sexta-feira, 17 de agosto de 2007

"DIGA NÃO ÀS DROGAS"


(Luís Fernando Verissimo)

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta, depois, quando você quiser, é só parar..." e eu fui na dele.


Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", "da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do "Chitãozinho e Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "Amigo" e acabei comprando pela primeira vez.


Lembro que cheguei na loja e pedi:


- Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano.


Era o princípio de tudo!


Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé.


Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... "Banda Eva", "Cheiro de Amor", "Netinho", etc.


Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan", "Companhia do Pagode", "Asa de Águia" e muito mais.


Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes, então, meu "amigo" me deu o que eu queria, um CD do "Harmonia do Samba".


Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela!


Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais...


Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência.


Fui ao show de encontro dos grupos "Karametade" e "Só pra Contrariar", e até comprei a Caras que tinha o "Rodriguinho" na capa. Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo.


Não deu outra: entrei para um grupo de Pagode.


Enquanto vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos e fazíamos sinais combinados.


Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a coletânea "As Melhores do Molejão". Foi terrível!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada.


Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar "Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas"e "Tapinhas".


Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido.


Quando saía à noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferiam o "caminho dos templos".


Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.


Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim.


Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock, MPB, Progressivo e Blues. Mas o meu médico falou que é possível que tenham que recorrer ao Jazz e até mesmo a Mozart e Bach.


Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro.


Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável e distante; vai perder as referências e definhar mentalmente.


Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:


Não ligue a TV no Domingo a tarde;


Não escute nada que venha do interior de São Paulo;


Não entre em carros com adesivos "Fui..."


Se te oferecerem um CD, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe ou se apareceu no Sabadão do Gugu;


Mulheres gritando histericamente é outro indício;


Não compre nenhum CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;


Não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados;


Não compre nenhum CD que a capa tenha nuvens ao fundo;


Não compre qualquer CD que tenha vendido mais de 1milhão de cópias no Brasil; e não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.


Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos.


A vida é bela!


Eu sei que você consegue!


Diga não às drogas!

Quem pode?


Escrito por Gabriel Perissé 28-Jun-2007

“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, frase exaustivamente repetida nas empresas, nas escolas, nas penitenciárias, nos hospitais, nas ordens religiosas, nos quartéis.

Outra versão: manda quem pode, obedece quem precisa. Obedece, assim, aquele que teme. Obedece quem não sabe o que é obediência. Obedecer para não ser demitido, punido, excomungado, exonerado, rebaixado.

A obediência não é um desvalor. Não fere a nossa criatividade, se obedecer for muito mais do que cumprir ordens calado. Obedece quem pode, sim, obedece quem sabe, quem aprendeu, quem tem força, coragem. E obedece, não porque o outro manda, chicote em punho, mas porque o outro, ao mandar com justiça, manda bem.

Obedece quem tem juízo, sim, mas não por medo do juiz, do chefe, do carrasco, do feitor, do supervisor, do inspetor, do manipulador, do fiscalizador, do torturador, do delator. Obedece, não porque é ajuizado na covardia, mas porque o ato de obedecer, de obedecer com personalidade, é mais do que obedecer burramente, a cabeça baixa, o coração cheio de raiva.

“Obedecer” vem do latim ob-audire, “ouvir atentamente” — o obediente ouve algo mais do que o simples mandamento. E, por ter boa audição, saberá desobedecer a ordem idiota, quando idiota a ordem for.

Obedece quem sabe amar o conteúdo da boa ordem. Obedeço, sobretudo, ao que manda minha consciência quando esta vê coincidência entre mandato e verdade. Se alguém me ensina o certo, obedecer ao certo é mais do que certo.

Obediência requer ciência, inteligência, sapiência. Não é obediência obedecer por temer a advertência. Obediência requer um querer livre. Livre das seitas, dos tiranetes, dos esqueminhas.

O pacto da obediência pressupõe a colaboração entre quem manda e quem obedece. E quem manda saberá ter juízo para ouvir, aprendendo novos mandatos daqueles que geralmente o obedecem.

Os filhos obedecem aos pais, mas os pais obedecem aos filhos, aprendendo com eles a serem pais carinhosos, sem paternalismos.

O funcionário obedecerá ao chefe, mas o chefe obedecerá ao funcionário, descobrindo que funcionário não é coisa que funciona à base de ameaças.

O aluno obedecerá ao professor, mas o professor obedecerá ao aluno, descobrindo no aluno a pergunta mais exigente: “pra que aprender a classificar oração subordinada, fessô?”.

O subordinado obedecerá ao principal, mas o principal obedecerá ao subordinado — na sintaxe da vida, estamos todos unidos por conjunções e preposições.

Só pode mandar quem tem juízo.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Web Site: http://www.perisse.com.br

Rede Globo botou a viola no saco


Por Fernando Soares Campos em 7/8/2007

Por que a Globo calou Galvão Bueno na festa do Pan? Que se queira ou não, que se goste ou não, a Rede Globo é uma das mais poderosas redes de TV do mundo. Sustenta, há muitos anos, a maior audiência brasileira. Porém, essa mesma emissora, que tem no povo a sua principal fonte de renda, mais uma vez desrespeitou esse povo. Isso não seria novidade alguma se o que estou pretendendo dizer fosse apenas no sentido da manipulação que essa emissora promove através de sua programação, distorcendo fatos, acariciando os amigos, raposas políticas, e massacrando os inimigos, com golpes baixos, ora veiculando meias-verdades, ora mentindo escancaradamente.

Desta vez a Rede Globo desrespeitou seu público por tê-lo abandonado.

A Globo fez uma milionária cobertura dos Jogos Pan-Americanos, o Pan do Brasil 2007. Até contratou uma equipe de atletas famosos, celebridades do mundo dos esportes, para acompanhar e comentar as diversas modalidades esportivas com abalizadas opiniões de quem entende do assunto. Os esportistas prestaram assistência aos repórteres e âncoras dos diversos programas da emissora, e o telespectador saiu ganhando, pois muitas dúvidas de caráter técnico foram esclarecidas, assim como discorreram didaticamente sobre os preparativos para as disputas, as regras dos jogos. Enfim, descontando algumas compreensíveis bobagens que um ou outro possa ter dito, no geral o apoio logístico trouxe benefícios à cobertura da Globo no Pan 2007. A meu ver, Hortência Marcari, por exemplo, desempenhou muito bem o seu papel de comentarista.

"Que raiva, mãe!"

Não se é obrigado a gostar do Galvão Bueno, mas ele é um dos empregados da Globo que mais vibra com a emissora. Tenho certeza de que ele se sentiu mal vendo a festa do Pan do Brasil e não podendo estar na tela da Globo para dizer as bobagens dele, bobagens alegres. Imagine o Galvão, aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, impedido de vibrar na festa de encerramento do Pan.

A Globo ficou com a maior fatia de toda a grana da publicidade e, no final, abandonou o seu público. Fartou-se com as verbas da Caixa, da Petrobras... muitos milhões! E, na festa de encerramento, abandonou seu público. Deixou o Faustão no ar. Orra, meu! Isso não se faz.

Muita gente preparou seus cartazes para a festa de encerramento. São aquelas pessoas que gostam de dar adeuzinho para as câmeras, brincar com Galvão Bueno, exibir frases engraçadas.

** "Galvão, é nóis no Pan!"

** "Mãe, tô na Globo!"

** "Galvão, a gente se encontra em Guadalajara!"

Dessa vez, exibiram os cartazes para o vácuo, pois todos pensavam que a Rede Globo estava transmitindo a festa do Pan. Ergueram seus cartazezinhos, pularam e gritaram para as câmeras. Ao tomarem conhecimento de que passavam por palhaços... "Que raiva, mãe!"

A novela dos cubanos

No sábado, 28/07/2007, véspera da festa de encerramento dos Jogos Pan-Americanos do Brasil, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Rede Globo de Televisão colocou repórteres nos calcanhares da delegação cubana, acompanhando-a até o aeroporto do Galeão, informando ao público que eles estavam abandonando o evento, voltando a Cuba às pressas por ordem do "ditador" Fidel Castro, que temia uma fuga de atletas cubanos em massa...

Alardearam para os quatro cantos do mundo:

** Cubanos voltam às pressas para casa por ordem do governo

** O governo cubano mandou que voltassem às pressas os atletas que disputaram o PAN.

** Motivo oficial: alguns deles estariam sendo assediados por emissários de clubes da Europa.

** Motivo não-oficial: haveria o risco de uma deserção em massa. (Blog do Noblat)

Motivo oficial e motivo não-oficial! Essa foi demais!

Agora, tomamos conhecimento de que nada disso é verdade. O administrador da Vila do Pan informou que, desde a chegada da delegação cubana, foi informado e registrado que os cubanos retornariam ao seu país daquela forma, em grupos e dias determinados, conforme a disponibilidade de vôos dos cubanos.

O grupo de cubanos que viajou na véspera da festa de encerramento do Pan saiu de Cuba com aquela programação, tudo estabelecido para acontecer conforme aconteceu. A Rede Globo, como sempre, deu mais uma rasteira no público: informou que os cubanos estavam fugindo, estavam sendo conduzidos às pressas por ordem de Fidel. Que vergonha! A Globo, sim, fugiu do Maracanã para não mostrar os cubanos que ficaram, conforme programado, de acordo com sua a organização, para a festa de enceramento. Tentaram humilhar o povo cubano, informando, do aeroporto, ao vivo, que os atletas cubanos estavam sendo levados às pressas. Fugindo, ou tangidos como gado!

Pura armação!

Gente sem pão, ficou com o circo

O que diria Galvão Bueno na festa de encerramento do Pan diante dos 200 cubanos que entraram no Maracanã representando seu país?

"Ah, ficaram só uns 200, desculpem, idiotas do sofá!, a gente estava só sacaneando os cubanos!"

Não, Galvão Bueno não diria isso; mas a direção da Rede Globo, sim: não só pensaria, mas diria.

Entretanto, o desrespeito maior foi ao povo brasileiro, principalmente ao seu público, à sua fantástica audiência! A Rede Globo pode ser assistida em qualquer parte do território nacional. Muita gente, em lugares onde a Band não chega, acompanhou toda a cobertura do Pan através da Globo. Muita gente, naquele domingo, gente simples, lá dos cafundós do Judas, ligada na Globo, esperou pelas imagens da festa de encerramento do Pan. Gente pobre que não pode pagar TV por assinatura. Gente que nem sempre tem o pão, ficou com o circo do Faustão.

A Globo não pôde, por vergonha e ódio, transmitir a festa de encerramento do Pan, fugiu do Maracanã. A Globo enfiou o rabo entre as pernas e fugiu do Maraca! Vergonha!


quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Articulação nacional de quilombolas protesta contra a Globo


Henrique Costa - Observatório do Direito à Comunicação

17.07.2007

A CONAQ - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas se prepara para realizar no próximo dia 5 de outubro um ato para questionar o papel das concessões públicas de televisão e o oligopólio das comunicações no país. O principal alvo da manifestação é a Rede Globo de Televisão, acusada de criminalizar e deslegitimar o movimento dos quilombolas. O ato pretende agregar outras entidades e movimentos sociais, e a idéia é que nesse dia haja um boicote à programação da Globo e que se realizem atividades nos quilombos sobre análise de mídia. Outras organizações que defendem a democratização da comunicação planejam manifestações para o mesmo dia para reivindicar transparência na outorga e renovação das concessões de rádio e televisão. A data foi escolhida pelas entidades pois nesse dia vencem as concessões da Rede Globo, TV Bandeirantes e TV Record.

A manifestação dos quilombolas é motivada por matérias recentes veiculadas na imprensa com conteúdo discriminatório e que contestam tanto a legitimidade das comunidades quanto o reconhecimento, pelo Incra, de territórios que foram ocupados por quilombos durante a vigência do regime escravocrata no Brasil. O estopim da indignação foi uma reportagem veiculada no Jornal Nacional do dia 14 de maio deste ano, onde a emissora acusa a comunidade remanescente de São Francisco do Paraguaçu, em Cachoeira – BA, de falsificar documentos e, portanto, fraudar seu processo de legalização enquanto comunidade descendente, já aprovado pela Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura. Em nota divulgada na época (leia aqui), a CONAQ acusava a Rede Globo de manipular os fatos em benefício dos fazendeiros locais.

A primeira iniciativa da CONAQ foi entrar com um pedido de direito de resposta contra a Rede Globo, que ainda não teve retorno. Agora, do ponto de vista jurídico, a entidade pretende procurar o Ministério Público para tomar as medidas cabíveis. “A reportagem veiculada pela Globo foi forjada. As entrevistas com o nosso povo foram simplesmente ignoradas. Até a Rede Record chegou a fazer uma reportagem negando o que havia passado na Globo, mas por pressão dos fazendeiros, ela nem chegou a ir ao ar”, descreve Clédis Souza, uma das coordenadoras da CONAQ.


Segundo os organizadores, a manifestação do dia 5 de outubro é mais uma oportunidade para demonstrar a insatisfação dos movimentos sociais com a mídia conservadora e suas investidas contra os setores populares. Clédis Souza diz que vários movimentos já foram contatados, como o MST e o movimento negro no sentido de se agregarem ao ato. “É importante, no dia 5 de outubro, que mostremos que também temos força para questionar esta emissora, fazendo um boicote que crie repercussão”, conta.


Confira o manifesto elaborado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas:


CARTA CONVOCATÓRIA

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ, entidade representativa das comunidades quilombolas de todos os estados da Federação, convoca todas as entidades e movimentos sociais para construir o Dia Nacional de Repúdio à Emissora Rede Globo de Televisão.


A nossa proposta é que o próximo dia 05 de outubro de 2007 fique marcado pela manifestação "GLOBO, A GENTE NÃO SE VER POR AQUI!", que irá expressar a indignação dos movimentos sociais criminalizados, direto ou indiretamente, por essa emissora.

Nós, quilombolas, estamos vivenciando, como outros movimentos, de uma investida da REDE GLOBO com matérias que negam a nossa identidade étnica e contra o decreto 4887/03, que regulamenta o processo de titulação dos territórios de quilombos.


Questionamos:

. O jornalismo da Rede Globo, pois possui uma postura tendenciosa a serviço das oligarquias, cujos interesses sempre entram em conflito com os interesses das classes populares;
. A formação da opinião pública dessa mídia, já que essas matérias acabam contribuindo para um maior desconhecimento da luta dos quilombolas e de outras lutas, desarticulando os diversos movimentos;
. O ineficiente controle que todos os poderes públicos e sociedade possuem em relação a esta emissora, já que não se sabe quando se renova as suas concessões, não há fiscalização se os Direitos de Respostas são cumpridos, não há punições em relação às distorções cometidas, entre outras.

Sugerimos que neste dia (05 de outubro) sejam realizadas atividades, nas quais se discutam sobre o papel da Rede Globo na sociedade brasileira, analisando como essa emissora desrespeita a diversidade dos movimentos sociais e de entidades.


A nossa postura política representa um ato de repúdio ao abuso de um grupo de mídia privado que se utiliza da concessão pública para descredibilizar aqueles e aquelas, que há mais de 500 anos, constroem a história desse país.


Contamos com a sua adesão.

Nocaute técnico


Depois de muita confusão no noticiário sobre o caso dos boxeadores cubanos, uma coisa ficou evidente: houve mesmo muita confusão e pouco esclarecimento na nossa imprensa. Tudo para levar o governo às cordas, em mais uma manobra que acabou não dando certo.
Houve muita confusão no caso dos boxeadores cubanos que fugiram do alojamento do Panamericano, abandonando a sua delegação, e depois pediram para retornar à Cuba.

A confusão começou no uso seguido de uma palavra inadequada: “deportação”. Não houve “deportação” no sentido clássico da palavra. Desconheço portaria, decreto, ou algo assim nesse sentido. Houve autorização para que deixassem o país num avião fretado pelo governo cubano. Pelo menos até onde se sabe aqui no Brasil eles não foram coagidos a deixar o país de volta para Cuba. Também não houve um processo jurídico em que Cuba pedisse oficialmente ao Brasil a “deportação” dos boxeadores. Caso eles tivessem sido coagidos, a palavra adequada teria sido “seqüestro”, não deportação. Como no caso de Universindo Diaz e Lilian Celiberti, os uruguaios presos em Porto Alegre na década de 70 por policiais do DOPS gaúcho e entregues à polícia uruguaia.

Mas nada disso importa: o importante, na nossa mídia conservadora, era caracterizar a “subserviência” do governo brasileiro ao “ditador” Fidel Castro, para bater em três coelhos com uma só paulada: a política externa brasileira, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal.

Os cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara deram a impressão de na verdade não saberem muito bem o que queriam. Sua fuga não pode ser descrita como uma romântica aventura para escapar a uma cruel ditadura. Pareceu mais uma aventura no sentido mais vulgar do termo, e para confirmar, cito o Estadão (insuspeito quanto a favorecimentos a Cuba) de 13 de agosto. Depois de dizer que, aparentemente, os atletas tinham viajado com outros dois desportistas, o jornal esclarece:

“Na verdade o passeio durou dez dias. Não havia outros dois atletas cubanos, mas sim duas prostitutas, segundo depoimentos de gerentes de pousadas e pessoas que viram o grupo circulando entre Niterói e a região dos Lagos”.

Tudo muito diferente da situação de outro atleta cubano, Rafael Capote, da equipe de handebol, que foi o primeiro a deixar a delegação cubana no Rio. Este seguiu para S. Paulo por conta própria, num táxi, procurou depois a Cáritas do Brasil para ter ajuda na regularização de sua situação, e treina com os atletas da equipe do Sâo Caetano. Não consta que o governo brasileiro planeje “deportá-lo”.

Por outro lado, a atuação dos empresários alemães (pelo menos um é cubano de origem) ficou também envolta em mistério. Como conseguiram agir com tanta desenvoltura? Por que conseguiram deixar o país tranqüilamente, sem sequer serem interrogados para esclarecer seu papel neste episódio tão confuso? Por que suas declarações divergem quanto ao local onde ficaram no Rio de Janeiro (ainda segundo a mesma nota no Estadão, pág. A5)?

Nada disso foi levado em conta pelos que queriam apressadamente socar o governo brasileiro. Mas mais uma vez a manobra, pela pressa, acabou não dando certo, por falta de consistência. Houve acompanhamento do caso pelo Ministério Público Federal e pelo presidente da OAB-Rio, que afiançaram terem os dois pedido para voltar para Cuba.

Chegou-se a comparar, num gesto de alopração, o caso dos cubanos ao de Olga Benário, extraditada pela ditadura de Vargas para a Alemanha nazista, na década de 30. Santa demência!

Resta saber, isso sim, se houve alguma coação em Cuba contra a família dos boxeadores. O tempo dirá. Porque investigar, nenhum dos acusadores do governo brasileiro provavelmente vai.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

2007 - Conjuntura América Latina e Caribe

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Luiz Bassegio - SCGE *
Adital -

Encontro Parceiros de Fastenopfer

(Salvador, BA, 03 e 04 de julho)

Introdução

Continua dura a realidade dos povos da AL e Caribe. Manifesta-se no desemprego que obriga a milhares de pessoas a migrarem dentro dos países, da região ou então em direção aos EUA e Europa. Manifesta-se na crescente exclusão social fruto da concentração da riqueza, renda, da terra e na ausência de políticas públicas voltadas para a geração de trabalho.

Mundialmente, e em especial em nossa região, a dominação e a concentração das riquezas se dá através do domínio das tecnologias como a informática; pelo capital financeiro (empréstimos e juros); pelo domínio da agricultura (monoculturas extensivas, tansgênicos e sementes); pela cultura (controle dos Meios de Comunicação Social) e pela sobrposição do direto dos negócios, do mercado, sobre o direito dos povos.

Todavia nos últimos anos começaram a aparecer sinais de mudanças.

Na década de 90 basta lembramos o People´s Power 21 na Ásia; A Conferência contra o Neoliberalismo realizada pelos Zapatistas; Seattle (1999), Gênova (2001), Cancun (2003) e um importante local de todas as remitências - O Fórum Social Mundial., com sua Carta de Princípios.

Desde 1999 milhares de pessoas se reuniram em trono de dois tipos distintos de incentivas:

- em protesto contra os projetos das grandes instâncias mundiais de decisão (Banco mundial, FMI, OMC, União Européia);


- e outro mais institucional ao redor dos Fóruns: mundial, continental, nacionais e locais.


Este último com características novas: nada de declarações finais, votos majoritários, nada de ordens; não há presidentes, comitês de direção, mas um secretariado. Podem vir sugestões, como a das manifestaçõess contra a guerra em 2003.

1. Sopram novos ventos na AL e Caribe?

Nesta perspectiva, e com a vitória de governos do campo da esquerda social, parece que sopram novos ventos na Al e Caribe.

Nos últimos anos coincidiram várias Cumbres das autoridades concomitantes com as dos movimentos sociais. Na maioria delas, porém, houve confrontos entre os movimentos sociais que quiseram expressar sua indignação e propostas, com as forças militares encarregadas de fazer a segurança das autoridades.

Mas, é importante assinalar que, na medida em que na América Latina são eleitos governos sensíveis com os movimentos sociais (Venezuela, Bolívia e Equador), a realização das cúpulas vem tomando outro sentido: não mais de confronto e sim de diálogo e cooperação.

Foi assim no Uruguai, em novembro de 2006 quando se realizou a Cúpula dos chefes de Estado Ibero-americanos e o IIº Encontro Cívico Ibero-americano. Na ocasião a sociedade civil pode dialogar com os presidentes de 06 países, entregando o documento: "Migrações: Por um Mundo sem Muros, com Desenvolvimento Sustentável para Todas e Todos", fruto do IIº Encontro Cívico que debateu o tema "Migração e Desenvolvimento".

Em Cochabamba, esses "novos ventos" possibilitaram a realização de sete espaços de diálogo entre os movimentos sociais e representantes dos governos reunidos na Comunidade Sul-americana de Nações. No diálogo feito com vice-ministros, ministros e assessores de 12 paises, foram debatidos temas como problemas sociais, migrações, integração energética e comercial, infra-estrutura e meio-ambiente. Resta saber o que de fato será posto em prática.

O mesmo se pode dizer da Cúpula Social do Mercosul, realizada em Brasília, no final de 2006. E recentemente na Cumbre de Assunción, Paraguai.

2. Mas, o que querem os movimentos sociais?

Reafirmar as lutas de resistência levadas adiante contra o neoliberalismo, debater e avançar na construção de alternativas de integração dos povos, criar estratégias de incidência sobre a Comunidade Sul-americana de Nações e fortalecer os movimentos sociais.

Buscar uma integração regional que garant a vida e o bem estar da população, aumentar o trabalho formal, aumentar o salário e universalizar a seguridade social pública. A educação é um direito social e deve ser garantida pelo estado.

Submeter as dívidas auditorias e levar a juízo os que endividaram de forma inescrupulosa as nações.

Entender e defender a agricultura como modo de vida que não pode ser tratada como uma atividade econômica qualquer; realizar a reforma agrária integral que democratize o acesso a terra é fundamental para o desenvolvimento das nações. Garantir a soberania alimentar, o direito que todos os povos tem de produzir seus próprios alimentos de forma independente, saudável e de qualidade.

Exigir, no tema da Militarização, a retirada imediata das tropas do Haiti e que os governos não enviem soldados para treinamento na Escola das Américas, hoje denominado de Instituto de Segurança Hemisférica. Exigir inclusive o seu fechamento.


Condenar e rechaçar a construção de muros e a militarização das fronteiras entre os povos.

Enfim, construir outro modelo de Integração.

3. Os 03 Blocos de Governos

Na AL e Caribe há basicamente três blocos de governos: de esquerda, centro, e direita:


- Esquerda: Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Equador


- Centro: Argentina, Brasil, Uruguai


- Direita: Colômbia, Peru e México, etc

4. As várias Articulações dos Movimentos Sociais

Entendemos que os movimentos sociais se definem assim:

a) Fórum Social Mundial: espaço de reflexão e de elaboração de propostas e que se orienta pela Carta de Princípios, mas que não emite declarações, programas concretos, etc.


b) Aliança Social Continental: ligada aos sindicatos, entidades e ONGs e com a participação tímida de movimentos sociais.


c) Conselho dos Mov. Sociais da ALBA: proposta de Caracas


d) Esquerda Social: articulada em torno do Grupo Latino: Cloc, Via Campesina, Grito, Pastorais Sociais, etc. Organiza campanhas contra a ALCA, Dívida, OMC, Livre Comércio, União Européia, Militarização. Faz Plebiscitos e participa das Cumbres Paralelas.

5. A Integração que queremos



Os projetos de integração latino-americanos exigem algumas interrogações. Integração para quem? Para os setores privilegiados destas sociedades? Para que os capitais sejam nacionais ou transnacionais? Para que possam mover-se livremente por todo o continente? Ou, ao contrário, para os povos, para as maiorias empobrecidas, excluídas, subordinadas? Não basta que seja uma integração latino-americana ou sul-americana para que corresponda aos interesses populares. Tudo depende do modelo de integração em questão.

Uma integração orientada pelos valores do individualismo possessivo, da competição de todos contra todos, na qual se garanta o êxito dos mais fortes sobre a base da exploração e da exclusão dos mais débeis, isto é, uma integração que acentue as inaceitáveis desigualdades atuais? Ou uma integração guiada pelos valores da igualdade, da participação, da pluralidade, da solidariedade, da comunidade; uma integração que reconheça, valorize e deslanche uma extraordinária vaiedade de modos de vida dos povos de nosso continente?

A integração deve ter algumas características básicas:

- Deve entender América Latina como uma unidade, respeitando as diferenças e culturas; deve articular as diferenças;


- Garantir o protagonismo dos sujeitos sociais dentro de um espaço plural, democrático, ssutentável e eqüitativo e não pode ser imposta;


- Promover a complementariedade em vez da competição entre os países e estabelecer uma sociedade onde reine o bem comum;


- Ter a Interculturalidade como motor de desenvolvimento, respeitar o fato de que as culturas interagem, incluem valores e se complementam, prevendo relações igualitárias;


- Garantir uma integração geopolítica, concebida como parte dos processos de resistência à ordem global que busca impor a política unilateral e imperial do capital trnasnacional e do governo dos Estados Unidos;


- Deve garantir o direito das pessoas se locomoverem na região, trabalhar e ter todos os direitos garantidos.

Para isso, necessitamos lutar pela superação do sistema capitalista e mudar seu paradigma. Os problemas são reflexos da exploração:

- Neste processo de integração, consideramos que a primeira obrigação dos governos é desenvolver políticas necessárias para garantir efetivamente a liberdade de não migrar. Aspiramos a uma integração regional baseada em outro modelo que adote medidas contra as discriminações e que marginalize aos migrantes, as diversidades sexuais e de gênero. Ao contrário de uma visão reducionista dos imigrantes como simples força de trabalho, afirmar que são pessoas e não mercadorias e, portanto, devem ter garantido todos os direitos que permitam desenvolver-se e exercer plenamente a cidadania e gozar dos direitos como a seguridade social, direitos trabalhistas, sociais, culturais, econômicos, civis e políticos.


- Solicitamos não somente a livre circulação, mas também a residência dos cidadãos, criando um espaço sul-americano sem fronteira, fomentando una cidadania ativa e participativa.


- Exigimos que os países que não ratificaram a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migratórios e suas Famílias das Nações Unidas o façam o mais breve possível e aqueles que já a ratificaram a regulamentem e a ponham em prática.

Enfim, não se pode continuar com políticas que criminalizem e rotulem de "ilegal" os imigrantes. Deve ser eliminada a idéia que associa migração à segurança nacional e assegurar aos habitantes de cada país as condições para desenvolver-se e com bem-estar.

6. ALBA - Alternativa Bolivariana para as Américas

A Alba apresenta-se como uma alternativa social, econômica, política, ambiental e cultural. Não se baseia nos princípio de capital da competência, mas de solidariedade e complementaridade. Não se trata apenas da anti-globalização, mas de uma alter-globalização. É a Globalização dos Povos e não do capital.

Já está dando passos concretos como o Banco do Sul, Telesur, Editora da Alba, Agência de Notícias da Alba, Conselho dos Movimentos Sociais da Alba com direito a voz e voto e com iniciativas não de livre comércio, mas de comércio dos povos por meio dos TCPs. Exemplos: (petróleo da Venezuela, envio de médicos e professores, fundo para pequenos projetos, etc)

Alguns de seus princípios:

- O direito e o respeito à autodeterminação dos povos;


- O espírito de complementaridade econômica entre os povos e países;


- Comércio justo entre as nações e cooperação;


- A luta contra a pobreza e a exclusão social;


- O direito à preservação da identidade cultural de cada povo;


- Prática da solidariedade permanente de todos os povos do continente;


- Integração ecológica e produtiva;


- Defesa dos DDHH no seu sentido amplo (DESC) e das mulheres;


- Defesa da Soberania Alimentar;


- Defesa e preservação do Meio ambiente;


- Defesa e valorização das culturas nativas, dos afro descendentes, e autodeterminação dos povos indígenas.

7. Calendário:

- 13º Grito dos Excluídos


- Plebiscito e II Ass. Popular


- Fórum social Américas - Guatemala, 2008


- Fórum Social Mundial - Belém, PA, 2009


* Da secretaria continental do Grito dos Excluídos

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A estratégia do sim, mas não





Política Externa e Soberania








Perante a chegada de Hugo Chávez à Argentina muitos são os observadores que assinalam tratar-se de um "bom amigo" do nosso país. Isso é certo, mas essa qualificação, sem dúvida benévola na sua formulação, é insuficiente porque oculta o facto de que Chávez é um dos mais lúcidos governantes da América Latina e, de longe, aquele que foi ratificado democraticamente como nenhum outro, não só na região como no mundo. Em eleições, convém recordar, sempre supervisionadas por instituições tais como a Organização dos Estados Americanos ou o Centro Carter que nunca objetaram sua impressionante série de vitórias.

Lúcido, dizíamos, porque é consciente como poucos da importância de fomentar a integração econômica e política dos nossos países. Sabe que os grandes centros do capitalismo metropolitano juntam suas forças em esquemas de integração, como a União Européia, que potenciam sua capacidade de pressionar e extorquir o Sul; ou mediante tratados de "livre comércio" onde os Estados Unidos, como centro do império, reorganiza em seu proveito a vida econômica das suas províncias exteriores com a cumplicidade das oligarquias latino-americanas e dos governos de turno.

Chávez sabe muito bem que este processo de progressiva unificação das metrópoles capitalistas, sob a hegemonia incontestada de Washington, para ser eficaz exige manter na sua dispersão e desunião os países da periferia. Daí a insistência em convocar à união dos nossos povos e a absoluta coerência das suas iniciativas políticas continentais – sempre criticadas e até ridicularizadas pela assim chamada "imprensa de referência" e pela opinião "bem pensante" como faraônicas, megalomaníacas, etc – com esta idéia central. Lamentavelmente, Chávez encontra poucos acompanhantes do seu porte entre os governantes da região. Se Bolívar comprovou, no final da sua vida, contemplando horrorizado o panorama de guerras civis e governos em decomposição que o cercavam, que havia "arado no mar", até que ponto Chávez não estará a "arar no mar"?

Pergunta que se justifica quando se observa que as suas principais iniciativas de integração, como o Banco do Sul ou o Gasoduto do Sul, despertam a aprovação retórica dos governantes do Mercosul mas estes a seguir remetem o assunto aos "organismos técnicos" dos seus respectivos governos onde uma legião de tecnocratas neoliberais (habitualmente ex ou futuros consultores ou funcionários do Banco Mundial ou do FMI) encarregam-se de erguer todos os obstáculos possíveis para demonstrar a inviabilidade "técnica" do projecto.

O pacto diabólico do governo Lula
Sem dúvida o campeão desta estratégia do "sim, mas não", compartilhada pelos países do Mercosul, foi o governo Lula, o qual outrora foi a esperança de milhões dentro e fora do Brasil e hoje é mais uma decepção: sim ao Banco do Sul mas não à sua implementação; sim ao Gasoduto do Sul, mas não a sua construção; sim à Petrosul mas não ainda; sim à entrada da Venezuela no Mercosul mas aí temos um probleminha no Senado. Um Senado, convém recordar, que com ou sem as manobras não santas dos seus operadores políticos jamais foi obstáculo às decisões presidenciais.

Em suma, sempre "sim, mas não". Mais ainda, ao invés de avançar na concretização destas iniciativas Lula selou um "pacto diabólico" – na expressão sintética de João Petro Stédile, líder dos Sem Terra – com Bush para reconverter grande parte da agricultura brasileira à produção do etanol em prejuízo dos alimentos que o seu próprio povo necessita.

Com efeito, quem pode duvidar que é mais importante assegurar o abastecimento de combustíveis para os automóveis que circulam nos Estados Unidos do que tornar realidade a sua promessa de garantir a todos os brasileiros três refeições diárias, como ele prometeu no seu discurso inaugural de 2003? O ignominioso abraço com "o amigo Bush" em São Paulo e o reconhecimento dos múltiplos encantos de "Condy" Rice como uma afrodescendente exemplar constituem um dos capítulos mais ignóbeis disso que um grande intelectual marxista do Brasil, Ruy Mauro Marini, denominou correctamente "o sub-imperialismo brasileiro". Num continente como este, com países sedentos de energia e sobretudo de gás, opor-se de fato ao Gasoduto do Sul revela uma combinação pouco frequente de estupidez e mesquinharia.

Não só a Argentina, prostrada pela actual crise energética que paralisa indústrias e resfria habitações, como todos os membros do Mercosul, além do Chile, se beneficiariam muito da iniciativa do bolivariano. O gás abundante e barato (porque a Venezuela o ofereceria a preços preferenciais, abaixo dos assinalados pelo mercado mundial) seria uma importante contribuição para promover o crescimento económico e o acesso a melhores níveis de vida. Mas como o próprio Chávez admitiu publicamente por ocasião da VI Cúpula Social, que acaba de concluir em Caracas, o Gasoduto do Sul ficou no limbo.

O imperialismo moveu rapidamente suas peças, dentro e fora dos próprios governos de "centro-esquerda" da região, mobilizou as suas falanges jornalísticas que alertaram para os "perigos extremos" que implicaria a dependência dos nossos países em relação ao gás venezuelano (deixaram de mencionar, por exemplo, que a Europa burguesa firmou um acordo semelhante com a própria União Soviética e jamais houve problemas) e o assunto foi arquivado. Chávez deverá esperar um tempo prudente para ver se os seus "sócios" do Mercosul reagem com elevação e patriotismo, ainda que tenha outras opções: pode vender o gás aos Estados Unidos, a preço de mercado. Seria um negócio altamente rentável e esquecer-se-ia dos seus pusilânimes amigos do Sul, cujas luzes são muito curtas e não lhes permitem sequer ver o que é evidente.

Mas o presidente venezuelano é um homem fiel à tradição de Simón Bolívar e certamente esperará pacientemente que os governos do Mercosul façam o seu processo e, eventualmente, embarquem no projecto. O problema é que se trata de uma iniciativa estratégica, demasiado importante porque significaria um reforço da autonomia nacional dos nossos países, o fortalecimento do setor público e uma diminuição da nossa dependência das grandes transnacionais, tudo o que é inaceitável para as classes dominantes dos países da região e, naturalmente, para a Casa Branca.

E nossos governos, sempre surdos para ouvir as reclamações do povo, têm um ouvido finíssimo na hora de escutar os murmúrios dos ricos e poderosos, de dentro e de fora. Enfim, uma triste história que está a ponto de repetir-se com o Banco do Sul, que financiaria os projetos de desenvolvimento que tanto precisam os nossos países. Mas isto desperta as iras do capital financeiro e do seu operador internacional: a Casa Branca. E então a proposta é encaixotada com artimanhas, chicanices e sutilezas técnicas que, no fundo, não podem ocultar a natureza essencialmente política da recusa.

Não importa que o Banco do Sul pudesse proporcionar empréstimos a taxas preferenciais, bem abaixo das que imperam no mercado. Tampouco que viesse a favorecer as empresas nacionais, as PMEs e as agências do nosso deprimido setor público. Mas, ao diminuir a nossa dependência dos abutres, dos jogadores aldrabões e dos "lavadores de dólares" que controlam o sistema financeiro internacional o Banco do Sul converte-se numa ameaça imperdoável e os senhores do dinheiro ordenaram que a sua concretização fosse adiada sine die.

Chávez está a arar no mar? Talvez sim, se os seus referentes forem os governos da região; mas não quando se leva em conta a crescente projeção do seu exemplo, suas iniciativas e projetos entre os movimentos sociais e as forças populares da região. E serão estes e não aqueles que, mais cedo do que tarde, terão a última palavra.

O texto original de Atilio Borón encontra-se em: http://www.resumenlatinoamericano.org

Este artigo foi publicado em http://resistir.info/ .



Atilio Borón é sociólogo. Professor de Teoria Política e Social na Universidade de Buenos Aires (UBA).

Movimento Cansei - Burgueses Cansados? Descansem em colchões de pregos!


O presidente do OAB fluminense, Wadih Damous, classifica o protesto como um movimento golpista e de extrema-direita.

- A OAB do Rio lembra que, em determinados momentos da vida nacional, a extrema-direita já se assanhou, como agora está se assanhando novamente, e que isso não fez bem ao país. O 'Cansei' é um movimento de fundo golpista, estreito e que só conta com a participação de setores e personalidades das classes sociais mais abastadas do estado de São Paulo - afima.

O movimento tem provocado reações até mesmo de setores conservadores esclarecidos. Segundo ele, o 'Cansei' estaria tentando tirar proveito do acidente com o avião da TAM para fazer política.

26 de Julho de 2007

Olhem o movimento "social" dos ricos. Quem se enforca com a gravata dessa gente?

Entidades Apoiadoras

Publicado por admin em Campanha | Enviar por e-mail.

Associações apoiadores do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros:

1. OAB-SP
2. OAB-DF
3. ABRAPAVAA (Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos)
4. AATSP – Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo
5. ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV)
6. ABRAPHE (Associação Brasileira dos Pilotos de Helicóptero)
7. ABRAPI (Associação Brasileira dos Contribuintes)
8. ADVB
9. AEAGRO (Associação dos Engenheiros Agrônomos do Oeste de Santa Catarina)
10. AESCON-SP
11. Associação Brasileira de Odontologia
12. Associação Comercial de São Paulo
13. Associação Comercial da Gávea - RJ
14. Associação dos Antigos Alunos da FAAP
15. Associação Paulista de Imprensa (API)
16. BPW Brasil (Federação das Associações de Mulheres de Negócios e Profissionais)
17. CAEPS - Centro Avançado de Pesquisas e Estudos Sociais
18. CJE FIESP
19. Conaje
20. Conselho Regional de Medicina
21. CREA
22. FIESP
23. FIESP - Jovens Líderes
24. Fundação PIO XII
25. Grande Oriente Paulista da Maçonaria
26. Grupo Anglo-Americano
27. Grupo de Jovens da Associação Comercial
28. IBGT (Instituto Brasileiro de Gestão e Turnaround)
29. Instituto Cidadão
30. Instituto de Estudos Empresariais - IEE
31. JLIDE
32. LIDE
33. LIDEM
34. Movimento Viva Brasil
35. SESCON-SP
36. SINDHOSP
37. Sindicato Nacional dos Distribuidores de Produtos Siderúrgicos - SINDISIDER
38. AJEE - PALMAS-TO Associação dos Jovens Empresários Empreendedores de Palmas
39. CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte)
40. Associação dos Oficiais da Polícia Militar do estado de São Paulo
41. FETRANSCARGA (Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro)
42. FEHOESP (Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo)
43. Fundação Dileta Carniel
44. Associação Brasileira de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO)
45. Federação dos Trabalhadores da Saúde de São Paulo
46. Sinsaúde Campinas e Região
47. Associação Comercial e Empresarial de Itapuã
48. ANBD, a Associação Nacional dos Bacharéis em Direito
49. ADOTE (Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos)
50. REBRAF (Rede Brasileira de Entidades Assistenciais Filantrópicas)
51. INC (Instituto Nossa Cidade)
52. ABMCJ (Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica)
53. ACIT (Associação Comercial e Industrial de Taubaté)
54. ABRAC (Associação Brasileirados Advogados Criminalistas)
55. SINEATA (Sindicato Nacional das Empresas Auxiliares de Transporte Aéreo)
56. SEEBTUPA (Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Tupã)
57. ABIEPAN (Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos para Panificação, Biscoitos e Cozinhas Industriais)
58. SATED/MG (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Minas Gerais)
59. CONATED (Colégio Nacional do SATED)
60. CESA (Centro de Estudos das Sociedades de Advogados)
61. ADVB – USA
62. FENADVB

Para apoiar, envie um e-mail para entidades@cansei.com.br com os seguintes dados: Razão Social | Nome Fantasia | CGC/CNPJ | Dados de contato

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Exército russo voltará a usar bandeira comunista

04/05/2007 - da BBC
A Câmara Superior do Parlamento da Rússia votou a favor da volta da foice e do martelo à Bandeira da Vitória, a bandeira oficial do Exército russo.

Os símbolos soviéticos foram removidos há dez anos ainda no governo de Boris Ieltsin. Em meio à nostalgia pelo período soviético, a decisão de restaurar a foice e o martelo foi aprovada no país.

Já no desfile da próxima semana em Moscou, em homenagem à vitória na Segunda Guerra Mundial, os russos vão novamente ter a versão soviética da Bandeira da Vitória, segundo o analista de política russa da BBC, Steven Eke.

A bandeira vermelha, junto com a foice e o martelo e uma estrela branca, foram erguidas no Parlamento da Alemanha nazista no dia 2 de maio de 1945.

Milhões de pessoas no mundo todo conhecem a fotografia. Mas na Rússia, o significado da bandeira é mais profundo, diz Eke.

Segunda Guerra

A vitória soviética contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial permanece como um fato de significado quase religioso.

Existe uma feroz oposição na Rússia -nos níveis político e popular- ao questionamento do papel da União Soviética na derrota da Alemanha nazista. É algo que ajuda a explicar a reação furiosa à recente mudança de lugar de um monumento de guerra da era soviética na Estônia.

União

Depois do voto, o chefe do comitê parlamentar de nacionalismo disse que a Bandeira da Vitória era um dos poucos símbolos que continuam a unir todos os russos.

Retirar a foice e o martelo, segundo ele, prejudicou as fundações da Rússia moderna.

Mas também existe, segundo Eke, nostalgia pela União Soviética.

O presidente Vladimir Putin descreveu o colapso do bloco comunista como "um dos maiores desastres geopolíticos do século vinte".

Nos últimos anos o hino nacional da era soviética tem sido novamente cantado --mas com a letra diferente. Muitas estátuas e monumentos da época foram retirados dos depósitos.

Segundo Eke, autoridades e a imprensa descrevem o período soviético não apenas como uma época de repressão, campos de trabalho forçado e filas para comprar alimentos, mas como uma época de vitórias, progressos e orgulho.

Unidade da esquerda: nem sectarismo, nem conciliação


Por Ivan Pinheiro*

Desde o advento do primeiro governo Lula, a esquerda brasileira está dividida em dois blocos. De um lado, na base de sustentação do governo, PT, PcdoB, PSB, mais CUT, UNE e MST. De outro, PCB, PSOL e PSTU, formando com outras organizações uma frente de oposição de esquerda. No movimento social, desta frente surgiram a Conlutas, num primeiro momento, e a Intersindical, mais recentemente.

Todas essas forças políticas estavam unidas no enfrentamento ao governo FHC e apoiaram Lula, pelo menos no segundo turno de 2002. Com a posse deste, as divergências -- esmaecidas em razão da unidade na luta contra FHC -- passaram a fazer parte do cotidiano. Agora se tratava de governar!

A divergência fundamental entre estes dois blocos diz respeito ao caráter da revolução brasileira. Os que apóiam o governo Lula, e ainda se dizem socialistas, defendem uma etapa nacional-democrática, portanto em aliança com a "burguesia nacional", daí decorrendo a opção preferencial pela luta institucional.

Já a oposição de esquerda considera que o capitalismo brasileiro é plenamente desenvolvido e fundamentalmente associado ao grande capital internacional, razão pela qual a revolução brasileira tem hoje caráter socialista. No caso do PCB, isto não significa subestimar as lutas nacionais, democráticas e populares, embora sem considerá-las como uma etapa estanque, mas sim como parte da dialética do processo revolucionário.

A partir da reeleição de Lula, fica cada vez mais claro que se trata de um "novo" governo, mais conservador que o primeiro. Os indícios são muitos, entre os quais destacam-se:

- a enorme base de sustentação, centrada no PMDB e nos partidos conservadores;

- o definhamento da esquerda petista nas direções partidárias, nas bancadas e nos governos estaduais e municipais;

- o agravamento do fisiologismo, da cooptação e da corrupção;

- a retomada do calendário de contra-reformas neoliberais;

- o realinhamento da política externa para o "centro", aproximando-se do governo Bush e se afastando dos governos populares e progressistas da América Latina;

- o fetiche do crescimento a qualquer preço, mesmo que sacrificando direitos sociais e trabalhistas e o meio-ambiente;

- um viés autoritário, marcado pela tentativa de restrição ao direito de greve e pela criminalização de movimentos sociais.

A confiança das massas em Lula é tão grande que lhes deram uma segunda chance, perdoando todas suas vacilações e traições do primeiro mandato, debitadas generosamente na conta das dificuldades por não ter maioria e outras desculpas. Só que agora as massas começam a refletir sobre sua própria experiência. Com o início do processo de desilusão, reanima-se aos poucos o movimento de massas em nosso país.

É nesse quadro que se dá a possibilidade da recomposição da unidade de parte da esquerda brasileira. Pressionados no movimento social, perdendo espaço político, setores sindicais e populares da esquerda governista se aproximam da esquerda oposicionista, daí resultando atos amplos e unitários, como o Encontro Nacional Contra as Reformas, em 25 de março, em São Paulo, alguns atos do Primeiro de Maio e, mais recentemente, as manifestações do Dia Nacional de Luta, em 23 de maio.

A nosso ver, a esquerda oposicionista deve-se comportar com relação a esta tendência de forma equilibrada, pensando grande e longe, ou seja, privilegiando os interesses táticos e estratégicos do proletariado e dos trabalhadores em geral.

Isto significa, em primeiro lugar, reconhecer que é positivo que setores governistas de esquerda se afastem do governo e retornem às lutas populares. Tanto para derrotarmos a agenda de contra-reformas como para a construção do bloco histórico, na perspectiva do socialismo. Sendo assim, devemos tratar esses setores sem sectarismo, respeitando o ritmo e as limitações de cada um. Sem ilusões. Primeiro, porque não são todos os setores da esquerda governista que farão esta inflexão. Segundo, porque alguns deles podem estar fazendo apenas uma manobra tática, para não perderem entidades de massa e/ou se cacifarem na base de sustentação do governo.

Mas também não podemos cair no outro extremo, no outro erro, tão grave quanto o sectarismo: a conciliação. Não podemos fazer de conta que as divergências acabaram. A unidade se faz com luta. Respeitar as limitações não significa aceitar manipulações ou vacilações que, ao invés de ajudar, atrapalham a luta de classe.

É óbvio que cada lado tem que flexibilizar suas posições, sob pena de inviabilizar a unidade de ação. Por exemplo, se os governistas não podem (ainda) aceitar um ato de oposição ao governo, mas podem participar de um ato apenas contra a política econômica, podemos aceitar que este seja o eixo, mesmo sabendo que não existe um "governo bom, com uma política econômica ruim" e que a política econômica não era "do Palocci", como não é "do Meireles", mas do Presidente Lula. Portanto, podemos participar de um ato conjunto na porta do Ministério da Fazenda, mas desde que ali cada um faça o seu discurso com liberdade e que todos se respeitem.

Para dar outro exemplo, a esquerda oposicionista pode e deve participar da campanha pela "anulação do leilão de privatização da Vale do Rio Doce", hoje hegemonizada por importantes setores de esquerda, que adotam uma postura de independência com relação ao governo Lula. Mas não podemos abrir mão de deixar claras algumas questões a respeito:

- o centro da luta deve ser a mobilização para exigir a convocação de um PLEBISCITO POPULAR pela anulação do leilão da Vale, mas deixando claro que o objetivo da anulação é a REESTATIZAÇÃO da empresa, para colocá-la a serviço dos interesses populares e não os do capital.

- a argumentação central não pode ser que o preço pago no leilão foi baixo; nem o espaço principal da luta pode ser a via judicial. São dois erros, que podem levar a justiça a legitimar o leilão ou a marcar outro ou, ainda, a condenar o consórcio vencedor a pagar uma indenização, para compensar o baixo preço!

- a privatização da Vale foi um ato político, que assumiu também uma forma jurídica. A luta, portanto, deve ser eminentemente política. Deixar a anulação daquele ato político apenas nas mãos da justiça, além da ilusão de classe e dos riscos apontados, significa isentar o governo Lula e o Congresso Nacional da crítica pela omissão e cumplicidade com relação às privatizações da era FHC.

- além do mais, não podemos deixar de lado a luta pelo fim dos leilões da Petrobrás, iniciados por FHC e mantidos por Lula.

Finalmente, ainda sobre o tema da ampliação da unidade, mesmo estimulando-a, em nome dos interesses da classe, não podemos abrir mão da construção e fortalecimento da frente da esquerda oposicionista, até porque as divergências de fundo com a esquerda governista não desapareceram. E a principal delas, como se disse aqui, são as ilusões num projeto nacional-desenvolvimentista e na democracia burguesa.

* Secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: www.pcb.org.br

Conjuntura Nacional e as Organizações Populares[1]


1. Uma conjuntura pautada pelo governo federal

O governo Lula redefiniu (e continua redefinindo) todo cenário nacional. Pauta toda a política do país, incluindo as ações dos movimentos sociais, quase que exclusivamente reativas.

O governo Lula deve, então, ser objeto de análise mais precisa para compreender sua natureza e origem da sua força política.

Há duas características principais do estilo de governar da gestão Lula: o pragmatismo e sua vocação ao centro político-ideológico do país.

O pragmatismo de governo é uma característica de Lula, mas uma prática tipicamente sindical, já que o núcleo central petista do governo federal é oriundo de sindicatos cutistas mais poderosos. Com efeito, a prática sindical metalúrgica (e bancária) estruturou um modo de negociação absolutamente focalizada, objetiva e racional. Também organizou um sistema de controle político interno que qualificou o aparelho sindical como nunca antes se havia percebido na história sindical do país. Quando Lula afirma que não é um líder de esquerda, mas um metalúrgico, cria uma frase de efeito e de duplo sentido. Ser dirigente metalúrgico, na tradição de São Bernardo do Campo, é ter um modo de gerir e dirigir poderosas máquinas burocráticas e de mobilizar a sua base social. Controle da burocracia e discurso carismático sempre andaram juntos.

A segunda característica é a vocação ao centro político-ideológico. O centro é mais um posicionamento entre forças ideológicas que propriamente um ideário ideológico. Ser centro significa estar eqüidistante da direita e da esquerda, estas sim, declaradamente ideológicas. Analistas políticos sugerem que as lideranças de centro são mais moderadas, que defendem reformas sociais a partir das regras estabelecidas, sem rupturas frontais com o status quo. Na prática, a prática centrista leva ao pragmatismo, possibilitando a oscilação da agenda, ora mais à esquerda, ora mais à direita. O pragmatismo de centro não é ideológico, mas uma prática de preservação do poder. Algio Mastropaolo, no Dicionário de Política (organizado por Norberto Bobbio), sugere que o centrismo se baseia na dicotomia mudança-conservação. Progresso sem aventuras foi o slogan utilizado por muitas lideranças centristas. Governos de centro tendem a gerar um pluralismo moderado, pela sua capacidade de fagocitar forças políticas menos ideologizadas no espectro partidário.

É importante ressaltar que na conjuntura política mundial, embora as forças centristas não consigam ganhar eleições isoladamente, nenhuma força política de esquerda ou direita demonstram capacidade de ganhar eleições ou governar sem as forças centristas. Talvez, seja a característica de um momento de transição ou reacomodação de projetos ideológicos. Mas, também, é reflexo da polarização ideológica eleitoral em todo o ocidente, fruto da radicalização das posições xenófobas e dos processos de exclusão advindas do processo de globalização econômica.

A origem do que podemos denominar de lulismo é justamente a expressão do pragmatismo centrista. O lulismo (que vai além da figura de Lula) é a somatória do pragmatismo sindical metalúrgico, com o liberalismo econômico (construído a partir das formulações da PUC-RJ e FGV-RJ) e do controle burocrático de organizações marxistas inseridas no Partido dos Trabalhadores (em especial, aquelas que se desgarraram do PCB nos anos 60) e que passaram a controlar a máquina administrativa deste partido a partir de meados dos anos 80.

O governo Lula, a partir do expediente centrista, rearticulou o mapa eleitoral e político do país e desorganizou o discurso e a ação do que poderíamos denominar de campo popular democrático do Brasil[2]. Vejamos, ainda que brevemente, esta nova situação.

Lula criou o que denomina de coalizão, de tipo presidencial. A coalizão não foi um projeto político, mas uma reação ao cenário eleitoral. As últimas eleições do país (as eleições ocorrem a cada dois anos e favorecem uma leitura da movimentação da opinião e das forças políticas regionais, o que é sempre difícil perceber em sistemas presidencialistas) revelaram grande força de lideranças regionais. Levantamento realizado pelo Instituto Cultiva indica que 13 governadores eleitos no ano passado controlam mais de 50% das bancadas estaduais e federais (fazem parte da coalizão de governo dos governadores). Lula avançou rapidamente sobre as bases regionais, desconsiderando a origem partidária, apesar de manter distância em relação às lideranças do DEM e procurar dividir o PSDB, isolando lideranças tucanas (tendo como pivô a aproximação cada vez mais evidente com Aécio Neves, já indicado como possível sucessor de Lula, em 2010).

Com o falecimento de ACM (em 20 de julho último) e o ocaso de Jorge Borhausen, o DEM mergulha numa fase de reacomodação de grupos internos, sofrendo sangrias crescentes. No caso da Bahia, PMDB e PT disputam o espólio de ACM, com ampla vantagem para o primeiro partido.

Lula, assim, redefiniu a construção da sempre almejada ampla maioria, que antes estava mais concentrada no Congresso Nacional. Agora, utiliza cargos públicos para consolidar uma articulação mais fácil de controlar e testar. Em outras palavras: com cargos distribuídos a partir de dirigentes regionais, amarra governadores e bancadas ao mesmo tempo. Os acordos específicos com as bancadas passam a ser administrados pelos ministérios aos quais estão vinculados.

Em relação ao campo popular democrático, que incluiria grande parte das organizações não-governamentais vinculadas à ABONG e Interedes, Fóruns de Direitos, movimentos sociais e organizações de representação da sociedade civil que adotam como estratégia a radicalização democrática do país (incluindo algumas organizações confessionais), a primeira gestão Lula foi responsável por sua desarticulação e debelou o discurso e ideário original. Originalmente, este campo, que foi se constituindo ao longo da década de oitenta, pregava total autonomia em relação aos governos (muitas vezes, envolvendo o aparelho de Estado nesta determinação) e elaboração de um projeto alternativo de desenvolvimento nacional, privilegiando o avanço da organização coletiva em detrimento do apoio ao redor de uma liderança individual.

No caso da oposição mais à esquerda, composta, em especial, pelo PSTU e PSOL, sua estrutura é tipicamente a clássica dos partidos de esquerda do século passado, sem sustentação de massas, tendo como base política organizações sindicais (em especial, do funcionalismo público) e organizações estudantis. Neste momento, não se constituem em alternativa real à estrutura de poder montada pelo lulismo.

A vitória de Lula desarticulou os princípios e práticas deste campo político (popular democrático). Muitas lideranças foram cooptadas para cargos da gestão federal. Várias entidades passaram a sobreviver a partir das benesses de verbas públicas, fartamente distribuídas a partir do princípio da parceria, antes muito questionado por estas entidades. A base social destas organizações populares apoiou, desde o início o Presidente Lula, figura carismática e identificada como de sua classe social.

Somente a partir da crise aberta com o caso do mensalão, parte das lideranças deste campo iniciou um processo de reflexão mais crítica sobre o comportamento político caudatário que até então pareciam enredados. Mas a redefinição de práticas não ocorreu na dimensão e intensidade que os discursos sugeriam.

O segundo turno das eleições presidenciais do ano passado obrigou às organizações do campo democrático popular a se posicionarem novamente a favor de Lula. Foi mais tímido que na eleição anterior, mas a base social respondeu com maior intensidade que suas lideranças. Além da identidade de classe e o carisma de Lula, as políticas de transferência de renda vem impactando significativamente a população mais pobre do país.

A pesquisa CNT/Census, divulgada no final de junho confirmou o que já era patente. Revelou que o governo Lula é aprovado por 47,5% dos brasileiros. O desempenho de Lula, contudo, é ainda maior: 64% aprovam sua performance. A avaliação do governo apresenta melhora em sua popularidade a partir de abril de 2007, mas apresenta uma leve queda em junho. No caso da popularidade pessoal de Lula, sua popularidade se mantém estável. Lula volta ao patamar de popularidade do período anterior à crise aberta com o mensalão.

O mais impressionante é o cruzamento desses dados com a avaliação que a população faz dos principais problemas do país, ao menos aqueles amplamente divulgados pela grande imprensa. Somente 8% dos entrevistados revelaram que foram prejudicados pelos atrasos nos vôos (o apagão aéreo) e 67% afirmaram que desconhecem alguém que tenha sido prejudicado. Pouco mais de 30% ouviram falar nesta crise aérea e 20% afirmaram não saber do que se trata.

Sobre a violência e criminalidade, 76,1% afirmaram que está fora de controle (acima do índice de 71,5% verificado em abril) e 18,7% afirmaram estar razoavelmente controladas.

O partido da preferência do eleitor é o PT (21,4%), seguido pelo PMDB (10%). PSDB e DEM, os dois partidos que lideram a oposição ao governo federal possuem, juntos, 10,5% da preferência do eleitorado (sendo 7,7% para o PSDB).

Parece evidente que a imagem de Lula está definitivamente blindada. Lula é um personagem, uma figura pública desgarrado do jogo político de bastidor. Seu governo, pelo contrário, é menor que seu personagem. Este fenômeno sempre marcou a relação que o eleitor fez entre Lula e o PT. Agora, transfere a avaliação para a relação entre Lula e o seu próprio governo.

Neste sentido, o projeto alternativo de desenvolvimento, de promoção de direitos, da participação popular na gestão da política pública e combate à desigualdade social perdeu empatia. Envolve apenas o segmento mais organizado e, mesmo assim, muitas vezes limitado ao discurso, mas não à prática cotidiana para sua efetivação. Esta situação parece perigosa por diversos motivos. Um deles é a cristalização do conformismo frente à desigualdade que campeia no Brasil. Nosso país figura como 9ª economia mundial, mas está entre os quatro países com maior desigualdade social do planeta. Lula dialoga com este consentimento tácito da maioria da população. Outro risco é uma oscilação significativa de muitas entidades e organizações populares, sem saber como manter sua legitimidade (e até mesmo sobrevivência política e estrutural) num cenário como este.

E o governo Lula continua avançando nesta trincheira. Anunciou um pacto, vinculado ao PAC, de urbanização de favelas, de 3,24 bilhões de reais, sendo 2 bilhões de reais destinados ao Rio de Janeiro. O pacote é uma parceria entre todos entes federativos.

Na outra ponta do mundo não totalmente incluído, O Plano Safra 2007/2008, anunciado no último dia 27, destinou 12 bilhões de reais à agricultura familiar (20% superior ao recurso para a safra anterior), com redução média de 34% dos juros das principais linhas de crédito. O piso cairá de 1,15% para 0,5% ao ano. A taxa anual destinada aos assentamentos rurais será de 0,27%. O Ministério do Desenvolvimento Social propôs, ainda no dia 22 último, bônus de 400 reais aos filhos de famílias beneficiadas do Bolsa Família que completarem o ensino fundamental e 800 reais para os que concluírem o ensino médio, além do reajuste de 18% ao benefício mensal.

Este é o mundo do crescimento do consumo familiar. Segundo o IBGE, o PIB do primeiro trimestre deste ano cresceu 4,3% puxado pelo aumento do consumo familiar em 6%. O consumo familiar sobe há 14 trimestres.

Gráfico: Variação trimestral do consumo familiar no PIB (%)

O aumento de consumo teve como carro-chefe o aumento de 6,4%, no trimestre, da massa salarial. A classe C (entre 4 e 10 salários mínimos) puxou o aumento dos gastos com alimentos, bebidas, higiene pessoal e produtos de limpeza nos primeiros cinco meses do ano. Um aumento médio, deste segmento social, de 7% no gasto com esses produtos, se comparado ao ano anterior. Este é o segmento social mais importante no aumento de consumo doméstico do Brasil neste ano, acima do aumento de consumo da classe A (+ 5%) e classes D e E (+ 2%). Algumas consultorias especializadas em varejo, como Gouvêa de Souza & MD, sustentam que este segmento vem utilizando mais o cartão de crédito.

Este é o mundo do aumento do poder de compra dos metalúrgicos do ABC, berço político do Presidente da República, que receberam aumentos reais de salário de 22,6%, entre 2002 e 2006, segundo o DIEESE. Inflação controlada e o desempenho positivo da indústria automobilística propiciaram os reajustes.

2. Organizações Populares e a relação com o governo federal

Num cenário tranqüilo, o governo federal lidera absolutamente o mundo político. E define uma estratégia clara de relação com as lideranças sociais mais aguerridas e mais resistentes ao movimento de apoio acrítico à sua gestão. A palavra que sintetiza sua tática é divisão.

Divide os interlocutores do governo para negociações e divide as negociações por tema ou pauta específica. Esta é uma velha tática de negociação sindical. O governo, nas negociações com movimentos sociais e organizações populares, indica ministros e assessores ministeriais distribuindo o perfil mais agressivo e intransigente e aqueles mais negociadores e afetivos. É comum os negociadores governamentais dotados de um perfil mais ameno desabafarem nas reuniões, criticando seu próprio governo. Mas, não abandonam o governo e reaparecem em outras mesas e fóruns, com discurso semelhante, ladeados por governistas mais raivosos. Esta composição de mesa negociadora é clássica e procura abrir um espaço do que poderia ser considerado campo de negociação mais realista, obrigando o outro lado a ceder.

Mas não se divide apenas na negociação. Divide a pauta e evita qualquer possibilidade de articulação nacional. Divide a distribuição de verbas por ministérios e secretarias nacionais. E divide a montagem do PPA por temas, conselhos e conferências.

A estratégia fica, assim, toda comandada pelo governo federal. Restaria ao campo popular democrático negociar a partir da estratégia definida.

Há, ainda, uma profunda alteração no perfil dos movimentos sociais brasileiros e organizações populares que potencializam sobremaneira o cenário atual nacional.

A primeira alteração é a gradativa transição de movimentos sociais em organizações. Os movimentos sociais são plurais, centram-se em mecanismos de tomada de decisão fincados em instrumentos de democracia direta, legitimam-se pela capacidade de mobilização permanente e por lideranças que são delegados dos representados, ou seja, não possuem mandato permanente ou capacidade de decisão sem aprovação expressa da assembléia que o elegeu para uma tarefa. As organizações, por seu turno, são auto-referentes, possuem hierarquia de mando e estrutura administrativa, além de produzirem programas de formação de quadros internos, porta-voz institucional e disputa de recursos financeiros.

Muitas organizações populares passaram a se pautar pela forte institucionalização que foi conquistada a partir da Constituição Federal de 1988. Hoje, temos 30 mil conselhos de gestão pública em todo o Brasil (média de 6 conselhos por município), que carecem de articulação entre si ou mesmo de uma leitura estratégica sobre seu papel na elaboração e condução de políticas e controle social no Brasil.

A transição dos movimentos sociais em organizações e a institucionalização a-crítica dessas organizações populares parece ter gerado como efeito imediato e fragmentação das pautas e das ações deste campo político.

Assim, a leitura sobre desafios nacionais é absolutamente frágil. Não existe mais um diálogo com a cultura política nacional, ambivalente e híbrida, que envolve a grande maioria da população a ser representada pelas organizações populares. Uma multiplicidade de dados divulgados recentemente sugerem que a população de baixa renda não se identifica plenamente com a democracia (segundo o PNUD, 42% dos brasileiros adultos não têm certeza se aprovam a democracia) e com rigidez moral com recursos públicos (75% dos brasileiros, segundo o IBOPE, afirmam que se pudessem desviariam recursos públicos para auxiliar familiares).

As tarefas do campo político popular democrático convergem, assim, para duas grandes frentes: a articulação política deste campo e uma forte política de educação para a cidadania.

Sugiro, para finalizar este texto-provocação, a seguinte pauta de urgência:

a) Criação da rede de Escolas da Cidadania: de caráter municipal e geridas pelas organizações populares democráticas, as escolas produzem material e cursos sistemáticos e continuados para conselheiros e lideranças sociais com o objetivo de disseminar e aprofundar instrumentos e mecanismos de democracia participativa e controle social sobre políticas públicas;

b) Criação de Sistema de Monitoramento de Políticas Sociais, com elaboração de indicadores de avaliação e metodologias adequadas para o controle social e empoderamento de lideranças sociais locais;

c) Descentralização dos conselhos de gestão pública por bairros ou territórios, articulando-os em redes através de telecentros. Os diversos conselhos temáticos e setoriais se encontrariam no território, estabelecendo diagnósticos comuns que possibilitasse a articulação de planos de ação e programas também comuns. Esta é a base para construção do Conselho da Cidade e da possibilidade de formatação de uma Conferência Municipal de Políticas Públicas e não mais a pulverização de inúmeras conferências temáticas como ocorrem nos últimos anos;

d) Promoção da Lei de Responsabilidade Fiscal e Social nos municípios e Estados brasileiros, a partir da proposição do Fórum Brasil do Orçamento (ver www.forumfbo.org.br ).

Esta sugestão de pauta sugere uma reorganização do campo político aqui denominado de popular democrático. A conjuntura política brasileira é extremamente complexa e fracionada. Mais que nunca, a construção de um projeto contra-hegemônico (para utilizar os temos de Boaventura Santos) parte do princípio da necessária articulação deste campo (fugindo da atual fragmentação de natureza meramente técnico-operacional) e do enfrentamento da cultura política ambivalente que acomete a base social deste campo político.

Da profunda partidarização dos movimentos sociais e organizações populares que ocorreu nos anos 90, à frustração política com o governo Lula no final da sua primeira gestão, o cenário atual exige amadurecimento suficiente para a construção do protagonismo do que um dia se denominou novos movimentos sociais, que tinham como principal ideário a autonomia política dos segmentos sociais que se sentiam excluídos social e politicamente.

É necessário um aggiornamento deste ideário, o que exige um forte debate público sobre a intenção das organizações populares e dos mecanismos de democracia participativa institucionalizados nos últimos dez anos em nosso país.

Não se trata de uma mera ocupação de espaços políticos, mas da conversão desses espaços conquistados a partir de um plano estratégico que potencialize o controle social e radicalize a democracia brasileira.


Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



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  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
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zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA

  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
  • A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
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  • As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
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  • CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
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  • Manifesto do Partido Comunista - Karl Marx e Friedrich Engels
  • MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
  • MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
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  • Que Fazer? - Lênin
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  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
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  • O Processo - Franz Kafka
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ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira