sexta-feira, 23 de maio de 2008

Entrevista de Ênio Bacci para o Conversa Afiada


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21/05 - 18h20

O deputado federal Ênio Bacci (PDT-RS) disse em entrevista ao Conversa Afiada nesta quarta-feira, dia 21, que a governadora Yeda Crusius sabia dos desvios de verbas do Detran-RS. Uma CPI da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul investiga o desvio de R$ 44 milhões do órgão.

Bacci, que foi secretário de Segurança Pública no governo do Rio Grande do Sul entre 1º de janeiro e 11 de abril de 2007, disse que avisou a governadora do esquema de corrupção no Detran-RS.

“Eu alertei a governadora que havia irregularidades e que a conseqüência disso foi a retirada do Detran da Secretaria de Segurança e também em questão de um ou dois meses depois a minha exoneração”, disse Bacci.

Segundo Bacci, a própria governador Yeda Crusius já admite ter sido avisada por ele sobre a corrupção no Detran-SP. “Olha, isso já está evidente, claro. A própria governadora diz que eu lhe informei, só que ela alega que eu tenha prevaricado, porque eu que tinha essa informação teria que montar um expediente”, disse Bacci.

Leia a íntegra da entrevista com o deputado Ênio Bacci:

Conversa Afiada – Em primeiro lugar, eu queria perguntar para o senhor sobre as declarações do senhor à CPI da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que investiga o desvio de R$ 44 milhões do Detran. O senhor disse que a Governadora Yeda Crusius já tinha conhecimento desse desvio de verbas, deputado? É isso?

Ênio Bacci – Isso já é tranqüilo, já não há mais nenhum tipo de dúvida porque a própria Governadora, numa entrevista que deu hoje, ela confirma que, realmente, recebeu algumas informações, só que ela acrescenta que podia fazer ou solicitou que eu fosse avante nessas investigações. Curiosamente, quando eu assumi a Secretaria de Segurança, recebi uma avalanche de denúncias e irregularidades do Detran, de uma quadrilha que desviava recursos e disse à Governadora que a minha política seria de tolerância zero. Bandido tem que ser preso e enfrentado, seja ele bandido pequeno ou bandido grande. E o pior bandido é aquele que está dentro do governo, dentro das corporações. A Governadora, disse a ela: há irregularidades no Detran, nós precisamos fazer uma limpa no Detran. Qual é a atitude da Governadora? No dia seguinte, determinou que eu não fizesse nada no Detran porque o Detran sairia da competência da Secretaria de Segurança e iria passar à competência de outra secretaria. Foi para a Administração. Imaginei que lá a Governadora avançasse nas negociações daquilo que eu disse. E o que ocorreu? Eu acabei sendo exonerado porque não abria mão do enfrentamento da bandidagem. E a questão Detran se prolongou até a ação da Polícia Federal, que prendeu e denunciou 44 pessoas.

Conversa Afiada – Deputado, o senhor está dizendo que a Governadora impediu o senhor, na Secretaria de Segurança Pública, de investigar o escândalo do Detran?

Ênio Bacci – Olha, isso pode ser uma presunção do que aconteceu. O que eu posso dizer, em nome da verdade, sem nenhum tipo de dúvidas, é que eu alertei a governadora que havia irregularidades e que a conseqüência disso foi a retirada do Detran da Secretaria de Segurança e também em questão de um ou dois meses depois a minha exoneração.

Conversa Afiada – Agora, a exoneração do senhor foi teve que justificativa?

Ênio Bacci – A governadora justifica que eu não era assíduo a uma ou duas reuniões que ela havia me convidado, mas eu estava no combate à criminalidade e também ao fato de eu fazer a transferência de alguns delegados de polícia e esses delegados acabaram indo para a imprensa e questionando porque não queriam ser transferidos e a governadora, dessa forma, dentro da autonomia que tem, resolveu me exonerar. Eu acredito que isso seja apenas a conseqüência de um trabalho forte que tinha 95% de aprovação dos gaúchos, porque pela primeira vez a gente via polícia na rua e via o bandido temeroso de uma ação forte contra a bandidagem.

Conversa Afiada – Deputado, eu soube que o senhor esteve no Ministério Público do Rio Grande do Sul aí em Porto Alegre, não é isso?

Ênio Bacci – Exato e tive agora com a promotora que cuida do patrimônio público aqui no Rio Grande do Sul, bem como o promotor, a Dra. Luciana Maria Ribeiro Alice e o Dr. Eduardo de Lima Veiga, levando a eles documentos que comprovam diversas ilicitudes, irregularidades, dentro do Dentran. Algumas eu já tinha recebido quando lá estava e outras vieram posteriormente à minha saída: contratos de segurança, imagine, o prédio da segurança tem uma empresa privada cuidando da guarita, ao invés de colocar ali policiais militares, ao custo de R$ 2 milhões por ano. Uma empresa que limpa as delegacias e ganha R$ 6 milhões por ano e nenhuma delegacia que se saiba recebeu visita da empresa para limpa-las. Então, é no mínimo estranho que se gaste dinheiro desse jeito, quando o governo diz que não tem dinheiro para investir na saúde e na segurança. E tem também contratos de veículos locados pelo Detran, que eu vi agora, a cerca de um mês atrás, contratos de veículos a R$ 12 mil por mês, um Marea locado por R$ 12 mil por mês. Doze veículos durante o ano locados a R$ 500 mil por ano. Então é uma farra de com o dinheiro público, que pode até não ser crime, mas que é uma falta de ética e um desrespeito com uma população que não tem os serviços essenciais.

Conversa Afiada – Quer dizer que a gente pode dizer com tranqüilidade que o senhor avisou a governadora sobre isso enquanto o senhor era secretário e que ela retirou de suas mãos a investigação?

Ênio Bacci – Olha, isso já está evidente, claro. A própria governadora diz que eu lhe informei, só que ela alega que eu tenha prevaricado, porque eu que tinha essa informação teria que montar um expediente, só que eu tinha que informar a minha superiora porque era uma questão de governo isso. Isso poderia desestabilizar o governo para que ela desse os rumos do que fazer. E eu não tive tempo, porque eu estive lá durante 90 dias e o Detran esteve sob o meu comando apenas até o dia 09 de fevereiro. A partir dali o Detran não era mais ligado à Secretaria de Segurança. Então, a governadora não nega que eu estive junto à governadora e que eu informei a ela, quando num primeiro momento negava. Então isso já é um sinal de que onda há fumaça pode haver fogo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Os Sete Povos Missioneiros: Das fazendas coletivas ao latifúndio pastoril rio-grandense













, por Mário Maestri

Doutor em História pela UCL (Bélgica) e professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF.


I. A colonização tupi-guarani das Américas

Nos anos 1600, três grandes comunidades nativas dividiam o atual território do Brasil Meridional. Na Serra e no Planalto viviam povos de língua jê, especializados na caça, pesca e coleta florestal. Os campos abertos eram dominados pelos pampianos, hábeis cavaleiros após a introdução do gado vacum e cavalar nessas regiões pelos europeus.

Os guaranis pertenciam à importante civilização tupi-guarani que colonizara boa parte da América do Sul, após dominarem a horticultura de floresta tropical e subtropical, na Amazônia Central, há mais de dois mil anos. Eles foram os últimos chegados ao atual Rio Grande do Sul.

As aldeias tupi-guaranis, com uns 150 habitantes, tinham de três a cinco residências coletivas. O chefe da aldeia e das moradias comunitárias possuía prestígio comunitário, mas nenhum poder de fato sobre a comunidade aldeã. A família celular independente era a unidade de produção e consumo de base dessa microsociedade.

Cada três a cinco anos, as aldeias tupi-guaranis transferiam de local, devido ao esgotamento da caça e da coleta e à degradação das condições higiênicas dos terrenos habitados e de suas proximidades. Comumente, as aldeias superpovoadas dividiam-se durante as transferências periódicas, dando origem a uma nova comunidade independente.

Minha aldeia, meu mundo

O mundo tupi-guarani esgotava-se nos quadros da comunidade aldeã, formada em geral por famílias aparentadas residindo nas moradias coletivas. As aldeias eram independentes, já que supriam as necessidades de subsistência dos moradores sem a necessidade de realizarem trocas econômicas.

Os aldeões dispunham comunitariamente dos territórios controlados pela aldeia, desconhecendo qualquer forma de apropriação privada da terra. Reinava grande solidariedade entre os produtores, sobretudo da mesma moradia. Alguns bens eram do domínio dos moradores da residência – amambaé. Armas, utensílios, ferramentas, etc. pertenciam aos aldeões, individualmente – abambaé.

A produção tupi-guarani assentava-se na divisão sexual do trabalho. O homem caçava, pescava, guerreava, participava da construção da moradia coletiva, abria as clareiras para as plantações, em geral associado aos companheiros de moradia, etc. A divisão sexual do trabalho tupi-guarani sobrecarregava as mulheres, responsáveis pela coleta, pelo transporte, pelo cuidado dos filhos, pelo preparo dos alimentos, etc. As mulheres eram responsáveis pelas plantações.

O produto-base da horticultura tupi-guarani era a mandioca brava, de alto poder calórico e escassa riqueza protéica. Os tupi-guaranis não criavam animais para o abate. Nos meses de escassez de caça e de coleta, careciam penosamente de proteínas, o que parece ter contribuído à prática do abate e consumo cerimonial dos inimigos.

Os tupi-guaranis partiram do Médio Amazonas para colonizar boa parte da América do Sul. O braço guarani avançou ocupando as florestas em galeria dos afluentes da margem direita do Amazonas – Bolívia, Paraguai, Uruguai, sul do Brasil, etc. O braço tupinambá despontou na foz do Amazonas e ocupou grande parte da então exuberante Mata Atlântica do litoral.

II. Missões – Um novo mundo guarani

Em 1494, em Tordesilhas, as coroas portuguesa e espanhola dividiram os mundos descobertos e a descobrir. Na América do Sul, a coroa portuguesa enriqueceu-se distribuindo graciosamente sesmarias – treze mil hectares – aos homens bons com cabedais suficientes para povoá-las com o braço americano ou africano escravizado.

Os colonos espanhóis enricaram-se empregando o trabalho americano nas fabulosas minas de prata dos Andes. Privilegiados na partilha de Tordesilhas, faltava-lhes, entretanto, capitais para ocupar e explorar diretamente as imensas regiões do continente que lhe couberam na exótica apropriação americana.

A administração espanhola temia que os portugueses avançassem sobre os territórios não-ocupados, aproximando-se das cobiçadas minas andinas, fontes de ingentes riquezas. As missões constituíram inteligente projeto de ocupação, defesa e incorporação de imensas regiões das Américas ao mundo colonial espanhol, praticamente sem investimentos.

A coroa espanhola propunha que as comunidades nativas dispersas se reunissem em pueblos estáveis, sob a administração de jesuítas, franciscanos, dominicanos, etc. Os pueblos dependeriam diretamente do rei de Espanha, escapando, portanto, das pesadíssimas exigências em tributos e em trabalho dos insaciáveis proprietários coloniais.

Impasses e solução

À exclusão dos povos andinos, não houve comunidade nativa que mantivesse os tupi-guaranis longe dos territórios florestais do litoral e das margens dos rios e lagoas que conquistavam para assentar suas roças horticultoras. A aldeia e as moradias comunitárias tupi-guaranis formavam coesas e poderosas equipes de produtores de alimentos e de guerreiros.

Por razões compreensíveis, os guaranis acolheram a opção missioneira. Após uma expansão territorial pluricentenar vitoriosa, havia um século que as comunidades tupi-guaranis perdiam inexoravelmente as terras e a liberdade para a frente de expansão colonial ibérica.

O embate americano entre os nativos guaranis e os colonizadores ibéricos dava-se entre, por um lado, a comunidade doméstica nativa, ignorante das diferenças de classe e da organização do Estado, estruturada em aldeias autárquicas; e, por outro, Portugal e Espanha, Estados classistas, vanguardas do mercantilismo, inseridos na divisão mundial do trabalho. Comumente, a aldeia tupi-guarani isolada apoiava o europeu no combate à comunidade vizinha sua inimiga.

Modo de produção missioneiro

A proposta das missões retirara as comunidades tupi-guaranis da perplexidade e do desalento em que haviam sido lançadas pelas derrotas incessantes diante dos vorazes colonizadores ibéricos, ao garantir-lhes segurança relativa diante dos encomenderos espanhóis e dos escravizadores paulistas.

Sobretudo, as reduções asseguraram melhorias substanciais na alimentação, na moradia, no vestuário, na segurança, etc. às comunidades americanas, ao ensejarem a transição das formas de produção doméstica pré-classistas guaranis à sociedade missioneira, estatal, comunitária, complexa, tendencialmente não-classista.

