sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Algumas histórias que o Caçador de Pipas não conta



ENTRE A FICÇÃO E A HISTÓRIA

Algumas histórias que o Caçador de Pipas não conta

O filme “Caçador de Pipas” apresenta um painel sobre a história recente do Afeganistão, a partir do relato sobre a amizade de dois meninos afegãos. Flutuando entre a imaginação e a história, o filme denuncia monstruosidades mas silencia sobre o papel de alguns dos pais dos monstros que devastaram o país.

O filme “O Caçador de Pipas”, dirigido por Marc Foster, tem o mérito de apresentar um painel sobre a cultura, as tradições e a vida no Afeganistão, a partir do relato sobre a amizade de dois meninos afegãos. É uma obra de ficção mesclada com uma tentativa de painel histórico sobre um período da história do país que compreende a queda da monarquia nos anos 70, a invasão dos soviéticos e a ascensão dos talibãs ao poder. É aí, em seu pano de fundo histórico, que os méritos definham e os problemas florescem. O filme é uma adaptação do best-seller do médico Khaled Hosseini, nascido em 1965 em Cabul e que vive nos Estados Unidos desde 1980. O livro foi escrito inteiramente na Califórnia. Hosseini só voltou ao Afeganistão depois do livro ter sido lançado, 27 anos após ter deixado o país. Essa distância espacial e temporal ajuda a entender as omissões históricas e a visão generosa do autor com o papel dos EUA na destruição de sua terra natal.

Quando visitou o país, após a publicação de seu livro, Hosseini ficou chocado. “Infelizmente, o que vi por lá era pior do que aquilo que imaginei e narrei. A destruição do país é impressionante, muito triste”, declarou em entrevista à revista Época. No livro (e no filme), o escritor é grato pela acolhida que teve nos EUA. Ao imaginar como poderia ter sido a vida do personagem Hassan, caso tivesse conseguido fugir para a América, escreve que o amigo estaria vivendo em um país “onde ninguém se importa com o fato de ele ser um hazara”. Essa visão, escancarada em todo o filme, mostra os soviéticos e os talibãs como seres monstruosos e pervertidos sexualmente, mas omite alguns “detalhes” históricos relacionados ao papel que os EUA tiveram no fortalecimento dos talibãs e na sua chegada ao poder. Assim como ocorreu com Saddam Hussein no Iraque (contra o Irã), os talibãs também foram aliados dos EUA (na luta contra os soviéticos). O civilizado e laico Ocidente foi cúmplice direto dos terríveis crimes cometidos pelos talibãs.

Guerra pela civilização?
Se Hosseini não tivesse escrito o livro inteiramente na Califórnia, baseado apenas em sua memória e imaginação, talvez tivesse produzido um relato um pouco mais equilibrado historicamente. Ao final do filme, o que fica, do ponto de vista histórico, é o seguinte: a selvageria soviética e talibã, de um lado, e o papel salvador e civilizatório do Ocidente, do outro. Nenhuma referência sobre como países como EUA e Inglaterra – e seus aliados na região, como Paquistão e Arábia Saudita - contribuíram decisivamente para tornar o país um monte de ruínas. Alguém poderá objetar que não se pode cobrar do autor o relato sobre fatos que não presenciou. Objeção discutível. Mas, mesmo que a tomemos como razoável, isso não elimina o problema de que o pano de fundo histórico que caracteriza o filme é repleto de omissões, buracos e deformidades. Mesmo quem tenha gostado do livro e do filme, portanto, não sairá perdendo com algumas informações.

Em seu filme “Fahrenheit 9/11”, Michael Moore expôs as ligações entre a família Bush, empresas petrolíferas do Texas, a Halliburton, a Enron e os talibãs para a construção de um gasoduto que partiria do Turcomenistão, seguindo através do Afeganistão e chegando ao Paquistão. Mostrou também que, quando era governador do Texas, Bush chegou a receber uma visita de autoridades afegãs do Talibã para tratar de negócios. Depois da guerra contra o Afeganistão, após os atentados de 11 de setembro, o projeto do gasoduto foi entregue a Halliburton, empresa que tem entre seus executivos o atual vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. Todos esses fatos já são bem conhecidos. Mas a obra de Moore não é o melhor relato sobre como os EUA ajudaram os talibãs chegar ao poder e sobre como, durante um bom tempo, silenciaram sobre as atrocidades que estavam sendo cometidos no país. Silêncio e cumplicidade justificados pela geopolítica e por interesses econômicos.

Um pedido de moderação aos talibãs
Na página da embaixada dos EUA do Brasil, há um interessante material na seção “Resposta ao Terrorismo – Programas Internacionais de Informação”, sobre a situação das mulheres no Afeganistão durante o regime talibã. Lá, podemos ler o seguinte: “Antes dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, oficiais dos EUA opunham-se à subjugação das mulheres pelo Talibã através de reuniões com talibãs para pedir moderação, além de trabalhar com outros países, tanto bilateralmente quanto multilateralmente, para refrear os excessos do Talibã”. Não há porém nenhuma referência sobre como foi asfaltado o caminho para que os excessos do Talibã chocassem o mundo.

Uma boa fonte para preencher essa lacuna é o livro “A grande guerra pela civilização – A conquista do Oriente Médio”, do jornalista inglês Robert Fisk, que passou os últimos 29 anos cobrindo as guerras no Oriente Médio.

Em seu livro de quase 1.500 páginas, publicado no Brasil pela Editora Planeta, Fisk conta algumas histórias que o caçador de pipas não conta. Vejamos algumas delas:

“Os sauditas e os paquistaneses ajudaram, por encargo dos EUA, a armar as milícias do Afeganistão contra a União Soviética, e depois – enojados pelas disputas entre os vencedores – apoiaram o exército de clérigos camponeses iluminados do mula Omar Wahhabi o Talibã. A Arábia Saudita havia investido milhões de dólares nas madraçais - escolas religiosas – do Paquistão ao longo de todo o conflito afegão soviético, e o Talibã era um produto genuíno do wahabismo, a fé estatal muçulmana, estrita e pseudo-reformista da Arábia Saudita.

“E o Paquistão? Ao juntar-se à “guerra contra o terror” promovida pelos Estados Unidos, o general Musharra conseguira de fato a aceitação internacional do golpe de Estado que perpetrou em 1999. De repente, tudo o que havia desejado – a suspensão das sanções, grandes investimentos para a cambaleante indústria paquistanesa, empréstimos do FMI, uma renegociação da dívida de 375 milhões de dólares e ajuda humanitária – foi concedido. Evidentemente, tivemos que esquecer também que foram unidades dos Interserviços de Inteligência do Paquistão – o escalão mais alto das agências de segurança do país – que ergueram o talibã, fizeram entrar armas no Afeganistão e ficaram ricas com o tráfico de drogas. Desde a invasão soviética do Afeganistão em 1979, o ISI havia trabalhado junto com a CIA, financiando os mulas do talibã, mais tarde condenados como arquitetos do terror mundial”.

“Depois do 11 de setembro os EUA, incapazes de conseguir a rendição do Talibã por meio de bombardeios, tentaram ficar bem com os assassinos e estupradores da Aliança do Norte, responsável por mais de 80% da exportação de drogas (heroína, principalmente) do país, após a proibição talibã do cultivo. De 1992 a 1996, a Aliança do Norte foi um símbolo de carnificinas, estupros sistemáticos e pilhagem. Por esse motivo, nós – e incluo o Departamento do Estado dos EUA – demos boas vindas ao talibã quando chegou a Kabul”.

“Após o 11 de setembro bombardeamos povoados afegãos até transformá-los em um monte de ruínas, junto com seus habitantes e culpamos o Talibã e Bin Laden pela carnificina.. Depois permitimos que nossa desapiedada milícia aliada executasse seus prisioneiros. O presidente George W Bush assinou uma lei que aprovou a criação de uma série de tribunais militares seretos para julgar e depois eliminar todo aquele que fosse um “assassino terrorista” aos olhos dos serviços de inteligência”.

Há muitos outros relatos sobre esses temas. A fonte de Fisk não é a imaginação, mas a experiência direta. Ele viu e presenciou in loco o que relata. A obra de Hosseini é uma ficção, é certo, devendo ser avaliada com outros critérios. No entanto, tem pretensões históricas que acabam produzindo um cenário esburacado. Não seria tão grave se, ao sair do cinema, não ouvíssemos frases do tipo: “não dá para defender esses muçulmanos, que povo bárbaro”. Aí a imaginação do Caçador de Pipas presta um desserviço à verdade e à justiça.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Guia Cético para assistir a "O Segredo" - Parte 2


,in O Dragão da Garagem

, por

Antes de você começar a ler esta continuação do Guia Cético para Assistir a "O Segredo" deixa eu dizer que este foi um dos artigos mais difíceis que já escrevi para o Dragão da Garagem.

Não que algum argumento de "O Segredo" tenha sido particularmente desafiador. Foi justamente o contrário. Comparado a "What a Bleep Do We Know", que fazia um bom trabalho tentando se disfarçar de documentário científico, "O Segredo" trata a ciência de forma infantil que na maior parte das vezes eu me via sem saber nem como começar a rebater as alegações do filme. Era como ter que explicar que não é um anão dentro da máquina de coca-cola que conta o dinheiro e coloca as latinhas na fenda.

Além disso, enquanto "Quem Somos Nós" possuía um certo charme de filme trash que ajudava a tornar, digamos, curiosa, a experiência de assistí-lo (o hilário sotaque lemuriano de Ramtha, os efeitos especiais de propaganda de shampoo, as células com olhinhos e boquinhas sendo dizimadas por um bombardeio de peptídeos etc.),"O Segredo" é exatamente tão interessante quanto pode ser uma convenção da AmWay ou da Herbalife (o que deve te dar uma boa idéia de quão insuportável foi assistí-lo até o fim).

Bem, mas a missão está cumprida. No final das contas acabei extrapolando um pouco e comentando não só as enganações científicas mas também os problemas éticos que "O Segredo" levanta. Com isso esta continuação acabou ficando muito maior do que eu gostaria. Como pensando bem não existem muitas "dulogias" famosas por aí, achei uma boa idéia quebrar o post em duas partes mais. A boa notícia é que a terceira parte já está praticamente pronta e sai logo em seguida.

Vamos então a segunda parte do Guia Cético para Assitir a "O Segredo".


00:03:32



"O Segredo é a resposta para tudo o que foi, tudo o que é e tudo o que será."

Ralph Waldo Emerson

Ralph Waldo Emerson, poeta e ensaísta americano famoso no século XIX pelos seus discursos abolicionistas, está para a literatura de seu país mais ou menos como Castro Alves está para a nossa. Quem vê uma figura literária do seu porte citando o Segredo assim, tão explicitamente, é até capaz de acreditar no causo do segredo ancestral desenterrado por Templários que foi transmitido só a alguns iniciados até ser acobertado por uma conspiração malvada.

O problema é que tudo indica que Emerson nunca disse as palavras acima. Se você fizer uma busca na internet verá que todo mundo que atribui a frase à Emerson cita "O Segredo" como fonte.

Por exemplo, Julia Rickert, jornalista do jornal on-line Chicago Reader, foi uma das que procurou a fonte original da frase de Emerson. Depois que nem mesmo os especialistas na obra de Emerson conseguiram ajudá-la, Julia decidiu contactar a editora de "O Segredo" e perguntar de onde Rhonda Byrne havia tirado a citação. Tudo o que conseguiu, além de uma mensagem padrão isentando a editora da responsabilidade pelo conteúdo do livro, foi a promessa de que a questão seria endereçada à autora.

Ou Rhonda Byrne descobriu alguma obra inédita de Emerson enterrada sob uma pirâmide durante todo o último século, ou ela simplesmente inventou a frase.

00:03:38

"Você provavelmente está sentado aí pensando "O que é o Segredo"? Eu vou lhe dizer como eu vim a entendê-lo. Todos nós estamos submetidos a uma força infinita. Todos nos guiamos exatamente pelas mesmas leis. As leis do universo são tão precisas que nós não temos nenhuma dificuldade para construir naves espaciais que levam pessoas à Lua. E nós podemos dizer a hora do pouso na Lua com a precisão de uma fração de segundo. Não importa se você está na Índia, Austrália (...) [uma lista enorme de países], todos nós estamos submetidos a uma única força, uma única lei: A Atração. O Segredo é a Lei da Atração."

Aqui o sr. Bob Proctor afirma que a lei da atração é uma lei da natureza, tão precisa e prevísivel quanto a lei da gravidade. Aparentemente o gancho para essa alegação extraordinária é simplesmente o fato de que ambas têm o nome de "lei".

Uma lei da natureza é uma representação simples, geralmente matemática, de um comportamento da natureza. Por exemplo, a lei da gravidade diz que os corpos se atraem com uma força proporcional às suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles. Essa é uma lei da natureza porque os físicos acreditam que ela é universal e imutável (e obviamente independente da existência humana). É assim que devem ser as leis da natureza.

Mas nem tudo o que tem o nome de "lei" é uma lei da natureza. Por exemplo, nas outras áreas de conhecimento você pode chamar de lei qualquer regra empírica que pareça se aplicar com uma certa (e maleável) regularidade. Assim temos, por exemplo, a lei de Moore segundo a qual "a cada dois anos a capacidade de processamento dos microprocessadores dobra", e a lei da oferta e da procura que diz mais ou menos que "quanto menor a oferta e maior a demanda de um produto mais caro é o preço cobrado por ele". Mas é claro que estas não são leis no sentido estrito que a ciência lhes dá, afinal ninguém espera que elas sejam universais nem atemporais, e isso vale também para a lei da atração.

Tudo bem, você está disposto a reconhecer que a lei da atração não é uma lei da natureza só porque tem a palavra "lei" no nome. Mas e daí? será que a lei da atração realmente não é previsível o suficiente para ser comparada a uma lei da natureza (o que afinal de contas é o quer provar o filme)? Bem, se tudo o que eu disse sobre os furos da lei da atração na primeira parte deste Guia não foram suficientes para responder esta pergunta, talvez a gente possa tentar uma outra abordagem. Para isso vamos pensar numa outra lei muito parecida com a lei da atração: a lei de Murphy.

A lei de Murphy diz que "tudo o que pode dar errado vai dar errado no pior momento e de maneira que cause o maior dano possível" e cá entre nós, ela "funciona" muito melhor do que a lei da atração (ou vai dizer que seu computador nunca deu pau quando você mais precisava dele? ou que justamente nos dias em que você esquece o guarda-chuva caem as maiores tempestades!?). E se a lei de Murphy não atrai coisas, como a lei da gravidade, pelo menos se encarrega de fazer como que as torradas sempre caiam com a manteiga para baixo... (aplicação de um corolário da lei de Murphy conhecido por "gravitação seletiva" que faz com que as coisas caiam de forma a causar sempre o maior estrago possível).

Tanto a lei de Murphy quanto a lei da atração nos dão a sensação de que "funcionam" porque temos a tendência de colher seletivamente os exemplos da sua eficácia (o tal "wishfull thinking"). Enquanto na lei da atração geralmente pinçamos as casualidades fortuitas e os desejos realizados para nos convencer que ela dá certo, na lei de Murphy é quando as coisas dão errado apesar de todos os nossos esforços, que a lei se confirma uma vez mais (aí só resta usá-la como desculpa: "sabe como é chefe... é a lei de Murphy...").

Oposta na finalidade mas igual no mecanismo, a lei da Murphy é apenas uma gozação global com a mania humana de enxergar padrões onde eles não existem. Por outro lado sua nêmesis, a lei da atração, aspira ser equiparada a uma lei da natureza...

00:06:11 [atualizado]

"O que a maioria das pessoas não percebe é que um pensamento tem uma freqüência. Nós podemos medir um pensamento. É como se você estivesse pensando uma mesma coisa repetidamente, ou como se você estivesse imaginando ter um carro novo em folha, conseguir o dinheiro que precisa, encontrar sua alma gêmea. Quando você faz isso está emitindo aquela freqüência. Pensamentos estão enviando aquele sinal magnético para fora da sua mente e este sinal está atraindo o sinal correspondente de volta para você. Veja a si mesmo em abundância e você vai atrair isso para você. Funciona sempre e funciona com qualquer pessoa."

Aqui "O Segredo" nos dá duas opções, ambas incorretas é claro: ou o filme fala em sinal magnético querendo dizer na verdade sinal eletromagnético (como uma onda de rádio, por exemplo, opção reforçada pela associação com a palavra "freqüência"), ou se refere mesmo a um campo magnético, o que é meio difícil de entender já que os campos magnéticos atraem o seu oposto, como fazem os imãs, não o seu semelhante -- como teoricamente faria a lei da atração. Como tudo é possível tratando-se desse filme, vamos analisar as duas opções.

Primeiramente é preciso esclarecer a diferença entre uma onda eletromagnética e um campo magnético. Um campo magnético é um campo de forças distribuído no espaço que faz, por exemplo, com que os pólos opostos de um imã se atraiam. Agora, quando um campo magnético e um campo elétrico oscilantes se propagam juntos no espaço (perpendicularmente um ao outro) dão origem a uma onda eletromagnética, como as ondas de rádio e a luz visível por exemplo. Fisicamente falando, uma onda eletromagnética não atrai coisa alguma só porque tem "magnética" no nome; em vez disso ela carrega energia, como no caso da luz solar.

Um pensamento é uma reação química que produz eletricidade, e como toda corrente elétrica, produz um campo magnético na sua vizinhança (por isso mandam a gente desligar os aparelhos eletrônicos no avião). Só que o campo magnético produzido pelo cérebro é tão pequeno que só pode ser medido por um dispositivo extremamente sensível numa sala completamente blindada contra interferências magnéticas. Para ser mais exato o campo magnético produzido pelo cérebro é 10 bilhões de vezes menor que o campo magnético da Terra e como sua intensidade é inversamente proporcional ao quadrado da distância da fonte, ele decai rapidamente à medida que se afasta do cérebro, tornando desprezível o que já era ínfimo. Por isso não há sentido prático em dizer que um pensamento envia "um sinal magnético para fora da sua mente".

00:12:19




"Eu quero dizer, eu não estou falando somente do ponto de vista de a-cre-di-tar-só-por-que-rer, ou i-ma-gi-na-ção... lou-cu-ra... [Fred soletra estas palavras com muitas caras e bocas] Eu estou falando do ponto de vista de um conhecimento mais profundo. A física quântica realmente começa a apontar para esta descoberta: ela diz que você não pode ter o universo sem a mente fazendo parte dele. A mente está na verdade moldando as coisas que percebemos."

Aqui Fred Allan Wolf aparece fazendo seu papel de ligar o Segredo à Física Quântica.

O trecho poderia ser apenas uma sobra ruim das gravações de "What a Bleep Do We Know" (já devidamente refutado no nosso outro Guia Cético) se não fosse por um detalhe engraçado. Em "What a Bleep" Fred se projetava como um velhinho gente boa, sempre sorridente, o tipo de sujeito que a gente adoraria que ensinasse física para os nossos filhos. Mas em "O Segredo" ele parece ter decidido adotar a tática de que o ataque é a melhor defesa. Neste trecho por exemplo, ele se antecipa aos seus críticos e soletra com deboche e muitas caretas as palavras "wishfull thinking", "imaginary" e "craziness".

Ou seja, "No more Mr. Nice Physicist"...

00:12:55

"Veja, se você não entende uma coisa não significa que você deve rejeitar essa coisa. Você não entende direito a eletricidade. Antes de mais nada, ninguém nem sequer sabe o que é a eletricidade. Assim mesmo você se beneficia dela. Você sabe como ela funciona? Eu não sei! Mas eu sei o seguinte: você pode fritar a comida de uma pessoa com eletricidade e você também pode fritar a própria pessoa com ela."


Ai, ai... Não engula essa conversa fiada. Nós conhecemos a eletricidade muito bem, o suficiente para construir fogões e cadeiras elétricas e também células solares, geradores, microprocessadores, supercondutores, motores elétricos, televisões, rádios, telefones, iPhones, aparelhos de raios-x... preciso continuar?

00:13:28

"Duas coisas das quais você precisa estar ciente. Primeira: está provado cientificamente que um pensamento afirmativo é centenas de vezes mais poderoso que um pensamento negativo."

Este homem é um visionário. Não, sério, esta é a credencial dele; está escrito "Visionário" ali, logo abaixo do seu nome.

Mas o Visionário é na verdade um Embromador. Juntou a palavra "cientificamente" com termos calculadamente imprecisos (o que é um pensamento "poderoso", afinal?) e não disse absolutamente nada. O pobre espectador não entende nada porque não tem nada mesmo para entender, mas sai com as palavrinhas "provado cientificamente" na cabeça...

00:13:41

"Você vive numa realidade em que há um buffer de tempo. E isso funciona a seu favor. Você não quer viver em um mundo em que seus pensamentos se manifestam imediatamente."

Esse discurso acompanha a cena em que um sujeito vê a figura de um elefante em um cartão postal, pensa na coisa por alguns segundos (provavelmente desejando ter o bicho para si) e o animal se materializa bem na sua frente. Seria engraçado se eles não estivessem falando sério...

A rídicula cena responde a uma pergunta que o filme faz aqui pela primeira vez: se a lei da atração é uma lei da natureza e como tal funciona sempre e para qualquer um, por que os pedidos não se materializam imediatamente depois que pensamos neles?

Para isso, "O Segredo", oferece duas explicações (diferentes) e a primeira delas é esta aqui: o universo possui um "buffer de tempo" que atrasa a entrega do pedido até que seja mais conveniente recebê-lo. Afinal, imagine que desagradável seria pensar em um elefante e o paquiderme se materializar na mesma hora na sua sala de estar? (eu posso pensar em umas duas dúzias de exemplos mais embaraçosos do que esse, a maioria envolvendo alguma situação sexual...).

É ou não é a coisa mais estúpida que você já viu num comercial desde aquela propaganda do sofá inflável Air-O-Space?

Só para início de conversa não é assim que um buffer funciona. Um buffer é um reservatório que tem a finalidade de acelerar o acesso ou manter constante o fluxo de alguma coisa; uma caixa d'água por exemplo, ou o mecanismo anti-choque dos CDs de carro (eles mantém armazenados alguns segundos adiante da música para que não haja pausas no caso de um chacoalhar mais violento). Tudo bem, eu sei que isso é apenas picuinha. O problema real é que é bastante óbvio que esta é apenas uma rídicula explicação ad hoc (um "remendo") para explicar porque a lei da atração não se comporta como uma lei da natureza mesmo que insistam que ela é uma. Tanto que ao final do filme eles oferecerão uma outra explicação completamente diferente para o motivo da lei da atração demorar ou mesmo nunca funcionar.

00:14:53

"Nós vivemos em um Universo onde há leis, assim como a Lei da Gravidade. Se você cair de um edíficio não importa se você é bom ou mau, você vai atingir o solo. Tudo o que cerca você em sua vida, incluindo as coisas das quais você reclama, você atraiu. (...)"

Aqui "O Segredo" tenta nos convencer que a lei da atração, como uma boa lei da natureza, é tão "impessoal" quanto a lei da gravidade. Ou seja, para conseguir realizar seus desejos você não precisa ser bom, habilidoso, estudioso, competente, esforçado... Para o universo você é apenas um corpo de massa m; ele não quer saber se você é um corpo de massa m bonzinho e esforçado.

E onde você leu "Trabalhe" no trinômio "Peça, Acredite e Receba" mesmo?...

00:17:33

"O que eu estou atraindo agora mesmo? Como eu me sinto? Me sinto bem? Então continue fazendo o que você está fazendo!

"Nossos sentimentos são o feedback para saber se estamos alinhados ou não, se você está no curso certo ou não. Quanto melhor você se sentir mais alinhado está [com o universo]. Quanto pior você se sentir, mais desalinhado está."

Isso é tudo o que queriam ouvir vizinhos espaçosos, fumantes abusados, pessoas que sentem prazer em dirigir perigosamente, viciados em drogas, pedófilos, terroristas ansiosos pelas virgens de seios fartos do paraíso islâmico, serial killers que simplesmente curtem matar e basicamente qualquer outro tipo de ser humano que sinta prazer às custas da infelicidade alheia e não cultive nenhum remorso por isso. Continuem o bom trabalho pessoal.

00:20:13



"Você cria seu universo à medida que percorre seu caminho."

Winston Churchill

Essa a Rhonda Byrne não inventou; Churchill realmente escreveu isto em sua auto-biografia "Minha Mocidade". Mas vejamos o que dizia o parágrafo completo de onde o trecho foi extraído:

"Alguns de meus primos, que têm a grande vantagem de serem educados em universidades, costumam me provocar com argumentos para provar que nada existe de verdade, a não ser as coisas que pensamos. Toda a criação não passa de um sonho; você cria seu universo à medida que percorre seu caminho. Quanto mais forte sua imaginação mais diverso é seu universo. Quando você pára de sonhar o universo deixa de existir. Estas divertidas acrobacias mentais são boas para se brincar. São inofensivas e sem utilidade nenhuma. Eu aviso aos meus jovens leitores para só tomá-las como uma brincadeira. Os metafísicos sempre terão a última palavra e desafiarão vocês a demonstrar o absurdo de suas proposições."

Ou seja, Churchill estava dizendo justamente o oposto do que prega "O Segredo"! Não é irônico? Agora, graças a "O Segredo", milhões de esotéricos enaltecem a Lei da Atração citando Churchill, sem saber que na verdade ele ridicularizava este tipo de pensamento metafísico.

00:25:18

"Se você fizer uma pequenina pesquisa verá que todos aqueles que já conquistaram algum feito não sabiam como o fariam, apenas sabiam que conseguiriam."

Claro. Esqueça todo o estudo e planejamento minucioso. Quando Amir Klink se prepara para mais uma travessia pelo Atlântico ou outra circunavegação ao redor da Antártica ele apenas joga aleatoriamente alguns mantimentos e cartas geográficas pelo primeiro barco que vê e parte. Do resto cuida a Lei da Atração...

Neste ponto tem início a história do menininho que ganha uma bicicleta do pai aplicando a Lei da Atração. O garoto recorta uma foto da bicicleta dos seus sonhos e olha para ela todos os dias. Leva a foto para a beira do lago, para a escola, para debaixo da colcha e olha, olha e olha. O menino não pensa num plano para juntar dinheiro e comprar a bicicleta; talvez trabalhar meio expediente engraxando sapatos ou cortar a grama do vizinho ou fazer uma rifa... ele só... olha. Até que um dia o Universo surge paternal à sua porta com seu objeto do desejo em mãos.

A moral da história é clara, mesmo porque vem sendo martelada desde o início do filme: você não precisa se esforçar para conseguir o que quer. Basta contemplar obssessivamente o objeto do seu desejo e o universo o providenciará para você.

Apenas por curiosidade Esther Hicks, que aqui faz sua principal participação no filme (participação removida da segunda edição devido à desentendimentos a respeito do marketing de "O Segredo") é uma médium. Ela diz que seus livros são psicografados por um "espírito coletivo" (não, não me pergunte...) denominado Abraham. Cada filme tem o Ramtha que merece...

00:30:05

"Tamanho não importa para o Universo. Não é mais difícil atrair, cientificamente falando, algo que consideremos grande do que algo que consideremos infinitesimalmente pequeno."

"Cientificamente falando" importa sim. Quanto maior a coisa (na verdade é uma questão de massa não de volume) maior a força necessária para movê-la, atraindo ou não. É assim que funciona a segunda lei de Newton, essa sim uma lei da natureza. Agora se estamos falando da lei da Atração e não da lei de Newton, então... tudo bem... só que não estamos mais falando cientificamente.

00:30:16

"O Universo faz tudo o que faz com esforço zero. A grama não se esforça para crescer, ela cresce sem fazer força. Este é o grande design."

Isso é o mesmo que dizer que uma criança cresce com "esforço zero" e se você já teve que colocar comida na mesa de um adolescente em fase de crescimento sabe que não é verdade.

Mas calma lá! crescer é um processo que ocorre naturalmente não é? assim como a grama cresce de forma vagarosa mas certa (dadas as condições certas de solo, água e luz) nenhum adolescente precisa se dedicar ao ato de fazer crescer seu esqueleto, não é?

O problema é que ao usar a palavra "esforço" no sentido de "empenho", ou "dedicação", "O Segredo" está antropomorfizando o universo (atribuindo a ele características humanas). É o filme repetindo o velho truque de misturar os significados das palavras e embaralhar metáfora com sentido literal, como já fez com "lei", "atração", "frequência" e fará daqui a pouco com "energia".

No final, esta foi mais uma tentativa de convencer o espectador de que ele pode obter qualquer coisa sem nenhum esforço. Note também que pela primeira vez surge no filme a menção a um design, o que implica na existência de um designer, um projetista, do universo. Isto se repetirá algumas vezes mais.

00:37:30

"O que é interessante sobre a mente é que você pega um atleta olímpico e o prende a um equipamento sofisticado que mede sua resposta biológica. E ao fazer com que imaginem estar disputando uma prova, incrivelmente os mesmos músculos são acionados, na mesma seqüência que se estivessem competindo pra valer. Por quê isso é assim? Porque a mente não consegue distinguir quando você está realmente fazendo algo ou quando é só imaginação."

Nós já passamos por isso antes, este é exatamente o mesmo argumento usado em "What a Bleep Do We Know". Na parte 3 daquele Guia Cético eu mostrei que existe uma enorme diferença quantitativa nas áreas do cérebro que são acionadas quando imaginamos alguma coisa e quando estamos realmente diante desta coisa (o que faz com que filmes gnósticos como "O Vingador do Futuro", "Vanilla Sky" e "13o andar" permaneçam no campo da ficção científica).

00:38:00



"Que força é essa eu não sei. O que sei é que ela existe".
Alexander Graham Bell

Mais uma vez "O Segredo" manipula a verdade. Leia de novo, agora com a frase inserida no contexto original:

"Eu havia colocado na cabeça que ia encontrar o que estava procurando, nem que isso custasse o restante da minha vida. Depois de inúmeras falhas, eu finalmente encontrei o princípio que estava procurando e fiquei surpreso por sua simplicidade. Outra coisa que descobri com minha busca é que que quando um homem se dispõe a produzir um resultado definitivo e finca o pé nesta disposição isso parece lhe conferir uma segunda visão, que o habilita a ver através dos problemas comuns. Que força é essa eu não sei. O que sei é que ela existe e fica disponível quando um homem está naquele estado mental no qual ele sabe exatamente o que quer e está totalmente determinado a não desistir enquanto não o alcançar."

É possível ver que Graham Bell não estava exaltando nenhuma força sobrenatural, mas exaltando a perseverança, a obstinação e o trabalho duro, aliás completamente o oposto do que "O Segredo" vem pregando.

Uau! Rhonda Byrne conseguiria usar uma frase de Ghandi fora de contexto para defender a supremacia branca num documentário neo-nazista. Ela é boa assim.

00:41:15
"A única diferença entre as pessoas que realmente estão vivendo dessa maneira [em abundância] e as pessoas que não estão vivendo a magia da vida é que as pessoas que estã vivendo a magia da vida se habituaram a pensar dessa maneira [aplicando a lei da atração]. Elas se habituaram ao processo e a magia acontece onde quer que elas vão."

Aqui "O Segredo" separa os vencedores dos losers entre aqueles que aplicam a lei da atração e os que não a aplicam.

Este pensamento não é apenas maniqueísta. Ele é cruel. Como disse o blog Skpetic, você olharia nos olhos de cada um dos seis milhões de judeus momentos antes de serem exterminados e lhes diria que eles atraíram para si mesmos a humilhação, o sofrimento e finalmente a câmara de gás? Você explicaria para os familiares das vítimas dos recentes acidentes áereos no Brasil que não foram os erros humanos, a incompetência e a ganância criminosas, mas sim os pensamentos (de todos eles, de alguns ou de apenas um dos passageiros?) que os vitimou? Porque eu duvido que mesmo o fã mais ardoroso de "O Segredo", aquele que mal pôde esperar o filme terminar para começar a contemplar mentalmente seu carro novo e sua TV gigante de tela plana, possa sustentar que uma criança desnutrida não vive a "magia da vida" só porque é incapaz de contemplar mentalmente sua comida.



Por enquanto é só pessoal. Na terceira e última parte deste Guia veremos os trechos em que "O Segredo" fala sobre como aplicar a Lei da Atração à saúde, ao meu ver os mais manipulativos e nocivos de todo o filme.

DE POE A PIGLIA: EM BUSCA DAS TEORIAS SOBRE O CONTO E O ENCONTRO DE UMA GRAMÁTICA DO SILÊNCIO



,por Cíntia Moscovich

A primeira luz: Edgar Allan Poe e a teoria da unidade de efeito

Quando se trata de definir o que é, afinal um conto, os teóricos pouco se entendem, tentando, num jogo de queda-de-braço, estabelecer seus limites e suas características como gênero autônomo e demarcado. No entanto, quem sabe para provar que nem toda a unanimidade é burra, todas as opiniões convergem no sentido de apontar Edgar Allan Poe como o fundador do conto moderno. E, além disso, todos são capazes de reconhecer que foi também o norte-americano o primeiro a propor uma espécie de manual de regras, um legítimo vade-mécum, retomado, inclusive, por vários escritores que o sucederam, como se verá a seguir.

Dono de uma cultura vastíssima (cultura esta que, segundo o escritor Julio Cortázar, na coletânea de ensaios Valise de Cronópio, seria recheada "com tons de mistério e vislumbres de iniciação esotérica"), Poe publicava ensaios em jornais e revistas, matérias ansiosamente aguardadas pelo público, e nas quais o autor foi compondo, ainda que de maneira um tanto desordenada, as bases de sua poética. A visão muito particular que tinha da poesia — da sua poesia — reflete-se inequivocamente nas páginas de ficção ou de ensaios que escreveu, todas visando criar em seu leitor uma impressão particular, um clima cuidadosamente premeditado — a afamadíssima teoria da unidade de efeito.

A brevidade, a totalidade, o Belo e a Verdade

Em suas resenhas críticas sobre as narrativas de Nathaniel Hawthorne, então escritor iniciante, o autor de O corvo aproveitou para desenvolver com certa extensão sua teoria. Antes disso, no ensaio The Philosophy of Composition, Poe demonstrava, com argúcia e frieza matemática, o modus operandi de seu mais famoso poema (a sinceridade do norte-americano ao descrever o processo de elaboração de O corvo é, ainda hoje matéria de controvérsia, como é assunto polêmico o haver ou não o papel da inspiração a determinar o fazer literário). Tendo por base tal ensaio, pode-se dizer que o apego de Poe, dentro da prosa, pelo conto é paralelo à profunda admiração que demonstrava pelos poemas breves, e por razões idênticas: a brevidade, como sinônimo de concisão, e a característica de totalidade, à qual só se teria acesso mediante leitura que não ultrapassasse determinado período de tempo, fixado, segundo misteriosos cálculos, em duas horas, e durante o qual "a alma do leitor permanece sobre o controle do escritor". As bases egotistas (ou egoístas) de sua poética, centradas na intenção de submeter o leitor no plano imaginativo e espiritual, também incluíam a escolha minuciosa de incidentes que melhor conviessem à finalidade desejada, instituindo a primazia do autor sobre o leitor desde a primeira frase.

Admitindo que o conto possui superioridade, inclusive sobre o poema, Poe chega a outra de suas afirmações lapidares: a de que o poema tem por objetivo o Belo ("a província do poema"), enquanto o centro em torno do qual orbita o conto é a Verdade, entendida como a "satisfação do intelecto". Se o ritmo constitui ajuda essencial para o desenvolvimento da mais alta idéia do poema, as "artificialidades" que provêm de formas regulares armam uma barreira insuperável para o desenvolvimento de todas as variantes de pensamento e de expressão que se baseiam na Verdade — que só o conto bem acabado poderia exprimir.

O conto: entidade autônoma

Entre os anos de 1829 e 1832 consagra-se a modalidade como entidade autônoma — na França surge Mérimée e Balzac, e nos Estados Unidos, Hawthorne e Poe — mas foi o norte-americano o único a escrever uma série de narrativas que vieram a significar um empurrão definitivo no gênero em seu país e no mundo, aperfeiçoando formas que viriam a ter vasta importância futura. Poe foi o pioneiro no inventário (ou invenção) das particularidades do conto, ao diferenciá-lo do capítulo de um romance e das crônicas romanceadas de seu tempo; compreendeu que a eficácia do conto depende de sua intensidade como acontecimento puro, desprezando os comentários e descrições acessórios, diálogos marginais e considerações posteriores que seriam toleráveis dentro do corpo de um romance, mas que arruinariam a estrutura de um conto.

Poe e Julio Cortázar: idéias complementares e um pouco antagônicas

Se é verdade que Poe conseguiu não só fundar o conto moderno, como também estabelecer uma série de regras para o gênero, também é verdade que os autores posteriores nunca conseguiram escapar da sombra do pioneiro. O escritor Julio Cortázar, em dois ensaios, Alguns aspectos do conto e Do conto breve e seus arredores, publicados na acima citada coletânea Valise de Cronópio, faz uma série de arrazoados que, embora não concordem inteiramente com as de Poe, não deixam de marcar sua influência e de colaborar no sentido de uma delimitação do conto como gênero específico.

Segundo o autor de O jogo da amarelinha, aquilo que ocorre num conto deve ser intenso, entendendo-se intensidade como o palpitar da substância da narrativa, um núcleo animado inseparável e decisivo, em torno do qual orbitam os demais elementos. Assevera que Poe, ao dizer que tudo, dentro do texto, deve servir ao desejo — ao desiderato — de seu criador, também estipula as bases da economia de sua estrutura funcional. No conto vai acontecer algo e este algo será intenso porque cada palavra, dentro do sistema que se está a constituir, trabalha em prol deste acontecimento. Todo o rodeio, por outra parte, passa a ser desnecessário e contraproducente. Tal economia, segundo faz questão de ressaltar Cortázar, não é somente questão de tema, "de ajustar o episódio ao seu miolo", mas de fazê-lo coincidir com a sua expressão verbal, aparando arestas para que nada ultrapasse os limites desejáveis.

Uma "batalha fraterna"

As idéias de Cortázar parecem ter um teor algo transcendente. Mais do que descrever o que entende por conto, trata de relatar, através de imagens, o sentimento que acompanha este conceito. Defende que é necessário se ter uma "idéia viva" do que vem a ser o conto, resultado da "batalha fraterna" que travam a vida e a expressão dessa própria vida. Para ele, este tipo de narrativa pode ser entendida como um tremor de água dentro de um cristal, uma fugacidade numa permanência. Só com imagens se pode transmitir essa alquimia secreta que explica a profunda ressonância que um grande conto tem em nós, e que explica também por que há tão poucos contos verdadeiramente grandes.


Os temas, a intensidade e a tensão

Para Cortázar, um conto é significativo quando rompe com seus próprios limites, "com essa explosão de energia espiritual que ilumina bruscamente algo que vai muito além da pequena e miserável história que conta". O tema explorado pouco ou nada tem a ver com esta carga de significação; importa o tratamento literário deste tema, a técnica empregada para desenvolvê-lo: mais do que a "boa idéia", importa a arte do escritor, afinal. Um "bom tema" no sentido de possuir maior ou menor interesse para o leitor, não existe; existem, sim, temas que chama de "excepcionais", ou seja, aqueles que são capazes de atrair para si todo um sistema de relações conexas, que "coagula no autor" e, mais tarde, naquele que lê, funcionando como um sol em torno do qual orbitam outros astros.

Ao dedicar-se finalmente à intensidade, ressalta que esta virtude está atrelada, justamente, à carga de significação do texto. A exemplo do que pregava Poe, defende que a eliminação de todas as idéias ou situações intermediárias preside, em definitivo, as características não só de significação, como as de intensidade. A tensão, gerada pela elipse e pelo corte de material subsidiário ao que realmente interessa, nasce da aproximação lenta e sempre precisa ao que o conto conta, ou seja, ao grande miolo irradiador de acontecimentos. Desta maneira, intensidade e tensão são íntimas, correlacionadas e determinantes uma da outra.

A estranheza, a esfericidade e a neurose de Poe

Continuando com suas teorizações, lança as idéias acerca da esfericidade, pregando o decorrente estranhamento ou estranheza peculiares ao gênero. A esfericidade estaria, segundo ele, aliada à tensão e à intensidade, desdobramento legítimo dessas duas características. Conforme arrazoa, a forma fechada do gênero não significa paralisação; ao contrário, o movimento, ainda que subterrâneo, é bastante definido e pontual. O adensamento que vem desta mobilidade íntima surgiria, assim, como reflexo da pressão interna da trama narrativa na qual o essencial — e somente ele — pode caber. É isto o que chama de esfericidade do conto, que deveria, inclusive, preexistir no autor. Comungando com Poe, o escritor torna a pregar a economia de meios como única via para a perfeição. No entanto, surge um ponto de conflito entre ele e o escritor norte-americano. Se Poe advogava o planejamento metódico e minimalista de um efeito e dos meios para obtê-lo, Cortázar crê que o autor é um ser possuído (chega a defender, em dado momento que Poe era, como contista, um neurótico em larga escala, reservando, paradoxalmente, a frieza racional para a poesia), espécie de demiurgo obcecado. A característica da estranheza ou estranhamento seria resultado dessa "magia em segundo grau", conseqüência de um deslocar-se que altera o regime normal da consciência. Tal estranhamento seria transitivo, indo do escritor ao conto e do conto ao leitor, incorporando-se a este último como cicatriz

Hemingway e Morte na tarde: "Personagem é caricatura"

Seguindo ainda nas cogitações teóricas dos criadores sobre suas criaturas, unem-se às idéias de Poe e de Cortázar as de Ernest Hemingway, em Death in the Afternoon (Morte na tarde). A obra, em sua aparência, trata das touradas, do sacrifício incontornável do animal e da glória do homem que o mata. No entanto, durante a leitura, deslinda-se a intenção do escritor: as touradas passam a ser pano de fundo, mero pretexto ou alegoria da arte literária, numa espécie de autocrítica que reparte generosamente com aqueles que o lêem. Hemingway, além do embate entre homem e besta, aproveita para tratar, preferencialmente, do romance, da postura do escritor e daquilo que ele escolhe colocar na boca de suas personagens. Mesmo que privilegie o romance, sem se referir uma única vez ao conto, o autor de O velho e o mar, tal como Poe e Cortázar, tem noções bastante claras a respeito das leis de intensidade, do adensamento narrativo e do efeito que deve causar em seu leitor. Segundo ele, o autor deve estar atento ao que escreve e deve, por fidelidade a si mesmo, à própria obra e àquele que o lê, saber mais do que as personagens criadas. A economia de meios deve ser a todo custo preservada em nome não só da verossimilhança, mas por questões do efeito que possa vir a causar. Ensina que um escritor deve criar seres vivos, não esboços de pessoas, não personagens: "Personagem é caricatura", proclama. E arremata: "Se um escritor pode fazer as pessoas viverem, pode que não haja grandes personagens em sua obra, mas é possível que seu livro permaneça como um todo, como uma entidade, como um romance."

Atento à impressão que pode, e que deseja, causar em seu leitor, Hemingway advoga uma espécie de humildade literária: se as personagens devem falar sobre qualquer assunto, que se ponha tais assuntos na boca de cada uma delas; o autor deve aparecer o menos possível na obra e se ele, o escritor, porventura quiser falar em seu próprio nome para demonstrar o quanto ele sabe a respeito de determinada matéria, ele é um exibicionista, e nada mais do que isso.

A verdade e o poder do iceberg

Para Hemingway, se o livro está escrito com carga suficiente de verdade, pode, e deve, o escritor omitir partes dessa verdade, que, mesmo sendo interior ao texto, é capaz de cooptar seu leitor de maneira convincente e segura. O dito prevalece sobre o não-dito, o sugerido ganha estatuto de fato consumado. Inaugura, também, a singela teoria do iceberg, reaproveitada por críticos e escritores posteriores: "O leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar acima da água".

Carlos Baker, um dos mais aplicados estudiosos de Hemingway, ressalta o fato de os contos do norte-americano seguirem o comportamento do iceberg; de serem "enganadores", suas partes visíveis brilhando num esqueleto de cores naturalistas, enquanto que a estrutura de suporte, submersa e invisível, é construída através de um grande sistema simbólico. Uma vez que o leitor prevenido se aperceba que há algo subjacente à parte visível de sua obra, poderá usufruir de uma cadeia de símbolos e de cristalizações que suportam a narrativa que se dá à vista. Lembra que Hemingway penetrou na ficção pelo caminho do conto e que seus objetivos estéticos exigiam uma rigorosa disciplina na apresentação de seus episódios. Diferentemente de Cortázar, e muito próximo de Poe, Hemingway trabalhava como um artesão: podava a linguagem, evitava movimentos inúteis, multiplicava intensidades. Transmitia para seu leitor nada mais do que insinuações, fulgurações da parte oculta na parte revelada, todas elas importantes na construção do jogo narrativo.

Ricardo Piglia e as duas histórias que o conto sempre conta

Mais modernamente, surge a voz conciliadora do argentino Ricardo Piglia, também contista. Num ensaio intitulado Teses sobre o conto, que não toma mais do que quatro páginas de seu livro O laboratório do escritor, parece absorver os ensinamentos daqueles que o precederam, formulando singelas e sintéticas teses.

O argentino inicia sua exposição relembrando uma das anotações deixadas por Tchecov: "Um homem, em Monte Carlo, vai ao Cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida". Lembra que contra o previsível e convencional (que seria jogar-perder-suicidar-se), a intriga se estabelece como um paradoxo, as histórias do jogo e do suicídio desvinculando-se e opondo-se. Aí está, para Piglia, a primeira tese, a de que o conto conta sempre duas histórias. Afirma que o conto clássico narra em primeiro plano o que passa a chamar de história 1 (a história aparente), ocultando, em seu interior, a história 2 (a história cifrada). Uma história visível esconde uma história secreta, narrada de modo elíptico e fragmentário. O "efeito de surpresa" se produz quando o final da história secreta aparece na superfície, como nas histórias policiais e de suspense. E prossegue:


      Cada uma das duas histórias é contada de maneira diferente. Trabalhar com duas histórias significa trabalhar com dois sistemas diversos de causalidade. Os mesmos acontecimentos entram simultaneamente em duas lógicas narrativas antagônicas. Os elementos essenciais de um conto têm dupla função e são utilizados de maneira diferente em cada uma das duas histórias. Os pontos de cruzamento são a base da construção.


Para Piglia, assim, o conto clássico é uma narrativa que encerra uma história secreta. Não há um sentido oculto que depende de interpretação, mas estratégias completamente postas a serviço da história cifrada. Conta-se uma história enquanto se está contando outra, e a maneira como as duas se articulam encerra os problemas técnicos do gênero. Sua segunda tese é a de que a história cifrada "é a chave da forma do conto e de suas variantes".
Ainda as duas histórias, a aparente e a cifrada e o conto em sua versão moderna
Conforme o argentino, a versão moderna do conto que vem de Tchecov e de Joyce dos Dublinenses, dentre outros, abandona o final surpreendente e a estrutura fechada: a tensão entre as duas histórias nunca é resolvida, contando-se a história secreta de modo cada vez mais elusivo, fundindo-se esta com a chamada história aparente. Neste momento de sua exposição, relembra que "A teoria do iceberg de Hemingway é a primeira síntese deste processo de transformação; o mais importante nunca se conta. A história secreta se constrói com o não-dito, com o subentendido e com a alusão", típico caso em que a estranheza é base e o fim de tudo.
Ao final de seu ensaio, Piglia afirma que o conto se constrói para fazer aparecer artificialmente algo que estava oculto, reproduzindo, no texto, a busca humana e sempre renovada de uma experiência única que permita ver, "sob a superfície opaca da vida", uma verdade secreta.
Em que se confundem e se bifurcam os caminhos trilhados até aqui?
Piglia tem a virtude de resgatar e atualizar os depoimentos dos autores que o precederam. As características de "estranheza" ou "estranhamento", apregoadas por Cortázar, são retomadas pelo argentino, ao assinalar o "jogo" entre o dito e o não-dito, com suas muitas elipses e silêncios. A "esfericidade" cortazariana relaciona-se à articulação da história aparente e da história cifrada, atendendo a um movimento que vem de dentro para fora, subordinada àquela que reside no mais profundo interior do conto, a história não articulada. A teoria da unidade de efeito de Poe se faz presente em Piglia: o resultado do jogo entre o dito e o não-dito age sobre seu leitor de maneira a causar-lhe uma forte impressão, ligando-o ao texto de maneira inescapável. A teoria do iceberg de Hemingway reflete-se no pensamento do escritor platino, a parte visível acima da linha da água correspondendo à história aparente, e a parte submersa, à história cifrada. De Hemingway vem, inclusive, a lição da sabedoria do escritor, não só ao manipular as informações que apresenta, mostrando menos do que sabe, mas também ao oferecer a seu leitor a sensação de verdade, selando, com aquele que lê, um pacto absoluto e indestrutível.
A Literatura, como as demais formas de expressão, deve grande parte de seu poder encantatório ao ocultamento e à sugestão, residindo sua força no subtexto que o autor é capaz de engendrar. Comparado ao romance e à novela, as chamadas "narrativas longas", o fator distintivo do conto é o aproveitamento, ao máximo, do subentendido, do meramente sugerido. Dito de outra forma: a história cifrada, tal como é apresentada por Piglia, sustenta a natureza do conto. É da índole do gênero a redução ao básico, a tendência à economia e ao comedimento. Tudo o que está num conto é suficiente e necessário, para voltar a usar a noção clássica. Se a história aparente não estiver em completa sintonia com o texto que a ela subjaz, se houver movimentos retóricos inúteis, se houver excesso de informações, se houver escassez de informações, o conto não pode se realizar como conto, atendendo o requisito da intensidade como acontecimento puro. Ao fim de um conto bem realizado — e este gran finale representa o clímax, sempre imprevisível e, paradoxalmente, eternamente inevitável —, o leitor sente a tentação de voltar ao início para rever, em plenitude, o que era apenas sugestão. Vem daí, desse movimento de redescoberta constante, um dos traços distintivos e muito particulares, o da circularidade contística, o fim resgatando o começo, o desenvolvimento servindo de ponte entre os dois extremos. Talvez por isso — por estas amarras que o escritor deve tecer e que o leitor competente deve deslindar — aconteça a comentada dificuldade de escritura e de leitura do conto que se preze como tal. Um conto é uma estrutura armada de "maneira inteligente", que tira literalmente o máximo do mínimo, que pede e convoca a participação intelectual de seu leitor, sem que se o subestime ou superestime. O ideal, conforme aponta Piglia, resumindo o que pregaram seus predecessores, é que o ponto médio entre ocultação e revelação seja mantido, introduzindo-se o leitor nesta gramática do silêncio representada pelo conto.

Cíntia Moscovich. De Poe a Piglia: em busca das teorias sobre o conto e o encontro de uma gramática do silêncio. In: Micronarrativas, 2005. Disponível no endereço da WEB

. Acessado em 24/01/2008.

Publicado em Micronarrativas.com.br em Setembro de 2005


http://www.micronarrativas.com.br



quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O Guia Cético para assistir a "O Segredo" - Parte 1


,in O Dragão da Garagem

, por
É tarde da noite, você não tem o que fazer a não ser zapear preguiçosamente pelos canais da TV por assinatura. De repente, em um canal que não dá a mínima para o fato de que você está pagando pela programação, você se depara com mais um daqueles famigerados comerciais que duram horas, anunciando coisas como a mangueira Flat Hose ou o aparelho de abdominais Abtronic. São os infomerciais, comerciais que tentam se parecer com um programa normal nos fazendo esquecer que são só mais uma propaganda.

A maioria dos infomerciais é involutariamente engraçada (um sofá inflável!? que vem com uma bomba para inflar "inteiramente grátis"!? ) e cheios de promessas que desafiam o bom senso na maior cara-de-pau, mas até que de vez em quando um ou outro nos faz pensar em botar a mão no cartão de crédito. Nos mais elaborados o apresentador conversa com a câmera como se estivesse num documentário ou num programa de auditório e alguns até trazem uns "especialistas" (a gente sabe na hora que eles são especialistas porque sempre vestem branco) para abalizar a eficácia daquele novo aparelho abdominal ou de algum "revolucionário" gel redutor de celulite.

Bem, quando assisti a "O Segredo" para escrever este novo Guia Cético a impressão que tive foi de estar diante não de um documentário, mas de um longuíssimo infomercial de duas horas anunciando o pensamento positivo no lugar de facas Ginsu ou meias Vivarina.

Faz todo o sentido. Se o Tony Little pode prometer uma barriga tanquinho com apenas 5 minutos de abdominais por dia, não ia demorar mesmo o dia em que alguém prometesse uma barriga sarada sem nem um abdominal sequer ("O Segredo" não menciona nada sobre abdominais esculturais, mas diz que você pode emagrecer comendo qualquer coisa já que comida não engorda, pensamentos sim...). E você também não acha que a Oprah Winfrey está para "O Segredo" meio como o George Foreman está para suas Grelhas Redutoras de Gordura? (essas eu tenho, e "funcionam mesmo!")

Se você não assiste televisão, nunca viu o impagável infomercial do Tony Little e não faz idéia de quem é a Oprah, não se preocupe -- você deve estar gastando o seu tempo bem melhor do que eu. Esta introdução é apenas para que você saiba que o meu objetivo ao longo das duas partes deste Guia Cético será mostrar que "O Segredo" não passa de um produto de marketing muito bem embalado que manipula a ciência e o bom senso da mesma maneira absurda, e às vezes hilária, de um infomercial que vende meia-calça resistente à unhas de gato.

Então sem mais delongas televisivas vamos ao mais que aguardado Guia Cético para Assistir a "O Segredo" - parte 1.



É inevitável começar a escrever sobre "O Segredo" sem compará-lo a "What a Bleep Do We Know"(Quem Somos Nós).

Os dois filmes afirmam que a realidade pode ser fisicamente modificada pela força do pensamento e, para dar uma certa cientificidade a esta idéia, ambos utilizam conceitos distorcidos da ciência, especialmente da sempre maltratada física quântica. Os dois até mesmo dividem alguns de seus notáveis convidados tais como os físicos Fred Alan Wolf e John Hagelin , que praticamente reproduzem em "O Segredo" suas falas de "What a Bleep".

Mas enquanto "What a Bleep Do We Know" foi um filme de baixo orçamento e pequenas expectativas -- o filme estreou em apenas duas salas de cinema nos EUA e se tranformou num sucesso acidental graças ao "boca-a-boca" nos fóruns e listas de e-mail -- "O Segredo" foi um produto minuciosamente concebido para ser um best-seller.

E que best seller! Tanto o DVD quanto o livro chegaram ao topo da lista dos mais vendidos em quase todos os países onde foram lançados. Só o livro já é considerado o maior sucesso editorial do gênero de auto-ajuda de todos os tempos. Nos EUA as vendas foram catapultadas às alturas depois que a apresentadora Oprah Winfrey, uma das personalidades mais influentes no país, dedicou dois programas inteiros e uma grande porção de seu web site a "O Segredo".

"O Segredo" é um filme sobre a Lei da Atração, o princípio segundo o qual nós sempre conseguimos exatamente o que desejamos, nem mais nem menos. De acordo com o filme, este ensinamento -- outrora gravado em pedra (aparentemente a famosa Tábua de Esmeralda, relíquia rosacruciana) -- era conhecido apenas por uns poucos iniciados até o dia em que alguém fez uma cópia ilegal da tábua em papiro e a enterrou sob a pirâmide de Gizé. Alguns séculos depois o papiro foi descoberto por Cavaleiros Templários e confiado ao lendário alquimista Saint Germain, que o decodificou. Ao longo das eras O Segredo veio a ser revelado somente a algumas personalidades notáveis -- Leonardo Da Vinci, Isaac Newton, Buddha, Winston Churchil e outros -- até chegar às mãos da produtora de televisão australiana Rhonda Byrne (ao lado juntamente com a Oprah) que, a despeito do complô de grupos poderosos para mantê-lo secreto, decidiu transmiti-lo ao populacho na forma de DVDs, livros, áudio-livros, CDs e quinquilharias diversas.


O Verdadeiro Segredo de "O Segredo"
A primeira coisa que você precisa saber sobre "O Segredo" é que ele não conta segredo nenhum (e quando um filme já engana o espectador a partir do próprio título você já pode imaginar o que vem pela frente...).

O pensamento positivo e a Lei da Atração já são a carne-de-vaca do pensamento mágico desde tempos bíblicos. O apóstolo São Marcos já tinha sua própria versão para o peça-acredite-receba de "O Segredo" : "Tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis"; a versão de Buda era quase a mesma coisa: "Tudo o que somos é o resultado do que pensamos". Mas foi no século 19 que a Lei da Atração explodiu em meio a um movimento místico-religioso que se tornou conhecido por New Thought (Novo Pensamento).

O Novo Pensamento, assim como a Nova Era, têm em suas origens uma miscelânia de "ismos" metafísicos como espiritualismo, hinduísmo, budismo, panteísmo, mesmerismo etc. Mas o Novo Pensamento se diferencia da Nova Era por ser um movimento mais antigo e mais organizado, que cresceu e se mantém graças a centenas de cultos ao redor do mundo, como a Igreja da Ciência Religiosa (!), também conhecida por Ciência da Mente, a Igreja da Ciência Divina (!!), a Igreja Metafísica do Novo Pensamento, no Brasil, e o Seicho No Ie, ramificação oriental, de caráter mais ritualístico, do Novo Pensamento.

Mas atualmente o maior expoente mundial do Novo Pensamento é a Igreja Unitária (Unity Church), também conhecida por Escola Unitária do Cristianismo (Unity School of Christianity), fundada em 1889 pelo vendedor Charles Fillmore. Com mais de 2 milhões de membros e centenas de templos em todo o mundo não se pode dizer que a Igreja Unitária está tentando guardar algum segredo... Fillmore costumava dizer ter pegado o melhor de cada religião e unificado tudo em uma verdade "simplificada" que todos poderiam entender, algo que ele chamava de "cristianismo pragmático". Em outras palavras fez uma mistureba de religião formal com poder da mente. Só para que você entenda o quão distante o resultado ficou do cristianismo original, eis resumidamente alguns dos dogmas da Igreja Unitária:

Deus é a divina mente, o bem absoluto, portanto o conceito de mal é puramente ignorância. Jesus foi simplesmente uma pessoa especial, um "professor". A Bíblia só tem significado profundo quando interpetado metafisicamente. A Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo devem ser interpretados como a Mente, a Idéia e a Expressão.

Apesar de suas origens calcadas no cristianismo protestante, "O Segredo" nega que seus ensinamentos entrem em conflito com as outras religiões, se definindo mais como o menor denominador comum de todas elas. Conforme veremos na continuação deste Guia Cético, nada poderia estar mais distante da realidade.

Para se ter uma idéia de como a Lei da Atração é antiga, já em 1906 William Walker Atkinson, publicava o livro "Thought Vibration or the Law of Attraction in the Thought World" (A Vibração do Pensamento ou a Lei da Atração no Mundo do Pensamento). O livro é até hoje um marco do Novo Pensamento e recentemente foi relançado para pegar um pedacinho do sucesso de "O Segredo" (como tudo o mais que tenha "Atração" e "Segredo" no nome...).

Rhonda Byrne nunca escondeu que o livro que a inspirou a conceber "O Segredo" foi um velho clássico do Novo Pensamento, publicado em 1910: "The Science of Getting Rich" (A Ciência de Como Ficar Rico) de Wallace D. Wattles. Segundo o prefácio este era um livro para aqueles que "precisam de dinheiro mais do que qualquer outra coisa; que querem ficar ricos primeiro e filosofar depois".

Aliás, a ênfase no enriquecimento material em vez do espiritual é o único ponto em que "O Segredo" distoa um pouquinho da doutrina do Novo Pensamento, motivo pelo qual costuma ser criticado por seus adeptos (mas não tãaooo criticado assim... afinal depois do filme as fileiras dos templos como os da Igreja Unitária só fizeram aumentar). Em tudo o mais "O Segredo" é apenas uma reprodução literal dos "evangelhos" do Novo Pensamento.

Concluindo, basicamente o que Rhonda Byrne fez em "O Segredo" foi pegar um assunto surrado, juntar alguns temas da moda (conspirações, códigos escondidos por eras, Cavaleiros Templários, alquimistas), dar ao produto uma embalagem medieval (lacres, tipografia antiga, croquis amarelados etc) e voilá... mais um Código Da Vinci de não-ficção nas prateleiras.


O Pensamento Positivo e a Lei da Atração
Uma coisa sobre o pensamento positivo é que ele funciona de verdade. Ora, e como não poderia? Pessoas que cultivam pensamentos positivos não esmorecem facilmente diante de qualquer obstáculo e por isso têm muito mais chances de atingir seus objetivos. Os que encaram a vida positivamente tendem a cuidar melhor da aparência e da saúde o que alimenta seu círculo virtuoso de auto-estima e lhes dá óbvias vantagens competitivas na vida pessoal e profissional. E quando doentes, os otimistas se recuperam melhor do que os pessimistas, não por causa de alguma força sobrenatural, mas porque em geral têm mais apego à vida, se dedicam mais ao tratamento e podem contar com amigos que nas horas difíceis contribuem com afeto e dedicação.

Sim, o pensamento positivo funciona e o verdadeiro segredo do seu sucesso não reside em teorias esotérico-mirabolantes, mas na soma de uma miríade de fatores ordinários individualmente imperceptíveis. No entanto, como veremos ao longo da segunda parte desse post, existe uma boa distância entre perseguir com uma postura positiva aquele bônus de final de ano e acreditar que sua conta bancária vai aumentar só escrevendo zeros com uma caneta à direita do seu saldo, como afirma "O Segredo".

Já a Lei da Atração, ou a "lei" de que semelhante atrai semelhante, não funciona tão bem como gostariam os adeptos do Novo Pensamento. É verdade que as pessoas tendem a se agrupar em tribos onde seus integrantes compartilham afinidades religiosas, culturais e sociais. E apesar do dito popular de que os opostos se atraem, acho que a maioria concorda que uma relação precisa de mais semelhanças do que de diferenças para funcionar. Por outro lado, se os endinheirados sempre atraíssem outros endinheirados eles não precisariam de carros blindados, e agiotas não teriam lucro fácil se gente com dinheiro demais não atraísse gente com dinheiro de menos.

Se a Lei da Atração parece funcionar tão bem é porque recebe uma boa maõzinha da nossa imaginação (algo melhor condensado na expressão inglesa "wishfull thinking"). Normalmente ninguém conta todas as vezes em que "atraíram" algo que não desejaram de jeito nenhum como uma visita da sogra bem cedinho no domingo ou um pneu furado em dia de chuva (afinal "shit happens!"), mas quando algo que desejamos à beça se concretiza... lá vai mais um ponto para a Lei da Atração!

"O Segredo" ensina que a Lei da Atração pode ser posta em ação pelo trinômio peça-acredite- receba, mas na prática a coisa toda é tão cheia de meandros que deixa bastante espaço para o exercício do wishfull thinking (aceito sugestões para uma tradução elegante). Por exemplo, segundo Lisa Nichols, uma das colaboradoras de "O Segredo", a Lei da Atração na verdade é assim meio como o bordão daquela antiga propaganda de guaraná: tem que saber pedir. Eis o que ela disse à revista Veja (edição de 4 de abril de 2007, que tem o filme na capa):

"Se pedir o que não é melhor pra você, você não ganha. Eu já desejei muito errado. Quis ficar com homens que achava serem perfeitos para mim, mas que não eram. Por isso não consegui."

Em outras palavras meu amigo, não adianta nada pedir a Juliana Paes se o Universo achar que você merece mesmo é a Betty, a Feia.

E se as coisas estão demorando demais a acontecer? A Lei da Atração falhou? Que nada... pode ser que simplesmente não seja ainda a "hora certa". Segundo Marrie Diamond, fengshuista e outra das professoras de "O Segredo", a Lei da Atração tem uma espécie de dispositivo que impede que você consiga tudo o que quer ao mesmo tempo, provavelmente para não enfartar de felicidade o desejante:

Sempre sonhei ir ao Brasil. Estar conversando com você [o jornalista da Veja] é um sinal de que isso vai se realizar. Mas as coisas têm que acontecer na hora certa. Não dá pra ter tudo ao mesmo tempo.

Por segurança é melhor não ser muito específico ao encomendar seu objeto de desejo, ou você corre o risco de não ter muita utilidade para aquele iPhone de 8GB quando, daqui a 10 anos, o Universo finalmente decidir que a "hora certa" chegou.

E o Jonh Hagelin? Lembram-se dele? O físico que acredita que a meditação reduz a criminalidade? Ele disse à mesma revista:

"Não há o perigo de todas as pessoas de Nova York desejarem um carrão e todas conseguirem. Primeiro porque só as pessoas com verdadeiro poder de pensamento vão conseguir, e elas são poucas. Segundo porque se uma coisa não atende ao bem comum a mente desenvolvida não a deseja."

Eu não só tenho uma mente "desenvolvida", como realmente acredito que o iPhone atende ao bem comum de transformar o mundo num lugar melhor, um mundo onde as pessoas possam ser mais felizes deslizando seus dedos pela tela, em vez de sofrer com aquelas teclinhas minúsculas no meio do aparelho. Posso pedir o meu agora? rápido, enquanto eles ainda tem a coisa em estoque?


A Ciência em "O Segredo"
Até aqui tudo o que eu fiz foi mostrar que a coisa mais secreta em "O Segredo" são os detalhes de sua campanha de marketing. Se a moda de reciclar velhos esoterismos pega, daqui a pouco homeopatas, fengshuistas, radiestesistas, astrólogos... todos vão ter algum segredinho para contar por R$ 39,90. Quanto ao pensamento positivo, ninguém pode discordar que mesmo não tendo ele nada de mágico ainda assim é algo que deve ser cultivado (desde que você simplesmente não vá se sentar sobre ele enquanto espera que o Universo providencie seus desejos).

Na próxima parte deste Guia Cético vamos debulhar a ciência em "O Segredo" e desmontar todas as falácias, mentiras, exageros e simplificações que este longo infomercial comete para vender o pensamento positivo.

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



ZZ - ESTUDAR SEMPRE

  • A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
  • A era do capital - HOBSBAWM, E. J
  • Antonio Gramsci – vida e obra de um comunista revolucionário
  • Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
  • As armas de ontem, por Max Marambio,
  • BOLÍVIA jakaskiwa - Mariléia M. Leal Caruso e Raimundo C. Caruso
  • Cultura de Consumo e Pós-Modernismo - Mike Featherstone
  • Dissidentes ou mercenários? Objetivo: liquidar a Revolução Cubana - Hernando Calvo Ospina e Katlijn Declercq
  • Ensaios sobre consciência e emancipação - Mauro Iasi
  • Esquerdas e Esquerdismo - Da Primeira Internacional a Porto Alegre - Octavio Rodríguez Araujo
  • Fenomenologia do Espírito. Autor:. Georg Wilhelm Friedrich Hegel
  • Fidel Castro: biografia a duas vozes - Ignacio Ramonet
  • Haciendo posible lo imposible — La Izquierda en el umbral del siglo XXI - Marta Harnecker
  • Hegemonias e Emancipações no século XXI - Emir Sader Ana Esther Ceceña Jaime Caycedo Jaime Estay Berenice Ramírez Armando Bartra Raúl Ornelas José María Gómez Edgardo Lande
  • HISTÓRIA COMO HISTÓRIA DA LIBERDADE - Benedetto Croce
  • Individualismo e Cultura - Gilberto Velho
  • Lênin e a Revolução, por Jean Salem
  • O Anti-Édipo — Capitalismo e Esquizofrenia Gilles Deleuze Félix Guattari
  • O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum - Antoine Compagnon
  • O Marxismo de Che e o Socialismo no Século XXI - Carlos Tablada
  • O MST e a Constituição. Um sujeito histórico na luta pela reforma agrária no Brasil - Delze dos Santos Laureano
  • Os 10 Dias Que Abalaram o Mundo - JOHN REED
  • Para Ler O Pato Donald - Ariel Dorfman - Armand Mattelart.
  • Pós-Modernismo - A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio - Frederic Jameson
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA

  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
  • A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Antígona, de Sófocles
  • As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
  • As três fontes - V. I. Lenin
  • CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
  • Crítica Eurocomunismo - Ernest Mandel
  • Dialética do Concreto - KOSIK, Karel
  • Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico - Friedrich Engels
  • Do sonho às coisas - José Carlos Mariátegui
  • Ensaios Sobre a Revolução Chilena - Manuel Castells, Ruy Mauro Marini e/ou Carlos altamiro
  • Estratégia Operária e Neocapitalismo - André Gorz
  • Eurocomunismo e Estado - Santiago Carrillo
  • Fenomenologia da Percepção - MERLEAU-PONTY, Maurice
  • História do socialismo e das lutas sociais - Max Beer
  • Manifesto do Partido Comunista - Karl Marx e Friedrich Engels
  • MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
  • MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
  • Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
  • Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
  • O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
  • O Caminho do Poder - Karl Kautsky
  • O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
  • O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a Repressão - Victo Serge
  • Orestéia, de Ésquilo
  • Os irredutíveis - Daniel Bensaïd
  • Que Fazer? - Lênin
  • Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda
  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
  • O Processo - Franz Kafka
  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
  • O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
  • O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
  • O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
  • Oliver Twist, de Charles Dickens
  • Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
  • Os Miseravéis - Victor Hugo
  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira