sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A atualidade do Manifesto Comunista



160 anos após ser publicado, o Manifesto segue fundamental para compreender a sociedade atual.


A Revolução Industrial consolidou o modo de produção capitalista gerando transformações sociais profundas às quais passaram a ser analisadas por uma série de pensadores desde os que apoiavam o sistema incipiente até os que se opunham a ele.

Assim, é publicada em 1848, uma obra que revoluciona o pensamento moderno, que faz uma análise minuciosa do funcionamento do sistema capitalista: o Manifesto Comunista, escrito pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels.

É fundamental nessa obra a dialética na qual a sociedade é entendida pelas suas contradições e permanentes transformações. Mas a principal sacada desses alemães foi o chamado materialismo histórico onde o modo de produção condiciona toda a sociedade. Dessa maneira a classe proprietária dos meios de produção detém o poder e as formas de convencimento dos demais membros da sociedade. "As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante", constataram Marx e Engels.


É detectada a mais-valia, que é a diferença entre a riqueza produzida pelo trabalhador e a apropriada pelo mesmo. Por exemplo: um trabalhador que recebe R$ 500 de salário e produz uma mercadoria que vale R$ 250, paga o seu trabalho com a produção de duas dessas mercadorias. O resto da produção desse trabalhador é apropriada pelo patrão. Se estabelece, assim, uma relação de exploração do empregado pelo patrão que é mascarada pelo pagamento do salário.


A ascensão da burguesia


"A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, (...), opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suas classes em luta.


A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas.


(...) os meios de produção e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da sociedade feudal.


(...) a burguesia destruiu as relações feudais, (...) para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as cruéis exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, (...) pela única e implacável liberdade de comércio.


Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal (...) a burguesia, (...) conquistou, finalmente, a soberania política (...) no Estado representativo moderno. O governo do Estado moderno não é se não um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.


A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho assalariado.


A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais."


Os operários


"Com o desenvolvimento da burguesia, (...) desenvolve-se também [...] a classe dos operários (...), que só podem viver se encontrarem trabalho e que só o encontram na medida em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em conseqüência, estão sujeitos (...) a todas as flutuações do mercado.


(...) o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e procriar. Ora, o preço do trabalho, como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho, decrescem os salários.


Massas de operários, amontoadas na fábrica, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado burguês, mas também (...) escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica. Esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo.


As camadas inferiores da classe média (...), os pequenos industriais, pequenos comerciantes, e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado: uns porque seus pequenos capitais, não lhes permitindo empregar os processos da grande indústria, sucumbem na concorrência com os grandes capitalistas; outros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos métodos de produção. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da população.


A organização do proletariado (...) é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários. (...)


Todos os movimentos históricos têm sido, até hoje, movimentos de minorias ou em proveito de minorias. O movimento proletário é o movimento (...) da imensa maioria em proveito da imensa maioria."


A propriedade privada



"Todas as relações de propriedade têm passado por modificações constantes em conseqüência das continuas transformações das condições históricas. A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa. O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade geral, mas a abolição da propriedade burguesa. A propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é (...) baseada (...) na exploração de uns pelos outros.


(...) a propriedade privada está abolida para nove décimos de seus membros. E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de privar a imensa maioria da sociedade de toda propriedade. (...) De fato, é isso que queremos.


Censuram-nos, a nós (...), a querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida, fruto do trabalho do indivíduo (...) Pretende-se falar da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, forma de propriedade anterior à propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la, porque o progresso da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente.


(...) o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. (...) O proletariado não tem propriedade (...)


(...) O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário, isto é, a soma dos meios de subsistência necessária para que o operário viva como operário. (...) o que o operário obtém com o seu trabalho é o estritamente necessário para mera conservação e reprodução de sua vida. Não queremos nenhum modo abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho (...) queremos é suprimir o caráter miserável desta apropriação que faz com que o operário só viva para aumentar o capital e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante.


(...) desde o momento em que a propriedade individual não possa mais converter-se em propriedade burguesa declarais que a individualidade está suprimida. Confessais, pois, que quando falais do indivíduo, quereis referir-vos unicamente ao burguês, ao proprietário burguês.


Alega-se ainda que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo. Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade, pois a maioria que no regime burguês trabalha não lucra e a maioria que lucra não trabalha."


As propostas de Marx e Engels



“(...) as crises comerciais (...), repetindo-se periodicamente, ameaçam (...) a existência da sociedade burguesia. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, (...), desaba sobre a sociedade - a epidemia da superprodução. (...) As forças produtivas de quê dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las (...) De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.


Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas também uma posição social na produção. O capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e (...), em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade. O capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social. Assim, quando o capital é transformado em propriedade comum, pertencente a todos os membros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta perde seu caráter de classe.


Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra. Quando os antagonismos de classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações.


Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, (...) ; se converte (...) em classe dominante e, (...), destrói (...) as antigas relações de produção, destrói juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes e as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.


Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.


Os proletários nada têm a perder a não ser suas algemas. Têm um mundo a ganhar.


PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!"

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

EVENTO: Benjamim Taubkin e Núcleo de Música do Abaçaí








Canções tradicionais de várias regiões do Brasil são

apresentadas em arranjos contemporâneos, que têm
a voz como instrumento central.

Projeto UNIMÚSICA 2008
horário: 19:00
local: Salão de Atos da UFRGS

Para reservar assento, cadastre-se em "agendamento
individual" aqui:
http://www.difusaocultural.ufrgs.br/agendamento/
e depois agende (até dois assentos por pessoa) aqui:
http://www.difusaocultural.ufrgs.br/agendamento/novo/index.php
Na hora do Xôu se leva um quilo de alimento não-perecível

Escute algumas músicas desse pessoal aqui:
http://www.myspace.com/benjamimtaubkineabacai

Resista, se for capaz!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O MST chega à encruzilhada


O artigo "O MST CHEGA À ENCRUZILHADA" na Revista Carta Capital, acertou o ponto crítico da luta social no Brasil. O maior movimento social do país e mais combativo, sente as mudanças do modelo produtivo neoliberal no campo e do equivocado apoio a pessoa do Presidente Lula. A tática do movimento parece vacilante e a estratégia ficou confusa, neste contexto, sentindo a dificuldade em combinar luta pela terra e o combate ao modelo da economia capitalista.

A meu ver, lutar pela terra é uma batalha contra a concepção capitalista de propriedade, consequentemente a luta é por uma outra sociedade e para isto, se faz necessária a organização do lumpezinato, dos excluidos do campo e da cidade. A luta tem que ocupar o lugar que o crime organizado tem nas favelas do Brasil e faça com que, de caricatura organizativa, o povo pobre saia do controle do crime e passe à organização política, com ações efetivas e concretas de seus interesses: por terra, justiça, liberdade, trabalho e independência dessa massa popular, excluída pela revolução tecnocientífica, em tempos neoliberais. Sem mudar a prática atual, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra não desenvolverá uma aptidão transformadora, ficando refém da concepção capitalista de propriedade produtiva no campo e como bem avaliou o camarada José Ernesto Grisa: "....prevalece, ainda, a ideologia do individualismo, onde o acampado ao ser assentado quer crédito para produzir e ganhar dinheiro para consumir....."

O empenho pela terra deve ser o resgate à identidade do povo, de suas culturas, contra as consequências excludentes da modernização econômica e também opor-se radicalmente à idéia de inevitabilidade de uma nova ordem geopolítica sob a qual o capitalismo, e seus valores e subculturas, tornam-se universalmente aceitos. A batalha a ser travada não é somente por terra e sim por uma nova forma societária, caso contrário a luta esmorece, a rebeldia é domesticada e a cultura da resistência se despolitiza e morre.

Depois desse depoimento sobre o momento que passa o MST, e é a encruzilhada de todos os movimentos sociais na América Latina, como também, dos governos: Chavéz, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia e Rafael Correa, no Equador. Aproveite e leia abaixo, o artigo da Revista Carta Capital - O MST CHEGA À ENCRUZILHADA

Artigo na íntegra:


por Phydia de Athayde e Rodrigo Martins









O MST chega à encruzilhada

Todas as manhãs, tão logo o sol desponta, Isaías Antônio Vedovatto está a postos para tirar lei­te das vacas e, eventualmente, acompanhar de perto o abate de bois e porcos. Assentado num lote de 15 hectares, na Fazenda Anoni, desapropria­da no início da década de 1990, o pequeno produtor juntou-se a 14 famílias do município gaúcho de Pontão para tocar um frigorífico comunitário e uma cooperativa de laticínios. Os alimentos produzidos no roçado familiar, como feijão e mandioca, não são comercializados. Reforçam as refeições da mulher e dos dois filhos.

Aos 44 anos, mãos calejadas e uma longa trajetória no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), Vedovatto é considerado por promotores do Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul um perigo à nação. Enquadrado na Lei de Segurança Nacional, restolho da dita­dura, o agricultor é acusado de promover saques, seqüestros e depredações por "inconformismo político". Associado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), conforme processo ajuizado em março deste ano, seria um dos artífices do grupo responsável por ensinar táticas de guerrilha aos acampados do MST, "incitando-os à subversão". Para "realizar a reforma agrária na marra", os assentados e acampados "constituíram um Estado paralelo, com organização e leis próprias”.

Na terça-feira 29, a Justiça Federal de Carazinho (RS) tomou o depoimento de Vedovatto e outros sete agricultores denunciados pela procuradora da República Patrícia Muxfeldt. Para embasar a acusação, ela reuniu os relatos de quatro fazendeiros, dois capatazes e três oficiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. O foco de maior preocupação dos acusadores são os acampamentos em torno da Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul, ocupada nove vezes pelo MST, que reivindica a desapropriação para a reforma agrária. Caso seja condenado, o agricultor pode pegar de 15 a 30 anos de prisão. Mas declara-se inocente. "Só participei da primeira ocupação, há uns quatro anos. Ajudei nas negociações. Depois disso, voltei para doar agasalhos e mantimentos. Eu não participo de nenhuma organização guerrilheira, isso é delírio". Outro acusado de atentar contra a soberania é o motorista Jandir Wibrantz, de 52 anos. Ele arrendou um sítio para os sem-terra acamparem.

"Aluguei para um piá (garoto) que vi crescer e não acredito que esteja metido em guerrilha. Nunca fui sem-terra. Fui vereador pelo extinto PDS, o herdeiro político da Arena, próxima dos militares." O MST tentou, em vão, obter uma liminar no Tribunal Regional Federal para extinguir a ação. "Crimes comuns, contra o patrimônio privado, viraram crimes contra o Estado. Causa espanto que a denúncia tenha sido acolhida”, diz Nilo Batista, advogado do MST e vice-governador do Rio de Janeiro na gestão de Leonel Brizola (1991-1994). Em parceria com entidades como a ONG Justiça Global, o movimento encaminhará uma denúncia à Organização dos Estados Americanos e à Organização das Nações Unidas contra o que considera uma tentativa de caracterizar o movimento corno "organização criminosa de caráter paramilitar". O coronel Paulo Mendes, comandante da Brigada Militar gaú­cha, por sua vez, insiste no risco ao Estado: "Para resistir às reintegrações de posse, os sem-terra armam barricadas, preparam coquetéis molotov, são técnicas de guerrilha mesmo". As informações repassadas aos promotores, diz, foram coletadas pelo serviço de inteligência da Brigada. Boa parte delas, pelo coronel da reserva Waldir Cerutti, que trabalhou como agente infiltrado durante a ditadura. Com base nesse dossiê, o Conselho Superior do Ministério Público gaúcho chegou a propor, em dezembro, "a dissolução do MST e a declaração de sua ilegalidade". A divulgação da proposta fez o Conselho voltar atrás. Outras ações, co­mo a proibição de manifes­tações, persistem. Tais iniciativas evidenciam que esta é a pior ofensiva sofrida pelo MST. Ironicamente, prospera na Região Sul, berço do movimento, nascido em 1984 no Paraná, e que personifica a luta dos excluídos do campo desde então. Bem longe dali, outro revés atinge em cheio o MST.

Na quinta-feira 24, a Justiça Federal de Marabá, no sul do Pará, condenou três líderes do movimento a pagarem 5,2 milhões de reais à mineradora Vale, por descumprirem a proibição judicial de interditarem a Ferrovia Carajás. A empresa foi alvo de três ações do movimento este ano. A decisão judicial, inédita, abre um precedente que põe em xeque a estratégia de enfrentamento às grandes empresas, adotada oficialmente no 5º Congresso Nacional do MST, em junho do ano passado. O primeiro, histórico, aconteceu em 1985. Em outubro de 2007, durante invasão a uma estação de pesquisa da Syngenta (multinacional que produz sementes transgênicas), no Paraná, um sem-terra e um segurança morreram.

Em março deste ano, uma unidade da Monsanto (transnacional que também produz transgênicos), em São Paulo, foi invadida. No mês seguinte, uma fazenda da Aracruz (nacional, produtora de celulose) foi ocupada por 700 sem­terra. O diretor de relações corporativas da empresa, Carlos Alberto Roxo, comenta, por escrito: "A Aracruz teve áreas e instalações invadidas, algumas vezes de forma agressiva e violenta. Recorreu à Justiça. Qualquer mudança na política agrária deve ser realizada através de debates e alterações na legislação, e não pela violência e desrespeito às leis e à Justiça".

As ofensivas e contra-ofensivas judiciais são apenas um dos componentes do momento difícil vivido pelo MST. O tempo é de mudança e adaptação forçosa a uma nova realidade, dentro e fora do País. Historicamente, o movimento e a causa da reforma agrária garantiram votos e plataforma política ao Partido dos Trabalhadores, numa trajetória que culminou na chegada de Lula à Presidência. Quase seis anos depois, é visível a opção do governo pelo chamado agronegócio, cujos recordes de produção e exportação têm garantido bons resultados à balança comercial. O mais independente dos movimentos sociais na era Lula sofre ainda com a rejeição da sociedade, fruto, em boa medida, da ostensiva campanha desencadeada pela maior parte dos meios de comunicação na última década.

Uma pesquisa do Ibope, realizada em junho, traz o MST como a terceira instituição na qual o brasileiro menos confia (65% não confiam e 31% confiam), melhor apenas que o Congresso Nacional (74% de desconfiança) e os partidos políticos (88%). Também mostra que apenas 22% dos brasileiros dizem conhecer bem o MST e 75% o conhecem pouco. Longe dos holofotes, os sem-­terra são vítimas freqüentes de assassinatos. De 2005 até hoje, 19 integrantes do MST foram mortos e 87, presos. O levantamento da Comissão Pastoral da terra mostrou que, em 2007, aconteceram 25 mortes em conflitos agrários. Idealizador do não-cumprido plano de assentar 1 milhão de famílias no primeiro mandato de Lula, o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) está preocupado.

"O MST vive um drama. Estamos em uma esquina da história dos movimentos sociais. Há no campo apenas tensão social, não tensão política. A massa foi anestesiada”, afirma Sampaio. O Bolsa Família e a aposentadoria rural ajudariam a explicar o quadro, por evocarem, na sua avaliação, a "cultura do favor", uma das faces do clientelismo. "A massa brasileira é desvalida, demora a encontrar um protetor. Quando encontra, não larga. O povo adora o Lula”.
No fim de julho, o MST invadiu a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Brasília, após ocupar escritórios regionais Brasil afora. A iniciativa lembra tempos passados e destoa um pouco da atual estratégia de centrar as ações contra as multinacionais. As principais mudanças no movimento vieram após a chegada de Lula ao Planalto. Para o bem e para o mal. "Investir no centro do poder, na pessoa do Lula, foi um equívoco histórico", avalia, hoje, dom Tomás Balduíno. O bispo emérito de Goiás viu nascer e crescer o movimento. A Comissão Pastoral da Terra, da qual é conselheiro permanente, foi um dos pila­res da formação do MST, ao lado do próprio PT.

Após décadas de luta, dom Tomás considera que tanto a decepção com o governo, "profundamente envolvido com o capital", como o não-enfrentamento ao governo levaram os movimentos sociais ao marasmo. "A evolução agora aponta para um novo caminho, de não cair no equívoco de tudo esperar do líder, do messias", diz o religioso, que acredita na reunião dos diversos grupos, no futuro, sob uma mesma bandeira.

Na avaliação de João Pedro Stedile, um dos líderes históricos, não houve erro. O voto dos militantes em Lula, desde 1989, foi "corretíssimo", pois representava um projeto de mudança. Ele lamenta, contudo, que a vitória não tenha alterado a correlação de forças na sociedade, como desejavam os movimentos sociais. Hoje distante do PT e de Lula, Sampaio destaca a importância política do MST, pois considera o movimento "civilizador", na medida em que impediu uma demanda "espontaneísta" pela terra. "Só não temos Farc no Brasil porque o MST politizou a luta pela terra." Como dom Tomás, porém, considera contraditório ocupar terras e, ao mesmo tempo, apoiar um governo que "não faz a reforma agrária".

Além da sempre delicada escolha entre pressionar ou não o governo; a melhora nas condições de vida dos mais pobres também faz parte da nova realidade. "Desde a eleição de Lula, há uma desmobilização das forças sociais. O MST já não tem o apoio da CUT, dos sindicatos", diz o deputado federal e candidato à prefeitura paulistana Ivan Valente, do PSOL. "Os movimentos sociais sentiram o baque”. Valente acredita que o MST não vive uma crise por ter o apoio de parcelas da intelectualidade, setores progressistas na Igreja e partidos políticos. "Mas a crise de identidade no PT, entre os que defendem mudanças e os que abrem concessões, tem impacto de divisão entre os militantes do próprio MST, sempre muito ligados ao partido”, provoca.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, não entra em detalhes sobre as diferenças internas, mas diz que o partido é "contra a criminalização do MST e as tentativas de constrangê-lo judicialmente". Apesar da mira do MST nas multinacionais, a quantidade de ocupações de terra e de movimentos em atividade permanece alta no Brasil. De acordo com dados do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera) da Unesp, no ano da posse de Lula, 92.883 famílias ocuparam terras no País. Em 2004, o número subiu para 118.225. No ano passado, eram 69.769 famílias em ocupações.

A queda seria reflexo das políticas sociais? O geógrafo da USP Ariovaldo Umbelino de Oliveira não acredita. "Mas é cedo para saber se o combate ao agronegócio como bandeira principal de luta terá tanto poder de mobilização quanto a reforma agrária", arrisca. O MST considera a mudança tática uma necessidade. "Não perdemos o foco", frisa José Batista, dirigente nacional. "Hoje, no lugar do latifundiário estão as multinacionais", diz ele, que tem 33 anos e é filho de assentados na região de Itapeva, no sudoeste paulista. Batista pertence à nova geração de líderes do movimento.

O presidente da comissão de assuntos fundiários da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Leôncio de Souza Brito Filho, representante dos gran­des produtores, rebate Batista: "A verdade é que o agronegócio acabou com o latifúndio improdutivo, por isso o MST ataca tanto os grandes produtores”. O ruralista rechaça a tese de que o agronegócio destrua o meio ambiente e explore o trabalhador. "Não dá para pegar as exceções e satanizar um setor responsável por recordes sucessivos de exportação."

Neste ano, a safra 2007-2008 deve alcançar 142 milhões de toneladas de grãos, 10 milhões acima do ano anterior. Ainda que o aumento da produção tenha ocupado áreas antes em desuso, a equipe do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) não considera que os latifúndios improdutivos tenham acabado, uma vez que as desapropriações continuam sendo feitas pelo Incra. Desde a posse de Lula, 1.532 propriedades, ou 3,2 milhões de hectares, foram desapropriados. Este ano, foram 128 imóveis, ou 250 mil hectares, segundo dados oficiais. Desapropriações resultam em assetamentos. Segundo o Nera, de 2003 até 2007, o governo federal criou 2.765 assentamentos, para 304.552 famílias, em 39 milhões de hectares. Deste total, 2.109 foram obtidos (ou seja, as famílias efetivamente entraram na terra) no governo Lula. Nos demais 656 assentamentos, as famílias já estavam na terra.

As ocupações acontecem não necessariamente nos locais onde os assentamentos são criados. O MST participou de 50% dessas ações no País. Realizou 317 ocupações em 2003, chegou ao pico de 409 no ano seguinte, para baixar em seguida para 335 e manter uma leve queda, 292 em 2006, e 289 no ano passado. Forçado a se adaptar aos novos tempos, o MST entende que todas as lutas de massa vivem um momento de descenso. Como reconhece que seus líderes são "forjados na luta”, ou nos acampamentos, é natural que o ritmo esteja mais lento. Também há as discordâncias internas.

Uma delas culminou no afastamento de José Rainha, líder carismático e combativo que atua no Pontal do Paranapanema (SP), uma das regiões mais tensas do País. Rainha discorda das diretrizes do MST e foi desligado dos quadros do movimento. No entanto, segue usando camisetas, bonés e a sigla MST. Ele criou uma Federação de Assentados (a Faafop) e recebeu quase 1 milhão de reais do governo para um projeto de biodiesel. O MST não registra afastamentos semelhantes nos últimos quatro anos, e diz ser errônea a idéia de que todos os outros movimentos de luta pela terra venham de dissidências suas.

"Há dezenas de movimentos no Brasil e isso representa um avanço da democracia. Em números absolutos, eles estão crescendo", diz Bernardo Mançano Fernandes, um dos mais respeitados especialistas em reorma agrária no País, coordenador do Nera. Apesar de considerar grave o avanço do modelo do agronegócio no País, ele avalia que a estratégia de enfrentamento adotada pelo MST tem pouco impacto no setor. "As mudanças no Brasil, como a reforma agrária, só virão em um novo ciclo de retomada das mobilizações de massa," prevê Stedile, otimista com o futuro. "Não precisa muito tempo até a sociedade perceber que o agronegócio está fadado ao fracasso pelas suas próprias contradições.”

Fernandes acredita que a atual mudança no processo produtivo é a raiz dos novos problemas no campo. "A demanda pela agroenergia causa problemas, pois compete por terra com os alimentos e esse processo começou", diz, contrariando o discurso de que o etanol brasileiro não concorre com áreas para comida. É fato que o etanol de cana, cultivada no Brasil, é mais produtivo do que o similar norte-americano, à base de milho. Mas não custa observar os dados preliminares do Censo Agrário, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Entre 1990 e 2007, diminuíram as áreas plantadas de arroz (4,1 milhões para 2,9 milhões de hectares) e feijão (5,3 milhões para 4 milhões de hectares). A da soja praticamente dobrou (11,5 milhões para 20,6 milhões de hectares) e a da cana aumentou de 4,3 milhões para 6,5 milhões de hectares. Não é fácil fazer previsões. Ariovaldo de Oliveira aposta que a crise dos alimentos recolocará a reforma agrária na agenda, pois "as pequenas unidades são as que mais produzem comida”. De acordo com o Censo, a agricultura familiar ocupa 30% da área plantada e é responsável por 70% dos alimentos do País.

O governo federal anunciou 78 bilhões de reais de crédito para a safra 2008-2009, sendo 65 bilhões para grandes produtores e 13 bilhões para pequenos. "Além de desproporcional, é errado dar crédito e não subsidiar o pequeno produtor, como fazem outros países”, critica Oliveira. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, considera o raciocínio uma simplificação, por não levar em conta a capacidade de endividamento de cada setor nem as taxas de juro aplicadas, maiores para os grandes e subsidiadas para os pequenos. "0 governo Lula deu novo significado ao papel da agricultura familiar e criou condições para o seu crescimento”, defende, mencionando o programa de assistência técnica, a política de preço minímo e seguro agrícola como exemplos.

Para Cassel, é obrigação do Estado garantir e regular a produção no campo. Isso estaria acontecendo "de maneira flagrante”. Em relação ao projeto abandonado de assentar 1 milhão de famílias, Cassel relativiza. "Mais da metade de tudo o que se fez de reforma agrária no Brasil aconteceu no governo Lula, que assentou 550 mil famílias." Tais números não batem com os do Nera. Oliveira, da USP, diz que é positivo o atual governo criar programas visando ao desenvolvimento agrário, e escancara: "Ruim é o governo não cumprir as metas que ele próprio estipulou, e mentir que as cumpriu". O ministro prefere falar do futuro. "Nas duas crises, a dos alimentos e a do esgotamento do petróleo, a agricultura familiar tem um papel fundamental. Temos de repensar a reforma agrária, sob uma nova ótica, para responder a esses dois desafios”.

O MST, por razões óbvias, tem pressa. Diante das profundas mudanças no campo, totalmente desfavoráveis, o movimento busca caminhos alternativos para manter acesa a chama que o transformou em um dos mais relevantes atores sociais da América Latina. Resta saber se o embate direto com as grandes empresas trará dividendos políticos ou embute o risco de distanciar ainda mais os sem-terra das cama­das urbanas do Brasil.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Justiça no Pará: juiz realiza cruzada contra movimentos sociais



Rogério Almeida*

Fossem realizar uma pesquisa para se conhecer o poder que melhor escancara as vísceras das desigualdades econômicas e sociais do país, difícil algum superar o poder Judiciário. Creio que somente a mídia o equivale em parcialidade. No Rio Grande do Sul o governo tucano deseja criar um estado de exceção contra o MST, onde mesmo almeja impedir a qualquer custo reunião que seja de uma dupla de pessoas. E se trajarem vermelho, mesmo que seja camisa do clube Internacional, serão enquadrados como hereges. Na corte superior o cacique máximo se empenha em libertar o mais notável gangster do sistema financeiro nacional.

Já nas bandas do Norte do país, mais precisamente em Marabá, cidade pólo do sudeste do Pará, o juiz Carlos Henrique Haddad desponta como um ás na cruzada em criminalizar as ações dos movimentos sociais da região da nação mais delicada na disputa pela terra.

Talvez se o fôlego da justiça sobrasse em sentido oposto, tanto crimes contra a vida de dirigentes sindicais e seus pares estivessem impunes. Talvez a grilagem de terras freasse, e mesmo as terras apropriadas indevidamente fossem revistas. Talvez Benedito Mutran não tivesse vendido terras públicas usadas em regime de comodato para o banqueiro Daniel Dantas.....Talvez uma porrada de coisas.......

Nesta semana o juiz Haddad de Marabá encorpou ainda mais os serviços prestados aos poderosos com um gol de placa, ao condenar mais três militantes de organizações sociais. Os eleitos desta vez são Luis Salomé de França, Erival Carvalho Martins e Raimundo Benigno Moreira, que integram o MST e o Movimento dos Trabalhadores na Mineração (MTM), a pagarem uma multa de cinco milhões de reais por obstrução da ferrovia da Vale no município de Parauapebas, no sudeste do Pará.

O mesmo juiz já havia condenado a dois anos de prisão o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Batista Afonso, um dos mais aguerridos defensores dos direitos humanos da região e o ex- militante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará (FETAGRI), Raimundo Nonato Santos Silva.

O currículo do notável juiz é de encher de orgulho qualquer representante das elites locais e de outras plagas com interesses econômicos na região. Entre os prestimosos serviços prestados, uma nota de repúdio das organizações dos movimentos sociais resume os seguintes pontos:

1. A revogação da prisão preventiva do fazendeiro Aldimir Lima Nunes, o “Branquinho”, denunciado pelos crimes de homicídio, trabalho escravo, aliciamento, ameaças a autoridades federais e grilagem de terra. Preso pela Polícia Federal, depois de ter fugido da delegacia regional de Marabá pelas portas da frente, mesmo assim, foi posto em liberdade em 2004, pela então juiz federal de Marabá.

2. A decretação da prisão de um trabalhador rural, pelo simples fato de o mesmo ter deixado de comparecer a uma audiência de interrogatório porque estava com medo de sair de sua residência e vir a ser assassinado, uma vez que havia sofrido uma emboscada de pistoleiros dias antes, tendo levado quatro tiros. Este trabalhador inclusive havia pedido proteção policial;

3. Deferimento de liminares reintegrando fazendeiros que ocupam ilegalmente lotes em projetos de assentamento - uma das decisões favoreceu o fazendeiro Olavio Rocha que acumulava ilegalmente 19 lotes no Assentamento Rio Gelado, município de Novo Repartimento;

4. Decisões favorecendo fraudadores da SUDAM e grileiros de terras públicas na região de Anapú - em janeiro de 2004, o então juiz da vara federal de Marabá (que ainda responde pela vara na ausência do atual juiz titular), cassou mais de uma dezena de liminares que devolviam milhares de hectares de terras públicas na Gleba Bacajá ao INCRA. Tais terras tinham sido griladas por madeireiros e fraudadores da SUDAM, entre eles, Regivaldo Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos de Moura, acusados de serem mandantes do assassinato da Missionária Dorothy Stang, crime que ocorreu meses após a decisão da justiça federal de Marabá. A decisão prejudicou também centenas de famílias que lutavam pela implantação dos PDS’s junto com Dorothy;

5. Decisão de requisitar o Exército para dar cumprimento a liminar em fazenda improdutiva ocupada por famílias sem terra e em processo de desapropriação pelo INCRA, no município de Marabá;

6. Deferimento imediato de Liminares em favor da VALE sem ouvir o MPF em ações de interdito e reintegrações de posse envolvendo movimentos sociais;

7. Concessão de liminares para vários fazendeiros da região impedindo o INCRA de realizar vistoria em fazendas parcialmente ocupadas, embora o Supremo Tribunal Federal já tenha decidido que nestes casos não há obstáculo para que o INCRA vistorie o imóvel;

8. Expedição de liminar de reintegração de posse em terra pública onde famílias estão assentadas há 5 anos – devido o INCRA não aceitar pagar, num processo de desapropriação, por uma área que descobriu ter sido grilada por um fazendeiro de Tucuruí, o juiz federal, arbitrariamente determinou o despejo de 112 famílias assentadas, no PA Reunidas, onde existem dezenas de casas construídas e estradas feitas, escola em funcionamento e as famílias produzindo.

9. De seis processos encontrados na Justiça Federal de Marabá onde a VALE responde por crime ou dano ambiental, em quatro deles não há sentença, sendo que um se encontra em fase de investigação pela Polícia Federal há mais de quatro anos. Em outro houve acordo para reparação pecuniária do dano e no último, uma Ação Civil Pública movida pela FUNAI e o Ministério Público Federal processando a VALE por dano ambiental, o juiz julgou improcedente o pedido favorecendo a VALE.

10. Mais de 30 lideranças dos movimentos sociais investigadas pela polícia federal ou com processos na Justiça Federal de Marabá.

Agora só falta a Assembléia Legislativa render homenagens ao juiz. A câmara municipal de Marabá um dia chegou a fazer do major Curió, que acaba de perder o assento de chefe do executivo da cidade que tem o nome em sua homenagem. A mesma casa legislativa, muito tempo depois voltou atrás.

Rogério Almeida, jornalista, é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

CARTA AOS ALEGRETENSES


Por Partido Comunista Brasileiro - Alegrete/RS


“Politicamente, os homens foram sempre as vítimas ingênuas dos outros e deles próprios e serão sempre enquanto não tiverem aprendido a discernir por trás das frases, das declarações e das promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os interesses desta ou daquela classe”. Lênin



Eleições 2008 - A arena está montada, os atores estão em cena, tem peça para todos os gostos. Aqui trazemos uma breve avaliação das forças em disputa na cidade de Alegrete.


O PP, partido de históricos defensores da ditadura militar, apresenta Leoni Caldeira/Bolsson. Há tempos (des)governa o município na lógica do assistencialismo, do clientelismo e do patronalismo político. Exerce um forte controle social sobre as camadas mais pobres, através da economia eleitoral, onde os instrumentos mais utilizados são cestas básicas, bolsa família, mutirões de serviços, utilização de cargos de confiança etc. Seu domínio ideológico se dá pela conservação da cultura tradicional do latifúndio (ruralismo arcaico), do qual é sua representação máxima, ou seja, usa da introjeção cultural nos segmentos alienados da população. Exerce forte cooptação nos meios de comunicação através de troca de favores e de lideranças sindicais e comunitárias, sempre disponíveis no mercado político. Sua continuidade no poder representa a manutenção da estagnação econômica, social e política da nossa pobre cidade.


O PSDB/PDT e seus concordes são os representantes genuínos do Governo Yeda, atolado em corrupção e com uma prática fascista de repressão aos movimentos sociais. Representantes do neoliberalismo, juntam-se ao PPS, partido do ex-governador Antonio Brito e de Busato, responsáveis pela maior privatização que o Estado do Rio Grande do Sul sofreu nos últimos tempos, onde foram passados grandes patrimônios públicos para o setor privado, enriquecendo esses políticos. O PDT local serve como sucursal dos interesses das RBS. O cômico desta aliança é o PV, defensor da ecologia, ao lado das forças que, comprometidamente, estão no governo do RS possibilitando a instalação dos desertos verdes. Representam um setor econômico agrícola que, consorciado com o poder do latifúndio local, é especialista em confundir o público com o privado, haja vista, que suas atividades econômicas são subsidiadas ou anistiadas historicamente pelas diferentes esferas de governo. São muito espertos no uso da máquina pública.


PMDB/PT, apoiados pelo “oportunista” PC do B, pelo DEM de ACM Neto e dos “ultradireitistas” Ônix Lorenzoni e Bolsonaro, têm seu objetivo primordial na busca do poder, não para mudar alguma coisa, mas para permitir que suas bases acessem aos cargos do poder local, pois assim podem manter suas definhadas militâncias, ávidas e sedentas por espaços na economia pública. É a tentativa de construir o novo com o conteúdo velho. Se alterar a questão fundiária é pré-requisito para o desenvolvimento local, é bom não esquecer os conceitos do candidato a prefeito desta aliança sobre a questão agrária e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, sua posição é tão reacionária e autoritária como é a de um grande estancieiro. O PT não possui mais “memória”, esqueceu disso ou concorda? As experiências administrativas tanto do candidato quanto de seu partido não os recomendam à administração pública. Sua representação de classe são os agroboys (nova geração de latifundiários), uma classe média falida, porém arrogante e conservadora. O PT é metamorfose da consciência de classe, de defensor do socialismo nos seus primórdios a um dócil administrador do capitalismo neoliberal, aburguesado, traiu a si mesmo e aqueles que sonhavam com a revolução social.


Uma simples alternância de partidos no poder significa trocar seis por meia dúzia, pois ambos propõem a manutenção da estrutura agrária, econômica e social em favor da elite local. Para o povo, nada de substancial significa. A história tem demonstrado isso, sai um, entra outro e o município, com o passar dos anos, definha social e economicamente. Boa parte da população economicamente ativa padece no desemprego estrutural. O que tem restado, principalmente aos jovens, é pegar a estrada e buscar outros lugares.


Mas Alegrete não é só miséria. Se existe a pobreza de uma ampla maioria, é por que também se produz riqueza, que é abocanhada por poucos, uma espécie de colonialismo interno, onde a distribuição da riqueza produzida aqui vai parar nos bolsos da elite conservadora associada ao capital das grandes redes de negócios, e agora, às multinacionais do agronegócio, juntos investem nosso capital em outras praças (imóveis em capitais, praias, turismo e mandar seus filhos para o exterior). O que sobra para os pobres e negros é a violência física agregada à violência verbal histórica a que estão submetidos, portanto, uma combinação de exploração com racismo, isto é luta de classe. Os meios de comunicação locais: rádios, jornais, etc, comprometidos com um ou outro bloco da elite local, fazem parte da divisão dos recursos públicos.


Recusamo-nos, na ação política, a sermos levados ao sabor do vento, nossa identidade é sermos oposição de esquerda a Lula/Ieda/Pillar e/ou seus representantes, ou seja, aos governos que representam os interesses da burguesia e dos latifundiários. Apesar de sabermos que o poder econômico mercantiliza a política institucional, precisamos de um canal de luta para todos que estão indignados com a mesmice, que desacreditam na institucionalidade burguesa e nos partidos tradicionais, que querem manifestar seu protesto, sua rebeldia.


Mesmo com a não concretização da Frente de Esquerda, pois o PSOL se apresentou de forma premeditada e hegemonista, sedento para se consolidar como representante da esquerda institucional no vácuo deixado pelo PT, o PCB optou por participar nas eleições recomendando um voto crítico no advogado e professor Djalmo Santos, que tem colocado sua experiência profissional a serviço dos movimentos sociais, dos pobres e excluídos de nossa cidade. É o único que pode levantar a problemática da reforma agrária, do desemprego, da falta de saúde, de habitação e de uma educação emancipadora, portanto, traz propostas próximas daquilo que conceituamos como Governança Comunista.

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



ZZ - ESTUDAR SEMPRE

  • A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
  • A era do capital - HOBSBAWM, E. J
  • Antonio Gramsci – vida e obra de um comunista revolucionário
  • Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
  • As armas de ontem, por Max Marambio,
  • BOLÍVIA jakaskiwa - Mariléia M. Leal Caruso e Raimundo C. Caruso
  • Cultura de Consumo e Pós-Modernismo - Mike Featherstone
  • Dissidentes ou mercenários? Objetivo: liquidar a Revolução Cubana - Hernando Calvo Ospina e Katlijn Declercq
  • Ensaios sobre consciência e emancipação - Mauro Iasi
  • Esquerdas e Esquerdismo - Da Primeira Internacional a Porto Alegre - Octavio Rodríguez Araujo
  • Fenomenologia do Espírito. Autor:. Georg Wilhelm Friedrich Hegel
  • Fidel Castro: biografia a duas vozes - Ignacio Ramonet
  • Haciendo posible lo imposible — La Izquierda en el umbral del siglo XXI - Marta Harnecker
  • Hegemonias e Emancipações no século XXI - Emir Sader Ana Esther Ceceña Jaime Caycedo Jaime Estay Berenice Ramírez Armando Bartra Raúl Ornelas José María Gómez Edgardo Lande
  • HISTÓRIA COMO HISTÓRIA DA LIBERDADE - Benedetto Croce
  • Individualismo e Cultura - Gilberto Velho
  • Lênin e a Revolução, por Jean Salem
  • O Anti-Édipo — Capitalismo e Esquizofrenia Gilles Deleuze Félix Guattari
  • O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum - Antoine Compagnon
  • O Marxismo de Che e o Socialismo no Século XXI - Carlos Tablada
  • O MST e a Constituição. Um sujeito histórico na luta pela reforma agrária no Brasil - Delze dos Santos Laureano
  • Os 10 Dias Que Abalaram o Mundo - JOHN REED
  • Para Ler O Pato Donald - Ariel Dorfman - Armand Mattelart.
  • Pós-Modernismo - A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio - Frederic Jameson
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA

  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
  • A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Antígona, de Sófocles
  • As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
  • As três fontes - V. I. Lenin
  • CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
  • Crítica Eurocomunismo - Ernest Mandel
  • Dialética do Concreto - KOSIK, Karel
  • Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico - Friedrich Engels
  • Do sonho às coisas - José Carlos Mariátegui
  • Ensaios Sobre a Revolução Chilena - Manuel Castells, Ruy Mauro Marini e/ou Carlos altamiro
  • Estratégia Operária e Neocapitalismo - André Gorz
  • Eurocomunismo e Estado - Santiago Carrillo
  • Fenomenologia da Percepção - MERLEAU-PONTY, Maurice
  • História do socialismo e das lutas sociais - Max Beer
  • Manifesto do Partido Comunista - Karl Marx e Friedrich Engels
  • MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
  • MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
  • Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
  • Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
  • O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
  • O Caminho do Poder - Karl Kautsky
  • O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
  • O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a Repressão - Victo Serge
  • Orestéia, de Ésquilo
  • Os irredutíveis - Daniel Bensaïd
  • Que Fazer? - Lênin
  • Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda
  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
  • O Processo - Franz Kafka
  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
  • O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
  • O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
  • O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
  • Oliver Twist, de Charles Dickens
  • Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
  • Os Miseravéis - Victor Hugo
  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira