conquistados desde difíceis lutas sociais e acentuam-se os controles jurídico-políticos, militares e policiais sobre indivíduos e coletividades, organizações sociais e movimentos sociais; em geral compreendendo intolerâncias étnicas, religiosas e outras, desde a xenofobia e o etnicismo ao racismo e fundamentalismo calvinista secularizado. Esse o clima em que florescem as atividades, organizações, movimentos e correntes nazifascistas. Não se trata de imaginar que o ataque terrorista provoca a direitização de elites governantes, classes dominantes, poderes constituídos e setores da opinião pública. Esse pode ser apenas aparência, impressão superficial. O que ocorre é principalmente, a revelação e o desenvolvimento de situações e potencialidades em larga medida já constituídas. Algo que está em gérmen, logo se manifesta e dissemina. Essa direitização tem raízes na fábrica da sociedade, nacional e mundial, por suas desigualdades e tensões ativas e pervasivas,com as quais fermentam mccarthysmos, fascismos e nazismos, desde o século XX.

As cenas da catástrofe que ocorre em New York, quando desabam as torres gêmeas do World Trade Center, impressionam inclusive pela semelhança com cenas de filmes de catástrofe. Uma parece reprodução, imitação, ou continuação da outra. Uma é o produto de um ataque terrorista, ao passo que a outra é o produto da indústria cultural, na qual germina a cultura do terrorismo. Sim, são muitos, em todo o mundo, que se dão conta de que as cenas da catástrofe que ocorre em New York são cenas da cultura da catástrofe que se desenvolve e difunde pelo mundo por meio da indústria cultural, a começar pelo cinema, a televisão e o romance. Sem esquecer que bombardear as audiências, os leitores e os espectadores com cenas de violência, reais, imaginárias e virtuais, espetacularizadas eletronicamente, pode significar entretenimento e intimidação, informação e indução, catarsis e educação. Sim, as cenas de catástrofe cinematográfica de New York revelaram, para muitos, que a cultura do terrorismo é uma criação permanente, altamente lucrativa, da indústria cultural.

Há décadas a indústria cultural tem lucros crescentes com a fabricação de violências, desastres e catástrofes sociais e naturais. Desde as inovações possíveis com as tecnologias eletrônicas, multiplicaram-se as possibilidades de fabricação de seqüências edificantes e terrificantes, imagináveis e inima-gináveis, mas sempre lucrativas. Sob vários aspectos, pois, a catástrofe de New York é um acontecimento altamente revelador, por suas implicações históricas. Revela-se, simultaneamente, “ataque terrorista”, “ato político” e “ação revolucionária”; abala quadros de referência sociais e mentais de uns e outros, em todo o mundo; suscita interrogações sobre o que está acontecendo no presente, quais poderiam ser suas raízes próximas e distantes desse presente e quais poderão ser os lineamentos possíveis no futuro. Sob vários aspectos, um evento heurístico, com o qual se assinalam impasses fundamentais do novo ciclo de globalização do capitalismo, visto como integração e fragmentação, guerra e revolução. Esta é a idéia: um acontecimento aparentemente banal, ainda que brutal, logo revela-se de significado histórico excepcional, pode ser tomado como um evento heurístico, tanto pelo que revela no imediato, como pelos esclarecimentos que pede e explicita, no que se refere aos antecedentes, às raízes próximas e distantes; e pelo que descortina sobre o futuro. Sim, as imagens e as palavras, os sons e as cores, as formas e os movimentos, o espetáculo multimídia e, também, a catástrofe cinematográfica que aparece com o acontecimento, esclarece aspectos importantes do presente e do passado, bem como aponta para desdobramentos do futuro; inclusive pelas relações que guarda com a modernidade. Aí combina-se a ciência e a técnica, a estratégia e a tática, o sentido de espetáculo e a contundência da mensagem. Muito do que se tem dito e ainda se pode dizer, não só sobre a modernidade em geral mas sobre a modernidade-mundo, revela-se nos clarões multicoloridos das chamas que consomem dois símbolos do capitalismo.

Sim, já são muitos, em todo mundo, os que se apropriam de idéias, técnicas e instituições da modernidade, desenvolvendo-as e redirecionando-as, revertendo suas possibilidades teóricas e práticas, reais e imaginárias; descortinando outras experiências sociais, outros modos de ser, estilos de vida, visões de mundo Esta é uma revelação muito importante, com a qual também se assinala o início do século XXI: já são muitos em todo mundo, os que se mostram inquietos ou indignados com a “diplomacia total” com a qual as elites governantes e as classes dominantes norte-americanas, em associação com as elites governantes e classes dominantes de outras nações, estabelecem e impõem diretrizes econômico-financeira, tecnológicas, políticas, sociais e culturais a outras nações, na África, Ásia, Oceania, América Latina, Caribe Europa Central e Europa Oriental.

O que se revela, de repente, é algo que está ocorrendo desde o fim da Segunda Guerra Mundial: as elites governantes e as classes dominantes norte-americanas conduzem uma guerra sem fim contra cada um e todos os governos e regimes políticos alternativos vigentes ou ensaiados no mundo.

Desde a intervenção nas lutas sociais travadas na Grécia em 1944-49 até a intervenção em curso na Venezuela e no Iraque em 2002, são numerosos os casos de pressões, exigências, bloqueios, desestabilizações, intervenções armadas diretas ou mercenárias e destruições de governos e regimes políticos em todo o mundo. Em todos os casos, a mensagem dos porta-vozes ou ideólogos das elites governantes e classes dominantes norte-americanas, em geral associadas com setores dominantes de nações européias e de outras regiões, sintetiza-se nos seguintes termos: “A Grécia foi salva para o Ocidente”, assim como a Guatemala em 1954, o Irã em 1953, a Indonésia em 1965, o Brasil em 1964, o Chile em 1973, a Nicarágua em 1989, a Venezuela e o Iraque em 2002.

Faz tempo que os povos e nações, governos e regimes políticos, experimentos sociais alternativos de todos os tipos, estão pagando um preço excepcional pela transformação dos Estados Unidos da América do Norte em uma poderosa e mortífera máquina de guerra. Uma máquina de guerra que se movimenta em nome da “democracia” e da “civilização ocidental cristã”, signos com os quais são satanizados povos e nações, culturas e civilizações. Uma máquina de guerra moderna, sofisticada, eletrônica e virtual, com a qual realizam-se operações nos quatro cantos do mundo. A máquina de guerra do complexo industrial militar , com a qual se organiza e expande a “ nova ordem econômica mundial”, o neoliberalismo como prática e ideologia, isto é, o capitalismo.

Tem sido muito alto, altíssimo, o custo de vidas humanas, bem como em experiências sociais alternativas, devido às destruições promovidas pelas operações abertas e clandestinas, diplomáticas e terroristas, desenvolvidas pela geopolítica mundial norte-americana. É como se a humanidade tivesse sido e continuasse sendo mutilada em muito de sua criatividade. Mutilada em vidas humanas, agredida em sua natureza e privada de experiências e perspectivas novas, diferentes, tanto problemáticas e discutíveis como inovadoras e fascinantes. Experiências sociais com as quais poderiam e poderão criar-se novas formas de sociabilidade, outros jogos de forças sociais, diferentes modos de ser, distintos estilos de vida.

Agenda Política em Alegrete - RS


Amanhã reunião PSOL-PCB, 30 de junho as 10:00 horas na sede do SINASEFE, diagonal com os correios. Sua participação é muito importante.

Favor confirmar presença.


"Ousar Lutar,Ousar Vencer"

HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Pré-socráticos

A passagem da consciência mítica e religiosa para a consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega.

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).

Os primeiros filósofos buscam a arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe. A arkhé é o que vem e está antes de tudo, no começo e no fim de tudo, o fundamento, o fundo imortal e imutável, incorruptível de todas as coisas, que as faz surgir e as governa. É a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.

No vasto mundo Grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação de filósofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.

O objetivo dos primeiro filósofos era construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos).

Em outras palavras, os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio substancial (a arché) existente em todos os seres materiais.

Os pré-socráticos ocuparam-se em explicar o universo e examinavam a procedência e o retorno das coisas. Os primeiros filósofos gregos tentaram responder à pergunta: Como é possível que todas as coisas mudem e desapareçam e a Natureza, apesar disto, continua sempre a mesma?

Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um princípio único e fundamental que permanecesse estável junto ao sucessivo vir-a-ser. Tales vai dizer que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado, Anaxímenes, o ar; Heráclito, o fogo; Pitágoras, o número; Empédocles, os quatro elementos: terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única.

Próximo tópico: as reflexões filosóficas de alguns pensadores pré-socráticos

História da Música













Concerto (1485-95) - Óleo de Lorenzo Costa (m. 1535)

A música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) constitui-se basicamente de uma sucessão de sons e silêncio organizada ao longo do tempo. É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função. Também pode ter diversas outras utilidades, tais como a militar, educacional ou terapeutica (musicoterapia). Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais. Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história. Provavelmente a observação dos sons da natureza tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a história da música confunde-se, com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana

quinta-feira, 28 de junho de 2007

A COLUNA PRESTES - UMA EPOPÉIA BRASILEIRA

, por Anita Leocádia Prestes [*]


Quem deixou essas pisadas?
Foi a Coluna que passou.
Quem na mata abriu picadas?
Foi a Coluna e viajou.

e no seu rastro, cavalos,
homens e armas, levou
atrás um feixe de luz
e de esperanças deixou.
Quem deixou essas pisadas?
Foi a Coluna que passou.

Jacinta Passos, A Coluna

estado do Rio Grande do Sul. Logo a seguir tem início a marcha rebelde que, mais tarde, entraria para a História como a Coluna Prestes (ou a Coluna Invicta) – o episódio culminante do movimento tenentista.

A insatisfação no país era geral, mas foi a jovem oficialidade do Exército e da Marinha (os chamados “tenentes”) que assumiu a liderança das oposições. Por quê?

O movimento operário havia crescido e revelado um alto grau de combatividade no final dos anos 10. Entretanto, devido à repressão policial desencadeada contra os trabalhadores e à ausência de um projeto político consistente de parte das lideranças anarco-sindicalistas que dirigiam suas lutas, o movimento operário encontrava-se em declínio no início da década de 20, carecendo de condições para assumir papel de liderança na luta política que começava a sacudir o país.

As oligarquias dissidentes, cujos representantes ocupavam o poder nos estados que, pela sua importância, seriam caracterizados como de segunda grandeza - Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco (os chamados de primeira grandeza eram São Paulo e Minas Gerais) - com o lançamento da chapa denominada Reação Republicana, para concorrer às eleições presidenciais de março de 1922, chegaram a entusiasmar as populações das grandes cidades. Mas, uma vez derrotadas no pleito marcado pela fraude, temiam qualquer tipo de radicalismo. Preferiam o caminho dos entendimentos e das manobras políticas, métodos tradicionalmente empregados pelas classes dominantes no Brasil.

A esmagadora maioria da nação era composta pelas populações rurais, submetidas ao domínio dos “coronéis”, que mantinham seu poder graças ao sistema de troca de favores estabelecido entre os chefes municipais, os governadores dos estados e o próprio presidente da República. Não havia como esperar que viesse a surgir dos setores rurais um movimento capaz de pôr em questão o poder das oligarquias dominantes.

O empresariado industrial vinha crescendo e adquirindo feição própria. Mas continuava, pelas suas origens, profundamente ligado aos setores oligárquicos e aos seus interesses.

As camadas médias urbanas haviam aumentado numericamente e se tornado mais diversificadas, mas tendiam a adotar um comportamento caudatário em relação às oligarquias, revelando-se incapazes de formular uma proposta independente de transformações para o país.

Diante da grave crise estrutural (econômica, social, política, ideológica e cultural), que abalava a República no início dos anos 20 - crise do “pacto oligárquico” estabelecido entre os grupos oligárquicos dominantes -, os setores médios mostravam-se insatisfeitos com a falta de liberdade e as limitadas possibilidades de influir na vida política. Predispunham-se à revolta e a apoiar ações radicais contra o poder oligárquico. Faltavam-lhes, contudo, organização e capacidade de arregimentação para assumir a direção do movimento de rebeldia contra o poder oligárquico estabelecido.

Foi nesse contexto de ausência de forças sociais e políticas capazes de capitalizar o clima de rebeldia existente - principalmente por parte das populações urbanas em todo o país -, transformando o descontentamento generalizado em ação política contra os grupos dominantes, que os “tenentes” assumiram papel de destaque. Como observou o historiador Caio Prado Júnior:

“Se são militares que formam na vanguarda do movimento de regeneração política do Brasil, é que suas armas lhes davam a possibilidade de agir; e não estava ainda em condições de substituí-los a ação das massas populares, desorganizadas e politicamente inativas. Os ‘tenentes’ assumirão por isso a liderança da revolução brasileira.” (Prefácio, in MOREIRA LIMA, Lourenço. A Coluna Prestes – marchas e combates. 3ª ed., S.P., Alfa-Omega, 1979, p. 14.)

O tenentismo veio preencher um espaço: o vazio deixado pela falta de lideranças civis aptas a conduzirem o processo de lutas que começava a sacudir as já caducas instituições políticas da Primeira República. Os “tenentes” assumiram as bandeiras de conteúdo liberal que, há algum tempo, já vinham sendo agitadas pelos setores oligárquicos dissidentes, dentre as quais se destacava a demanda do voto secreto, refletindo o anseio generalizado de liquidação da fraude eleitoral então em vigor. O que distinguia os “tenentes” das oligarquias dissidentes e dava ao seu liberalismo um caráter radical era a disposição de recorrer às armas na luta por tais objetivos.

A primeira revolta tenentista, rapidamente sufocada tanto no Rio de Janeiro como em Mato Grosso – os únicos lugares em que chegou a ser deflagrada -, imortalizou-se pelo episódio do levante dos 18 de Forte de Copacabana, no dia 5/07/1922. Liderados pelo tenente Antônio de Siqueira Campos, um pequeno grupo de jovens militares marchou pela praia de Copacabana, de peito a descoberto, disposto a enfrentar os disparos das tropas governistas. Manchando de sangue as areias de Copacabana, os jovens foram trucidados. Apenas dois conseguiram sobreviver: os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. O episódio repercutiu por todo o Brasil, apesar do estado de sítio e da censura à imprensa, decretados pelo Congresso Nacional. E os nomes dos heróis do Forte tornaram-se símbolo do clima de revolta então existente contra os governos das oligarquias dominantes – os governos de Epitácio Pessoa e do seu sucessor Artur Bernardes.

Ambos representavam, no fundamental, os interesses das oligarquias cafeicultoras de São Paulo e Minas Gerais e, dada a grave crise que abalava as estruturas do regime republicano, adotavam políticas econômicas cada vez mais excludentes em relação aos grupos oligárquicos dos demais estados da União e aos diversos setores da sociedade brasileira da época. O monolitismo das práticas políticas desenvolvidas pelos grupos dominantes provocavam descontentamento crescente no país todo.

Em 5/07/1924, dois anos após o levante de 1922, estourava a Rebelião de São Paulo, inaugurando uma nova onda de revoltas tenentistas. Era o “segundo 5 de julho”. Levantaram-se vários grupamentos policiais e unidades do Exército sediados nesse estado. O comando geral do movimento fora entregue pelos jovens rebeldes ao general reformado do Exército Isidoro Dias Lopes, que contava com a colaboração do major Miguel Costa, comandante da Força Pública de São Paulo (a polícia militar do estado).

O objetivo do movimento era depor o presidente Artur Bernardes, cujo governo transcorria, desde o início, sob estado de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa. Os rebeldes pretendiam substituir Bernardes por um político honesto, capaz de “moralizar os costumes políticos”. Lutava-se pelas mesmas demandas de caráter liberal já levantadas em 1922: além do voto secreto, “representação e justiça”, moralização dos costumes políticos e, de uma maneira geral, o cumprimento dos preceitos liberais da Constituição de 1891.

Durante 3 semanas, os rebeldes resistiram ao cerco das tropas governistas à capital de São Paulo. Ante o dilema de serem derrotados pela superioridade militar das tropas governistas ou se retirarem para outra região, onde fosse possível rearticular o movimento, o general Isidoro optou pela segunda alternativa. Sempre perseguidos pelos adversários mais numerosos e bem-armados, os rebeldes conseguiram chegar ao oeste do estado do Paraná, onde se estabeleceram. Logo enfrentariam as tropas comandadas pelo general Cândido Mariano Rondon, que se havia oferecido a Artur Bernardes para dar combate aos militares rebelados.

A conspiração tenentista prosseguiu durante todo o ano de 1924. Após o levante paulista, ela atingiu um ritmo mais acelerado no Rio Grande do Sul, estado em que viria a contar com o apoio dos maragatos (os libertadores) liderados pelo rico fazendeiro Joaquim Francisco de Assis Brasil. As condições precárias dos rebeldes paulistas, cercados no oeste do Paraná, contribuíram para aguçar o espírito de luta da jovem oficialidade comprometida com a chamada “revolução”, levando-a a mobilizar-se em solidariedade aos companheiros de São Paulo.

O principal coordenador da conspiração militar no Rio Grande do Sul foi o tenente Aníbal Benévolo, jovem oficial da Brigada de Cavalaria de São Borja. Também desempenharam papel importante na deflagração do levante gaúcho o capitão Luiz Carlos Prestes e o tenente Mário Portela Fagundes; ambos haviam servido no 1º Batalhão Ferroviário (1ºBF) de Santo Ângelo, mantendo contato estreito e permanente com a tropa.

Na noite de 28 de outubro, levantou-se o 1º BF, sob o comando de Prestes e Portela, e, na madrugada do dia 29, algumas outras unidades militares nesse mesmo estado. Ao mesmo tempo, vários caudilhos ligados a Assis Brasil aderiram ao levante. As tropas dos maragatos, de lenço vermelho no pescoço, incorporaram-se às diversas unidades rebeladas, constituindo um reforço para a “revolução” tenentista.

As forças governistas foram rapidamente mobilizadas e lançadas contra os rebeldes. Devido à falta de coordenação entre as unidades rebeladas e à espontaneidade de suas ações, em poucos dias os “revolucionários” do sul do estado estavam desbaratados. A “revolução” conseguiu sobreviver apenas na região de São Luís Gonzaga, graças a duas razões principais. A primeira decorria do fato de a cidade se encontrar distante de qualquer linha férrea, o que, naquela época, dificultava o acesso das tropas governistas, retardando sua investida contra os rebeldes. A segunda razão prendia-se ao papel decisivo do capitão Prestes na reorganização das tropas rebeldes que se reuniram em torno de São Luís Gonzaga. Na prática, Prestes passou a comandar não só o 1º BF, que viera com ele de Santo Ângelo, como também os elementos militares e civis remanescentes dos diversos levantes ocorridos no estado.

A atuação prévia de Prestes no 1º BF, durante quase 2 anos, levara-o a introduzir nessa unidade não só um novo tipo de instrução militar como também um novo tipo de relacionamento, até então desconhecido no Exército brasileiro, entre os soldados e o seu comandante. Assim, o jovem capitão, preocupado em garantir uma boa alimentação para a tropa, adotou uma série de medidas, por exemplo, a contratação de um padeiro e um cozinheiro. Organizou as atividades e o tempo dos seus subordinados de maneira que todos pudessem estudar, receber educação física e instrução militar, além de trabalharem na construção da linha férrea que ligaria Santo Ângelo a Giruá (RS). O próprio Prestes tornou-se professor e criou três escolas: uma para alfabetização e as outras duas de primeiro e segundo graus. Em 3 meses, não havia analfabetos na companhia. Prestes não só comandou seus soldados como, ao mesmo tempo, trabalhou junto com eles, levando a mesma vida de seus subordinados.

Como resultado desse novo tipo de instrução militar, inédito nas Forças Armadas do país, “a disciplina e o entusiasmo dos soldados eram imensos”, nas palavras do próprio Prestes. O jovem capitão conseguia estimular a iniciativa dos soldados, sem desprezar a disciplina, que era obtida com o exemplo do próprio comportamento e excluía a prática de qualquer tipo de violência. Em conseqüência, o prestígio de Prestes se tornou enorme, garantindo a fidelidade do 1º BF na hora do levante.

Em São Luís Gonzaga, Prestes enfrentou a necessidade de organizar a resistência ao ataque inimigo em preparação. Apoiado num grupo de militares de grande audácia, coragem, desprendimento e de excepcional competência militar – como os tenentes Mário Portela, Siqueira Campos, João Alberto Lins de Barros, Osvaldo Cordeiro de Farias -, Prestes deu início à organização do que viria a ser a Coluna Invicta. O 1º BF transformou-se na espinha dorsal da tropa rebelde, que ficaria conhecida como a Coluna Prestes.

Em dezembro de 1924, 14 mil homens, sob o comando do Estado-Maior governista, marchavam sobre São Luís Gonzaga. Formavam o chamado “anel de ferro”, com o qual se pretendia estrangular os rebeldes - cerca de 1,5 mil homens, armados precariamente e quase desprovidos de munição -, acampados em torno da cidade. O governo adotava a “guerra de posição” – a única tática que os militares brasileiros conheciam e que, de acordo com o modelo dos combates travados durante a Primeira Guerra Mundial, consistia em ocupar posições, abrindo trincheiras e permanecendo na defensiva, à espera do inimigo. Ou, então, quando as posições inimigas estavam localizadas, definia-se o “objetivo geográfico” para onde se deveria marchar, com a meta de cercar o adversário, tendo como paradigma o famoso sítio de Verdun, que durara meses, no ano de 1916, quando se defrontaram os exércitos da Alemanha e da França.

É o momento quando Prestes, assessorado por Portela, imagina e põe em prática a “guerra de movimento” – uma espécie de luta de guerrilhas, então uma novidade para o Exército brasileiro. O rompimento do cerco de S. Luís pelos rebeldes e a marcha vitoriosa da Coluna comandada por Prestes em direção ao norte, visando socorrer os companheiros de São Paulo, cercados pelas tropas do general Rondon, constituiu a primeira grande vitória da nova tática militar imaginada por Prestes. Pouco tempo depois, em fevereiro de 1925, Prestes expôs, em carta ao general Isidoro, a sua concepção da “guerra de movimento”, que deixaria os generais do governo desnorteados e perplexos:

“A guerra no Brasil, qualquer que seja o terreno, é a ‘guerra de movimento’. Para nós revolucionários o movimento é a vitória. A ‘guerra de reserva’ é a que mais convém ao governo que tem fábricas de munição, fábricas de dinheiro e bastantes analfabetos para jogar contra as nossas metralhadoras.” (PRESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes. 3ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1991, p. 421.)


Em 12/04/1925, na cidade paranaense de Foz do Iguaçu, deu-se o encontro histórico das tropas gaúchas com os rebeldes paulistas. A proposta de Prestes de prosseguir na luta, dando continuidade à Marcha rebelde acabou prevalecendo. O principal objetivo era manter acesa a chama da rebeldia tenentista e, com isso, atrair as forças inimigas para o interior do país – o que poderia contribuir para o êxito dos “tenentes”, que conspiravam no Rio de Janeiro e em outras capitais, preparando novos levantes.

Após a junção das colunas paulista e gaúcha, as tropas rebeldes foram reorganizadas, criando-se a 1ª Divisão Revolucionária, constituída pelas brigadas “São Paulo” e “Rio Grande”, sob o comando do major Miguel Costa, o oficial de maior patente, promovido a general-de-brigada pelo general Isidoro. Ao todo, a divisão contava com menos de 1,5 mil combatentes, sendo oitocentos da coluna gaúcha e os restantes da coluna paulista. Havia cerca de 50 mulheres, entre gaúchas e paulistas, que, na maioria dos casos, acompanhavam seus maridos e companheiros.

A formação da 1ª Divisão Revolucionária representou a vitória da perspectiva aberta por Prestes de os rebeldes atravessarem o rio Paraná e marcharem para Mato Grosso (clique aqui para ver o mapa), dando continuidade à “revolução” tenentista. Enquanto as tropas paulistas haviam sofrido uma séria derrota em Catanduvas (PR), a Coluna Prestes vinha do sul coberta de glórias. Nessas circunstâncias, Prestes teria um papel destacado à frente da 1ª Divisão Revolucionária. O general Miguel Costa tornara-se o comandante-geral, mas, reconhecendo a competência e o prestígio de Prestes, entregou-lhe, na prática, o comando da Coluna. A Coluna Prestes, que nascera no Rio Grande do Sul, partiu do Paraná revigorada pela junção com os rebeldes que se haviam levantado em São Paulo, a 5/07/1924.

A Coluna, além de mal-armada (não dispondo de fábricas de armamento e munição), não contava com uma retaguarda que assegurasse o abastecimento da tropa. Baseado na experiência do 1º BF, Prestes transformou a tropa rebelde num exército, em que vigorava a disciplina militar e, ao mesmo tempo, era estimulada a iniciativa dos soldados. Sem uma disciplina rigorosa e um comando único e centralizado, as forças rebeldes seriam desbaratadas. Mas, sem a participação ativa de cada soldado, sem a compreensão, de parte de cada um deles, de que a luta era pela libertação do Brasil do governo despótico de Artur Bernardes, seria impossível garantir a sobrevivência de uma força armada tão diferente: não havia soldo, nem pagamento de qualquer espécie, ou vantagens de qualquer tipo, e se exigia, para permanecer em suas fileiras, um grande espírito de sacrifício e muita disposição de luta.

A experiência dos maragatos foi valiosa na organização das forças rebeldes. Adotou-se, por exemplo, o método gaúcho de arrebanhar animais, as “potreadas”: pequenos grupos de soldados se destacavam da tropa em busca não só de cavalos para a montaria e de gado para a alimentação, como de informações, que eram transmitidas ao comando. Esses dados constituíram elementos valiosos para a elaboração de mapas detalhados sobre cada região atravessada pelos rebeldes, permitindo que a tática da Coluna fosse traçada com precisão e profundo conhecimento do terreno. Assim, reduziam-se os riscos de que os rebeldes acabassem pegos de surpresa pelo inimigo. Na verdade, era a Coluna Prestes que, com seus lances inesperados, surpreendia as forças governistas. As potreadas consistiam num fator fundamental para desenvolver a iniciativa e o espírito de responsabilidade dos soldados. Nas palavras de Prestes, foram “os verdadeiros olhos da Coluna”.

A Coluna não se poderia transformar num exército revolucionário, movido por um ideal libertário, se não incutisse em seus combatentes uma atitude de respeito e solidariedade em relação ao povo com que mantinha contato. Qualquer arbitrariedade era punida com grande rigor; em alguns casos de maior gravidade, chegou-se ao fuzilamento dos culpados, principalmente quando houve desrespeito a famílias e, em particular, a mulheres.

Da mesma forma, não se admitiam saques ou atentados gratuitos à propriedade. Por essa razão, ficou estabelecido que as requisições de artigos indispensáveis à manutenção da tropa (feitas junto a comerciantes, fazendeiros ou particulares) exigiam a apresentação de um recibo assinado pelo próprio Prestes ou por outro comandante devidamente credenciado. No recibo, os rebeldes assumiam o compromisso de, com a vitória da “revolução”, indenizar ao interessado o valor dos bens requisitados. Com essa prática, inteiramente inusitada, a Coluna acabou conquistando a simpatia das populações que contatou em seu caminho.

A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de treze estados do Brasil (clique aqui para ver o mapa). Jamais foi derrotada, embora tenha combatido forças muitas vezes superiores em homens, armamento e apoio logístico, tendo enfrentado ao todo 53 combates. Os principais comandantes do Exército nacional não só não puderam desbaratar a Coluna Prestes, como sofreram pesadas perdas e sérios reveses impostos pelos rebeldes durante sua marcha. A Coluna, em seu périplo pelo Brasil, derrotou 18 generais.

Ao adotar a tática da “guerra de movimento”, a Coluna Prestes garantiu a própria sobrevivência em condições que lhe eram extremamente desfavoráveis. E mais, transformou-se num exército com características populares, cuja marcha pelo Brasil foi decisiva para que a chama de “revolução” tenentista se mantivesse acesa.

Além de forjar um novo tipo de combatente, de soldado da liberdade, que se batia por um ideal, a marcha também formou líderes de envergadura – o mais destacado, Luiz Carlos Prestes -, que, com o prestígio adquirido na Coluna, vieram a influir decisivamente nos acontecimentos posteriores.

Dado o fracasso governista no combate à Coluna Prestes, ela poderia continuar percorrendo o país, tirando proveito de sua mobilidade extrema, a grande arma que a tática da “guerra de movimento” lhe conferia. Mas Prestes compreendeu que havia chegado a hora de mudar de tática. Uma nova visão do Brasil – que ele adquirira durante a marcha, ao se deparar com a miséria em que vegetava a maior parte da população do país – contribuiu para essa conclusão. Dessa forma, o comando da Coluna tomou a decisão de partir para o exílio, ingressando na Bolívia em 3/02/1927. Como assinalou o cronista da Marcha, Lourenço Moreira Lima, “não vencemos, mas não fomos vencidos”.

Apesar das dificuldades, os rebeldes chegaram à Bolívia com o moral elevado, cônscios de que haviam cumprido o seu dever, sem nada receber em troca. Os comandantes e soldados da Coluna partiram para o exílio num estado de absoluta pobreza, enquanto os generais governistas tinham enchido os bolsos às custas do erário público, que lhes oferecera verbas generosas para liquidar os revoltosos. A Coluna, praticamente desarmada, contando apenas 620 homens, havia vencido todos os embates com as forças governistas.

Os soldados rebeldes foram os desbravadores do caminho que levou ao solapamento dos alicerces da Primeira República. A sobrevivência da Coluna Prestes constituiu um fator decisivo para que, em diversos pontos do país, eclodissem levantes tenentistas. Embora essas revoltas militares – que sempre contaram com a colaboração de civis – tivessem sido esmagadas, a Coluna Prestes contribuiu para que, durante vários anos, fosse mantido um clima “revolucionário” no país, favorável à germinação das condições que levaram ao colapso da República Velha e à vitória da chamada Revolução de 30, propiciando o início de uma nova etapa no desenvolvimento capitalista no Brasil.

Uma vez no exílio, Prestes começaria a estudar o marxismo, após ter estabelecido contato com a direção do PCB (Partido Comunista do Brasil). A situação de miséria da maioria do povo brasileiro, verificada durante a marcha da Coluna, causara grande impacto no já então Cavaleiro da Esperança, levando-o a buscar no estudo da teoria a explicação para as causas dessa situação e a solução para a mesma. Ao cabo de um duro processo de revisão de suas concepções ideológicas e políticas, Prestes chegou à conclusão de que apenas no marxismo seria possível achar respostas racionais para os problemas que o preocupavam; e a resposta, em última instância, se resumia na necessidade de encontrar o caminho para a revolução socialista no Brasil.

As conseqüências da nova postura ideológica de Prestes foram a sua adesão ao programa dos comunistas e, após infrutíferas tentativas de conquistar para suas novas posições alguns de seus ex-companheiros do movimento tenentista, a decisão de romper publicamente com eles, o que se concretizou com o lançamento do seu Manifesto de Maio de 1930. A Marcha da Coluna e o impacto causado em Prestes pela situação deplorável em que viviam as populações do interior do Brasil levaram o Cavaleiro da Esperança a se transformar, anos mais tarde, na principal liderança do movimento comunista no país. A Coluna Prestes gerara o líder mais destacado da revolução social no Brasil.

[*] Anita Leocádia Prestes é doutora em História Social pela UFF e professora adjunta de História do Brasil no Departamento de História da UFRJ e autora de A Coluna Prestes. 4ª ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1997; Uma epopéia brasileira: a Coluna Prestes. São Paulo: Ed. Moderna, 1995; Os militares e a Reação Republicana; as origens de tenentismo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994; Luiz Carlos Prestes e a Aliança Nacional Libertadora; os caminhos da luta antifascista no Brasil (1934/35). Petrópolis: Ed. Vozes, 1997; Tenentismo pós-30: continuidade ou ruptura? São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1999; Da insurreição armada (1935) à “União Nacional” (1938-1945): a virada tática na política do PCB. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

PARA SABER MAIS

CARONE, Edgard. O tenentismo. São Paulo: Ed. Difel, 1975.

MOREIRA LIMA, Lourenço. A Coluna Prestes – marchas e combates. 3ª ed. São Paulo: Ed. Alfa-Omega, 1979.

PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopéia brasileira: a Coluna Prestes. São Paulo:Ed.Moderna, 1995.

PRESTES, Anita Leocádia. A Coluna Prestes. 4ª ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1997.

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Chávez e Evo presidem abertura da Copa América


SAN CRISTÓBAL — "O futebol é como um espelho em que se vê a realidade", expressou o presidente venezuelano, Hugo Chávez Frías, ao inaugurar, na terça-feira, 25 de junho, a Copa América, na capital do estado andino de Táchira, acompanhado do presidente da Bolívia, Evo Morales, e do astro argentino Diego Armando Maradona, encarregado de chutar a bola que deu início à partida Venezuela — Bolívia, que concluiu com empate de dois gols.

Chávez e Evo presidem abertura da Copa AméricaDe 25 de junho a 15 de julho próximo, toda a Venezuela vibrará ao compasso do futebol. "Para Bolívar — assegurou Chávez em sua saudação às doze seleções em competição —, a Pátria é América; hoje para nós, a Copa é a América".

Com essas palavras se desencadeava a paixão de todo um povo pelo futebol. A sóbria, mas bonita cerimônia inaugural, celebrava nos cantos e nas danças típicas venezuelanas as centenas de homens e mulheres que nos últimos dois anos trabalharam duramente, para que o país tenha hoje nove excelentes estádios (construídos uns, ampliados e remodelados outros), nas nove cidades-sede, onde se torna realidade o sonho de organizar, pela primeira vez, no país sul-americano, a Copa América, de 91 anos de existência.

A alegria coletiva, o orgulho que se sente nas ruas e nos centros onde se colocaram telas gigantes para o desfrute do evento futebolístico, reflete o agradecimento do povo ao governo bolivariano, que apostou pela organização bem-sucedida na Venezuela do evento de futebol mais importante do continente e o mais antigo do mundo.

Na primeira jornada, a notícia foi a goleada da equipe peruana, 3-0 com a equipe do Uruguai, bicampeão mundial e 14 vezes campeão da América.

E na cerimônia inaugural, venezuelanos e bolivianos deram tudo no campo para finalmente empatar. No fim da partida, enquanto os atletas se saudavam no campo, nas arquibancadas dois amigos, os presidentes Evo e Chávez, também se abraçavam.

E a Terra sorriu


Leonardo Boff *
Adital -
Exatamente no primeiro dia do inverno, quando já começa a esfriar e quase todas as folhas que deviam cair já caíram como as do meu pé de caqui, floresceu completamente a cerejeira japonesa em frente à minha janela. Há uma semana percebera que brotos estavam irrompendo, depois se desenvolveram com uma cor arroxeada e de repente, numa manhã, estavam quase todos abertos. Pela tarde do mesmo dia, 21 de junho, início do inverno, abriram-se totalmente.

Para mim que procuro ler sinais nas coisas, pois elas têm sempre um outro lado e o invisível é parte do visível, foi uma revelação. Estou aqui escrevendo sobre a nova moralidade que urge viver no meio do aquecimento global já iniciado. Digo que se queremos salvar a biosfera e preservar nossa Casa Comum, habitável para toda a comunidade de vida, temos que resgatar, antes de qualquer outra medida, a dimensão do coração e a razão sensível. Se não sentirmos a Terra como nossa Grande Mãe que devemos cuidar como filhos e filhas bons e responsáveis serão insuficientes as necessárias iniciativas técnicas que tomarão as grandes empresas, os governos, outras instituições e as pessoas. Nascemos da generosidade do cosmos e da Terra que nos providenciaram as condições essenciais para a vida e sua evolução e será a mesma generosidade a nossa contrapartida.

Esta florada da cerejeira japonesa que ocorre uma única vez ao ano, é um aceno que a própria Terra gratuitamente nos dá. Ela nos está dizendo: "mesmo que caiam todas as folhas, mesmo que os galhos pareçam ressequidos durante quase todo o ano, mesmo que impere a dúvida se morreu ou ainda está viva, de repente, eu ouso revelar o mistério que escondo: a capacidade de regeneração e a vontade de sorrir gaiamente, de irradiar beleza e provocar êxtase".

Algo semelhante deve ocorrer com a crise ecológica e com as ameaças que pesam sobre o destino futuro da biosfera e da vida humana. Estimo que não se trata de uma tragédia cujo fim seria funesto, mas de uma crise cujo termo é um novo estado de saúde e de consciência, mais vigoroso e mais alto. Logicamente, depende de nós transformar os sintomas de tragédia em sinais de crise acrisoladora. E o faremos, pois o instinto básico, já o reconhecia Freud, não é o de morte, mas o de vida, mesmo que passando pela morte. A vida que há 3,8 bilhões de anos irrompeu na Terra, passou por muitas dizimações. Elas nunca foram terminais. Foram crises que criaram oportunidades para a emergência de formas mais complexas de vida. A vida é chamada para mais vida. Esta é a seta da evolução e a dinâmica do universo.

As flores da cerejeira japonesa significam o sorriso radiante da Terra quando menos se esperava dela. Pois o inverno é tempo de recolhimento e de retirada sustentável para recobrar forças vitais que depois irromperão vitoriosas e deslumbrantes. A Mãe Terra nos quer transmitir uma mensagem: "apesar de todas as agressões que sofro, da respiração ofegante que tenho devido às contaminações atmosféricas, não obstante o sangue de meu corpo contaminado e os meus pés chagados por causa de venenos, ainda assim tenho energia vital escondida; ela não é infinita, mas é suficientemente poderosa para resistir, para se regenerar e para voltar a sorrir. Apenas dêem-me, por piedade filial, um pouco de tempo para descansar e um gesto de amor e de cuidado para me fortalecer".


* Teólogo. Membro da Comissão da Carta da Terra

VI Encontro Hemisférico de Luta contra os TLCS e pela Integração dos Povos

Havana- Cuba – 03 a 05 de maio de 2007

Declaração Final

A todos os povos da Nossa América,

Concluímos este VI Encontro Hemisférico no momento em que, para o bem dos nossos povos, no continente continuam se fortalecendo novas e melhores condições para superar a obscura etapa do neoliberalismo e dos planos hegemônicos do imperialismo norte-americano. Apesar dessas novidades positivas, ainda predominam na maioria de nossos países condições que exigem o aprofundamento da resistência. Nos distintos cenários, a situação demanda o fortalecimento das lutas sociais transformadoras, assim como avançar no sentido participativo dos movimentos sociais na consolidação dos processos de mudanças que vêm acontecendo na região.

Frente a isto, nossos povos lutam e reforçam em muitas outras frentes as estratégias de resistência na região. Um exemplo tem sido as numerosas mobilizações pela reivindicação de seus direitos, sendo significativas as protagonizadas pelos movimentos sociais e pelo povo na Costa Rica contra a aprovação dos TLCs. Assim como a luta do povo de Oaxaca em defesa de seus direitos, os quais o governo mexicano respondeu de forma brutal com mais repressão, o que implicou no custo de muitas vidas, feridos e detidos.

Hoje, nossos objetivos continuam centrados na luta contra o imperialismo e suas políticas neoliberais na região, com ênfase no enfrentamento das práticas provocadas pelo livre comércio sob a forma de TLCs, EPAs, ASPAN, reconhecendo em todos eles expressões de uma fase muito mais perigosa da mesma pretensão hegemônica que vem ameaçando a região desde sempre.Rejeitamos também o aprofundamento dos acordos de livre comércio propostos pela União Européia à América Latina e o Caribe – a “ALCA européia” – e dentro delas as negociações excludentes, secretas e ilegítimas que mantém com a região Andina, o MERCOSUL e América Central.

Contra o modelo econômico e político que favorece o poder dos grandes grupos empresariais e do agronegócio através de seus investimentos massivos em setores como o agro, a mineração, as represas que afetam a vida camponesa, indígena e dos setores afro-descendentes; reiteramos o apoio ao desenvolvimento e fortalecimento das lutas e propostas para realizar a Reforma Agrária Integral e a Soberania Alimentar, baseadas na defesa da terra e do território, entendendo este como espaço de defesa política dos recursos naturais, da cultura e da organização autônoma dos povos.

Mantemos a firme denúncia contra um modelo que se baseia na precarização das condições de trabalho, na exploração dos trabalhadores e trabalhadoras e no desconhecimento dos direitos econômicos e sociais da maioria da população. Um sistema de exclusão que promove a migração como sustento para manter seu padrão de vida, porém que persegue os trabalhadores/as migrantes os convertendo em criminosos dentro de suas fronteiras. Destacamos o papel central das corporações multinacionais na sustentação do modelo de exploração, que destrói os direitos sociais e o meio ambiente.

Rejeitamos veementemente a criminalização de nossas lutas pela autodeterminação, democracia, justiça e autonomia e o avanço de um novo “Plano Condor” de controle e disciplina das populações do continente e integração de todos os corpos de segurança e exércitos da região sobre os critérios, doutrinas e mecanismos de contra-insurgência instituídos pelos Estados Unidos, que nos converte em suspeitos e criminosos em nossa própria terra.

No mesmo sentido, denunciamos e condenamos a dupla moral da política dos Estados Unidos que, por um lado, mantém presos os cinco cubanos sobre falsas acusações de terrorismo, mas por outro, deixa em liberdade um dos maiores terroristas da região, o criminoso Luis Posada Carriles.

Reafirmamos a necessidade da diversificação da matriz energética, da busca de fontes renováveis de energia, fazendo um uso racional das já existentes. Alertamos sobre o perigo que significa ouso dos agrocombustíveis em termos de soberania alimentar, assim como seu impacto ambiental. O reconhecimento da existência de visões e opiniões diversas sobre o assunto, expressa a necessidade de ampliar e aprofundar o conhecimento e debate sobre tal tema.

Certos da necessidade de continuar a construção de alternativas ao neoliberalismo, é necessário focar nossos esforços na geração de consensos em torno da integração dos povos, que se consolide em um programa político que contribua ao diálogo com os processos de integração sensíveis aos interesses dos povos. Saudamos o avanço no processo de integração em torno da proposta da ALBA e a iniciativa de instituir nela um âmbito de participação dos movimentos sociais, que deve ser amplo, plural e includente das mais diversas expressões sociais da região, requisito indispensável para solidificar qualquer processo de integração sólido. Este avanço é ao mesmo tempo um ponto de apoio para a crítica e a resistência aos processos que como a ASPAN encarnam a vontade do império e aprofundam o modelo neoliberal.

Os processos de integração não podem ser realizados senão na base do respeito a seus direitos, seu ambiente e território. Por isso condenamos iniciativas como o Plano de Puebla-Panamá e a IIRSA que de longe significa beneficiar nossas comunidades ou facilitar o diálogo entre elas, se orienta em direção ao lucro dos atores de um modelo produtivo que depreda o meio ambiente e aumenta a exclusão social de nossas regiões.

Produto de lutas mundiais e em todo o continente, podemos hoje saudar a decisão do governo equatoriano de reconhecer-se como um país credor e iniciar uma Auditoria integral e participativa das dívidas que ilegitimamente lhes são cobrada. Saudamos ainda a determinação de vários governos de se retirarem do CIADI e questionarem sua participação em outras instituições financeiras multilaterais como FMI, Banco Mundial e BID, que só tem significado condicionamento,saque, destruição e empobrecimento para nossos povos.

Demandamos aos demais governos da região que se unam a estas iniciativas, realizando auditorias das dívidas em cada país e das Instituições Financeiras Internacionais, repudiando e colocando fim ao pagamento das dívidas ilegítimas, sancionando os responsáveis pelos crimes econômicos e ecológicos cometidos e coordenando junto aos povos afetados, estratégias de restrição e reparação.

Celebramos também a criação de novos instrumentos regionais de financiamento soberano, como o Banco do Sul e o Fundo de Estabilização do Sul, ao mesmo tempo em que reiteramos nossa esperança e demanda de que estas instituições sirvam para apoiar verdadeiras alternativas de integração e desenvolvimento soberanas e solidárias, que promovam a inclusão, a igualdade e a sustentabilidade dos povos e do planeta.

Reafirmamos a necessidade de consolidar a convergência e articulação continental dos movimentos, redes e organizações sociais que trabalham na luta pela autonomia e os direitos de nossos povos. A Campanha dos 500 anos, o movimento zapatista, a mobilização contra a dívida, a Campanha Continental contra a ALCA, a formação de muitas redes setoriais e temáticas, e a criação da própria Aliança Social Continental são os principais antecedentes que convergem e reconhecem como base fundamental dessa grande coalizão de atores que lutam contra o neoliberalismo nas Américas e formam a ASC.

Assumimos o compromisso e a co-responsabilidade com o processo do Fórum Social Mundial de impulsionar no continente uma ampla mobilização popular como parte da jornada global que se desenvolverá em janeiro de 2008. Reiteramos nosso apoio à primeira edição do Fórum Social dos Estados Unidos compreendendo que as principais batalhas contra o império se darão em seu próprio seio.

Convocamos a todos a voltar a Havana em 2008 para celebrar nosso VII Encontro Hemisférico.


“Pela integração dos Povos, Outra América é Possível”

Fidel, 80 anos


, por Frei Betto*
| Caracas (Venezuela) | 9 de Agosto de 2006

Houvesse uma fábrica de produtos lúdicos destinados ao mercado político, talvez "Onde está Wally?" ganhasse a versão "Onde está a esquerda?"Uma parcela da esquerda sente-se vexada porque não é tão ética quanto propala; outra, porque o socialismo faliu, exceto em Cuba. Na Coréia do Norte predomina um regime totalitário e, na China, o capitalismo de Estado.


As carpideiras da falência do socialismo não se perguntam por suas causas nem denunciam o fracasso do capitalismo para os 2/3 da humanidade que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha da pobreza. Assim, abraçam o neoliberalismo sem culpa. E o adornam com o eufemismo de "democracia", embora ele acentue a desigualdade mundial e negue valores e direitos humanos cultuando a idolatria do dinheiro e das armas. O que é ser de esquerda? Todos os conceitos acadêmicos -ideológicos, partidários e doutrinários- são palavras ocas frente à definição de que ser de esquerda é defender o direito dos pobres, ainda que aparentemente eles não tenham razão. Por isso causa arrepio ver quem se diz de esquerda aliar-se à direita. Fidel é um homem de esquerda. Não fez, entre 1956 e 1959, uma revolução para implantar o socialismo. Motivou-o livrar Cuba da ditadura de Batista, resgatar a independência do país e libertar o povo da miséria. Em visita aos EUA logo após a tomada do poder, foi ovacionado nas avenidas de Nova York. A elite cubana resistiu a ceder os anéis para que toda a população tivesse dedos. Apoiada pela Casa Branca, instaurou o terror, empenhada em deter as reformas agrária e urbana e a campanha nacional de alfabetização. Kennedy, festejado como baluarte da democracia, enviou 10 mil mercenários para invadir Cuba pela Baía dos Porcos, em 1961. Foram derrotados. E a Revolução, para se defender, não teve alternativa senão aliar-se à União Soviética. Cuba é o único país da América Latina que logrou universalizar a justiça social. Toda a população de 11 milhões de habitantes goza dos direitos de acesso gratuito à saúde e à educação, o que mereceu elogios do papa João Paulo II em sua viagem à Ilha, em 1998. Seria o paraíso? Para quem vive na miséria em nossos países -e são tantos- a cidadania dos cubanos é invejável. Para quem é classe média, Cuba é o purgatório; para quem é rico, o inferno. Só suporta viver na Ilha quem tem consciência solidária e sabe pensar em si pela ótica dos direitos coletivos. Ou alguém conhece um cubano que deu as costas à Revolução para, em outra parte do mundo, defender os pobres? No trajeto do aeroporto de Havana ao centro da cidade há um outdoor com o retrato de uma criança sorrindo e a frase: "Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana." Algum outro país do Continente merece semelhante cartaz à porta de entrada? A simples menção da palavra Cuba provoca arrepios nos espíritos reacionários. Cobram da Ilha democracia, como se isso que predomina em nossos países -corrupção, nepotismo, malversação- fosse modelo de alguma coisa. Ora, por que não exigem que, primeiro, o governo dos EUA deixe de profanar o Direito internacional e suspenda o bloqueio e feche seu campo de concentração em Guantánamo? Protesta-se contra os fuzilamentos da Revolução, e faço coro, pois sou contrário à pena de morte. Mas cadê os protestos contra a pena de morte nos EUA e o fuzilamento sumário praticado no Brasil por policiais militares? Cuba é, hoje, o país com maior número de médicos e bailarinos de balé clássico por habitante. E desenvolve um programa para atender, nos próximos 10 anos, 6 milhões de latino-americanos com deficiência visual - gratuitamente. Fidel está recolhido ao hospital. O que acontecerá quando morrer, ele que sobrevive a uma dezena de presidentes dos EUA e a 47 anos de esforços terroristas da CIA para eliminá-lo? O bom humor dos cubanos tem a resposta na ponta da língua: "Como pessoas civilizadas, primeiro trataremos de enterrar o Comandante". Mas será que o socialismo descerá à tumba com o seu caixão? Tudo indica que Cuba prepara-se para o período pós-Fidel. O que não significa que, como esperam os cubanos de Miami, isso ocorrerá em breve. Em novembro, na Universidade de Havana, o líder revolucionário advertiu que a Revolução pode ser vítima de seus próprios erros e deixou no ar uma indagação: "Quando os veteranos desaparecerem, o que fazer e como fazer?" Às vésperas de seu aniversário, a 13 de agosto, Fidel já começa a expressar seu testamento politico. A maioria dos membros do Birô Político do Partido Comunista tem de 40 a 50 anos, e cada vez mais jovens são chamados a ocupar funções estratégicas. Como 70% da população nasceu no período revolucionário, não há indícios de anseio popular pela volta ao capitalismo. Cuba não quer como futuro o presente de tantas nações latino-americanas, onde a opulência convive com o narcotráfico, a miséria, o desemprego e o sucateamento da saúde e da educação. Feliz idade e pronta recuperação, Comandante.

FreiBetto
Teólogo y escritor brasileño.


O que aprendemos do VI Encontro Hemisférico de Havana


Reflexões do Comandante-em-Chefe
Fidel Castro

Maria Luisa Mendonça trouxe ao Encontro de Havana o impactante documentário sobre o corte manual da cana no Brasil.

Numa síntese que elaborei, como na reflexão anterior, com parágrafos e frases do original, a essência do que Maria Luisa expressou foi o seguinte:

Sabemos que a maioria das guerras, nas últimas décadas, tem como fator central o controle das fontes de energia. O consumo de energia é garantido aos setores privilegiados, tanto nos países centrais quanto nos países periféricos, enquanto a maioria da população mundial não tem acesso aos serviços básicos. O consumo per capita de energia nos Estados Unidos é de 13.000 quilowatts, ao passo que a média mundial é de 2.429 e na América Latina é de 1.601.

O monopólio privado de fontes de energia é garantido por cláusulas em Acordos de Livre Comércio bilaterais ou multilaterais.

O papel dos países periféricos é produzir energia barata para os países ricos centrais, o que representa uma nova fase da colonização.

É preciso desmistificar a propaganda sobre os supostos benefícios dos agrocombustíveis. No caso do etanol, a cultura e processamento da cana-de-açúcar contamina os solos e as fontes de água potável, porque utiliza uma grande quantidade de produtos químicos.

O processo de destilação do etanol produz um resíduo denominado vinhoto. Por cada litro de etanol produzido são gerados de 10 a 13 litros de vinhoto. Uma parte deste resíduo pode ser utilizada como fertilizante, mas a maior parte contamina rios e fontes de águas subterrâneas. Se o Brasil produz 17 ou 18 bilhões de litros de etanol anualmente, isso significa que, pelo menos, 170 bilhões de litros de vinhoto se depositam nas regiões dos canaviais. Imaginem o impacto no meio ambiente.

A queima da cana-de-açúcar, que serve para facilitar a colheita, destrói grande parte dos microorganismos do solo, contamina o ar e causa muitas doenças respiratórias.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil decreta quase todos os anos em São Paulo –que representa 60% da produção de etanol do Brasil- uma situação de emergência, porque as queimas levaram a umidade do ar até níveis extremamente baixos, entre 13% e 15%. O que faz com que seja impossível respirar nesse período na região de São Paulo onde se colheita a cana.

Como sabemos, a expansão da produção de agroenergia é de grande interesse para as empresas que produzem organismos geneticamente modificados ou transgênicos, como Monsanto, Syngenta, Dupont, Bass e Bayer.

No caso do Brasil, a empresa Votorantim desenvolveu tecnologias para a produção duma cana transgênica, que não é comestível, e sabemos que muitas empresas estão desenvolvendo este mesmo tipo de tecnologia e, como não há meios para evitar a contaminação dos transgênicos nos campos de culturas nativas, esta prática coloca em risco a produção de alimentos.

No que se refere à desnacionalização do território brasileiro, grandes empresas adquiriram usinas açucareiras no Brasil: Bunge, Novo Group, ADM, Dreyfus, além dos megaempresários George Soros e Bill Gates.

Como resultado disso, sabemos que a expansão da produção de etanol provocou a expulsão de camponeses de suas terras e criou uma situação de dependência do que denominamos a economia da cana, porque não é que a indústria da cana gere empregos, pelo contrário, gera desemprego, porque essa indústria controla o território. Isso significa que não há espaços para outros setores produtivos.

Ao mesmo tempo, temos a propaganda da eficiência dessa indústria. Sabemos que se baseia na exploração de uma mão-de-obra barata e escrava. Os trabalhadores são remunerados segundo a quantidade de cana cortada e não pelas horas trabalhadas.

No estado de São Paulo, que é onde está a indústria mais moderna -moderna entre aspas, evidentemente- e é o maior produtor do país, a meta de cada trabalhador é cortar entre 10 e 15 toneladas de cana por dia.

Um professor da universidade de Campinas, Pedro Ramos, fez estes cálculos: nos anos 80 os trabalhadores cortavam aproximadamente 4 toneladas por dia e recebiam o equivalente a mais ou menos 5 dólares. Atualmente, para conseguir 3 dólares por dia, é preciso cortar 15 toneladas de cana.

O próprio Ministério do Trabalho do Brasil fez um estudo no qual diz que antigamente 100 metros quadrados de cana somavam 10 toneladas; hoje, com a cana transgênica, é preciso cortar 300 metros quadrados para alcançar 10 toneladas. Então, os trabalhadores têm que trabalhar três vezes mais para cortar 10 toneladas. Este padrão de exploração causou sérios problemas de saúde e até a morte aos trabalhadores.

Uma pesquisadora do Ministério do Trabalho em São Paulo diz que o açúcar e o etanol do Brasil estão banhados de sangue, suor e morte. No ano 2005 o Ministério do Trabalho em São Paulo registrou 450 mortes de trabalhadores por outras causas, como assassinatos e acidentes, porque a transportação para as usinas é muito precária e também em conseqüência de doenças como paradas cardíacas e câncer.

Segundo Maria Cristina Gonzaga, que fez a pesquisa, esta investigação do Ministério do Trabalho mostra que nos últimos cinco anos 1.383 trabalhadores canavieiros morreram apenas no Estado de São Paulo.

O trabalho escravo também é comum neste setor. Geralmente os trabalhadores são migrantes do nordeste ou de Minas Gerais, que são seduzidos por intermediários. Normalmente o contrato não é feito diretamente com a empresa, senão através de intermediários, que no Brasil os chamamos de “gatos”, que escolhem mão-de-obra para as usinas.

Em 2006, só em São Paulo, a Procuradoria do Ministério Público inspecionou 74 usinas, e todas foram processadas.

Apenas em março de 2007, os procuradores do Ministério do Trabalho resgataram 288 trabalhadores em situação de escravidão em São Paulo.

Nesse próprio mês, no Estado de Mato Grosso, foram resgatados 409 trabalhadores numa usina que produz etanol; entre eles havia um grupo de 150 indígenas. Nessa área do centro do país, em Mato Grosso, é comum utilizar indígenas no trabalho escravo da cana.

Todos os anos centenas de trabalhadores sofrem condições análogas nos canaviais. Como é que são estas condições? Trabalham sem um registro formal, sem equipamentos de proteção, sem água ou alimentação adequada, sem acesso aos banheiros e com habitações muito precárias; além disso, eles têm que pagar pela habitação, pela comida, que é muito cara, e precisam pagar por equipamentos como botas e facões e, claro, no caso de acidentes de trabalho, que são muitíssimos, não recebem o tratamento adequado.

Para nós, a questão essencial é eliminar o latifúndio, porque por trás desta imagem moderna há um problema fundamental, que é o latifúndio no Brasil e, evidentemente, noutros países da América Latina. Também é preciso uma política séria de produção de alimentos.

Com isto queria apresentar um documentário que fizemos no Estado de Pernambuco com os trabalhadores canavieiros, que é uma das regiões onde mais se produz a cana-de-açúcar, e assim vocês verão realmente como são as condições.

Este documentário foi feito junto da Comissão Pastoral da Terra no Brasil e dos sindicatos dos trabalhadores florestais do Estado de Pernambuco.

Assim conclui a sua intervenção a destacada e aplaudida dirigente brasileira.

A seguir, exponho as opiniões dos cortadores de cana que aparecem no material fílmico entregado por Maria Luisa. Quando no documentário não aparecem identificadas as pessoas, indica-se a sua condição de homem, mulher ou jovem. Não as incluo todas pela sua extensão.

Severino Francisco da Silva.- Quando eu tinha 8 anos, meu pai mudou-se para o engenho do Junco. E quando cheguei, eu quase fazia 9, meu pai começou a trabalhar e eu atava cana com ele. Trabalhei uns 14 ou 15 anos no engenho do Junco.

Uma mulher.- Há 36 anos que moro neste engenho. Me casei aqui e teve 11 filhos.

Um homem.- Há muitos anos que trabalho no corte da cana; não sei nem contar.

Um homem.- Comecei a trabalhar com 7 anos e minha vida é cortar cana e desmatar.

Um jovem.- Nasci aqui, tenho 23 anos, desde os 9 anos corto cana.

Uma mulher.- Trabalhei 13 anos aqui na Planta Salgado. Eu semeava cana, semeava adubo, limpava cana, capim.

Severina Conceição.— Eu sei fazer todos esses trabalhos do campo: semear adubo, semear cana. Eu fazia tudo com “o bombo” deste tamanho (refere-se à gravidez) com o cabaz a um lado, e continuava trabalhando.

Um homem.— Trabalho, todos os trabalhos são bem difíceis, porém a colheita da cana é o pior que há no Brasil.

Edleuza.— Chego a casa e lavo a louça, arrumo a casa, cuido do serviço doméstico, faço as coisas. Cortava cana, e às vezes chegava a minha casa e nem podia lavar a louça, tinha as mãos feridas, cheias de calos.

Adriano Silva.— Acontece que o administrador exige muito no trabalho. Há dias que a gente corta cana e recebe o ordenado, mas há dias que não recebe nada. Às vezes é suficiente, noutras não.

Misael. — A situação aqui é perversa, o feitor quer diminuir o peso da cana. Disse que o que nós cortemos aqui é o que temos, e acabou. Trabalhamos como escravos, entendeu? Assim não se pode!

Marcos. — A colheita da cana é um trabalho escravo, é um trabalho difícil. Saímos às 3hrs da manhã, chegamos às 8hrs da noite. Isso apenas é bom para o patrão, porque cada dia que passa ele ganha mais e o trabalhador perde, diminuindo a produção e o patrão fica com tudo.

Um homem. — Às vezes deitamo-nos sem ter tomado banho, não há água, tomamos banho num riacho que passa aí embaixo.

Um jovem. — Aqui não há lenha para cozinhar, se a gente quer comer, tem que sair e buscar lenha.

Um homem. — O almoço, é o que a gente traz da casa, traz uma ração, é o que arranjar, sob esse sol, faz o que pode na vida.

Um jovem. — Todo aquele que trabalha muito precisa de uma boa alimentação. Enquanto o dono da usina tem privilégios, do bom e do melhor, e nós aqui sofrendo.

Uma mulher. — Passei muita fome. Muitas vezes deitei com fome, às vezes não tinha nada para comer, nem para dar a minha filha; nalgumas ocasiões ia procurar sal, que era o que encontrávamos com maior facilidade.

Egidio Pereira. — A gente tem dois ou três filhos, e se não se cuida, morre de fome; não dá para viver.

Ivete Cavalcante. — Aqui não existe o salário, há que limpar uma tonelada de cana por oito reais; a gente ganha conforme o que consegue cortar: se a gente corta uma tonelada, ganha oito reais, não há salário fixo.

Uma mulher. — Salário? Eu não sei nada disso.

Reginaldo Souza. — Às vezes eles pagam em dinheiro. Nesta época eles estão pagando em dinheiro; mas, no inverno pagam tudo com vales.

Uma mulher. — O vale, a gente trabalha, ele anota tudo num papelzinho, entrega-o à pessoa para que compre no mercado. A pessoa não vê o dinheiro que ganha.

José Luiz. — O feitor faz tudo o que quiser com as pessoas. O que acontece é que pedi para “calcular a média” da cana, ele não quis. Isto é: neste caso, ele obriga as pessoas a trabalharem pela força. Desta maneira a pessoa trabalha grátis para a empresa.

Clovis da Silva. — Isso nos mata! A gente passa meio-dia cortando cana, acha que vai ganhar algum dinheiro, e quando ele vai medir, constatamos que o trabalho não valeu nada.

Natanael. — O caminhão que transporta o gado aqui é utilizado para levar os trabalhadores, é pior que com o cavalo do dono; porque quando o dono coloca seu cavalo no caminhão, ele lhe põe água, serradura no chão para que o cavalo não se dane os cascos, pasto, uma pessoa para acompanhá-lo; e os trabalhadores, que se acomodem como puderem: ele entrou, fechou a porta e acabou. Eles tratam os trabalhadores como se fossem animais. O “Pro-Álcool” não ajuda os trabalhadores, só aos fornecedores de cana, ajuda os patrões e os enriquece cada vez mais; porque se gerasse emprego para os trabalhadores, para nós seria fundamental, mas não gera empregos.

José Loureno. — Eles têm todo esse poder porque na Câmara, estadual ou federal, têm um político que representa essas usinas açucareiras. Há donos que são deputados, ministros, parentes dos senhores de engenho, que facilitam essa situação para os donos e para os senhores de engenho.

Um homem. — Parece que nossa luta não acaba nunca. Não temos férias, nem o décimo terceiro, tudo se perde. Além disso, a quarta parte do salário que é obrigado receber, não a recebemos, é com isso que no fim do ano compramos roupa para nós e para nossos filhos. Eles não nos entregam nada disso, e vemos que a situação fica cada vez mais difícil.

Uma mulher. — Eu sou trabalhadora registrada, e jamais tive direito a nada, nem a um atestado médico. Quando ficamos grávidas, temos direito a um atestado médico, mas eu não tive esse direito, garantia de família; também não tive o décimo terceiro, sempre recebia alguma coisinha, depois não recebi mais nada.

Um homem. — Há 12 anos que ele não paga nem o décimo terceiro nem as férias.

Um homem. — A gente não pode adoecer, trabalha dia e noite no caminhão, no corte de cana, de madrugada. Eu perdi minha saúde, eu era forte.

Reinaldo. — Um dia eu estava com umas sapatilhas nos pés; quando dei um golpe de facão para cortar a cana que atingiu um dos meus dedos, me cortou, terminei o trabalho e regressei para a casa.

Um jovem. — Não há botas, trabalhamos assim, muitos trabalham descalços, não há condições. Disseram que a usina ia doar botas. Há uma semana que ele feriu o pé (assinala) porque não há botas.

Um jovem. — Eu estava doente, estive assim durante três dias, não recebi salário, não me pagaram nada. Fui ao médico, pedi o atestado e não mo deram.

Um jovem. — Houve um rapaz que chegou de “Macugi”. Estava trabalhando, no meio do trabalho começou a se sentir mal, teve que vomitar. O esforço é grande, o sol é muito quente e a gente não é de ferro, o corpo do ser humano não resiste.

Valdemar. — O veneno que utilizamos provoca muitas doenças (refere-se aos herbicidas). Ocasiona vários tipos de doenças: câncer de pele, nos ossos, vai penetrando no sangue e dana a saúde. Sentem-se náuseas, a gente até cai.

Um homem. — No período entre as colheitas praticamente não há trabalho.

Um homem. — O trabalho que o patrão manda a fazer tem que fazê-lo; porque vocês sabem, se não o fazemos... Nós não mandamos; eles são quem mandam. Se te dão uma tarefa, tem que fazê-la.

Um homem. — Aqui estou à espera de que nalgum dia possa ter um pedacinho de terra para terminar minha vida no campo, para poder encher minha barriga, a dos meus filhos e a dos meus netos, que vivem comigo.

Será que há algo a mais?

Fim do documentário.

Ninguém fica mais agradecido do que eu por este testemunho e pela apresentação de Maria Luisa, cuja síntese acabo de elaborar. Fazem com que venham à minha memória os primeiros anos de minha vida, uma idade na qual os seres humanos costumam ser muito ativos.

Nasci num latifúndio canavieiro, de propriedade privada, rodeado pelo norte, pelo leste e pelo oeste por grandes extensões de terra propriedade de três multinacionais norte-americanas que, em conjunto, possuíam mais de 250 mil hectares de terra. O corte era manual, em cana verde, nessa altura não se usavam herbicidas, nem sequer fertilizantes. Uma plantação podia durar mais de 15 anos. A mão-de-obra era tão barata que as multinacionais ganhavam muito dinheiro.

O dono da quinta canavieira em que eu nasci era um imigrante de origem galega e família camponesa pobre, praticamente analfabeto, a quem trouxeram primeiramente como soldado no lugar de um rico que pagou para iludir o serviço militar e quando acabou a guerra o repatriaram para a Galiza. Voltou a Cuba por si próprio, mesmo como o fizeram inúmeros galegos que viajaram aos países da América Latina. Trabalhou como peão de uma importante multinacional, a United Fruit Company. Tinha qualidades como organizador, recrutou um elevado número de jornaleiros como ele, virou contratista e comprou finalmente terras na zona que limitava com o sul da grande empresa norte-americana com a mais-valia acumulada. Na região oriental a população cubana, de tradição independentista, tinha crescido notavelmente e carecia de terra; contudo o peso principal da agricultura do oriente do país, no começo do século passado, recaia sobre os escravos libertados poucos anos antes ou sobre os descendentes dos antigos escravos e sobre os imigrantes procedentes do Haiti. Os haitianos não tinham família. Viviam sozinhos em suas deploráveis vivendas de colmo e tábuas de palmeira, agrupados em casarios, com a presença de apenas duas ou três mulheres entre eles. Durante os breves meses de safra se realizavam lutas de galos. Ali gastavam os haitianos suas miseráveis rendas, e o resto utilizavam-no para comprar alimentos, que passavam por muitos intermediários e eram caros.

O proprietário de origem galega vivia ali, na quinta canavieira. Apenas saia para visitar as plantações e falava com todo aquele que o procurava ou precisava de alguma coisa. Muitas vezes acedia aos pedidos, por razões mais humanitárias do que econômicas. Podia tomar decisões.

Os administradores das plantações da United Fruit Company eram norte-americanos cuidadosamente selecionados e bem remunerados. Viviam com suas famílias em mansões imensas, em lugares escolhidos. Eram como deuses distantes, que os trabalhadores famintos mencionavam com respeito. Jamais eram vistos nos cortes, onde trabalhavam seus subordinados. Os donos das ações das grandes multinacionais viviam nos Estados Unidos ou em qualquer outra parte do mundo. Os gastos das plantações estavam muito controlados e ninguém podia aumentar um cêntimo.

Conheço muito bem a família do segundo matrimônio do imigrante de origem galega com uma jovem camponesa cubana, muito pobre que, mesmo como ele, não pôde ir à escola. Era muito abnegada e dedicada de mais à família e às atividades econômicas da plantação.

Aqueles que no estrangeiro leiam estas reflexões pela Internet ficarão surpreendidos ao saberem que esse proprietário era meu pai. Sou o terceiro filho dos sete desse matrimônio, que nascemos no quarto de uma casa de campo, muito longe de qualquer hospital, assistidos pela mesma parteira, uma camponesa dedicada em corpo e alma a sua tarefa, que só contava com seus conhecimentos práticos. A Revolução entregou aquelas terras todas ao povo.

Só me resta acrescentar que apoiamos totalmente o decreto de nacionalização da patente a uma multinacional farmacêutica para a produção e comercialização no Brasil de um medicamento contra a AIDS, o Efavirenz, de preço abusivamente alto, — igual que muitos outros —, assim como também a recente solução mutuamente satisfatória do diferendo com a Bolívia a respeito das duas refinarias de petróleo.

Reitero que sentimos profundo respeito pelo irmão povo do Brasil.

Fidel Castro Ruz
14 de maio de 2007

O original encontra-se em http://www.granma.cu/portugues/

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



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  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

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  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
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  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira