sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A academia abomina a condição intelectual?


Marco Aurélio Weissheimer (Agência Carta Maior)

30/8/2005

A academia abomina a condição intelectual?


Ao analisar o declínio do pensamento crítico na América Latina, o sociólogo Atílio Borón defendeu uma tese provocadora: a retomada de um pensamento radical não pode se dar nos limites estritos da academia, pois esta se tornou um ambiente hostil à condição intelectual.


A retomada de uma linha mais agressiva de pensamento crítico nas ciências sociais e nas demais áreas das ciências humanas pode se dar nos limites estritos da academia? A questão foi levantada pelo sociólogo argentino Atílio Borón, do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), durante o XXV Congresso da Associação Latino-americana de Sociologia (Alas), realizado no final de agosto, em Porto Alegre. Após diagnosticar um declínio do pensamento crítico, especialmente na América Latina (ver “"Pensamento crítico precisa ser reconstruído na América Latina"”, Borón defendeu uma tese polêmica, oferecendo uma resposta negativa à pergunta proposta. Segundo ele, essa retomada não pode se dar nos limites citados, pela razão de que o mundo da academia hoje abomina a condição do intelectual. Para o sociólogo, as universidades latino-americanas não precisam de uma reforma, como muitos defendem, mas sim de uma revolução.

O déficit crítico, apontado por Borón, teria sido causado pela influência perniciosa de duas correntes de pensamento, o neoliberalismo e o pós-modernismo (conforme foi descrito no texto citado acima). Uma das expressões dessa influência, segundo ele, é o processo de contra-reformas universitárias em curso em vários países do continente. Uma das características marcantes desse processo, defendeu Borón, é a crescente discrepância entre a tendência de massificação do ensino e o volume de recursos disponíveis para a educação. Outra é a adoção de modelos de avaliação do corpo docente como forma de estabelecer critérios de remuneração. Pela lógica desse modelo, reduziu-se a remuneração básica dos professores, agregando-se “algo a mais” segundo o resultado de uma suposta “avaliação objetiva de desempenho”. A lógica que rege a publicação de artigos em revistas especializadas foi apontada por ele como um exemplo das distorções desse modelo.

O que é prioridade, afinal....

Hoje, observou, um artigo publicado em uma revista acadêmica norte-americana, por exemplo, vale para o pesquisador mais do que um livro publicado no próprio país, independentemente do conteúdo do artigo e do livro. O argumento é que nos Estados Unidos se faz uma ciência social de melhor qualidade e que, na América Latina, qualquer um publica um livro, afirmação repetida em outras áreas também. Assim, além da dependência dos pesquisadores latino-americanos em relação às agências de financiamento, o que define uma agenda de investigação ligada aos interesses estratégicos dessas agências, eles também passam a ter seus trabalhos orientados pela linha editorial das revistas especializadas norte-americanas e européias. E isso não ocorre só na área da sociologia, enfatizou Borón. Artigos sobre o Mal de Chagas, exemplificou, não tem grande ibope nas revistas dos EUA, com exceção de algumas na área de medicina social.

Para reforçar essa leitura, citou um estudo realizado por Russel Jacoby (autor, entre outros livros, de “O Fim da Utopia – Política e Cultura na Era da Apatia”, Ed. Record), sobre as publicações de duas das principais revistas de sociologia dos EUA, nos anos 80. Jacoby constatou que quase metade dos artigos tratava de temas relacionados aquele que seria o principal problema da sociedade norte-americana naquele período: como os norte-americanos e norte-americanas escolhem seus pares. Isso numa época em que os conflitos raciais explodiam em Los Angeles e em que a pobreza nos grandes centros urbanos adquiria maior visibilidade. Jacoby também pesquisou as publicações de revistas de ciência política, na década de 60, período da luta pelos direitos civis, contra o racismo, da guerra do Vietnã e do assassinato de John Kennedy. De 924 artigos publicados, só um tratava sobre o problema da pobreza, três abordavam o tema da crise urbana e um falava sobre a guerra do Vietnã.

Precisamos de um pensamento crítico e radical?

A partir desses levantamentos, Jacoby defendeu que a academia dos EUA havia se convertido em um gueto, onde o destino de toda uma geração de “jovens intelectuais” evidenciava uma inserção na vida universitária caracterizada pelo enfado e pela ruptura com a vida e a cultura públicas. “E nós seguimos esse exemplo”, disse Borón, indagando: “como é possível um pensamento crítico e radical sobreviver neste contexto?”. Não é possível, respondeu. Mas, afinal de contas, a que vem essa necessidade de um pensamento crítico e radical? Para o sociólogo argentino, a resposta é simples. A América Latina precisa de um pensamento desse tipo porque a situação social é cada vez mais grave, com o crescimento da desigualdade social e da pobreza, diagnóstico aliás reforçado pelo último relatório da ONU sobre a situação social no mundo (ver artigo de Marcio Pochmann, “"Objetivos do Milênio descumpridos"”).

Um pensamento crítico, acrescentou, que tenha como ponto de partida um princípio hipocrático: lutar pela saúde e pelo bem-estar do povo e da sociedade, que estão doentes. E um pensamento que procure sempre dizer a verdade e denunciar a mentira. Esta última, uma tarefa urgente, tendo em vista o processo de deslocamento da linguagem, operado nos últimos anos. Borón deu alguns exemplos desses deslocamentos. Todo mundo fala da redemocratização da América Latina, de que hoje temos governos democráticos, sem fazer nenhum tipo de questionamento a essa afirmação. Temos democracias, de fato, na América Latina? Para o sociólogo, se Aristóteles fosse vivo e conhecesse os governos do continente, os definiria como oligarquias com base no sufrágio universal e não como democracias. Quem se beneficiou, efetivamente, com o processo de redemocratização na América Latina? – indagou. Os 10% mais ricos, foi a resposta.

A metamorfose das palavras

Borón citou o caso do que ocorreu em seu país, a Argentina. No início do período pós-ditadura, a relação entre mais ricos e mais pobres era de 14 para um. Depois de vinte anos de consolidação democrática, essa distância hoje é de 35 para um. “No entanto, segue-se falando de governos democráticos. Que democracia é essa, que só acentua a desigualdade social? Isso revela a gravidade da crise teórica que vivemos, onde conceitos fundamentais não são mais discutidos”. Outro exemplo de deslocamento semântico. Há alguns anos, o Banco Mundial vem defendendo que a educação e a saúde não devem ser considerados como direitos fundamentais da população, mas sim como bens e serviços. De mãos dadas com essa posição, anda uma política de privatização de direitos básicos, onde a palavra “cidadão” vai sendo progressivamente substituída pela palavra “consumidor”. Mas as metamorfoses da linguagem não param por aí.

A expressão “transformação do Estado” foi substituída por “reforma do Estado”. A palavra “classe” desapareceu, “Nação” agora é “mercado”, “ideologia” virou “opinião pública” e “imperialismo”, “economia global”. O que fazer diante desse cenário? Borón lembra que a América Latina já deu grandes contribuições ao pensamento universal. Ele lembrou um comentário de Perry Anderson que definiu a América Latina como a região de maior criatividade e inventividade intelectual e cultural do mundo. “Na área das ciências sociais, essa produção já foi exemplar, como foi o caso da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe). Tivemos a Teologia da Libertação. Na área da educação, tivemos a pedagogia do oprimido, de Paulo Freire. Diante da crise atual, temos o compromisso de retomar essa tradição, não de um modo automático e mecânico, mas procurando construir novos modelos teóricos”.

Uma vantagem a ser aproveitada

Para Borón, temos uma vantagem única para executar essa tarefa. “Por sermos parte do quintal dos Estados Unidos, temos um horizonte de visibilidade muito maior para pensar nossos problemas do que aquele que existe na Ásia, África e Europa. Sofremos uma influência muito mais direta e quotidiana do imperialismo. É na América Latina que as contradições do sistema imperialista podem ser observadas com maior nitidez”, defendeu. Uma questão que deve ser respondida, no enfrentamento dessa tarefa, é se podemos realizar esse trabalho de reconstrução do pensamento crítico nos limites da academia, perguntou o sociólogo. A resposta veio rápida: “não podemos, porque hoje o mundo da academia abomina a condição do intelectual”. “O mundo da academia, hoje, é um mundo de carreiras, de projetos particulares, de avaliações entre os pares, é um mundo separado do resto da vida social, que não aceita o estilo de pensamento próprio do intelectual”.

Esse pensamento, prosseguiu, tem uma pretensão de universalidade que não aceita ficar trancada em disciplinas estanques. “Intelectuais têm seu público na sociedade e não somente entre seus pares. Sua missão mais importante é ser a consciência crítica de seu tempo. Hoje, a ambição da maioria dos acadêmicos é preparar sua aula, publicar seu artigo, ganhar recursos para seu projeto”, criticou Borón. Uma avaliação que certamente desagrada a muitos professores universitários que recusam esse enquadramento. Mas, para o sociólogo argentino, é esse o cenário dominante hoje na academia. E é por essa razão que ele defendeu, citando posição defendida também por Boaventura de Sousa Santos, a necessidade de revolucionar a academia. “As universidades não precisam de uma reforma, precisam de uma revolução, pois elas apresentam hoje um caráter profundamente conservador, mais conservador do que o da Igreja e das Forças Armadas, como diz Boaventura”.

O círculo mais ardente dos infernos

E se foi possível surgir algo como a Teologia da Libertação no ambiente conservador da Igreja Católica”, acrescentou, “talvez possa surgir algo novo também na universidade”. Para tanto, entre outras coisas, ele defendeu a necessidade de vincular a agenda teórica das ciências sociais e de outras áreas das ciências humanas com a dos setores sociais que lutam para transformar a sociedade, para democratizar o Estado e o conhecimento. Quem conhece o que é a universidade hoje, para o bem e o para o mal, sabe das resistências que essa proposta enfrenta. Mas Borón defendeu-a com ênfase, algo que vem fazendo há algum tempo, para a irritação de muitos de seus pares. Talvez pensando neles, ele encerrou sua fala com uma citação livre de “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri: “o circulo mais ardente dos infernos, reservou Deus àqueles que, em época de maior crise moral, optam pela neutralidade”.

O mundo da prática - A cultura


Convite à Filosofia
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.

Unidade 8
O mundo da prática

Capítulo 1
A cultura

Natureza humana?

É muito comum ouvirmos e dizermos frases do tipo: “chorar é próprio da natureza humana” e “homem não chora”. Ou então: “é da natureza humana ter medo do desconhecido” e “ela é corajosa, não tem medo de nada”. Também é comum a frase: “as mulheres são naturalmente frágeis e sensíveis, porque nasceram para a maternidade”, bem como esta outra: “fulana é uma desnaturada, pois não tem o menor amor aos filhos”.

Com freqüência ouvimos dizer: “os homens são fortes e racionais, feitos para o comando e a vida pública”, donde, como conseqüência, esta outra frase: “fulana nem parece mulher. Veja como se veste! Veja o emprego que arranjou!”. Não é raro escutarmos que os negros são indolentes por natureza, os pobres são naturalmente violentos, os judeus são naturalmente avarentos, os árabes são naturalmente comerciantes espertos, os franceses são naturalmente interessados em sexo e os ingleses são, por natureza, fleumáticos.

Frases como essas, e muitas outras, pressupõem, por um lado, que existe uma natureza humana, a mesma em todos os tempos e lugares e, por outro lado, que existe uma diferença de natureza entre homens e mulheres, pobres e ricos, negros, índios, judeus, árabes, franceses ou ingleses. Haveria, assim, uma natureza humana universal e uma natureza humana diferenciada por espécies, à maneira da diferença entre várias espécies de plantas ou de animais.

Em outras palavras, a Natureza teria feito o gênero humano universal e as espécies humanas particulares, de modo que certos sentimentos, comportamentos, idéias e valores são os mesmos para todo o gênero humano (são naturais para todos os humanos), enquanto outros seriam os mesmos apenas para cada espécie (ou raça, ou tipo, ou grupo), isto é, para uma espécie determinada.

Dizer que alguma coisa é natural ou por natureza significa dizer que essa coisa existe necessária e universalmente como efeito de uma causa necessária e universal. Essa causa é a Natureza. Significa dizer, portanto, que tal coisa não depende da ação e intenção dos seres humanos. Assim como é da natureza dos corpos serem governados pela lei natural da gravitação universal, como é da natureza da água ser composta por H2O, ou como é da natureza da abelha produzir mel e da roseira produzir rosas, também seria por natureza que os homens sentem, pensam e agem. A Natureza teria feito a natureza humana como gênero universal e a teria diversificado por espécies naturais (brancos, negros, índios, pobres, ricos, judeus, árabes, homens, mulheres, alemães, japoneses, chineses, etc.).

Que aconteceria com as frases que mencionamos acima se mostrássemos que algumas delas são contraditórias e que outras não correspondem aos fatos da realidade?

Assim, por exemplo, dizer que “é natural chorar na tristeza” entra em contradição com a idéia de que “homem não chora”, pois, se isso fosse verdade, o homem teria que ser considerado algo que escapa das leis da Natureza, já que chorar é considerado natural. O mesmo acontece com a frase sobre o medo e a coragem: nelas é dito que o medo é natural, mas que uma certa pessoa é admirável porque não tem medo. Aqui, a contradição é ainda maior do que a anterior, uma vez que parecemos ter admiração por quem, misteriosamente, escapa da lei da Natureza, isto é, do medo.

Em certas sociedades, o sistema de alianças, que fundamenta as relações de parentesco sobre as quais a comunidade está organizada, exige que a criança seja levada, ao nascer, à irmã do pai, que deverá responsabilizar-se pela vida e educação da criança. Em outras, o sistema de parentesco exige que a criança seja entregue à irmã da mãe. Nos dois casos, a relação da criança é estabelecida com a tia por aliança e não com a mãe biológica. Se assim é, como fica a afirmação de que as mulheres amam naturalmente os seus filhos e que é desnaturada a mulher que não demonstrar esse amor?

Em certas sociedades, considera-se que a mulher é impura para lidar com a terra e com os alimentos. Por esse motivo, o cultivo da terra, a alimentação e a casa ficam sob os cuidados dos homens, cabendo às mulheres a guerra e o comando da comunidade. Se assim é, como fica a frase que afirma que o homem foi feito pela Natureza para o que exige força e coragem, para o comando e a guerra, enquanto a mulher foi feita pela Natureza para a maternidade, a casa, o trabalho doméstico, as atividades de um ser frágil e sensível?

Os historiadores brasileiros mostram que, por razões econômicas, a elite dominante do século XIX considerou mais lucrativo realizar a abolição da escravatura e substituir os escravos africanos pelos imigrantes europeus. Essa decisão fez com que o mercado de trabalho fosse ocupado pelos trabalhadores brancos imigrantes e que a maioria dos escravos libertados ficasse no desemprego, sem habitação, sem alimentação e sem qualquer direito social, econômico e político.

Em outras palavras, foram impedidos de trabalhar e foram mantidos sem direitos, tais como viviam quando estavam no cativeiro. Além disso, sabe-se que quando os colonizadores instituíram a escravidão e trouxeram os africanos para as terras da América, fizeram tal escolha por considerarem que os negros possuíam grande força física, grande capacidade de trabalho e muita inteligência para realizar tarefas com objetos técnicos como o engenho de açúcar. Se assim é, se a escravidão foi instituída por causa da grande capacidade e inteligência dos africanos para o trabalho da agricultura, se a abolição foi realizada por ser mais lucrativo o uso da mão-de-obra imigrante para um certo tipo de agricultura (o café) e para a indústria, como fica a afirmação de que a Natureza fez os africanos indolentes, preguiçosos e malandros?

Poderíamos examinar cada uma das frases que dizemos ou ouvimos em nosso cotidiano e que naturalizam os seres humanos, naturalizam comportamentos, idéias, valores, formas de viver e de agir. Veríamos como, em cada caso, os fatos desmentem tal naturalização. Veríamos como os seres humanos variam em conseqüência das condições sociais, econômicas, políticas, históricas em que vivem. Veríamos que somos seres cuja ação determina o modo de ser, agir e pensar e que a idéia de um gênero humano natural e de espécies humanas naturais não possui fundamento na realidade. Veríamos – graças às ciências humanas e à Filosofia – que a idéia de natureza humana como algo universal, intemporal e existente em si e por si mesma não se sustenta cientificamente, filosoficamente e empiricamente. Por quê? Porque os seres humanos são culturais ou históricos.

Culto, inculto: cultura

“Pedro é muito culto, conhece várias línguas, entende de arte e de literatura.”

“Imagine! É claro que o Luís não pode ocupar o cargo que pleiteia. Não tem cultura nenhuma. É semi-analfabeto!”

“Não creio que a cultura francesa ou alemã sejam superiores à brasileira. Você acha que há alguma coisa superior a nossa música popular?”

“Ouvi uma conferência que criticava a cultura de massa, mas me pareceu que a conferencista defendia a cultura de elite. Por isso, não concordei inteiramente com ela.”

“O livro de Silva sobre a cultura dos guaranis é bem interessante. Aprendi que o modo como entendem a religião e a guerra é muito diferente do nosso.”

Essas frases e muitas outras que fazem parte do nosso dia-a-dia indicam que empregamos a palavra cultura (ou seus derivados, como culto, inculto) em sentidos muito diferentes e, por vezes, contraditórios.

Na primeira e na segunda frase que mencionamos acima, cultura é identificada com a posse de certos conhecimentos (línguas, arte, literatura, ser alfabetizado). Nelas, fala-se em ter e não ter cultura, ser ou não ser culto. A posse de cultura é vista como algo positivo, enquanto “ser inculto” é considerado algo negativo. A segunda frase deixa entrever que “ter cultura” habilita alguém a ocupar algum posto ou cargo, pois “não ter cultura” significa não estar preparado para uma certa posição ou função. Nessas duas primeiras frases, a palavra cultura sugere também prestígio e respeito, como se “ter cultura” ou “ser culto” fosse o mesmo que “ser importante”, “ser superior”.

Ora, quando passamos à terceira frase, a cultura já não parece ser uma propriedade de um indivíduo, mas uma qualidade de uma coletividade – franceses, alemães, brasileiros. Também é interessante observar que a coletividade aparece como um adjetivo qualificativo para distinguir tipos de Cultura: a francesa, a alemã, a brasileira. Nessa frase, a Cultura surge como algo que existe em si e por si mesma e que pode ser comparada (Cultura superior, Cultura inferior).

Além disso, a Cultura aparece representada por uma atividade artística, a música popular. Isso permite estabelecer duas relações diferentes com as primeiras frases: 1. De fato, a terceira frase, como a primeira, identifica Cultura e artes (entender de arte e literatura, na primeira frase; a música popular brasileira, na terceira); 2. No entanto, algo curioso acontece quando passamos das duas primeiras frases à terceira. Com efeito, nas duas primeiras, “culto” e “inculto” surgiam como diferenças sociais. Num país como o nosso, dizer que alguém é inculto porque é semi-analfabeto deixa transparecer que Cultura é algo que pertence a certas camadas ou classes sociais socialmente privilegiadas, enquanto a incultura está do lado dos não-privilegiados socialmente, portanto, do lado do povo e do popular. Entretanto, a terceira frase afirma que a cultura brasileira não é inferior à francesa ou à alemã por causa de nossa música popular. Não estaríamos diante de uma contradição? Como poderia haver cultura popular (a música), se o popular é inculto?

Já a quarta frase (a que se refere à conferência sobre cultura de massa) introduz um novo significado para a palavra cultura. Nela não se trata mais de pessoas cultas ou incultas, nem de uma coletividade que possui uma atividade cultural que possa ser comparada à de outras. Agora, estamos diante da idéia de que numa mesma coletividade ou numa mesma sociedade pode haver dois tipos de Cultura: a de massa e a de elite. A frase não nos diz o que é a Cultura. (Seria posse de conhecimentos? Ou seria atividade artística?) Entretanto, a frase nos informa sobre uma oposição entre formas de cultura, dependendo de sua origem e de sua destinação, pois “cultura de massa” tanto pode significar “originada na massa” quanto “destinada à massa”, e o mesmo pode ser dito da “cultura de elite” (originada na elite ou destinada à elite).

Finalmente, a última frase que mencionamos como exemplo apresenta um sentido totalmente diverso dos anteriores no que toca à palavra cultura. Fala-se, agora, na cultura dos guaranis e esta aparece em duas manifestações: a guerra e a religião (que, portanto, nada tem a ver com a posse de conhecimentos, atividade artística, massa ou elite). Nessa última frase, a cultura aparece como algo dos guaranis – e como alguma coisa que não se limita ao campo dos conhecimentos e das artes, pois se refere à relação dos guaranis com o sagrado (a religião) e com o conflito e a morte (a guerra).

Vemos, assim, que passar da naturalização dos seres humanos à Cultura não resolve nossas dificuldades de compreensão dos humanos, uma vez que, agora, precisamos perguntar: Como é possível a palavra cultura possuir tantos sentidos, alguns deles contraditórios com outros?

Natureza e Cultura

No pensamento ocidental, Natureza possui vários sentidos:

● princípio de vida ou princípio ativo que anima e movimenta os seres. Nesse sentido, fala-se em “deixar agir a Natureza” ou “seguir a Natureza” para significar que se trata de uma força espontânea, capaz de gerar e de cuidar de todos os seres por ela criados e movidos. A Natureza é a substância (matéria e forma) dos seres;

● essência própria de um ser ou aquilo que um ser é necessária e universalmente. Neste sentido, a natureza de alguma coisa é o conjunto de qualidades, propriedades e atributos que a definem, é seu caráter ou sua índole inata, espontânea. Aqui, Natureza se opõe às idéias de acidental (o que pode ser ou deixar de ser) e de adquirido por costume ou pela relação com as circunstâncias;

● organização universal e necessária dos seres segundo uma ordem regida por leis naturais. Neste sentido, a Natureza se caracteriza pelo ordenamento dos seres, pela regularidade dos fenômenos ou dos fatos, pela freqüência, constância e repetição de encadeamentos fixos entre as coisas, isto é, de relações de causalidade entre elas. Em outros termos, a Natureza é a ordem e a conexão universal e necessária entre as coisas, expressas em leis naturais;

● tudo o que existe no Universo sem a intervenção da vontade e da ação humanas. Neste sentido, Natureza opõe-se a artificial, artefato, artifício, técnico e tecnológico. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve sem qualquer interferência humana;

● conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos humanos como o meio e o ambiente no qual vivem. A Natureza, aqui, tanto significa o conjunto das condições físicas onde vivemos, quanto aquelas coisas que contemplamos com emoção (a paisagem, o mar, o céu, as estrelas, terremotos, eclipses, tufões, erupções vulcânicas, etc.). A Natureza é o mundo visível como meio ambiente e como aquilo que existe fora de nós, mesmo que provoque idéias e sentimentos em nós;

● para as ciências contemporâneas, a Natureza não é apenas a realidade externa, dada e observada, percebida diretamente por nós, mas é um objeto de conhecimento construído pelas operações científicas, um campo objetivo produzido pela atividade do conhecimento, com o auxílio de instrumentos tecnológicos. Neste sentido, a Natureza, paradoxalmente, torna-se algo que passa a depender da interferência ou da intervenção humana, pois o objeto natural é construído cientificamente.

Esse último sentido da idéia de Natureza indica uma diferença entre a concepção comum e a científica, pois a primeira considera a Natureza nos cinco primeiros significados que apontamos, enquanto a segunda considera a Natureza como uma noção ou um conceito produzido pelos próprios homens e, nesse caso, como artifício, artefato, construção humana. Em outras palavras, a própria idéia de Natureza tornou-se um objeto cultural.

Mas, afinal, o que é a Cultura?

Dois são os significados iniciais da noção de Cultura:

1. vinda do verbo latino colere, que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar, Cultura significava o cuidado do homem com a Natureza. Donde: agricultura. Significava, também, cuidado dos homens com os deuses. Donde: culto. Significava ainda, o cuidado com a alma e o corpo das crianças, com sua educação e formação. Donde: puericultura (em latim, puer significa menino; puera, menina). A Cultura era o cultivo ou a educação do espírito das crianças para tornarem-se membros excelentes ou virtuosos da sociedade pelo aperfeiçoamento e refinamento das qualidades naturais (caráter, índole, temperamento);

2. a partir do século XVIII, Cultura passa a significar os resultados daquela formação ou educação dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se sinônimo de civilização, pois os pensadores julgavam que os resultados da formação-educação aparecem com maior clareza e nitidez na vida social e política ou na vida civil (a palavra civil vem do latim: cives, cidadão; civitas, a cidade-Estado).

No primeiro sentido, a Cultura é o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido amplo, isto é, como formação das crianças não só pela alfabetização, mas também pela iniciação à vida da coletividade por meio do aprendizado da música, dança, ginástica, gramática, poesia, retórica, história, Filosofia, etc. A pessoa culta era a pessoa moralmente virtuosa, politicamente consciente e participante, intelectualmente desenvolvida pelo conhecimento das ciências, das artes e da Filosofia. É este sentido que leva muitos, ainda hoje, a falar em “cultos” e “incultos”.

Podemos observar que neste primeiro sentido Cultura e Natureza não se opõem. Os humanos são considerados seres naturais, embora diferentes dos animais e das plantas. Sua natureza, porém, não pode ser deixada por conta própria, porque tenderá a ser agressiva, destrutiva, ignorante, precisando por isso ser educada, formada, cultivada de acordo com os ideais de sua sociedade. A Cultura é uma segunda natureza, que a educação e os costumes acrescentam à primeira natureza, isto é, uma natureza adquirida, que melhora, aperfeiçoa e desenvolve a natureza inata de cada um.

No segundo sentido, isto é, naquele formulado a partir do século XVIII, tem início a separação e, posteriormente, a oposição entre Natureza e Cultura. Os pensadores consideram, sobretudo a partir de Kant, que há entre o homem e a Natureza uma diferença essencial: esta opera mecanicamente de acordo com leis necessárias de causa e efeito, mas aquele é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo com valores e fins. A Natureza é o reino da necessidade causal, do determinismo cego. A humanidade ou Cultura é o reino da finalidade livre, das escolhas racionais, dos valores, da distinção entre bem e mal, verdadeiro e falso, justo e injusto, sagrado e profano, belo e feio.

À medida que este segundo sentido foi prevalecendo, Cultura passou a significar, em primeiro lugar, as obras humanas que se exprimem numa civilização, mas, em segundo lugar, passou a significar a relação que os humanos, socialmente organizados, estabelecem com o tempo e com o espaço, com os outros humanos e com a Natureza, relações que se transformam e variam. Agora, Cultura torna-se sinônimo de História. A Natureza é o reino da repetição; a Cultura, o da transformação racional; portanto, é a relação dos humanos com o tempo e no tempo.

Cultura e História

Foi Hegel e, depois dele, Marx que enfatizaram a Cultura como História. Para o primeiro, o tempo é o modo como o Espírito Absoluto ou a razão se manifesta e se desenvolve através das obras e instituições – religião, artes, ciências, Filosofia, instituições sociais, instituições políticas. A cada período de sua temporalidade, o Espírito ou razão engendra uma Cultura determinada, que exprime o estágio de desenvolvimento espiritual ou racional da humanidade – China, Índia, Egito, Israel, Grécia, Roma, Inglaterra, França, Alemanha seriam fases da vida do Espírito ou da razão, cada qual exprimindo-se com uma Cultura própria e ultrapassada pelas seguintes, num progresso contínuo.

Para Marx, há em Hegel um engano básico, qual seja, confundir a História-Cultura com a manifestação do Espírito. A História-Cultura é o modo como, em condições determinadas e não escolhidas, os homens produzem materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão sentido a essa produção material. A História-Cultura não narra o movimento temporal do Espírito, mas as lutas reais dos seres humanos reais que produzem e reproduzem suas condições materiais de existência, isto é, produzem e reproduzem as relações sociais, pelas quais distinguem-se da Natureza e diferenciam-se uns dos outros em classes sociais antagônicas.

O movimento da História-Cultura é realizado pela luta das classes sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social, dominação política. Despotismo asiático, modo de produção antigo (Grécia, Roma), modo de produção feudal (Idade Média), capitalismo comercial ou mercantil, capitalismo industrial são as maneiras pelas quais surgem e se organizam as formações sociais, internamente divididas por lutas, cujo fim dependerá da capacidade de organização política e de consciência da última classe social explorada (o proletariado, produzido pelo capitalismo industrial) para eliminar a desigualdade e injustiça históricas.

Cultura e antropologia

Diferentemente de Hegel e Marx, que tomam a Cultura pela perspectiva histórica ou pela relação dos humanos com o tempo, a antropologia considera a Cultura por um outro prisma.

O antropólogo procura, antes de tudo, determinar em que momento e de que maneira os humanos se afirmam como diferentes da Natureza fazendo o mundo cultural surgir. Tradicionalmente, dizia-se que os humanos diferem da Natureza graças à linguagem e à ação por liberdade. O antropólogo, sem negar essa afirmação, procura algo mais profundo do que isso como início das culturas. Assim, para muitos antropólogos, a diferença homem-Natureza surge quando os humanos decretam uma lei que não poderá ser transgredida sem levar o culpado à morte, exigida pela comunidade: a lei da proibição do incesto, desconhecida pelos animais. Para muitos antropólogos, a diferença homem-Natureza também é estabelecida quando os humanos definem uma lei que, se transgredida, causa a ruína da comunidade e do indivíduo: a lei que separa o cru e o cozido, desconhecida dos animais.

Não vamos aqui entrar nos detalhes das discussões antropológicas. O importante, para nós, é perceber que os antropólogos buscam algo que demarque o momento da separação homem-Natureza como instante de surgimento da Cultura. Esse algo é uma regra ou norma humana que opera como lei universal, isto é, válida para todos os homens e para toda a comunidade.

A lei humana é um imperativo social que organiza toda a vida dos indivíduos e da comunidade, determinando o modo como são criados os costumes, como são transmitidos de geração em geração, como fundam as instituições sociais (religião, família, formas do trabalho, guerra e paz, distribuição das tarefas, formas do poder, etc.). A lei não é uma simples proibição para certas coisas e obrigação para outras, mas é a afirmação de que os humanos são capazes de criar uma ordem de existência que não é simplesmente natural (física, biológica). Esta ordem é a ordem simbólica.

Vimos que um símbolo é alguma coisa que se apresenta no lugar de outra e presentifica algo que está ausente. Quando dizemos que a Cultura é a invenção de uma ordem simbólica, estamos dizendo que nela e por ela os humanos atribuem à realidade significações novas por meio das quais são capazes de se relacionar com o ausente: pela palavra, pelo trabalho, pela memória, pela diferenciação do tempo (passado, presente, futuro), pela diferenciação do espaço (próximo, distante, grande, pequeno, alto, baixo), pela diferenciação entre o visível e o invisível (os deuses, o passado, o distante no espaço) e pela atribuição de valores às coisas e aos homens (bom, mau, justo, injusto, verdadeiro, falso, belo, feio, possível, impossível, necessário, contingente).

Comunicação (por palavras, gestos, sinais, escrita, monumentos), trabalho (transformação da Natureza), relação com o tempo e o espaço enquanto valores, diferenciação entre sagrado e profano, determinação de regras e normas para a realização do desejo, percepção da morte e doação de sentido a ela, percepção da diferença sexual e doação de sentido a ela, interdições e punição das transgressões, determinação da origem e da forma do poder legítimo e ilegítimo, criação de formas expressivas para a relação com o outro, com o sagrado e com o tempo (dança, música, rituais, guerra, paz, pintura, escultura, construção da habitação, culinária, tecelagem, vestuário, etc.) são as principais manifestações do surgimento da Cultura.

Em termos antropológicos, podemos, então, definir a Cultura como tendo três sentidos principais:

1. criação da ordem simbólica da lei, isto é, de sistemas de interdições e obrigações, estabelecidos a partir da atribuição de valores a coisas (boas, más, perigosas, sagradas, diabólicas), a humanos e suas relações (diferença sexual e proibição do incesto, virgindade, fertilidade, puro-impuro, virilidade; diferença etária e forma de tratamento dos mais velhos e mais jovens; diferença de autoridade e formas de relação com o poder, etc.) e aos acontecimentos (significado da guerra, da peste, da fome, do nascimento e da morte, obrigação de enterrar os mortos, proibição de ver o parto, etc.);

2. criação de uma ordem simbólica da linguagem, do trabalho, do espaço, do tempo, do sagrado e do profano, do visível e do invisível. Os símbolos surgem tanto para representar quanto para interpretar a realidade, dando-lhe sentido pela presença do humano no mundo;

3. conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições pelas quais os humanos se relacionam entre si e com a Natureza e dela se distinguem, agindo sobre ela ou através dela, modificando-a. Este conjunto funda a organização social, sua transformação e sua transmissão de geração a geração.

Em sentido antropológico, não falamos em Cultura, no singular, mas em culturas, no plural, pois a lei, os valores, as crenças, as práticas e instituições variam de formação social para formação social. Além disso, uma mesma sociedade, por ser temporal e histórica, passa por transformações culturais amplas e, sob esse aspecto, antropologia e História se completam, ainda que os ritmos temporais das várias sociedades não sejam os mesmos, algumas mudando mais lentamente e outras mais rapidamente.

A esse sentido histórico-antropológico amplo, podemos acrescentar um outro, restrito, ligado ao antigo sentido de cultivo do espírito: a Cultura como criação de obras da sensibilidade e da imaginação – as obras de arte – e como criação de obras da inteligência e da reflexão – as obras de pensamento. É esse segundo sentido que leva o senso comum a identificar Cultura e escola (educação formal), de um lado, e, de outro lado, a identificar Cultura e belas-artes (música, pintura, escultura, dança, literatura, teatro, cinema, etc.).

Se, porém, reunirmos o sentido amplo e o sentido restrito, compreenderemos que a Cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística.

A religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação, os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes diante da morte, a guerra, o trabalho, as ciências, a Filosofia, as artes, os jogos, as festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas, tudo isso constitui a Cultura como invenção da relação com o Outro.

Quem é o Outro? Antes de tudo, é a Natureza. A naturalidade é o Outro da humanidade. A seguir, os deuses, maiores do que os humanos, superiores e poderosos. Depois, os outros humanos, os diferentes de nós mesmos: os estrangeiros, os antepassados e os descendentes, os inimigos e os amigos, os homens para as mulheres, as mulheres para os homens, os mais velhos para os jovens, os mais jovens para os velhos, etc. Em sociedades como a nossa, divididas em classes sociais, o Outro é também a outra classe social, diferente da nossa, de modo que a divisão social coloca o Outro no interior da mesma sociedade e define relações de conflito, exploração, opressão, luta. Entre os inúmeros resultados da existência da alteridade (o ser um Outro) no interior da mesma sociedade, encontramos a divisão entre cultura de elite e cultura popular, cultura erudita e cultura de massa.

Estamos, agora, em condições de perceber por que as frases de nosso cotidiano sobre “cultos” e “incultos” indicam preconceitos e não conceitos. Que preconceitos?

● Aquele que ignora que, em sentido antropológico e histórico, todos os humanos são cultos, pois são todos seres culturais;

● Aquele que reduz a Cultura à escola e às belas-artes, sem se dar conta de que aquela e estas são efeito da vida cultural e um dos aspectos da Cultura, mas não toda a Cultura;

● Aquele que, partindo da Cultura como cultivo do espírito (obras de pensamento e obras de arte), ignora que a separação entre “cultos” e “incultos”, em sociedades divididas em classes sociais, é resultado de uma organização social que confere a alguns o direito de produção e acesso às obras, negando-o a outros, de tal maneira que, em lugar de um direito, tem-se, de um lado, privilégio e, de outro, exclusão. Em outras palavras, usa-se a Cultura como instrumento de discriminação social, econômica e política.

Novamente a História

Os estudiosos, partindo da filosofia da história e da antropologia, distinguem dois grandes tipos de cultura: a das comunidades e a das sociedades.

Uma comunidade é um grupo ou uma coletividade onde as pessoas se conhecem, tratam-se pelo primeiro nome, possuem contatos cotidianos cara a cara, compartilham os mesmos sentimentos e idéias e possuem um destino comum.

Uma sociedade é uma coletividade internamente dividida em grupos e classes sociais e na qual há indivíduos isolados uns dos outros. Seus membros não se conhecem pessoalmente nem intimamente. Cada classe social é antagônica à outra ou às outras, com valores e sentimentos diferentes e mesmo opostos. As relações não são pessoais, mas sociais, isto é, os indivíduos, grupos e classes se relacionam pela mediação de instituições como a família, a escola, a fábrica, o comércio, os partidos políticos e o Estado.

Os agrupamentos indígenas, por exemplo, são comunidades, portanto, internamente unos e indivisos. Em contrapartida, nós vivemos em sociedade e não em comunidade.

O tempo, nas comunidades, possui um ritmo lento, as transformações são raras e, em geral, causadas por um acontecimento externo que as afeta (por exemplo, a conquista e colonização branca imposta aos índios). Por isso, se diz que a comunidade está na História ou no tempo, mas não é histórica.

Ao contrário, a sociedade é histórica, ou seja, para ela as transformações são constantes e velozes, causadas pelas lutas e pelas divisões internas. Diz-se, então, que uma sociedade é histórica quando, para ela, ter uma história e estar no tempo são um problema, uma indagação que ela não cessa de responder. Por quê?

Uma comunidade baseia-se em mitos fundadores ou narrativas sobre sua origem e sobre o que nela aconteceu, acontece e acontecerá. Os mitos capturam o tempo e oferecem explicações satisfatórias para todos sobre o presente, o passado e o futuro.

Numa sociedade, porém, cada classe social procura explicar a origem da sociedade e de suas mudanças e, conseqüentemente, há diferentes explicações para o surgimento, a forma e a transformação sociais. Os grupos dominantes narram a história da sociedade de modo diferente e oposto à narrativa dos grupos dominados.

A classe que domina e a que é dominada possuem, portanto, concepções diferentes e contrárias sobre as causas dos acontecimentos, não havendo uma explicação única e idêntica para todos sobre a origem da sociedade e suas transformações. Eis, por que, para uma sociedade, ser histórica é um problema e não uma solução. Em outras palavras, enquanto o mito unifica o tempo comunitário, as histórias sociais multiplicam as interpretações sobre as causas e os efeitos temporais.

Finalmente, uma comunidade cria a mesma Cultura para todos os seus membros, mas numa sociedade isso não é possível, e as diferentes classes sociais produzem culturas diferentes e mesmo antagônicas. Por esse motivo é que as sociedades conhecem um fenômeno inexistente nas comunidades: a ideologia. Esta é resultado da imposição da cultura dos dominantes à sociedade inteira, como se todas as classes e todos os grupos sociais pudessem e devessem ter a mesma Cultura, embora vivendo em condições sociais diferentes.

A ideologia é uma das maneiras pelas quais as sociedades históricas buscam oferecer a imagem de uma única Cultura e de uma única história, ocultando a divisão social interna.

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Agenda PCB - Alegrete RS


Convite

O PCB - Partido Comunista Brasileiro - está convidando seus filiados e simpatizantes e até mesmo os que querem conhecer a proposta sem compromisso de filiação para uma reunião sábado dia 25/08/07, às 15:30 min. Na sede do Sinasefe- na rua Venâncio Aires - na frente do Hangar bar.

Assuntos: Data do encontro municipal com a presença da direção estadual. Nomes para compor a executiva municipal.

Compareçam camaradas.

Ass. Comissão Provisória PCB - Alegrete RS

Ousar lutar, ousar vencer.


quinta-feira, 23 de agosto de 2007

REFLEXÕES DO COMANDANTE-EM-CHEFE



Derrota moral sem precedentes do império


O primeiro ao fazer referência a este tema é recordar as palavras de Roberto González, advogado, filho de família cubana refugiada nos Estados Unidos durante a tirania que voltou quando triunfou a Revolução. Tanto ele como René nasceram nesse país durante a estada da sua família nesse país. Todo o tempo

tem batalhado em favor da liberdade de seu irmão René, que sofre cruel e injusta prisão junto com mais quatro heróis defensores de seu povo na luta contra o terrorismo.


O pior que pode acontecer é que devido ao sentimento de derrota e de vitória nos desmobilizemos. O caso dos Cinco o ganharemos quando eles estiverem em Havana... Este é um julgamento que você o ganha muitas vezes nos fatos e o perde em Direito, o perde na decisão dos juízes.”


Sabias e prudentes palavras de um verdadeiro perito batalhando contra o cinismo; ele próprio expressou seu assombro pelo acontecido.


Na Mesa Redonda foi explicada a importância que teve a participação na cidade de Atlanta de 73 personalidades com grande prestígio no mundo sobre questões ligadas ao Direito Internacional. Ali se fez evidente e incontestável a não existência dos delitos que lhes foram imputados aos acusados, com punições que foram aprovadas unanimemente por um júri supostamente imparcial, na pior comunidade do planeta para conseguir uma decisão justa. Há que ler textualmente e analisar o que expressaram na Mesa ou por telefone cada um dos que falaram e as afirmações dos que ainda faltam por falar.


Em casos reais de espionagem julgados recentemente nos Estados Unidos, a punição não ultrapassa os 10 anos. Aos nossos cinco compatriotas nem sequer puderam provar-lhes o cargo de conspiração para realizar espionagem. O destino cruel e insólito deles e de seus familiares obedece à política pérfida e confessa de Washington de aplicar o terrorismo contra o povo cubano, violando durante quase meio século as mais elementares normas das Nações Unidas e a soberania dos povos.


Há muitas coisas importantes que podem ser acrescentadas e estão provadas, mas hoje desejo ser breve para que estas palavras possam ser transcritas e publicadas pela imprensa nacional, o mais importante é que nosso povo desenvolva uma sólida e indestrutível consciência sobre estas realidades.


Fidel Castro Ruz,

22 de agosto de 2007

16h35


A alegoria da caverna (de Platão)


Convite à Filosofia

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. As suas pernas e os seus pescoços estão acorrentados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo a que se possa, na semi-obscuridade, ver o que se passa no interior.

A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguido um muro, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo desse muro/palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.

Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros vêem na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.

Como nunca viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que vêem porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.

Que aconteceria, pergunta Platão, se alguém libertasse um dos prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, o muro, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, por ele seguiria.

Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira no mundo verdadeiro é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, veria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está a contemplar a própria realidade.

Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.

Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros tentariam ridicularizá-lo, não acreditariam nas suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com os seus gracejos, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.

O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A filosofia. Por que é que os prisioneiros ridicularizam, espancam e matam o filósofo (Platão está a referir-se à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense?)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.

Marilena Chaui

Relendo Florestan

, por Gregório Durlo Grisa

Há uma produção epistemológica que nasce na população subordinada ou subalterna. Além de desconhecida é, principalmente, ignorada pelo pensamento hegemônico, o que reforça ainda mais a necessidade de criação dessa ciência genuinamente popular. Falar sobre esses povos explorados é uma condição que existe, entretanto constituir espaços onde as próprias populações criem essa nova forma teórica é outra situação. Os intelectuais brasileiros e a academia em si estão em meio a um paradoxo, pois com base teórica européia, suas produções não correspondem mais aos anseios de transformação da realidade. Isso ocorre pelo fato que salientamos acima, as referências e os teóricos não correspondem à condição de população subalterna.

Para que esse quadro se altere, é providencial a entrada dessa população no ensino superior, nos grupos de pesquisa, nas instituições políticas e em todos os espaços de produção científica. Nesse contexto as ações afirmativas ganham grande importância, pois do tensionamento político que existe nesse processo, nascerá uma contrapartida teórica por parte dessa população que está entrando, que começa a ter condições de contar sua história, de mostrar sua realidade, de problematizar as produções que falam dela à distância e que são tidas como verdades científicas.

Culturalmente, as cotas raciais representam não só uma espécie de “acerto de contas histórico”, mas o começo de um novo movimento da realidade, no sentido de dar aos povos subordinados, a oportunidade de mostrar e, principalmente, de criar sua epistemologia. Essa “representação popular” tem muito mais condições de responder aos problemas da sociedade, pois quem enfrenta, existencialmente, esses problemas são os pobres, os negros e os indígenas. A ciência brasileira necessita desses movimentos para se tornar autônoma e soberana em aspectos teóricos e práticos e, também, para ter compromisso com quem, definitivamente, precisa da imediata transformação das suas condições materiais de vida. As cotas podem tirar a academia brasileira desse cenário tradicional e monopolizado em que ela se encontra. “Não são os negros que precisam da universidade, mas a universidade que precisa deles”, afirma José Carlos dos Anjos, em uma palestra proferida na semana acadêmica de história, 2007/2.

O intelectual pode assumir uma posição político-epistemológica de tentar dar visibilidade às problemáticas e às vivências dos povos explorados historicamente, já que esses ainda não acessam os espaços onde poderiam difundir seu pensamento. O intelectual comprometido tem consciência de que, quando fala sobre as populações subordinadas, ele vai estar imerso no conhecimento cientifico tradicional e dominante. Essa mesma consciência lhe permite compreender que só um conhecimento feito pela classe popular pode ser realmente diferenciado e inovador.

Ainda há, sim, na academia brasileira, uma censura a esses intelectuais orgânicos que estão ao lado das camadas populares e transportam isso para a ciência, portanto o povo explorado, além de não ter o espaço para produzir cientificamente, é duplamente discriminado no que se refere à opressão que existe a esses intelectuais críticos.

No seu livro ‘Circuito Fechado’, no capitulo dois, Florestan Fernandes relata-nos uma pesquisa feita juntamente com o professor Roger Bastide, na cidade de São Paulo, onde foram realizadas observações, seminários e entrevistas com a comunidade negra, a fim de problematizar a questão racial no Brasil. Ele aponta os resultados que essa pesquisa alcançou, quando conseguiu, de certa forma, dar visibilidade científica para a dignidade histórica dos movimentos negros, para a herança intelectual e política do negro e, ainda, denunciou a miséria racial de uma sociedade que diz viver em uma ‘democracia racial’.



...as estruturas raciais da sociedade brasileira só poderão ser ameaçadas e destruídas quando ‘a massa de homens de cor’, ou seja, todo elemento negro, puder usar o conflito institucionalmente em condições de igualdade com o branco e sem nenhuma discriminação de qualquer espécie, o que implicaria em participação racial igualitária nas estruturas de poder da comunidade política nacional” (p.72, 1979).



Esse trecho parece extremamente atual, pois estamos passando por um conflito, dentro das universidades do país, no que se refere à implantação das cotas sociais e raciais. Com condições institucionais iguais, a discriminação pode não terminar completamente, mas ganhará uma dimensão diferente, pois com o poder de fazer política e ciência, o negro promoverá a emergência de uma nova visão cultural, e essa, gradativamente, irá constituir costumes, comportamentos e idéias que já não serão ‘secundárias ou inexistentes’ como considera a classe dominante. A partir daí, começa a brotar a força da grande intenção que se tem, que vai além da busca por uma verdadeira democracia racial, ou seja, a real transformação da sociedade. A luta pela igualdade racial é uma via para o grande objetivo, assim como a luta camponesa e a operária.

Segundo nosso entendimento ao ler Florestan, o objetivo da sua pesquisa era o de desenvolver uma consciência crítica e de classe no meio negro, pois se a luta for entendida só pelo aspecto racial, a ideologia e as formas dominantes irão se manter sempre em vantagem. E isso é mais radical para o cidadão branco comprometido, este deve compreender que a luta de classes entendida de forma isolada ou alienada é inócua, já que nessa luta pode haver elementos de discriminação e de impedimento da luta racial.

Existe, segundo Florestan, uma ligação dialética entre as lutas raciais e a luta de classes, mas as lutas ainda não estão unidas no que tange à prática social. Ele propõe a superação dessa situação, pois a interligação entre essas lutas é vigente em nossos dias. O povo pobre e explorado, trabalhador, sem oportunidade e violentado no seu íntimo pela negação das suas necessidades básicas, esse quer não só a mudança do quadro racial hipócrita brasileiro, mas também deve perceber que isso só ocorrerá com as mudanças na sociedade, com a revolução que desestabilize os meios de produção privados, que quebre com a cápsula branca e burguesa das instituições brasileiras em todas as instâncias.

O autor afirma que, com a pesquisa, o negro encontrou não só um ponto de apoio, mas também o ‘prestígio da ciência’. Esse prestígio vai seguir sendo o ‘possível’ enquanto não ocorrer o movimento de tomada, por partes das populações exploradas, dos espaços institucionais de construção de ciência. Já não se aceita só o prestígio, quer-se a chance de produzir e não de ser somente representado. Essa situação histórica que vivemos, de luta real por acesso, é fruto de todo compromisso e trabalho de intelectuais como Florestan, que foram contra as teorias e ideologias dominantes e marcaram suas produções pela defesa de uma transformação radical dessa sociedade desigual e de todas ramificações que advêm dessa desigualdade.

O controle social e político das instituições e dos meios de comunicação é tão fechado pela burguesia que essa não só decide sobre os caminhos da sociedade, como também escolhe quais os processos de tensão social podem surgir, salvam-se alguns focos minoritários de resistência em algumas realidades. A repressão está montada, primeiramente, como estrutura e depois, materialmente, pelos aparelhos repressivos do estado, de modo que uma luta racial que reivindique a transformação da ordem social seja literalmente enfrentada e atacada por todos os lados. Isso está posto de forma muito clara, vejamos o exemplo das cotas, que é uma luta por acesso ao ensino superior e que provocou resistência em todas camadas do controle social.

O grande mito sob o qual vivemos não é só o da democracia racial, mas sim, o da democracia como um todo. Esta 'organização democrática' em que vivemos, é democrática para poucos, principalmente, quando se trata de direitos e do atendimento das necessidades básicas das pessoas.

No decorrer do livro citado, há uma passagem onde o autor nos explica que a formação social brasileira ocasionou um violento processo de dominação política e econômica.



Essa modalidade de revolução capitalista forçou as elites das classes burguesas, privadamente e através do estado, a adotar formas de dominação econômica, sócio-cultural e política, especificamente, autocráticas e ultraconservadoras. Em conseqüência, o movimento que, em certos países da Europa e nos Estados Unidos gerou uma ordem burguesa aberta e democrática, no Brasil produziu uma ordem burguesa fechada e autocrática (p. 79, 1979).



Sendo assim, os espaços que os inconformismos e os movimentos sociais tiveram foi quase nulo. O negro brasileiro, sem a possibilidade de organização, passa a ser cooptado não só pelo mercado, mas também pela lógica do capitalismo, começando a entender que a grande questão agora é tentar, isoladamente, a elevação do seu patamar social. Ascensão econômica é entendida como mudança da situação social e racial, e o sucesso pessoal torna-se o grande objetivo, esse é o quadro que a população negra e despossuída encontra no Brasil, no pós décadas de 30 e 40, do século XX, período que Florestan analisa em seu livro.

O Estado se encontra de tal forma fechado que o negro internaliza valores e comportamentos capitalistas que não condizem com a sua história e seu verdadeiro compromisso de classe. A organização da sociedade é tão circunscrita e totalizante que os movimentos coletivos perdem o sentido na consciência de quem deveria construí-los. Na ditadura da minoria e do capital, não há brechas para um inconformismo crítico por parte das classes populares, com esse movimento da sociedade, a consciência racial e de classe se dilui em meio a um conjunto de valores e de consensos burgueses que naturalizam a discriminação e a desigualdade.

A estrutura social dominante impede que apareça toda e qualquer organização social que a desestabilize, restando como única possibilidade de inconformismo, os momentos de ascensão econômica, social e cultural do negro. Isso é parte do desenvolvimento histórico que nosso país vive, que deve existir, ainda que não vá eliminar as desigualdades sociais e raciais.

As dimensões racial e social de luta sofrem, segundo o autor, de um estado de separação ocasionado pelo desvio que o sistema capitalista estabelece nas organizações sociais e, por conseguinte, nas consciências populares. E ele afirma que:



Mantido semelhante paralelismo, qualquer padrão de relação racial igualitária e todo ordenamento de 'raça' e 'classe' em bases democráticas serão simplesmente inviáveis. Uma maior massa de negros se integrará nas várias classes existentes. Mas isso não romperá com as contradições raciais herdadas do passado e incorporadas ao regime de classe (p. 83, 1979).



Como já havíamos dito, existe uma ligação dialética entre as lutas de classe e racial, e a separação dessas esferas é estrategicamente feita, quando a ordem social pode ser alterada. Um olhar historicamente otimista pode surgir quando esses elementos, que são intimamente ligados na teoria, ganharem uma dimensão prática de possibilidade e não de contingência. Deve-se constituir meios pelos quais a sociedade se abra, no sentido de oportunizar a eclosão de movimentos populares que denunciem a exploração e a discriminação que sofrem.

Para a concretização de uma luta racial e de classe, conscientemente crítica, devemos trabalhar para que se desenvolva uma base material, psicológica e moral adequada. Com isso quero dizer que a nossa sociedade nos esconde essa base, não que ela não exista. Esconde através dos monopólios dos meios de comunicação, do sucateamento dos serviços públicos que deveriam atender às necessidades básicas do povo, dos processos repressivos do estado e das corporações econômicas detentoras dos meios de produção do campo e da cidade.

Portanto, só a conscientização puramente idealista não vai nos levar a nada. Sem que se mexa, de modo prático, em todos os elementos impeditivos das mudanças necessárias da realidade, não há esperanças de transformação. Com o engessamento da sociedade, nos moldes em que ela se encontra, as lutas e as inquietudes sociais ganham outras características, que vão ao encontro dos movimentos que possam ser aceitos pela sociedade de classes, enquanto esta se mantém intacta.

A entrada de grupos negros minoritários nas classes média e alta é um fenômeno que deveria se dar e está ocorrendo no processo histórico brasileiro, isso é importante, porém ocorre de forma extremamente dispersa e limitada. Esse fato é muito utilizado como exemplo pelos intelectuais do capital, na tentativa de justificar a desigualdade e promover a teoria da democracia racial e social. Essa ascensão social a que nos referimos deve acontecer e é considerável, entretanto, não se pode contentar-se com isso, haja vista que a imensa maioria do povo negro continuará em grande desvantagem, pois além de negro é também pobre e explorado.

No final do capítulo 2, do livro que venho citando, Florestan nos aponta que, com a industrialização maciça e com as relações que o povo negro vai constituindo, principalmente, nas grandes metrópoles, sua situação social mudou de padrão. Conforme o autor:



Os pontos de concentração das oportunidades econômicas, educacionais, intelectuais e políticas ainda são fracos ou débeis demais para quebrar as linhas tradicionais de desigualdade racial ou para 'fazer o branco engolir o seu orgulho'. Todavia, o negro deixou de ser o espectador à margem da vida e da história. (p.86 e 87,1979).



Entendi que essa mudança não significa uma transposição de classe ou superação da situação racial do país, mas uma nova caracterização, principalmente, do trabalho que passou de escravo e isolado para assalariado e coletivizado.



Se o passado não está extinto, as cicatrizes não dominam nem governam mais a vida do negro; e tão pouco o forçam a procurar o isolamento autoprotetivo, pelo qual se destruía, e a converter a desorganização pessoal, familiar e social em um multiplicador incontrolável de sua 'desgraça coletiva'.(p. 88, 1979).



Esse trecho retrata a opinião do autor de que a condição material do povo negro se alterou com o estabelecimento de novas relações espaciais e humanas. Ele se mostra consciente da necessidade de se fazer outras pesquisas sobre o tema, pela volatilidade dessas questões e por sua pesquisa ter sido feita somente na cidade de São Paulo, o que dificulta qualquer tentativa de generalização. Por fim, além de um relato, o texto em discussão é uma análise sociológica que nos provoca, no sentido de expor contradições de um período histórico que está muito vivo na contemporaneidade, de modo que vemos, na leitura, reflexões sobre problemas que estamos enfrentando no nosso cotidiano militante.

Ao estabelecer relações entre uma palestra organizada pela semana acadêmica da história, que teve como tema ‘A questão do debate racial’, e a leitura do texto de Florestan, desenvolvi essa resenha crítica. Fui escrevendo ao mesmo tempo em que lia e, ao passo em que eu articulava uma contribuição, na seqüência da leitura, notava que, de uma forma ou de outra, meu texto era contemplado no do autor, o que indica certa coerência na interpretação. Estou contando esse fato porque foi interessante a nitidez como isso aconteceu.




Referência Bibliográfica:

FLORESTAN, Fernandes. Circuito fechado: quatro ensaios sobre o ‘poder institucional’. São Paulo, HUCITEC, 1979. 2.ed.


quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O MITO DA CAVERNA – 1ª PARTE

Esta narração mitológica não tem origem na tradição religiosa grega. Ela é um mito criado pelo filósofo Platão para explicar a diferença entre o conhecimento oriundo do senso comum, onde existem muitos enganos e falsas verdades, e o conhecimento filosófico, no qual se percebe o modo como uma falsa realidade nos é imposta.

Imaginem uma profunda e vasta caverna. No seu interior estão imobilizados e acorrentados vários prisioneiros. Seus rostos, sem possibilidade de se moverem, estão direcionados para uma das paredes da caverna. Bem atrás deles há um fogo, e entre o fogo e os prisioneiros há um muro. Ao longo deste muro passam homens, que arrastam diversos objetos das mais diversas formas conhecidas por nós sobre ele. Deste modo o fogo faz com que as sombras destes objetos se projetem na parede em frente aos prisioneiros. Assim estas sombras passam a ser a realidade para os prisioneiros, pois se acostumaram a vê-las desde a sua infância. Aqueles que carregam os objetos ao longo do muro emitem sons que os prisioneiros julgam ser das sombras (assim como acontece no cinema, o som não vem da tela, mas temos a impressão que ele vem dos lábios daqueales que na tela falam).

Imaginem agora que um destes prisioneiros se solta e comece a caminhar um pouco atordoado pela caverna. Ele fica meio desorientado e enxerga ao longe um pouco de luz. Ele vai se aproximando desta luz, mas quando chega muito perto dela, seus olhos não conseguem olhá-la por muito tempo, pois estavam muito acostumados com o escuro. Aos poucos sua visão passa a suportar cada vez mais a claridade. Até que ele consegue sair da caverna e olhar para a natureza, os animais e tudo mais. E enfim ele consegue olhar para o sol, a fonte de toda vida, a quem Platão associa a verdade.

Se você leitor, já assistiu ao filme Matrix, já pode observar algo semelhante. O mundo Matrix corresponde à falsa realidade a nós imposta, ou seja, as sombras na caverna. Não é fácil se libertar destas sombras assim como não é fácil se libertar do mundo Matrix. Mas o ser humano tem uma arma em suas mãos, ela se chama: BUSCA. A vida é uma eterna BUSCA, e o combustível desta BUSCA são as nossas paixões, não por pessoas, mas pelo conhecimento, pela arte, pelo mundo, pela natureza, etc. Enquanto estivermos apaixonados estaremos vivos.

Jorge Pessotti

O MITO DA CAVERNA – 2ª PARTE

Observamos anteriormente o modo pelo qual o prisioneiro se libertou das verdades ilusórias da caverna. Agora seria interessante nos perguntar: O que levou o prisioneiro a se desacorrentar de sua prisão? A resposta para esta pergunta está na teoria da alma do filósofo Platão. O prisioneiro se liberta impelido por forças existentes em sua própria alma.

São dois princípios que guiam o comportamento humano. Um representa a força do hábito ou da acomodação que faz com a pessoa se sinta contente com o mundo ao qual esta acostumada e não procura mudanças. O outro princípio é a força de eros, que faz com que a pessoa se sinta infeliz, insatisfeita e entediada no mundo ou na realidade em que vive, e a partir disso, ela é impelida procurar coisas novas, é estimulada a ir além e descobrir novos mundos e novas realidades.

É esta força de eros que leva o ser humano a pensar de um modo diferente do qual no passado pensava. É esta força que leva algumas pessoas a sonhar e imaginarem mundos novos. É esta pessoa que faz com que os poetas criem a poesia. É esta força que faz com que eu estude aquilo que eu amo. É esta força que fez com que Cristóvão Colombo encarasse o mar temido e desconhecido e chegasse até a América, este continente no qual vivemos.

Também podemos observar no mito da caverna uma idéia de Platão que é tão forte, que até hoje, aproximadamente vinte e três séculos atrás, ainda atua sobre nós. É a metáfora ou imagem do sol ou da luz como a verdade, como a idéia do bem ou como o esclarecimento. Ao mesmo tempo que ele enaltece a luz, ele despreza as trevas. E quem entre nós não prefere a luz às trevas?

Jorge Pessott

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



ZZ - ESTUDAR SEMPRE

  • A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
  • A era do capital - HOBSBAWM, E. J
  • Antonio Gramsci – vida e obra de um comunista revolucionário
  • Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
  • As armas de ontem, por Max Marambio,
  • BOLÍVIA jakaskiwa - Mariléia M. Leal Caruso e Raimundo C. Caruso
  • Cultura de Consumo e Pós-Modernismo - Mike Featherstone
  • Dissidentes ou mercenários? Objetivo: liquidar a Revolução Cubana - Hernando Calvo Ospina e Katlijn Declercq
  • Ensaios sobre consciência e emancipação - Mauro Iasi
  • Esquerdas e Esquerdismo - Da Primeira Internacional a Porto Alegre - Octavio Rodríguez Araujo
  • Fenomenologia do Espírito. Autor:. Georg Wilhelm Friedrich Hegel
  • Fidel Castro: biografia a duas vozes - Ignacio Ramonet
  • Haciendo posible lo imposible — La Izquierda en el umbral del siglo XXI - Marta Harnecker
  • Hegemonias e Emancipações no século XXI - Emir Sader Ana Esther Ceceña Jaime Caycedo Jaime Estay Berenice Ramírez Armando Bartra Raúl Ornelas José María Gómez Edgardo Lande
  • HISTÓRIA COMO HISTÓRIA DA LIBERDADE - Benedetto Croce
  • Individualismo e Cultura - Gilberto Velho
  • Lênin e a Revolução, por Jean Salem
  • O Anti-Édipo — Capitalismo e Esquizofrenia Gilles Deleuze Félix Guattari
  • O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum - Antoine Compagnon
  • O Marxismo de Che e o Socialismo no Século XXI - Carlos Tablada
  • O MST e a Constituição. Um sujeito histórico na luta pela reforma agrária no Brasil - Delze dos Santos Laureano
  • Os 10 Dias Que Abalaram o Mundo - JOHN REED
  • Para Ler O Pato Donald - Ariel Dorfman - Armand Mattelart.
  • Pós-Modernismo - A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio - Frederic Jameson
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA

  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
  • A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Antígona, de Sófocles
  • As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
  • As três fontes - V. I. Lenin
  • CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
  • Crítica Eurocomunismo - Ernest Mandel
  • Dialética do Concreto - KOSIK, Karel
  • Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico - Friedrich Engels
  • Do sonho às coisas - José Carlos Mariátegui
  • Ensaios Sobre a Revolução Chilena - Manuel Castells, Ruy Mauro Marini e/ou Carlos altamiro
  • Estratégia Operária e Neocapitalismo - André Gorz
  • Eurocomunismo e Estado - Santiago Carrillo
  • Fenomenologia da Percepção - MERLEAU-PONTY, Maurice
  • História do socialismo e das lutas sociais - Max Beer
  • Manifesto do Partido Comunista - Karl Marx e Friedrich Engels
  • MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
  • MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
  • Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
  • Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
  • O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
  • O Caminho do Poder - Karl Kautsky
  • O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
  • O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a Repressão - Victo Serge
  • Orestéia, de Ésquilo
  • Os irredutíveis - Daniel Bensaïd
  • Que Fazer? - Lênin
  • Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda
  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
  • O Processo - Franz Kafka
  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
  • O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
  • O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
  • O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
  • Oliver Twist, de Charles Dickens
  • Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
  • Os Miseravéis - Victor Hugo
  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira