
Baixarias e lixo importado


Tentativa de golpe na eleição

Um debate estratégico

Como fiz na Venezuela, estou perguntando aos equatorianos o que pensam do governo federal. As respostas são iguais em todos os países em que a esquerda está governando. Quem não gosta do governo, nesses países, diz que ele seria “populista”. Meu cliente, portanto, quando perguntei o que o governo mudou, para melhor ou pior, em sua vida, também sacou o “populista” da algibeira.
-- Mas o que foi que mudou, para melhor ou para pior em sua vida, depois que Correa chegou ao poder?
-- Em minha vida mesmo, nada. Mas ele briga com o Bush e os americanos compram uns 60% de tudo o que o Equador exporta. Não podemos brigar com ele.
-- Mas depois que Correa xingou Bush, caíram as importações americanas?
-- Não, mas...
-- E você acha que Bush faz um bom governo?
-- De jeito nenhum. É um filho da puta. O que ele fez no Iraque...
-- Será que Correa não tem alguma razão, então ?
-- Ah, sim, isso tem...
-- Mas você diz que ele é “populista”. Por que?
-- Ah, ele dobrou o valor do “bono” que o governo paga aos pobres; antes, o governo pagava 13 dólares, e agora, paga 30.
-- Só isso que Correa fez?
-- Bem, ele também aumentou muito, de fato, os gastos com saúde e educação. Ah, e baixou o preço da energia elétrica... Humm, e também do transporte público. Sabe como é, ele é populista.
-- Sei... Mas os outros, que não eram populistas, como aquele Gutierrez, que teve que fugir para o Brasil, eram melhores?
-- Não, claro que não. Eu não disse isso.
-- Mas se Correa é populista, quem foi bom governante?
-- Não... Bem... Ele até que está fazendo coisas boas para os mais pobres, mas é porque é populista.
-- Está prejudicando seus negócios, sua vida? Alguma coisa piorou para você?
-- Ainda não, mas vai piorar...
-- Como você sabe?
-- Ah, hoje tem um editorial no “El Comercio” que explica muito bem isso...
-- O que diz o editorial?
-- Ah, bem... Mostra como Correa é...
-- Populista?
-- É, é isso.
-- Pelo que entendi, Max, populista é o governante que dá aos pobres o que os não-populistas nunca deram. É isso?
-- É, bem, Correa tem uma chance boa, histórica, é verdade. Agora, com a constituinte, se ele souber aproveitar essa chance...
-- Mas você e o “El Comercio” não querem lhe dar chance nenhuma porque ele é... Como é mesmo que você diz?
-- populista...
Campanha dos movimentos sociais defende participação da sociedade civil no debate da renovação das concessões de rádio e TV
Mayrá Lima,
de Brasília (DF)
O dia 5 de outubro de 2007 é uma data emblemática. Depois de 15 anos, vence o prazo de concessão de várias emissoras privadas de televisão no País como as cinco retransmissoras da Rede Globo (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Belo Horizonte), Band, Record, Gazeta, entre outras. A data foi escolhida pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), organização que reúne os principais movimentos populares e sindicais do País, para o lançamento da “Campanha por democracia e transparência nas concessões de rádio e TV”. Estão previstas mobilizações em 11 capitais brasileiras.
A iniciativa, sob o mote “Concessões de rádio e TV: quem manda é você”, pretende denunciar as irregularidades dos processos de renovação das outorgas de exploração de serviço de radiodifusão, que desrespeitam o caráter público das concessões de rádio e TV. No mesmo dia das mobilizações, serão entregues ao Ministério Público Federal representações contra emissoras que veiculam publicidade 24 horas por dia – o que desrespeita a legislação. Também serão encaminhados ao Ministério das Comunicações pedidos de informação sobre as emissoras com outorgas vencidas.
A questão não se resume às concessões que vão vencer. Hoje, diversas emissoras de rádio e TV funcionam com a outorga expiradas e contam com o consentimento do poder público. O Ministério das Comunicações faz mais do que vistas grossas e trata a informação como sigilosa. No início de 2007, retirou de sua página na internet a listagem que relacionava prazos de vencimento dos concessionários da rádio e TV (Governo sonega informações sobre os donos da mídia). A falta de fiscalização por parte da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) facilita a prática irregular dessas emissoras. O que favorece as cerca de oito famílias que hegemonizam as comunicações no Brasil configurando um oligopólio poderoso na formação de opinião da população brasileira.
Democratizar a mídia
Os movimentos sociais que compõem a CMS avaliam que há uma “caixa-preta” a ser desvendada em todo o processo de renovação. De acordo com Rosana Berttoti, diretora de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), esta é uma pauta estratégica para os movimentos sociais. “A forma com que a mídia criminaliza os movimentos sociais fez com que nós encampássemos esse debate das concessões para que pudéssemos discutir que rádio e televisão no Brasil é concessão pública, logo precisa ser tratada como tal”, explicou (Emissoras se apropriam de um bem público para fins privados).
A reivindicação central da CMS é por um novo marco regulatório para as comunicações. A proposta é que sejam contemplados mecanismos de participação da sociedade civil na hora de se conceder um canal de TV ou uma potência de rádio. “É preciso que se tenham critérios de participação na hora de conceder e um processo de avaliação durante (o tempo de vigência), ou seja, que sejam respeitados os movimentos sociais, as mulheres, os negros, das minorias”, disse Rosana (Campanha pede democracia nas concessões de rádio e TV). O processo de renovação de outorga de concessão ocorre a cada 15 anos, no caso da TV, e a cada 10 anos no caso de rádios.
Discurso conservador
A maior dificuldade dos movimentos sociais é se contrapor à ladainha do medo, entoada pelos grupos empresariais, de que cobrar critérios para a renovação de concessão é uma “discussão autoritária” ou uma “ameaça à democracia”. A retórica dos oligopólios, no entanto, não se sustenta à luz da própria Constituição que determina ao Poder Executivo a competência de renovar e outorgar uma concessão. Mesmo assim, as empresas elaboram um discurso pelo qual se apropriam de um serviço público – o de radiodifusão – e rejeitam a participação da sociedade na definição daquilo que a compete, em uma democracia: a definição nos destinos do que pertence, justamente, ao povo.
“Isto não é, nem nunca foi, uma democracia. Isso se chama oligarquia. As concessões não deveriam ser dadas por órgãos estatais, mas por um órgão de majoritária participação popular. O Conselho de Comunicação Social deveria ser um órgão de Estado, mas com participação popular e poder de dar ou negar as concessões”, disse o jurista Fábio Konder Comparato.
Para Comparato, é preciso estabelecer uma série de controles para que o interesse público seja respeitado na ótica dos direitos humanos. “O Ministério Público deveria atuar sobre programas de rádio e televisão racistas. É preciso criar ouvidorias populares sobre a rádio e televisão. Os ouvidores deveriam ser eleitos e não ter nenhuma ligação com o poder Executivo. É preciso que os órgãos de comunicação de massa sejam democratizados, o que significa que não podem ser propriedade de empresas particulares”, defendeu o jurista.
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Cuba foi a última colônia da Espanha na América Latina e hoje é o primeiro país socialista neste hemisfério. Para cumprir este destino histórico singular, nossa pátria venceu obstáculos que pareciam intransponíveis.
A formação sociopolítica de Cuba resulta de diversos fatores internos e externos, ocorridos durante o grande período de tempo desde a época colonial espanhola até a norte-americana, que se estabeleceu depois da guerra pela independência cubana que foi boicotada e continuou com o triunfo da Revolução e do modelo socialista que estamos desenvolvendo sob a direção do nosso Comandante-em-Chefe, Fidel Castro Ruz.
Os fatores internos presentes naquele momento histórico, como o crescente grau de exploração colonialista que a Espanha exercia sobre Cuba; a histórica e imperiosa necessidade de abolir a escravidão; o crescimento e o desenvolvimento do sentimento nacional autônomo; assim como a maturidade patriótica, ajudaram a compreender a importância de desencadear a revolução anticolonial para libertar a Pátria.
Influenciaram também alguns elementos externos da realidade sócio-econômica insular, que se mostraram determinantes na hora de iniciar a preparação da revolta de 10 de outubro de 1868, dia em que começou a contenda dirigida pelo Pai da Pátria, Carlos Manuel de Céspedes.
A América Latina e a Revolução Cubana da época
Foi uma preocupação constante da Revolução atrair as simpatias e a solidariedade do Continente, tanto dos povos como de seus respectivos governos, o que representava a possibilidade de divulgar a justeza do combate anticolonialista e garantir a possibilidade de obter recursos bélicos.
Entretanto a realidade continental não podia respaldar cabalmente as necessidades concretas dos mambises[2], já que o grau de desenvolvimento das forças produtivas latino-americanas era extremamente pobre. Mesmo quando a ajuda material dos povos irmãos não tinha a energia necessária, um grande êxito da revolução foi capitalizar a seu favor os sentimentos anti-hispânicos do Continente.
Os governos latino-americanos solidarizaram-se abertamente com a ação dos revolucionários cubanos. Desde abril de 1869 até setembro de 1871, o México, El Salvador, a Colômbia, a Venezuela, o Peru, a Bolívia, o Chile, o Brasil e logo a Guatemala tornaram público seu reconhecimento ao estado de beligerância em Cuba, o que equivalia a conseguir facilidades amplas para a causa da independência.
O interesse norte-americano por Cuba
A aspiração de anexar Cuba sempre foi o principal propósito dos dirigentes dos Estados Unidos, desde o início dessa república, manifestado em reiteradas ocasiões por distintos governantes e homens públicos, como a expressão lógica dos princípios do destino manifesto. Ainda que, na realidade, interessava-lhes que Cuba continuasse sendo espanhola até que passasse a ser norte-americana.
A intervenção norte-americana não introduziu um terceiro elemento nesta guerra, mas tão somente uma irregularidade na luta que se travava entre Espanha e Cuba que constituía a clássica batalha anticolonial, de caráter nacional-libertador, de onde se deriva seu nome de guerra hispano-cubana. Historicamente o que sucedeu foi que a esta guerra foi sobreposta outra guerra, aquela travada pelos Estados Unidos e Espanha, o primeiro para se apoderar e o segundo para permanecer
A primeira guerra da independência em 1868, embora tenha sido iniciada e liderada por patriotas cubanos que procediam de famílias ricas, teve o peso fundamental da batalha recaído sobre os setores mais modestos do povo, que em luta desigual e incomparavelmente heróica mantiveram a luta durante dez anos antes de caírem vencidos, mais devido à divisão e à intriga, do que pelas armas inimigas.
Foi então que Antonio Maceo, um homem surgido das alas mais humildes, rechaçando o cessar fogo e a paz sem independência, converteu-se em um símbolo do espírito e da indomável vontade de luta de nosso povo, ao representar o imortal Protesto de Barágua.
Em 1895, de novo os cubanos levantaram armas. Desta vez a luta fora preparada politicamente ao longo de vários anos, sob a liderança de José Martí, cujo gênio político atravessou as fronteiras de sua terra e sua época ao organizar um partido para dirigir a revolução. Esta idéia, que paralelamente desenvolvera também Lênin para levar a cabo a revolução socialista no velho império dos czares, é uma das mais admiráveis contribuições de Martí ao pensamento político.
Sem recursos, sem suprimentos e logística, com uma população de pouco mais de um milhão e meio de habitantes, o povo de Cuba lutou contra trezentos mil soldados coloniais. A Espanha era então uma das maiores potências militares da Europa.
Tomaram parte ativa na luta pela nossa independência cidadãos provenientes de outros povos irmãos, que vieram por sua própria conta para lutar pela liberdade da nossa pátria. Um símbolo de todos eles foi o ilustre dominicano Máximo Gómez, que alcançou a patente de General do nosso exército. Belas páginas de solidariedade foram escritas por estes homens nos campos de Cuba.
Após a derrota da Espanha, em 10 de dezembro de 1898, foi firmado o Tratado de Paris entre os representantes da rainha-regente da Espanha e o presidente dos EUA, no qual sem o conhecimento de Cuba ambos entraram em acordo de que a Espanha renunciaria a todos os direitos de soberania e propriedade sobre a ilha, além de retirar-se de lá. Temporariamente, Cuba seria ocupada pelos Estados Unidos. Em 1902, o país havia simplesmente mudado de dono. O glorioso Exército Libertador foi licenciado. Governos entreguistas e leoninos convênios econômicos foram impostos ao país.
A economia cresceu deformada e com absoluta dependência dos interesses norte-americanos. A mais incrível corrupção foi estabelecida como prática habitual na administração pública. As facções políticas a serviço dos interesses estrangeiros repartiam entre si os postos, benefícios e cargos públicos.
Todo o aparato de força, a administração, o Parlamento e o Poder Judiciário existiam unicamente para servir aos interesses dos monopolistas ianques, dos latifundiários e burgueses. A prostituição e o jogo floresciam por todas as partes. A discriminação racial foi acentuada com o domínio dos EUA. As crises econômicas capitalistas gravitavam no país com tremenda força, em cada caso os EUA faziam recair sobre Cuba seus piores efeitos. Nossa política exterior era faturada em Washington.
A tarefa de libertar a nação da dominação imperialista naquele momento se unia inevitavelmente à de libertar a exploração do homem pelo homem no seio da nossa sociedade. Ter compreendido isso foi, em nossa opinião, o maior mérito histórico de Baliño e Mella quando fundaram, com um punhado de homens, o primeiro Partido Marxista-Leninista de Cuba, em 1925.
Em combates heróicos de nosso povo contra a tirania machadista[3], na década de
A Emenda Latt foi abolida como resultado da luta enérgica de nosso povo nessa época.
Durante todo este período, até 1952, o cenário político-econômico se manteve da igual. Sem mostrar nenhuma mudança favorável aos setores marginalizados e mantendo a subordinação aos desígnios impostos pelos Estados Unidos.
Em 1952 ocorreu o fatídico golpe militar de 10 de março. Batista que havia saído do poder em 1944 levando consigo dezenas de milhões de pesos, deixara nos quartéis o mesmo exército mercenário que usufruindo de incontáveis benefícios o apoiou durante 11 anos. Este aparato de terror na mão dos opressores constituía um obstáculo extraordinário ao desenvolvimento político e social do país. Treinado e equipado pelos EUA, na opinião de muitos, aquele exército representava uma força invencível.
Os partidos e as lideranças tradicionais foram absolutamente incapazes de articular uma resistência à ditadura militar reacionária. Em meio a esta situação, a ideologia burguesa e pró-imperialista dominava o cenário político. O anticomunismo em pleno apogeu da guerra-fria marcava a tônica em todos os meios de comunicação de massa. Embora houvesse um destacamento abnegado e combativo de comunistas cubanos, a burguesia e o imperialismo conseguiram isolá-los politicamente.
Continuidade histórica da Revolução Cubana
Não há situação social e política, por mais complicada que pareça, sem que haja uma saída possível. Quando há condições objetivas para a revolução, certos fatores subjetivos podem jogar um papel importante nos acontecimentos. Ainda que isso não constitua um mérito particular dos homens que elaboraram uma estratégia revolucionária, sem dúvida ela se saiu vitoriosa.
Eles receberam a valiosa experiência de nossas lutas no terreno militar e político; inspiraram-se nas heróicas batalhas pela nossa independência, nutriram-se do pensamento político que orientou a revolução de 1895 e a doutrina revolucionária que alenta a luta social libertária dos tempos modernos, apoiando-se em sólidos pilares: o povo, a experiência histórica, os ensinamentos de José Martí, os princípios do marxismo-leninismo e uma apreciação correta daquilo que nas condições peculiares de Cuba podia e devia ser feito naquele momento.
Destas convicções e realidades históricas surgiu o ataque heróico ao Quartel Moncada, sem o qual não teria havido o desembarque do Iate Granma, a luta
Todas as manobras imperialistas de última hora: golpe de Estado militar, governo provisório etc., foram destruídas. O imperialismo tinha que aplicá-las agora em uma nação latino-americana sem exército repressivo e com um povo armado. Isso significou o Primeiro de Janeiro de 1959. Aos 92 anos de
As principais medidas tomadas nos primeiros meses da Revolução tiveram o objetivo de castigar exemplarmente os principais responsáveis pelos crimes cometidos pela tirania de Batista, o que deu lugar a uma feroz campanha da imprensa imperialista contra a Revolução; confiscar imediatamente todos os bens mal havidos por funcionários do sangrento regime, o que ocorreu pela primeira vez na nossa história; dissolver o antigo exército que reprimira cruelmente o nosso povo; sanear a administração pública; erradicar a distribuição de cargos e a prática de receber salários sem desempenhar cargos; dissolver os partidos políticos que serviram à oposição; liquidar a direção dos sindicatos, corrompida e entreguista, restabelecendo os direitos dos trabalhadores; reintegrar a seus cargos os servidores despedidos; intervir na Companhia Cubana de Telefones, monopólio ianque implicado em negócios escusos com a tirania; diminuir na ordem de 50% os onerosos impostos pagos pelo povo; declarar que todas as praias do país passavam a ser públicas, suprimindo a exclusividade e a discriminação estabelecida pela burguesia; instalar a primeira Lei de Reforma Agrária; diminuir as tarifas elétricas; combater o desemprego e promover a melhoria das péssimas condições da educação e da saúde pública, com esse objetivo milhares de professores foram enviados às zonas rurais e numerosos hospitais começaram a ser construídos nos rincões mais distantes de nossos campos; iniciar o trabalho de erradicação dos bairros de indigentes.
Além da economia, todos os meios de divulgação massiva encontravam-se ainda nas mãos da burguesia e a nossa sociedade estava infestada de ideologia reacionária e anticomunista.
Na realidade, o povo adquiriu consciência socialista com o desenvolvimento da Revolução e a violenta luta de classes desencadeada, tanto no plano nacional quanto internacional. A luta de interesses do povo com seus opressores gerou a Revolução e a Revolução elevou esta luta a um nível ainda mais alto. E esta luta desenvolveu extraordinariamente a consciência das massas.
Paralelamente, os EUA centraram suas agressões no sentido de incrementar a migração de profissionais, técnicos, professores e milhares de médicos (dos 3.000 que existiam no país, ficaram apenas 1.500).
Estas ações podem ser consideradas como o último movimento anexionista encenado pelas classes reacionárias
A defesa da Revolução e de seu caráter essencialmente socialista foi ontem, é hoje, e continuará sendo no futuro a prioridade principal do país, a qual se sustenta em nossa história de lutas. Não serão poupados esforços e recursos para fortalecer a defesa da Revolução e tornar realidade, se for necessário, os objetivos da concepção de A Guerra de todo o Povo.
O bloqueio norte-americano contra Cuba, realmente é uma guerra econômica que pode ser qualificada como um ato de genocídio, resultando no mais prolongado e cruel bloqueio que já se conheceu na história da humanidade. Nestes 48 anos, 7 em cada 10 cubanos nasceram e viveram sob o bloqueio, cujo dano econômico ao país supera a cifra de 86 milhões de dólares.
Depois do desaparecimento do Campo Socialista, com o qual Cuba mantinha 85% das suas relações comerciais com preços mutuamente benéficos, o PIB do nosso país chegou a cair 35% entre os anos 90 e 92, provocando a implantação do chamado Período Especial com o que nos propusemos a resistir, continuar o desenvolvimento e manter nosso projeto socialista.
O governo dos EUA se aproveitou, então, para recrudescer o bloqueio por meio da adição de leis mais agressivas, como a Torricelli e a Helms-Burton que passaram a conceder caráter extraterritorial à sua política de agressão, com o objetivo de acelerar a derrocada da nossa Revolução.
Em meio ao Plano Especial, derivado de uma análise e discussão popular, foram implantadas medidas que introduziram mudanças na economia controlada pelo Estado, assim como abertura ao turismo, a não-taxação do dólar e a possibilidade do trabalho por conta própria.
Nesta situação econômica tão complexa, muitos esperavam que a Revolução entrasse
No ano de 2005, o crescimento do PIB foi de 11,8%. O ano passado, 2006, registrou um crescimento de 12,5%, depois que a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), aceitou publicamente a inclusão nos indicadores dos serviços de saúde e de educação que são gratuitos, mas financiados pelo Estado e possuem um valor mensurável em termos econômicos. Se estes elementos não fossem levados em conta no PIB, a economia cubana teria crescido 9,5% em 2006.
Inspirada em um pensamento de nosso herói nacional, José Martí, que diz: De pensamentos é a guerra que nos é feita. Vamos ganhá-la também em pensamentos, faz sete anos que se iniciou o que chamamos de Batalha de Idéias e que consiste em aprofundar e aperfeiçoar a obra da Revolução, por meio de 200 programas sociais desenvolvidos nas áreas de educação, saúde, segurança e assistência social, cultura, esportes e recreação.
Estudos realizados comprovam que nossos estudantes do nível primário aprendem 2,2 vezes mais matemática e 1,5 vez mais espanhol do que há quatro anos; em nível de ensino secundário se distribui as principais matérias de estudos por meio de vídeoclasses e outras formas por meio de dois canais de TV; a Universalização da Educação Superior possibilita cursar carreiras universitárias no próprio município onde o aluno reside, o que motivou a matrícula demais de 600 mil estudantes; o programa de Assistentes Sociais se estende por todo o país para dar atenção a crianças de até 15 anos que apresentem problemas nutricionais, jovens com problemas de conduta, crianças que padecem de enfermidades malignas, auxiliar pessoas da terceira idade, entre outros pontos; e a criação da Universidade de Ciências Informáticas onde ser graduam mas de seis mil jovens.
A Revolução Energética que acontece no país, começou a mostrar seus benefícios, sobressaindo à instalação de grupos geradores elétricos que funcionam com diesel e o início dos que trabalham com óleo combustível, assim como o maior peso alcançado na estrutura de geração de energia por grupos geradores elétricos e a gás.
Nosso Partido e Governo sempre deram a maior importância aos processos de integração entre os países da região, assim como ao desenvolvimento das relações mutuamente vantajosas de intercâmbio e colaboração.
A solidariedade esteve presente durante toda a construção da nossa Revolução, concebida não para dar o que nos sobra, mas para compartilhar com povos irmãos o pouco que temos.
No ano de 1999, foi criada a Escola Latino-americana de Medicina (ELAM), a qual conta com mais de 10 mil estudantes procedentes de 20 países. Durante a primeira graduação deste centro, formaram-se 1.497 jovens, dos quais 504 retornaram ao nosso país para cursar a especialidade
O programa de alfabetização Sim, eu posso desenvolve-se atualmente em 15 países e, até o dia 29 de janeiro passado, havia alfabetizado 2.082.425 pessoas. Este programa recebeu recentemente um prêmio internacional da Unesco por sua eficiência e qualidade.
A Operação Milagres que consiste na realização de cirurgias a afetados por problemas visuais, fundamentalmente cataratas, beneficiou 88.988 pacientes de 13 países, 305.930 de Venezuela, 96.855 cubanos e 24.024 mil caribenhos de 14 países da região.
Atualmente prestam sua colaboração no exterior 36.460 especialistas cubanos distribuídos em mais de 31 países, dos quais 27 mil pertencem ao setor de saúde.
Há dois anos, quando o furacão Katrina assolou a região do Caribe e do sul dos EUA, foi criado o contingente Henry Revé (nome de um voluntário norte-americano que lutou na guerra de Cuba contra a Espanha e alcançou altas patentes militares em nosso exército) composto por cerca de 2 mil médicos e pessoal paramédico para auxiliar cidadãos das regiões afetadas. Depois que o governo dos EUA recusou-se a aceitar nossa ajuda médica, os integrantes do contingente permaneceram vários meses prestando assistência no Paquistão, país que foi duramente golpeado por um terremoto e na Malásia, após o Tsunami.
Com a mesma decisão e altruísmo, da mesma forma ao que fizemos quando demos nossa ajuda militar e a vida de nossos patriotas na luta contra a dominação colonial na Argélia, no Congo, em Guiné-Bissao, na Etiópia e em Angola, aonde participaram centenas de combatentes internacionalistas cubanos; agora continuamos nos esforçando para compartilhar com os povos irmãos da região os conhecimentos e recursos de que dispomos, os quais temos brindado sem qualquer mediação de interesses econômicos ou políticos, sem intervirmos em seus assuntos internos, respeitando suas tradições e culturas, convencidos de que o futuro da América Latina, do Caribe e dos países africanos, é a integração entre os povos.
[1] Tradução livre do espanhol por Maria Helena D’Eugenio.
[2] Mambise, termo utilizado para referir-se aos soldados que no Século XIX participaram das guerras pela independência de Cuba. (N.T.)
[3] General Machado Ventura, ex-presidente de Cuba (N.T.)
Texto atualizado em 25 de Setembro de 2007 - |
por Rosângela Ribeiro Gil * |
Debate Sindical – O senhor lançou, recentemente, o livro "A organização do trabalho no Século 20" pela Editora Expressão Popular. É uma organização ultrapassada? Geraldo Augusto Pinto – É uma pergunta sintomática a sua. Indagar-se sobre o que é ou não ultrapassado, é quase uma obsessão das pessoas na atualidade. Mas não poderia ser diferente, mesmo, pois os discursos e as práticas imperantes no capitalismo primam pela efemeridade em todos os espaços da vida. O fato é que as contradições entre o antiquado que se veste de novo e vice-versa impedem a condensação de conceitos e nos joga numa interminável busca por respostas, muitas vezes infausta. Vivemos numa sociedade que se furta a enfrentar o “óbvio” e se satisfaz com metáforas que dão a sensação de mudança e mesmo de evolução, quando, no fundo, permanecemos os mesmos. Prova dessa paralisia é a necessidade de estar consumindo e descartando tudo freneticamente, desde bens até conceitos, uma repetição cujo ciclo só é possível, no curto prazo, pela transfiguração do velho no novo e vice-versa, indefinidamente. Bem, a organização do trabalho, tanto técnica quanto socialmente falando, dentro dessa lógica, desse tipo de sociedade, deve permanecer nessa condição de torpor pelo eterno “novo”, mesmo porque o trabalho é um espaço da vida onde a realização humana deveria ser plena e, como no capitalismo não é o que ocorre, tanto os empregados quanto os desempregados, os patrões e os sindicalistas, os gurus da administração e os pesquisadores das universidades, terminam forçando-se a suportar uma idéia de mudança. Debate Sindical – Fordismo, taylorismo e toyotismo são formas de organização do trabalho. Elas ainda existem no Século 21? Geraldo Augusto Pinto – Sim, estas três formas existem porque subsistem umas nas outras. Em termos gerais, a automação e as linhas seriadas de (Henry) Ford, do início do século XX, só foram realizáveis pelo automatismo imposto ao trabalho por (Frederick Winslow) Taylor, ainda nos fins do século XIX, mediante uma compilação de experiências de racionalização de ofícios industriais já em curso, uma velha disputa entre o conhecimento tácito dos trabalhadores e o controle gerencial nas empresas, em vias de monopolização. Taiichi Ohno, criador do sistema Toyota, depois da metade do século XX, não apenas manteve o cronômetro – embora não só nos postos individuais de trabalho, mas entre as empresas clientes e fornecedoras, através do just in time – como buscou introjetar nos trabalhadores um compromisso pessoal com as gerências, que só se tornou possível pelo estabelecimento de metas que estimulam o individualismo e o assédio moral nos ambientes de trabalho. Apesar de que, paradoxalmente, as gerências preguem o espírito de equipe e o diálogo nesse tipo de gestão, chamada “flexível”. Seja como for, para sermos breves, independentemente dos métodos de gestão e da maquinaria usada, captar a “iniciativa” (uma palavra de Taylor) dos assalariados, sempre foi e ainda é um objetivo no capitalismo, onde quer que ele esteja presente. Isso é o principal a ser visto, ao menos em minha opinião.
Geraldo Augusto Pinto – Eu diria que o taylorismo foi o resultado de um embate entre a classe trabalhadora e os gestores do capital dentro dos ambientes de trabalho nas empresas, após as revoluções industriais dos séculos XVII, XVIII e, em especial, durante a monopolização do capital no século XIX. Um processo longo e através do qual as gerências buscaram arrancar, de forma explícita, o conhecimento tácito dos trabalhadores sobre os ofícios que desempenhavam, para, depois de decompô-los e sintetizá-los em operações-padrão, impô-los dentro de normas que permitissem um controle mais acurado da extração da mais-valia nas jornadas, além de abrir a possibilidade de contar com uma ampla massa de trabalhadores sem qualificações especiais. O fordismo abusou destes mesmos princípios, embora a cooptação dos trabalhadores que promoveu tenha sido ainda mais forte que as bonificações por produtividade oferecidas por Taylor, uma vez que os aumentos salariais que advieram em alguns elos da indústria de massa fordista sugeriram uma suposta aproximação dos assalariados com o resultado do seu trabalho no mercado, dada a possibilidade de ampliação dos níveis de consumo. O toyotismo, por sua vez, açambarcou todas essas etapas e ousou ainda mais, pois, além de jogar com o ideal de um trabalho polivalente e qualificado, sugeriu uma suposta participação dos assalariados nos resultados (tanto positivos, quanto negativos) das empresas no mercado. Com isso, além de buscar cooptar os assalariados como potenciais consumidores dos próprios produtos, o toyotismo tem buscado seduzi-los com a idéia de que são potenciais sócios nos negócios – uma verdadeira quimera, pois o avanço do toyotismo coincide justamente com a globalização e a oligopolização do capital. Enfim, enquanto sistemas de organização do trabalho, cada um tem as suas especificidades técnicas. Mas, o que importa ao diferenciá-los, em minha opinião, são as suas artimanhas na busca de conquistar a “iniciativa” da classe trabalhadora com os objetivos da acumulação capitalista. Debate Sindical – Como essas formas influenciaram e influenciam a organização sindical dos trabalhadores? Geraldo Augusto Pinto – Eu penso que o taylorismo teve como principal alvo as corporações de ofício ou o que ainda restava delas no século XIX, na forma de associações ou sindicatos. Sua introdução nas empresas permitiu a contratação de trabalhadores cujos perfis de qualificação deveriam poder ser prescritos pelas gerências, o que abalou significativamente a organização política desses trabalhadores. O fordismo avançou na mesma via e potencializou todos os efeitos perversos do taylorismo. Não foi pensando em ampliar o consumo dos seus automóveis que Ford ofereceu aumentos salariais aos operários: a idéia era conquistar os sindicatos combativos. Com o avanço da industrialização de massa e sua transnacionalização no pós-1945, houve uma ampliação do tamanho das organizações sindicais e seu poder de mobilização junto às empresas e ao Estado. Mas, com a emergência da gestão flexível após as crises da década de 1970, surgiram, ou ressurgiram, elementos como o trabalho terceirizado, o trabalho em domicílio, as contratações temporárias ou em tempo parcial, as jornadas diárias e semanais mutáveis, e tudo isso em meio a um enorme desemprego estrutural, pois os sistemas de gestão flexíveis resultam em fortes enxugamentos das empresas, em qualquer conjuntura. Se o desemprego afeta diretamente as bases de filiação sindical, o mesmo promove a terceirização e as contratações precárias, ao deslocar a representação dos trabalhadores entre distintas entidades, fragmentando mobilizações conjuntas. Isso sem contar os efeitos deletérios na consciência de classe que os programas de envolvimento gerenciais e o assédio moral nos locais de trabalho produzem sobre os trabalhadores, fatos que certamente se refletem na organização sindical. Debate Sindical – Alguns falam que o trabalho perdeu a centralidade neste século, o senhor concorda com isso? Geraldo Augusto Pinto – O que ocorreu, em minha opinião, foram impactos que alteraram alguns aspectos das relações entre o trabalho assalariado e o capital. A longevidade de certas qualificações técnicas, por exemplo, foi reduzida e com ela o próprio tempo de permanência nos empregos, que também foram reduzidos em número e fragmentados nos seus conteúdos, seja pelos enxugamentos de quadros, seja pelas terceirizações. Dos trabalhadores tem sido exigida uma atitude de assiduidade, alto desempenho e comprometimento com os ideais das empresas talvez nunca antes vista, e isso mina a consciência de classe, abala o senso de defesa. Se sempre houve riscos pela escolha de uma carreira profissional, agora estes riscos são muito maiores. E então, como eu sugeri no início da conversa, a saída tem sido a aceitação de metáforas anestésicas: frente ao desemprego, difundem-se soluções individuais como as idéias de “empreender”, de “aprender a aprender”, de “liderar a própria vida”, de “não criar limbo”, às quais muitos se apegam por ilusão ou desespero. Houve uma espécie de aceleramento das contradições do modo de produção capitalista e isso está expresso em todos os setores, não só nas relações de trabalho. Dizer que o trabalho perdeu a centralidade seria tão absurdo quanto dizer que os seres vivos não dependem mais de trocas com o meio ambiente. O que está ocorrendo é uma degradação de ambos, e nisso os sindicatos e governos têm de estar alertas, quando propõem, para a solução do desemprego, uma aceleração do crescimento da economia, nos mesmos moldes. |
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