Hábeis horticultores, os guaranis aclimataram com facilidade as técnicas, as ferramentas e as plantas da agricultura européia. Incorporaram ao quotidiano produtivo as ferramentas de ferro, o arado simples, a tração animal, a adubação, a fruticultura. Com a crescente importância da agricultura, essas práticas, essencialmente das mulheres na sociedade guarani, tornaram-se tarefas masculinas, realizadas com o apoio feminino, nas missões.

Tecer redes e faixas de algodão era tarefa feminina tupi-guarani. Liberadas parcialmente das obrigações horticultoras, as mulheres assumiram novas responsabilidades na fiação e na tecelagem do algodão e da lã, produzindo vestimentas e cobertores que facilitaram a ocupação de regiões golpeadas duramente pelos frios invernais, como o noroeste do atual Rio Grande do Sul.

Cerâmica e olarias

O conhecimento oleiro guarani desdobrou-se nas práticas ceramistas missioneiras que produziam os materiais com os quais se levantavam e telhavam os celeiros, os estábulos, os galões, as igrejas, as moradias, as oficinas, etc. Novas residências com diversos aposentos unifamiliares recebiam os habitantes das antigas moradias coletivas.

A divisão sexual e familiar do trabalho, apoiada na cooperação simples entre os produtores das residências coletivas e da aldeia, ampliou-se, originando práticas produtivas realizadas comumente por artífices especializados. As reduções possuíam de trinta a quarenta oficinas: ferraria, marcenaria, olaria, sapataria, tecelagem, tornearia, etc.

Os guaranis desconheciam completamente a criação animal. Em verdade, as Américas desconheciam o gado vacum, cavalar, muar, etc. Sobretudo, as missões introduziram-nos nas práticas criatórias vacuns, cavalares, caprinas, ovinas, etc., que forneciam com segurança e relativa fartura os recursos protéicos que as comunidades nativas tinham, em abundância, apenas episodicamente.

Realizada muitas vezes em ervais distantes, a extração e produção da erva-mate tinha grande importância para as missões. Diariamente, distribuía-se uma cuia de erva-mate por família missioneira. A erva entrava como equivalente nas trocas intermissões e era exportada, em grandes carretas de duas rodas, para regiões, não raro, muito distantes – Buenos Aires, Santa-Fé, Chile, Peru, etc.

Contabilidade social

O missioneiro recebia pequena parcela da terra comunal para sua exploração familiar. Porém, trabalhava nas plantações comunitárias nas segundas e sábados. A produção agrícola e pastoril comunitária financiava a subsistência dos trabalhadores especializados – administradores, artífices, ervateiros, vaqueiros, etc. – ou improdutivos – velhos, doentes, etc.

No contexto de técnicas e métodos novos e tradicionais, o desenvolvimento da produção missioneira comunitária [tupambaé] e familiar [abambaé] permitiu divisão do trabalho e, conseqüentemente, produtividade social muito superiores às da comunidade guarani tradicional. O que certamente ensejou o sustento de uma comunidade maior, com maior esperança de vida.

Grande parte do consumo familiar era produzida pela própria família. A administração central de cada missão – cabildo –, monopólio dos caciques, realizava a equalização das trocas internas entre os agentes das diversas esferas produtivas. A contabilidade central substituía a mercantilização como meio de troca dos mais diversos produtos, que não se transformavam em mercadorias, dominando seu valor de uso e não de troca.

A maior parte do produto excedente, permitido pela maior produtividade do trabalho, era reinvestida na comunidade. O caráter progressista do novo modo de organização e de produção aumentava o prestígio dos seus vetores ideológicos – os jesuítas e o cristianismo – e a coesão social missioneira.

III. Das Missões do Tapes aos Sete Povos

De 1610 a 1634, os jesuítas espanhóis fundaram as províncias guaraníticas do Paraguai: Itatim, Guairá e Uruguai. As missões do Tapes faziam parte da província do Uruguai. Elas tinham dezesseis pueblos e localizavam-se no noroeste sul-rio-grandense atual, no Planalto e nos vales do Jacuí, Ibicuí e Ijuí.

Porém, muito logo, as reduções do Tapes foram atacados por paulistas, à procura de nativos para serem escravizados, devido à falta de braços africanos cativos, sobretudo desde a ocupação holandesa dos portos negreiros portugueses da costa da África. Nesse então, a casa real espanhola reinava igualmente sobre Portugal [Unificação Ibérica, 1580–1640].

Talvez vinte mil missioneiros tenham sido arrastados para as capitanias portuguesas como cativos. Antes da viagem, matavam-se os caciques e os guerreiros mais combativos, para que não organizassem revoltas. Os velhos e as crianças eram executados ou abandonados, para que não atrasassem a marcha terrível.

Em 25 de março 1641, expedição escravizadora de 3.400 paulistas, mamelucos e tupis foi completamente derrotada nas barrancas do rio M’Bororé, afluente do rio Uruguai, por quatro mil missioneiros portando as armas tradicionais, arcabuzes e canhões de bambus gigantes. Com a guerra de libertação de Portugal, a coroa espanhola permitira que os missioneiros se armassem contra os seus antigos súditos portugueses.

Vacarias missioneiras

Entretanto, em 1636-8, para protegerem-se dos ataques, os missioneiros do Tapes transferiram-se para a margem direita do Uruguai, abandonando os atuais territórios do Rio Grande do Sul para se estabelecerem nas regiões da atual província argentina de Misiones e no sudoeste do Paraguai. Em 1634, cada missão recebera umas cem cabeças de gado para formar rebanhos. Os animais foram deixados nas margens meridionais do Jacuí, para que se reproduzissem.

Como as condições ambientais da região – pampa – eram excelentes, as manadas de gado reproduziram-se exuberantemente e expandiram-se para o litoral, à busca de pastagens, alcançando o Atlântico e avançando para o sul, dando origem às vacarias da região – campos de gado selvagem. Os vaqueiros missioneiros atravessavam periodicamente o rio Uruguai para levar rebanhos das vacarias para as estâncias, formadas entre o rio Jacuí e a lagoa dos Patos.

As estâncias eram áreas menores onde os gados eram confinados para que se realizassem periodicamente rodeios. As invernadas eram pequenas estâncias, próximas às missões. Sobretudo os acidentes geográficos e valas com plantações de espinheiros e outras barreiras mantinham os gados nas estâncias. Posteiros missioneiros controlavam as passagens por onde os gados escapavam.

Os campos do atual Rio Grande do Sul, povoados pelos gados selvagens, formavam uma enorme hacienda trilhada continuamente pelos vaqueiros missioneiros à busca dos animais. As vacarias do Mar, nas pastagens que iam da margem direita do rio Camaquã até o rio Negro, eram mantidas como uma espécie de reserva estratégica.

Sacramento – Os portugueses no Prata

Durante a Unificação Ibérica [1580-1640], os lusitanos desenvolveram rentável atividade comercial na bacia do Prata, contrabandeando trabalhadores escravizados e produtos manufaturados, sobretudo ingleses, em Buenos Aires, por couros e a prata andina. As autoridades espanholas fechavam os olhos para essa atividade. Em 1640, com a guerra de independência lusitana, o mercado platino fechou-se inexoravelmente para os lusitanos.

Com a crise do comércio açucareiro, a coroa lusitana procurou novos negócios, entre eles a ocupação do norte de suas possessões americanas. No sul da América, em janeiro de 1680, os lusitanos fundaram a colônia do Santíssimo Sacramento, na deserta margem oriental do Prata, diante de Buenos Aires, em territórios pertencentes à Espanha, segundo o Tratado de Tordesilhas, para prosseguir o rendoso comércio interrompido quarenta anos antes.

A coroa espanhola respondeu à intrusão lusitana cercando e conquistando, em agosto, a cidadela, com a ajuda de mil milicianos missioneiros. No ano seguinte, Sacramento foi devolvida, diplomaticamente, aos lusitanos, para tornar-se, então, até 1777, o grande pomo da discórdia entre as coroas ibéricas no sul da América.

Sete Povos das Missões

Diante da nova situação, a administração espanhola ordenou que os missioneiros atravessassem novamente o rio Uruguai para fundar, desde 1682, novas reduções no noroeste dos atuais territórios sulinos. Os Sete Povos da Banda Oriental do rio Uruguai eram formados pelas reduções de São Miguel, São Nicolau, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Lourenço, São João Batista e Santo Ângelo.

A nova ocupação estendeu o controle, mais ou menos legal e efetivo, dos Sete Povos sobre grande parte dos atuais territórios sul-rio-grandenses e uruguaios. No Planalto, os gados missioneiros ocuparam os campos abertos e os ervateiros missioneiros exploraram parte das matas da região. Nos pampas, já em 1683, os vaqueiros de São Miguel chegaram até a atual cidade de Bagé, próxima da fronteira atual com o Uruguai, de onde se retiraram devido à oposição dos nativos locais.

Com administração própria, os Sete Povos permitiam melhor gestão dos recursos pastoris, agrícolas, ervateiros da região e uma melhor proteção desse flanco do vice-reinado do Peru, ameaçado por Sacramento. Entretanto, cada missão possuía suas terras, seus gados e administrava-se independentemente. Produzindo em geral os mesmos produtos, eram muito limitadas as trocas e, portanto, a interdependência dos Sete Povos.

No início do século 18, os trinta povos das Missões Ocidentais e Orientais do rio Uruguai possuíam uns 150 mil habitantes. A população dos Sete Povos seria de 30 mil missioneiros, sobretudo guaranis, ainda que ali vivessem charruas, minuanos e outras comunidades. Uma população considerável. Na época, Portugal apenas ultrapassaria um milhão e meio de habitantes.

Missão cumprida

As Missões protegiam essas regiões da expansão lusitana, participando ativamente dos ataques aos portugueses, o que as debilitava fortemente, já que os milicianos missioneiros eram, nos fatos, agricultores, vaqueiros, artífices, etc., que tinham que abandonar suas funções, para ir à guerra. As milícias missioneiras protegiam também as povoações espanholas dos ataques de nativos “selvagens”. Eram verdadeira guarda pretoriana contra eventuais insubordinações das elites criollas às autoridades coloniais.

As Missões incorporavam também economicamente esses vastos territórios da América do Sul ao espaço colonial hispânico, já que exportavam diversos produtos – couros, mulas, erva-mate, etc. – para pagar os impostos de capitação e adquirir o que não podiam ou não queriam produzir na região.

O crescente esgotamento da produção mineradora andina e o desenvolvimento da importância da bacia do Prata para as trocas comerciais e as comunicações selaram a sorte dos Sete Povos. O crescente desenvolvimento semi-autônomo de fato de uma verdadeira nação guarani-missioneira desagradava mais e mais as classes dominantes crioulas e a coroa espanhola.

IV. O Tratado de Madrid e a Guerra Guaranítica

Em janeiro de 1750, em Madri, as coroas ibéricas pactuaram solução pacífica global das desavenças territoriais americanas. Para a América Meridional, acordou-se trocar a colônia de Sacramento pelos territórios dos Sete Povos. O tratado garantia à coroa espanhola o domínio pleno do estuário do Prata às custas das populações missioneiras, expropriadas de suas vilas, moradias, oficinas, igrejas, terras, fazendas, rebanhos e ervais.

O Tratado ordenava: “Das povoações ou aldeias que cede Sua Majestade Católica na margem oriental do rio Uruguai, sairão os missionários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para os aldear em outras terras de Espanha (…); entregar-se-ão as povoações à Coroa de Portugal, com todas as suas casas, igrejas e edifícios e a propriedade e posse do terreno (…).”

Os missioneiros deviam abandonar as terras natais e localizaram-se a mais de seiscentos quilômetros, na então semideserta Banda dos Charruas [Uruguai]. Como a transferência era decisão que os ibéricos não esperavam que os missioneiros obedecessem de livre-vontade, em 1751, tratado secreto acertou o uso conjunto da força militar luso-espanhola contra a previsível resistência missioneira.

Para ocupar as Missões, a coroa portuguesa mandou vir camponeses sem ou com pouca terra das ilhas dos Açores e da Madeira. Os casais assentados receberiam 272 hectares de terra, ferramentas, sementes, dinheiro, etc., tudo gratuitamente. Até 1754, três mil ilhotas associaram-se aos 1.500 povoadores luso-brasileiros da região. Esperava-se que os camponeses produzissem braços e meios de subsistência para as tropas coloniais.

Guerra guaranítica

O general-de-batalha Gomes Freire de Andrade, comissário português da expedição demarcadora, ao chegar ao Rio Grande, concedeu sesmarias no Chuí, em Viamão, em Cima da Serra, no Vale do Rio dos Sinos, no Jacuí, no Caí, no rio das Antas, na Vacaria dos Pinhais, incentivando ocupação latifundiária sesmeira dos territórios sulinos pelos luso-brasileiros.

Em setembro de 1752, a expedição luso-espanhola – astrônomos, diplomatas, engenheiros, geógrafos, militares, etc. – encontrava-se em Castilhos Grande e, em inícios de outubro, assentava o primeiro marco divisório. Porém, muito logo, seria barrada por tropas missioneiras comandadas por José Tiaraju – Sepé –, alferes real de São Miguel, na coxilha de São Sebastião, no atual município de Bagé, já em territórios missioneiros. As tropas gerais missioneiras encontravam-se sob o comando de Nicolau Neenguiru, corregedor de Concepción, na margem ocidental do Uruguai.

Em 23 de fevereiro de 1754, uns trezentos missioneiros atacaram por quatro horas a apenas fundada tranqueira de Rio Pardo, fronteira oeste luso-brasileira, no vale do Jacuí. Teriam morrido 22 atacantes e de três a quatorze defensores. Em 28 de abril, tropas unificadas dos Sete Povos atacam, novamente, com pouquíssima decisão, o forte de Rio Pardo, que reforçara suas defesas. Nos inícios dos combates, morreu Alexandro Mbaruari, comandante militar de São Miguel, chefe-geral das tropas missioneiras.

Em 1574, um poderoso exército português, com mais de mil homens em armas, partiu de Rio Grande, no litoral rio-grandense, para Rio Pardo, aonde chegou em agosto. As tropas espanholas também chegaram à região. Porém, devido ao forte inverno e à resistência missioneira, em novembro de 1754, os exércitos ibéricos retiraram-se da região, após pactuarem armistícios separados com os representantes dos pueblos que, nos fatos, ampliavam as terras sob controle lusitano.

Finalmente, em 16 de janeiro de 1756, um exército hispano-português de 2.600 homens, poderosamente armado e artilhado, reuniu-se nas cabeceiras do rio Negro, nos atuais territórios uruguaios, de onde partiu para as Missões. Ao entrarem em terras missioneiras, as tropas ibéricas sofreram diversas emboscadas. Porém, em inícios de fevereiro, caía em combate Sepé Tiaraju, comandante das tropas de São Miguel.

A morte de Sepé

Em 7 de fevereiro, os missioneiros armam mais uma emboscada às tropas ibéricas, ao deixarem, como isca, uma ponta de gado à vista dos invasores. Cavaleiros missioneiros atacaram céleres e lancearam mortalmente dois peões portugueses lusitanos que haviam cruzado o arroio Guacacay para reunir, abater e carnear os animais.

Talvez prevenidos contra a tática utilizada anteriormente, às cinco e meia da tarde, o comandante Andonaégui enviou trezentos soldados espanhóis e portugueses, em dois esquadrões, em perseguição dos setenta a oitenta cavaleiros missioneiros, reunidos próximos a um capão.

Na perseguição, a montaria de Sepé Tiaraju teria tropeçado em um desnível do terreno, lançando o cavaleiro ferido ao solo. Aproveitando a oportunidade, um peão português quebrou uma lança contra o chefe militar missioneiro. No combate, os espanhóis tiveram dois mortos e os missioneiros, oito.

Em São Gabriel

A documentação é divergente e imprecisa sobre os acontecimentos posteriores. Possivelmente capturado e identificado, devido ao livro de orações e cartas que levava consigo, Sepé teria sido torturado por seus algozes – “queimado com pólvora ainda quando aspirando” e martirizado “de outras maneiras”.

A seguir, Sepé teria sido justiçado com um tiro de pistola, pelo próprio governador de Montevidéu, talvez para conquistar a honra da morte de um chefe missioneiro. O corpo de Sepé, decapitado, teria sido recuperado pelas tropas missioneiras, para enterramento de fortuna. Acredita-se que o chefe missioneiro morreu lutando em algum ponto próximo da cidade de São Gabriel.

A grande derrota

As razões da derrota missioneira foram, sobretudo, políticas. Os jesuítas tentaram impedir diplomaticamente e, a seguir, retardar, a implementação do tratado, esperando sua anulação. Nos fatos, terminaram dividindo-se quanto à obediência das ordens emanadas pela coroa espanhola.

Os superiores da Companhia de Jesus apoiaram o abandono das Missões, entregando, em maio de 1753, os Sete Povos às autoridades civis e religiosas de Buenos Aires. Entretanto, alguns jesuítas permaneceram, até o fim, nas missões, em contato com os caciques missioneiros.

Com a defecção jesuítica, a resistência encontrou-se nas mãos dos administradores dos Sete Povos que se dividiram igualmente sobre o caminho a seguir. Eles mantiveram sempre a esperança de negociar a manutenção dos Sete Povos, procurando preservar ciosamente as relações com Espanha. Durante todos os combates, as tropas missioneiras mantiveram ação militar essencialmente defensiva.

Apesar de possuírem uma enorme homogeneidade de civilização, os Trinta Povos jamais constituíram entidade coerida por laços sociais, econômicos e políticos necessários. Nos fatos, constituíam verdadeiras autarquias, mantendo frágeis laços essenciais entre si. A desorganização dos Sete Povos parece também ter sido uma ação ibérica contra a tendência, jamais realizada, de formação de uma nação guarani-missioneira no sul da América.

O fim da República

Os povos da margem direita do rio Uruguai não teriam compreendido que também eram atingidos pelo Tratado de Madri, que se referia explicitamente às Missões da margem esquerda do rio. Sobretudo diante da defecção e neutralização do comando jesuítico unificado, jamais participaram efetivamente da resistência militar, que se restringiu às milícias dos Sete Povos, essencialmente.

Vivendo a mesma autonomia sócio-econômica, os Sete Povos jamais unificaram e centralizaram ferreamente a resistência ao avanço ibérico, procurando comumente pactuar acordos em separado e fazer frente aos invasores apenas quando penetraram em suas terras. Jamais houve, nos fatos, a consciência plena de uma civilização guarani-missioneira reunindo os Trinta Povos.

Em 10 de fevereiro, em Caaibaté, 1.800 missioneiros, armados de lanças, arcos e flechas e peças de artilharia de bambu forradas de couro tentaram abrir negociações e impedir o avanço dos ibéricos que contavam com mais de 3.700 combatentes, poderosamente armados e fortemente artilhados.

Apesar das oposições históricas, as tropas dos Sete Povos teriam recebido o apoio de guerreiros charruas, minuanos, guenoas e outras comunidades nativas regionais, segundo parece chamados ao desconhecimento dos jesuítas.

Rejeitando o pedido de negociação, os canhões portugueses e espanhóis abriram fogo em forma coordenada, desorganizando as desmotivadas milícias missioneiras. A seguir, iniciou-se o massacre de talvez mil guaranis, perseguidos e executados. Em 16 de maio de 1756, após pequenos confrontos, as tropas ibéricas entravam em São Miguel. A República dos Sete Povos fora derrotada.

V. A consolidação do latifúndio pastoril sulino

Em 1757, devido à demora do prosseguimento da demarcação e à não-evacuação dos moradores dos Sete Povos, as tropas lusitanas, longe de suas linhas de defesa, recuaram para Rio Pardo, transferindo alguns milhares de missioneiros para Rio Pardo, Cachoeira do Sul e Gravataí, o que causou grande despovoamento nas Missões.

Assim, os portugueses debilitavam as forças militares hispânicas e minoravam a carestia de trabalhadores nas fazendas, plantações e vilas lusitanas. A seguir, os missioneiros foram obrigados a adotar a língua e nomes portugueses, dissolvendo-se na população subalternizada do Rio Grande do Sul. Essa enorme contribuição ao povoamento original do Rio Grande é menosprezada pela historiografia tradicional rio-grandense.

Derrotados, milhares de missioneiros migraram para a Banda Oriental – Uruguai –, onde se empregaram nos campos, como peões, e em Montevidéu, como chacreiros, artífices, etc., guaranitizando profundamente aquela região. Missioneiros incorporaram-se, igualmente, aos toldos charruas e minuanos do pampa uruguaio.

Em 12 de fevereiro de 1761, o Tratado de El Pardo anulou o Tratado de Madri, mantendo as condições anteriores, ou seja, Sacramento, em mãos portuguesas, e as Missões, sob domínio espanhol e administração militar. Finalmente, os jesuítas foram expulsos das colônias hispano-americanas, em 1767.

Perda e restauração

O confronto da França, em união com a Espanha, com a Inglaterra e, conseqüentemente, Portugal, seu pequeno e tradicional aliado, ensejou a chamada Guerra dos Sete – 1756 a 1763 –, que envolveu diversos outros beligerantes. Em outubro de 1762, tropas espanholas e missioneiras apoderaram-se da colônia de Sacramento e, em abril de 1763, da vila de Rio Grande, obrigando aos luso-brasileiros a recuarem para os Campos de Viamão.

Apenas em 1776, a vila e o porto de Rio Grande e as terras do interior rio-grandense seriam retomadas, por poderoso exército lusitano de sete mil homens. Em resposta, os espanhóis ocuparam a ilha de Santa Catarina e Sacramento, permanecendo para sempre na última povoação.

Em inícios de 1777, a morte de dom José I, e a entronização de sua filha, dona Maria I, permitiu a deposição do poderoso marquês do Pombal, e a volta ao poder pleno da grande aristocracia fundiária portuguesa. Em outubro de 1777, o Tratado Santo Ildefonso reconhecia a soberania espanhola sobre a colônia do Sacramento e sobre as Missões, em troca de Santa Catarina, num tratado em tudo lesivo aos lusitanos.

Trigos, couros e mulas

Até 1780, a produção luso-rio-grandense centrava-se, sobretudo, no abate de bovinos pelo couro, na triticultura açoriana, na pequena agricultura de gêneros de subsistência, no envio de tropas principalmente de mulas para Sorocaba, a grande feira sulina daqueles animais, em São Paulo.

Os trigais rio-grandenses haviam sido plantados pelos colonos açorianos nas proximidades da lagoa dos Patos, ao longo do rio Jacuí e Taquari, nas cercanias de Rio Pardo, em geral com o apoio de alguns trabalhadores escravizados. Ela era comercializada e embarcada no porto de Porto Alegre e exportada para o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Portugal.

A ferrugem (1811), as dificuldades dos transportes, a rusticidade da produção, o alto preço relativo dos cativos, a inadequação do cultivo do produto à produção escravista e, sobretudo, a concorrência do trigo estadunidense, após a liberdade comercial decretada em 1808 por dom João, levaram a que o grão rio-grandense fosse alijado dos mercados regional, “nacional” e mundial.

O Rio Grande luso-brasileiro exportava tropas de muares que subiam pelo nordeste da Serra e do Planalto em direção da feira de Sorocaba, onde eram vendidas para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Na época, as mulas eram o principal meio de transporte de cargas e de homens. A decadência da mineração no Brasil Central, nos anos 1770, e, portanto, da necessidade de mulas para o transporte, arrefeceu a criação muar sulina, até ser relançada pelas necessidades da produção cafeicultora do Rio de Janeiro, a partir dos anos 1830.

A ocupação da Campanha

Inicialmente, a economia pastoril rio-grandense exportava couros para o mercado internacional e produzia carne apenas para o limitado mercado regional, em geral através do abate do gado selvagem. A ocupação da Campanha por fazendas criatórias recebeu poderoso impulso com a instalação da indústria charqueadora, que valorizava o gado vacum ao permitir o transporte de suas carnes através da salgação.

As grandes secas de 1777-8 e 1791-2, no nordeste do Brasil, dizimaram os animais que alimentavam a produção de carne-de-sol, sobretudo do Ceará e do Piauí, que abastecia tradicionalmente a colônia naquele alimento, uma das bases da alimentação das populações escravizadas e de poucos recursos.

Com a expulsão dos espanhóis de Rio Grande, em 1776, charqueadas surgiram nas margens das lagoas, no rio Jacuí, em torno de Porto Alegre e, sobretudo, na margem direita do arroio Pelotas. Desde então, as necessidades do Brasil passaram a ser satisfeitas pelas charqueadas sulinas, que exploravam duramente a mão-de-obra escravizada.

No mesmo sentido, os numerosos oficiais trazidos para a conquista de Rio Grande receberam ou apoderaram-se de sesmarias, valorizadas agora pela necessidade de gado das charqueadas. Em pouco tempo, as terras acessíveis do pampa esgotavam-se. Em 1785, poucos anos após o início da produção sistemática de charque, 64,22% das 841 propriedades sulinas recenseadas tinham mais de 1.000 ha.

O fim das Missões

Diminuídos poderosamente em sua população e territórios, sob a administração corrupta de prepostos espanhóis, os Sete Povos vinham conhecendo rápida e inexorável decadência, após a Guerra Guaranítica. Em 1801, aproveitando as hostilidades entre Espanha e Portugal, devido à guerra napoleônica, tropas irregulares luso-brasileiras apoderaram-se dos Sete Povos. A nova administração militar lusitana aprofundou os desmandos do governo espanhol.

A privatização definitiva dos territórios missioneiros ocorreria poucos anos mais tarde. Em 1808, dom João impulsionou a ocupação dos sertões do Brasil. Nesse processo, mandou “descobrir, povoar e cultivar os campos de Guarapuava” [Paraná], que se encontravam “infestados [sic] de gentios”. Pretendia-se abrir estrada direta entre a feira de Sorocaba e as Missões, agora sob poder português.

Em 1809-1810, um destacamento militar demarcou caminho entre Curitiba e os campos de Guarapuava, fundando a seguir o forte de Atalaia, freqüentemente atacado pelas comunidades nativas da região. Nos anos seguintes, criadores estabeleceram propriedades, nessas regiões, sempre mais ao sul, em direção à fronteira com o Rio Grande do Sul.

Em 1816, uma expedição partiu para estabelecer contato direto com as Missões, através dos campos de Guarapuava. O nativo Jongong, que orientou a expedição, temendo a belicosidade coroada nas margens do rio Uruguai, tomou o caminho do leste e dos Campos de Palmas, descobriu os Campos Novos, atravessou o rio Pelotas, chegou ao Campo do Meio, no nordeste do Rio Grande do Sul, de onde prosseguiu para São Borja.

A expropriação final

A expedição falhara na abertura de caminho direto entre a feira de Sorocaba e as Missões, mas redescobrira o caminho, através do Planalto Médio, ligando os Campos de Vacaria a Santo Ângelo, utilizado nos séculos anteriores, pelos nativos e pelos tropeiros e ervateiros missioneiros. A rota ficou conhecida como Caminho Novo das Missões.

A abertura do caminho entre os Campos de Vacaria e as Missões acelerou a substituição das antigas estâncias missioneiras por latifúndios pastoris luso-brasileiros e a ocupação do Planalto Médio, onde surgiram, a seguir, as povoações de Cruz Alta, Passo Fundo, Campo do Meio, Lagoa Vermelha, etc.

Desde 1816, o cabildo dos povos missioneiros e administradores luso-brasileiros venderam, a preços mínimos, ou concederam, gratuitamente, terras missioneiras e terrenos não-designados, ensejando que militares, tropeiros e criadores, chegados de São Paulo, Curitiba, Lages e Laguna, organizassem fazendas criatórias nas antigas estâncias guaraníticas.

Segundo Nicolau Dreys, a população missioneira caíra de vinte mil missioneiros, em 1801, para oito mil, em 1914. O “Relatório ao Conselho Geral”, de dezembro de 1830, de Caetano Lopes Gama, presidente da província sulina, sentenciava: “Os Sete Povos (…) estão quase extintos. Santo Ângelo, São João, São Luiz e São Nicolau não têm um só índio. São Borja, São Lourenço e São Miguel, apenas 38.”

Expropriadas de suas estâncias coletivas, as populações missioneiras cruzaram o rio Uruguai ou dispersaram-se pelas fazendas sulinas, onde se empregaram, permanente ou periodicamente, como trabalhadores pastoris, dando origem, com as populações escravizadas e as comunidades pampianas aculturadas, às classes subalternizadas rio-grandenses dedicadas às atividades pastoris.

Com os anos, à expropriação das terras, seguiu-se a própria expropriação da memória. Os missioneiros, agora peões pobres, sequer recordavam-se dos tempos gloriosos em que senhoreavam solidários as imensas e frutíferas fazendas comunitárias dos Sete Povos Missioneiros.

Principais autores consultados

BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos guaranis. Porto Alegre: Sulina; Caxias do Sul: UCS; Porto Alegre, EST, 1978.

CESAR, Guilhermino. História do Rio Grande do Sul: Período colonial. Porto Alegre: Globo, 1970.

CORTESÃO, Jaime (ed). Manuscritos da coleção de Angelis. 3 vols. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951, 1952, 1969.

DALCIN, Ignácio. Em busca de uma terra sem males. Porto Alegre: Palmarinca, EST: Porto Alegre, 1993.

FLORES, Moacyr. Colonialismo e missões jesuíticas. Porto Alegre: EST/Instituto de Cultura Hispânica do RS, 1983.

GADELHA, Regina Maria A. F. As missões jesuítica do Itatim: Um estudo das estruturas sócio-econômicas coloniais do Paraguai, séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

GOLIN, Tau. A guerra guaranítica. 2ª ed. Passo Fundo: EdiUPF, 1999.

KERN, Arno. Arqueologia pré-histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991.

KERN, Arno. Missões: Uma utopia política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

LUGONM Clovis. A República “comunista” cristã dos guaranis: 1610-1768. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

MAESTRI, Mário. Os senhores do litoral: Conquista portuguesa e agonia tupinambá no litoral brasileiro. 2ª ed. Porto Alegre: EdiUFRGS, 1995.

MAESTRI, Mário. Uma história do Rio Grande do Sul: A ocupação do território. Da luta pelo território à instalação da economia pastoril-charqueadora escravista. Passo Fundo: EdiUPF, 2006.

MONTOYA, Antonio R. La Conquista Espiritual. 3ª ed. Rosario: Equipo Difusor de Estudíos de História Ibero-Americana, 1989.

NEUMANN, Eduardo. O trabalho guarani missioneiro no rio da Prata colonial 1640-1750. Porto Alegre: Marins Livreiro, 1996.

PORTO, Aurélio. História das missões orientais do Uruguai. Porto Alegre: Selbach, 1954. Vol. I e II.

RIBEIRO, Darcy [Ed.]. Suma etnológica brasileira. 2ª ed. 1. Etnobiologia. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1987.

RIBEIRO, Darcy [Ed.]. Suma etnológica brasileira. 2ª ed. 2. Tecnologia indígena. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1987.

RIBEIRO, Darcy [Ed.]. Suma etnológica brasileira. 2ª ed. 3. Arte índia. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1987.

RODERJAN, Roselys Vellozo. Raízes e pioneiros do Planalto Médio. Carazinho: Prefeitura Municipal de Carazinho/UPF/Diário da Manhã, 1991.

SANTOS, Lucila Maria Sgarbi et al. Bom Jesus e o tropeirismo no Brasil Meridional. Porto Alegre: EST, 1995.

SEVERAL, Rejane da Silveira. A guerra guaranítica. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1995.

TESCHAUER, Carlos. História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos. 2ª ed. São Leopoldo: EdiUnisinos, 2002. 3. vol.

TREVISAN, Armindo. A escultura dos Sete Povos. Porto Alegre: Movimento, 1980.

Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/058/58maestri.htm

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terça-feira, 20 de maio de 2008

Consumo, logo existo






, por Frei Betto*




Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. “Quem trouxe a fome foi a geladeira”, disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc.

A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.

É próprio do humano – e nisso também nos diferenciamos dos animais – manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico.

A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.

Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos “Manuscritos econômicos e filosóficos” (1844), ele constata que “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós.” O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.

Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?

Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela…

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de “com mercê”, com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.

Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. “Nada poderia ser maior que a sedução“ – diz Jean Baudrillard – ”nem mesmo a ordem que a destrói.“ E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.

Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. “Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático”, respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

* Frei Betto é escritor, autor de “Típicos tipos – perfis literários” (A Girafa), entre outros livros.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O ESPÍRITO CAPITALISTA








, por Frei Betto

O sistema capitalista, que deita raízes na quebra da sociedade feudal e no advento da manufatura, alavancou-se com a revolução industrial. Expandiu-se no século 19, acelerou a pesquisa científica e o progresso técnico. Aumentou a produção e agravou a desigualdade na distribuição de bens. De seu ventre contraditório surgiu o socialismo, que aprimorou a distribuição sem conseguir desenvolver a produção. A onda neoliberal derrubou o socialismo europeu qual castelo de areia.

Hoje, o capitalismo é vitorioso para as nações da União Européia e da América do Norte (excluindo o México). No resto do mundo, deixa um lastro de miséria e probreza, conflitos e mortes, salvando-se as elites que, em seus respectivos países, gerenciam os negócios segundo o velho receituário colonial, agora prescrito pelo FMI: tudo para o benefício da metrópole.

Em plena globocolonização, o capitalismo é também vitorioso em conrações e mentes. Mas não em todos. Há ricos, remediados e pobres que não têm espírito capitalista. São pessoas generosas, altruístas, capazes de se debruçar perante o sofrimento alheio e de estender a mão em solidariedade a causas coletivas.

A tendência do espírito capitalista é aguçar o egoismo; dilatar ambições de consumo; ativar energias narcísicas; tornar-nos competitivos e sedentos de lucro. Criar pessoas menos solidárias, mais insensíveis as questões sociais, indiferentes à miséria, alheias ao drama de índios e negros, distantes de iniciativas que visam defender os direitos dos pobres. Aos poucos, o espírito capitalista molda em nós esse estranho ser que aceita, sem dor, a desigualdade social; assume a cultura da glamourização do fútil; diverte-se com entretenimentos que exaltam a violência, banalizam a pornografia e ridicularizam pobres e mulheres, como são exemplos certos programas de humor na TV.

O capitalismo promove tamanha inversão de valores em nossa consciência que defeitos qualificados pelo cristianismo de "pecados capitais" são tidos como virtudes: a avareza, o orgulho, a lúxuria, a inveja e a cobiça.

O capitalismo é irmão gêmeo do individualismo. Ao exaltar como valores a competição, a riqueza pessoal, o acúmulo de posses, interioriza em nós ambições que nos afastam do esforço coletivo de conquista de direitos para nos mergulhar na ilusão pessoal de que, uma dia, também galgaremos, como alpinistas sociais, o pico da fortuna e do sucesso.

A magia capitalista dissolve, pelo calor de sua sedução, todo conceito gregário, como nação ou povo. O que há são indivíduos atomizados, premiados pela loteria biológica por não terem nascido entre os pobres ou pela roda da fortuna, que os fez ascender miraculosamente para o universo em que os sofrimentos morais são camuflados sob o brilho da opulência.

O espírito capitalista não faz distinção de classe: inocula-se no favelado e na empregada doméstica, no camponês e no motorista de táxi. E induz ricos, remediados e pobres à apropriação privada, não apenas de bens simbólicos: oro para alívio dos meus problemas e a cura de minhas doenças; voto no candidato que melhor corresponde às minhas ambições; adoto um comportamento que realça a minha figura e o meu prestígio.

Esse espectro de ser humano não conhece a cooperação e a gratuidade; considera a generosidade uma humilhação; encara a probreza insubmissa como caso de polícia; faz da função de mando uma segunda pele; trata os subalternos com desdém. O mundo centra-se em seu umbigo. Ainda que não tape as orelhas ao ouvir falar em "amor ao próximo", do outro ele se faz próximo quando estão em jogo seus interesses. Mas prefere distância se o outro sofre, decai socialmente ou mergulha em fracasso. Seu espelho é o da bruxa que indaga: "Há alguém tão bem-sucedido quanto eu?" Se a resposta for positiva, então quer conhecê-lo, adulá-lo, idolatrá-lo, como a um ícone religioso do qual se esperam graças e proveitos.

Capitalista não é apenas o banqueiro, o Tio Patinhas. É também o Donald, que se submete a seus caprichos. O mundo é, para ele, um jogo de espelhos, no qual se vê projetado nas mais variáveis dimensões. Ele inveja os que estão acima dele e nutre ódio por quem o ameaça como concorrente. Quando se faz religioso, ér para ganhar o Céu, já que a Terra lhe pertence. Dá esmolas, mas não direitos; acende velas, nunca esperanças; prega a mudança de coração, não da sociedade; é capaz de reconhecer Cristo na eucaristia, jamais no rosto de quem padece fome, é sem-terra ou sem-teto.

Horroriza-nos pensar que, outrora, a sociedade praticou o canibalismo. Quiça alimentar-se com a carne do semelhante, em vez de entregá-la ao repasto dos vermes, seja masi saudável e ético que do que, hoje, excluí-lo do direito de ser, simplesmente, humano.

"texto de Frei Beto publicado no jornal o Estado de S. Paulo de 14 de junho de 2000"

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



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  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
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  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

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  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
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  • Que Fazer? - Lênin
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  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
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  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
  • O Processo - Franz Kafka
  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
  • O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
  • O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
  • O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
  • Oliver Twist, de Charles Dickens
  • Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
  • Os Miseravéis - Victor Hugo
  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira