sexta-feira, 20 de julho de 2007

ORAÇÃO AO POCOTÓ, por Luciano Pires


Senhor fazei de mim um instrumento contra o pocotó.
Onde houver burrice que eu leve a sabedoria;
Onde houver certeza, que eu instaure a dúvida;
Onde houver rancor, que eu leve a união;
Onde houver medo, que eu propague a fé;
Onde houver conformismo, que eu introduza a indignação;
Onde houver desespero, que eu chame a esperança;
Onde houver tristeza, que eu promova a alegria;
Oh! Mestre, fazei com que eu procure mais pensar do que ser pocotizado,
compreender do que ser enganado,
desasnar do que ser asnado,
pois é dando que se recebe, é pocotizando que se é pocotizado,
e é pensando que se nasce para a vida eterna.

Amém.

O Menemebê - Brasileiros Pocotó


, por Luciano Pires (trecho do livro Brasileiros Pocotó)

BRASILEIROS POCOTÓ

"Você liga a televisão e não se conforma com o baixo nível da programação?
Abre o jornal e só encontra notícias superficiais e sensacionalistas?
Liga o rádio e parece que está ouvindo sempre a mesma música? ruim?
Chama um "profissional" para fazer um concerto em sua casa e o resultado é um desastre?
No trabalho, sente a solidão de não ter interlocutores?
As conversas são rasa, os temas superficiais?
Vê seus filhos decorando a mesma tabela periódica que você decorou anos atrás?

Você tem a sensação de que o Brasil está ficando burro?

Pois eu, sim! Daí esse livro.
Você pode gostar, pode detestar, não importa. Desde que reflita sobre nossas atitudes, para ter certeza de que não somos brassileiros pocotó."


O MNMB -Movimento Nacional pela Mediocrização do Brasil.
O Menemebê

Carinhosamente apelidada de Menemebê, essa organização teve suas origens obscuras, mas recebeu um impulso agressivo há 40 anos, com a expansão das mídias de massa, em particular da televisão.
Nesse período, o Menemebê cresceu numa velocidade impressionante, chegando forte e poderoso ao século XXI.
O mais curioso: sendo virtual, o Menemebê não tem endereço. Não tem telefone.
Não tem presidente ou diretores. Ninguém sabe onde fica ou se tem dono.
Mas tem, hoje, milhões de seguidores em todo o País. Mais que a somatória de todos
os movimentos religiosos. Mais que todas as torcidas de todos os times de futebol.
O Menemebê tem poder. Tem dinheiro.
E sua estratégia resume-se numa frase: "Agindo nos bastidores enquanto ninguém vê".
Você vai ao trabalho: tem Menemebê.
Você vai ao clube: tem Menemebê.
Você vai à igreja: tem Menemebê.
Você abre o jornal, liga o rádio ou a tevê e é só Menemebê.
E o mais curioso: as pessoas que trabalham pelo Menemebê, com raríssimas exceções,
não sabem disso. E nem é preciso ser sócio de carteirinha, atuante.
Basta ACEITAR as mediocridades que o Menemebê patrocina para dele fazer parte.
Quando descobri essa história, entendi o Brasil. E preciso dividir com vocês algumas
dicas.
O Menemebê está presente, quando:
...na lista das músicas mais tocadas, o Pocotó, o Bonde do Tigrão, o funk de baixaria,
os subpagodes, sertanejos pop e as coletâneas de novela;
...ligamos o televisor e vemos Faustão brigando com Gugu, Big Brother e as pegadinhas
de um malandro qualquer;
...vemos oito torcedores assistindo, num Pacaembu vazio, ao Palmeiras jogar contra
um certo Genésio Futebol Clube daquela cidade... (como é o nome mesmo?);
...vemos o nível dos políticos responsáveis por nosso futuro;
...a comida mais comida é um hambúrguer de fast food;
...os livros mais vendidos são de auto-ajuda, escritos por gurus de araque;
...a mulher mais desejada tem meio litro de silicone;
...um fabricante lança um novo produto e o concorrente baixa o preço. Em poucos
meses o produto vira commodity e ninguém mais ganha dinheiro produzindo;
...uma montadora, para lançar um carro mais barato, elimina o retrovisor lateral. Aí, a
outra elimina o acendedor de cigarros. A terceira, tira fora a tampa do porta-luvas, e
lança o processo de pioria contínua;
...um mecânico experimenta um produto de segunda, de procedência incerta, "mas
bem baratinho, dá para o gasto". Logo o mercado fica entupido de produtos que
colocam a segurança em risco;
...uma loja de varejo vende sem nota. E, logo, todo mundo está sonegando;

quinta-feira, 19 de julho de 2007

As duas faces dos Estados Unidos e a manipulação das consciências


Tenho uma amiga que me ajuda a compreender a época caótica em que vivemos. É casada com um grande médico. Ele é marxista, revolucionário. Ela adopta uma posição progressista perante os grandes problemas da humanidade. Vão festejar em breve as bodas de ouro; após quase meio século continuam a amar-se.
O 25 de Abril abriu para ela um tempo de felicidade. Foi inicialmente uma activista empenhada. Participou em jornadas de solidariedade com a Reforma Agrária, ia aos grandes comícios e não perdia um discurso de Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves.
A partir de 76, à medida que a contra-revolução avançava, distanciou-se, amargurada. Mas continuou a acompanhar com interesse a evolução da História em Portugal e no Mundo. Lê jornais ditos de referência e vê diariamente os noticiários da televisão, mesas redondas e entrevistas com figuras públicas.
Não discute temas políticos com o marido. Comigo sim. Todas as semanas procedemos ao inventário de acontecimentos importantes. Para discordarmos quase sempre.
A grande ajuda que ela me presta é inseparável de um paradoxo. Sendo uma pessoa progressista, inteligente, generosa, sensível, com uma concepção ética da vida, é profundamente influenciada pelas mensagens mediáticas difundidas por um sistema cujo projecto de sociedade é incompatível com o seu.
Ao escutá-la apercebo-me das enormes dificuldades que nós, comunistas, enfrentamos no combate para mudar a vida num contexto social em que a grande maioria dos que identificam os males do capitalismo e desejariam viver noutro mundo são diariamente contaminados pelas mensagens do inimigo, e não estão preparados para as descodificar e rejeitar.
A Manipulação das consciências
Reescrever a história, falsificando-a de acordo com os interesses do imperialismo, tornou-se uma necessidade estratégica dos actuais senhores do mundo. Teses tão absurdas como a do «Fim da História», do americano Francis Fukuyama ( ex funcionário do Departamento de Estado ) inserem-se nas campanhas que pretendem apresentar o neoliberalismo como a ideologia ideal e definitiva.

Jean Salem, no seu importante livro Lenine et la Revolution (v .odiario.info de 08.07.2007) desmonta com lucidez a politica de satanização do socialismo e o seu requinte de perversidade.
Esse discurso promove a alienação progressiva de milhões de pessoas e atinge em grande parte o seu objectivo. Salem conta, por exemplo, que somente 20% dos jovens franceses que responderam a uma sondagem sabia que a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota do Reich nazi. Noutra sondagem, 50% admitiam que a URSS havia sido aliada de Hitler na segunda guerra mundial. Um escritor, também francês, ouviu de uma amiga russa que na escola onde o filho estudava um professor dizia nas aulas que a batalha de Estalinegrado havia sido ganha pelos EUA. Perante a objecção de um dos garotos, afirmou que fora o bombardeamento da cidade pela Força Aérea norte-americana que destruíra o VI Exercito alemão de Von Paulus. A mentira fez estragos porque nem um só dos meninos tinha a noção de que a aviação de combate dos EUA nunca interveio na Frente Oriental.
O apagamento da memória histórica é um objectivo prioritário nas campanhas de diabolização do comunismo e de glorificação do heroísmo das forças armadas dos EUA, supostas vencedoras da última guerra mundial.
Pergunto: Quantos portugueses sabem que nos combates para a reconquista da ilha de Guadalcanal, apresentada como epopeia quase mítica, apenas participaram 10.000 soldados estadunidenses?
Muito poucos.
Quantos sabem que em 1943, na Batalha de Kursk, que quebrou a coluna vertebral da Wehrmacht, intervieram quase dois milhões de soviéticos enfrentando outros tantos alemães?
Muito poucos
Quantos sabem que o número de divisões alemãs que em Março de 45 se opunham aos anglo-americanos na Frente Ocidental era oito vezes inferior ao das que combatiam os soviéticos na Frente Oriental?
Muito poucos
Quantos sabem que na Batalha da Normandia, em 1944, o número de mortos ingleses e canadianos foi muito superior ao das perdas do exército norte-americano que, nos filmes de Hollywood, aparece como o vencedor da grande choque?
Muito poucos.
Quantos sabem que nos anos 30 o exército vermelho infligiu uma derrota esmagadora aos japoneses na Batalha do Kalkin Gol, expulsando-os da Mongólia?
Muito poucos.
Quantos sabem que em menos de uma semana de combates o exército vermelho, na sua ofensiva no Extremo Oriente, nas vésperas do bombardeamento de Hiroshima, matou e aprisionou mais militares japoneses do que as forças armadas dos EUA em quatro anos de guerra?
Muito poucos.
Cito apenas meia dúzia de exemplos para ilustrar o apagamento da história ou a sua deturpação no âmbito de campanhas que promovem a alienação e visam a impor a ideia de que da Revolução de Outubro de 17 somente resultaram males para a Humanidade, enquanto o balanço do capitalismo seria altamente positivo para o progresso e a democracia.
Essas mensagens não merecem credibilidade. São falsas. Visam difundir uma história imaginária e, através da manipulação das consciências, robotizar aqueles que as absorvem.
A ideia de que os Estados Unidos, não obstante a agressividade deste ou daquele Presidente e de erros e crimes cometidos em guerras absurdas, são uma sociedade profundamente democrática, continua, porém, a ser compartilhada por uma grande parte da humanidade.
A amiga progressista e inteligente que me ajuda a fincar os pés na terra para tentar compreender o presente é um exemplo expressivo dos efeitos devastadores da manipulação das consciências.
Recebe uma massa enorme de informações contraditórias que a perturbam e desinformam e provocam nela uma reflexão cujo efeito é a incompreensão da história, ou mais exactamente, a incapacidade de desmontar a mensagem ideológica de um sistema de exploração que desaprova.
Um dia, depois de assistir a um programa de televisão que evidenciava a integridade de um juiz dos EUA que enfrentou uma gigantesca transnacional e o governador do Estado em defesa de uma causa justa, comentou: «Eles têm coisas muito boas. A Justiça, por exemplo». Lembrei-lhe que um tribunal da Florida condenou a séculos de prisão cinco patriotas cubanos cujo «crime» fora investigar as actividades da máfia terrorista de Miami que ali conspira contra o regime de Havana. Contei-lhe que presos políticos porto-riquenhos, alguns tratados como animais, cumprem também penas de séculos de prisão por lutarem pela independência do seu país.
Abanou a cabeça, alegando que se tratava de excepções.
Noutra oportunidade, ao tomar conhecimento de crimes da CIA descodificados após 30 anos, desabafou : «Eles têm a coragem de reconhecer os seus erros, o que não acontece noutros países. E não esqueças Abu Ghrabi. Praticaram ali a tortura, mas os militares implicados nessas monstruosidades estão a ser julgados e a imprensa é a primeira a trazer a público o que se passou e a condenar em editoriais os abusos cometidos. A Constituição é democrática e as instituições funcionam.»
Eu rebati, uma por uma essas afirmações. Ela sorria, incrédula.
As reportagens sobre a garotinha inglesa sequestrada no Algarve comoveram-na,
assim como o movimento de solidariedade com os pais.
Quando argumentei que os media dedicavam horas ao assunto e o noticiário sobre civis assassinados pela tropa americana no Iraque e no Afeganistão e pelos israelenses na Palestina ocupava escassos minutos por semana esbarrei com uma muralha de incompreensão.
Perguntei-lhe se tinha acompanhado os massacres do Ruanda, tornados possíveis pela cumplicidade da França e dos EUA. Respondeu que não, e insistiu na minha insensibilidade perante o drama dos pais da criancinha inglesa.
Tentei sem êxito, incontáveis vezes, iluminar os mecanismos de um sistema de fachada democrática, como o dos EUA, onde instituições cientificas investem milhões de dólares na defesa de um macaco ou um urso ameaçados de extinção, mas onde o Congresso aprova leis como o Patriotic Act que viola direitos e liberdades constitucionais e abre a porta a perseguições racistas a milhões de cidadãos muçulmanos e a imigrantes de dezenas de países do Terceiro Mundo.
Não sabia também que a US Army instalou um parque de blindados sobre uma área arqueológica ao lado das ruínas da Babilónia e que a maior base aérea norte-americana no Afeganistão, Begram, funciona sobre o lugar onde, soterradas, se localizam as ruínas de Kapisa, a antiga capital do Reino Kuchano, criador de uma grande civilização desaparecida.
Desmontar a engrenagem da falsa democracia portuguesa é igualmente difícil para ela. O discurso de personalidades mediáticas que criticam o funcionamento do sistema no acessório, mas se abstêm de pôr em causa o capitalismo, impressiona-a, sobretudo quando assumem posições éticas na denúncia da corrupção ou de escândalos públicos.
Compreendo a perplexidade da minha amiga. A hegemonia exercida pelo Poder sobre a comunicação social manifesta-se em Portugal, como noutros países da União Europeia, de maneiras muito diferentes, por vezes subtis.
O silêncio dos governantes perante o branqueamento do fascismo é uma delas.
Com frequência intelectuais que se apresentam como distanciados do governo e até como adversários escrevem artigos, publicam livros ou dão entrevistas que se inserem em campanhas para reescrever a história. Em programas de televisão – e até em teses académicas – intelectuais supostamente democratas sustentam, por exemplo, que Salazar foi um governante autoritário, mas que o regime por ele instaurado não pode ser definido como fascista. O centenário do nascimento de Marcelo Caetano foi comemorado como grande acontecimento nacional. Dedicaram-lhe suplementos especiais, livros, longos programas televisivos. Objectivo da celebração da data: projectar a imagem de um estadista de altíssimo nível, um patriota português, cidadão integro, incompreendido, que pretendia estabelecer a democracia no Pais ao assumir o Poder.
Outra frente do combate da grande burguesia para manipular as consciências é a sua atitude perante ex-comunistas que foram expulsos do PCP ou dele se afastaram. De um dia para outro esses cidadãos passam a ser tema de absorvente interesse para os media. São promovidos a revolucionários exemplares que se bateram corajosamente para renovar o partido e democratizá-lo. Alguns acabam por aderir a outros partidos que antes combatiam, são nomeados ministros, publicam livros e transformam-se em anticomunistas inflamados. São então acarinhados pelo mundo do grande capital (gente como Zita Seabra, Veiga de Oliveira, Pina Moura, José Magalhães, Vital Moreira, Carlos Luís Figueira, Raimundo Narciso, etc.).
O fenómeno Bush
Qualquer cidadão sensato acabou na Europa por formar uma péssima ideia do Presidente Bush. Mesmo nos EUA o seu índice de popularidade caiu para um nível inferior ao que tinha Richard Nixon em vésperas de ser forçado a renunciar.

Mas a desaprovação da sua estratégia de guerras «preventivas» e a pressão popular para que traga de volta o exército de 157.000 homens que ocupa o Iraque não impedem que esse homem primário, ignorante e profundamente reaccionário conserve um imenso poder que utiliza contra a humanidade.
Já neste ano forçou o Congresso a aprovar um diploma que legaliza a tortura e conseguiu enviar mais 28.000 soldados para o Iraque.
Como é possível?
A manipulação das consciências tem como complemento a anestesia das consciências.
Na sociedade estadunidense o funcionamento da engrenagem criou em milhões de eleitores mecanismos defensivos que tendem a transformá-los em seres passivos, egoístas. Não desconhecem que as coisas correm cada vez pior nas guerras que as suas tropas travam em países longínquos. Mas em vez de reagir activamente, preferem esquecer, até porque as coisas também correm mal no país. Sabem vagamente que a dívida pública subiu para um patamar astronómico, que o défice comercial atingiu um nível alarmante e os gastos militares não param de subir. Que fazem? Com excepção de uma insignificante e corajosa minoria, assistem, passivos ao descalabro, absorvidos pelos seus problemas pessoais.
É essa atitude perigosa que permite a continuidade da estratégia irracional de George Bush.
Quando ele, dirigindo-se aos jovens da Academia Militar de West Point, em Junho de 2002, afirmou que a América estava ameaçada «por um punhado de terroristas e tiranos loucos» foi entusiasticamente aplaudido. Encorajado, acrescentou que iria «descobrir células terroristas em sessenta países».
Esse esboço da estratégia de agressividade planetária cujos planos já haviam sido elaborados foi então recebido com simpatia pela maioria da população. A grande imprensa apoiou-o.
Com excepção de uma minoria de intelectuais progressistas e de organizações como a de Ramsey Clark, o povo dos EUA não percebeu que se iniciava um processo que, tendo como alavanca as guerras «preventivas» iria conduzir a crimes que imprimiriam um carácter neofascista à política exterior do país. No seu desenvolvimento, sectores das Forças Armadas envolvidas nessas guerras distantes, nomeadamente uma parcela do seu corpo de oficiais, assumiriam gradualmente o papel de instrumento de crimes monstruosos que só encontram precedente nos cometidos pelas SS do Terceiro Reich de Hitler.
É terrível que a maioria da humanidade não tenha consciência dessa realidade.A ocultação da história real, substituída pela que a televisão e o cinema difundem hoje, vem, porém, de longe.
Nas escolas dos EUA a perigosa tese da «nação predestinada» com vocação para salvar a humanidade e redimi-la dos seus vícios, forjada no final do século XVIII, continua a moldar as novas gerações. Aos adolescentes não se informa que dois milhões de vietnamitas foram abatidos numa guerra abjecta na qual os rios foram envenenados e as florestas queimadas, guerra que terminou aliás com a derrota humilhante dos EUA. A invasão de Cuba em 1898 é apresentada como epopeia libertadora. Oculta-se que a Ilha foi tratada durante sessenta anos como colónia de novo tipo.
Segundo os manuais escolares, a ocupação das Filipinas no mesmo ano inseriu-se na repulsa dos EUA pelo colonialismo. Aos estudantes não se confessa que 600.000 filipinos foram massacrados na luta que o povo do Arquipélago travou contra os invasores.
***

O desmascaramento da engrenagem da mentira concebida para reescrever a história de acordo com a lógica e os interesses do imperialismo, sobretudo o norte-americano, é uma tarefa ciclópica.A estratégia agressiva e irracional de Bush merece hoje a desaprovação da maioria dos povos. É uma evidência. Mas da sua condenação passiva a uma atitude combativa medeia por ora uma distância enorme.

A atitude perante os crimes ecológicos constitui outro exemplo da passividade das massas neste momento de viragem de crise global da civilização.

Alastra a consciência de que os países industrializados, com os EUA na vanguarda, estão a destruir o ambiente e a consumir os recursos naturais não renováveis em ritmo alarmante. Se essa escalada prosseguir, a Terra será inabitável para o homem num período de tempo relativamente curto.

Que fazer?

Somente uma mobilização dos povos contra a estratégia de loucura que os
ameaça poderá evitar o apocalipse que se esboça já no horizonte, situação na qual as guerras genocídas são inseparáveis da devastação das florestas, da poluição dos oceanos, do envenenamento do ar que respiramos.

Essa tomada de consciência, indispensável, não é, porém, uma certeza. Desconhecemos o desfecho da catástrofe em andamento. Mas sabemos que ele depende do homem.

Acabará a humanidade, através de milhares de lutas em diferentes lugares da Terra, por gerar as formas de organização, em moldes revolucionários – é a palavra - que desemboquem num confronto vitorioso com o sistema que ameaça destruí-la?
Podemos acreditar ou não no advento de um internacionalismo que assumiria características revolucionárias.
Mas ele está ao alcance da humanidade. Não é impossível.
Serpa, 13 de Julho de 2007
Artigo retirado de odiario.info

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Construir o ENCLAT


Para a unidade e o avanço da luta sindical




Alterou-se, em muito, nos últimos quinze anos, o movimento sindical brasileiro: corroeu-se o seu caráter classista; aprofundou-se a despolitização geral entre os trabalhadores; diluiu-se a perspectiva socialista das lutas e da mobilização da classe trabalhadora.
A principal causa deste processo é a transformação da base econômica, da forma como se organiza e se desenvolve a acumulação capitalista nos dias de hoje, onde a crescente introdução de novas tecnologias na produção gera a eliminação de postos de trabalho. Como pano de fundo para este quadro temos a internacionalização e a concentração constante do capital e a hegemonia do pensamento neoliberal - fortalecida, a partir do início dos anos 90 do século XX, com a queda da URSS e dos países socialistas do Leste Europeu - com a adoção de políticas de desmantelamento das redes estatais de previdência e outros sistemas de proteção social, de destruição de conquistas e direitos dos trabalhadores, de ataques aos seus direitos de organização. Muitos segmentos do movimento sindical renderam-se à nova situação e passaram a adotar posturas conciliatórias, aceitando a transformação dos sindicatos em entidades passivas, promotoras da "cidadania", e abandonado a luta de classes.
A CUT, que, no final dos anos 80, havia conseguido alcançar um lugar de destaque na vanguarda da organização do chamado "novo sindicalismo", filia-se então à CIOLS, uma Central Sindical Internacional de cunho liberal e conciliador, passando a atuar de maneira rebaixada e trocando o discurso combativo e denuncista sobre as mazela do capitalismo pelo discurso "politicamente correto" da parceria entre capital e trabalho.
Com a chegada do PT ao governo federal, a degeneração da CUT chega aos patamares da traição e da acomodação só antes visto na história no período Vargas e na ditadura militar, ou seja, em momentos de intensa repressão política à organização sindical classista.
O posicionamento vacilante durante a reforma da previdência, em 2003, confirmou esta postura de traição. Logo a seguir, a defesa intransigente, por parte da direção da CUT, da reforma trabalhista que estava representada no relatório final do Fórum Nacional do Trabalho, (composto, além da CUT, pela Força Sindical, pelas entidades patronais e pelo Governo) e a desmobilização, em todo o país, dos movimentos contrários às contra-reformas e às denúncias de corrupção ocorridas no primeiro governo Lula foram as tristes marcas da decadência da CUT, que demonstrou, ainda, neste período, a sua total falta de independência política frente ao Governo.
A CUT logo se transformaria em uma correia de transmissão do Governo Lula. O auge desta nova função se deu com a indicação do então presidente da Central, o metalúrgico Luiz Marinho, hoje Ministro da Previdência, para o cargo de ministro do Trabalho e do Emprego.
Porém, não tardou a resposta dos setores mais combativos do movimento sindical brasileiro que mantiveram seu compromisso classista. Ainda durante a contra-reforma da previdência, vários sindicatos ligados ao funcionalismo público romperam com o silêncio da CUT e sua postura pusilânime, construindo um fórum de resistência aos ataques do Governo Lula. Este fórum, posteriormente, passou a se intitular Conlutas, e passou a propor a organização de todos os setores da sociedade atingidos pelas políticas neoliberais do Governo Lula: trabalhadores em geral, estudantes, sem-teto e outros. A Conlutas, no entanto, incorreu em um erro fundamental: o de não ter compreendido a necessidade de debater a reorganização do movimento sindical a partir das questões de fundo que regem o desenvolvimento do capitalismo, ou seja, colocando no centro a disputa capital x trabalho e seus sujeitos para, em conjunto com outros segmentos sociais em luta, avançar na luta pelo socialismo e contra o Governo Lula. É um erro tentar organizar movimentos sociais de natureza e dinâmica diferenciadas em uma única organização. Os trabalhadores precisam de um espaço para a expressão de suas reivindicações gerais e específicas.
Após o término do último congresso da CUT, em junho de 2006, a maioria dos setores que, mantendo-se na CUT, ainda reivindicavam desta Central uma postura classista e independente, romperam com esta organização e passaram a articular um novo movimento de atuação sindical, visando à organização e à unidade de todos os setores que comungam da mesma crítica à conciliação, ao peleguismo e à falta de uma Central sindical classista no Brasil. Este movimento passou a ter o nome de INTERSINDICAL, abrangendo um amplo conjunto de entidades e militantes sindicais dos setores público e privado. Exemplos da necessidade política da existência de uma alternativa classista ao peleguismo e à conciliação foram as recentes desfiliações do SEPE e do Sintrasef, no Rio de Janeiro, e do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas da CUT.
A Intersindical cresceu de maneira plural, congregando sindicatos, setores e correntes, na tentativa de superar a política de conciliação de classes da CUT. Com organização ainda embrionária, a Intersindical está presente em diversos estados, tendo destacado-se no Encontro Nacional de 25 de março, no 1º de maio e nas jornadas do dia 23 de maio. A Intersindical deve ter como norte a representação dos trabalhadores, na sua expressão sindical, tanto dos trabalhadores de carteira assinada, como os precários e desempregados. Não pode, contudo, perder o diálogo e a ação conjunta com os demais movimentos sociais.
O PCB está desde o início na construção da Intersindical, com significativa presença nos encontros iniciais da formação da Intersindical, em maio e junho de 2006. Desde então, os comunistas envidam esforças para a construção e fortalecimento da Intersindical.
Para o fortalecimento da luta é necessário, entretanto, que haja a superação das divergências entre as diferentes organizações que lutam contra o neoliberalismo, na perspectiva da superação do capitalismo. O Encontro Nacional do dia 25 de março foi um importante passo nesse sentido. A criação do Fórum Nacional de Mobilização no referido encontro foi um importante passo para a unidade de ação entre os diversos setores e movimentos sociais.
O Fórum tem como tarefa a elaboração de uma plataforma de lutas unificada, mas com uma demarcação clara de combate às reformas neoliberais e de oposição ao governo Lula. A existência do Fórum não prevê a diluição ou a dissolução de suas organizações componentes. Não pode repetir a experiência da central dos Movimentos Populares, que se tornou uma organização de cúpula, cuja função é fazer a intermediação entre governo e os movimentos sociais. Tampouco deve o Fórum se tornar uma federação dos movimentos sociais. Portanto, o seu caráter deve ser de ação, não de organicidade.
Recentemente, o PSTU lançou um documento propondo a unificação da Intersindical e do Conlutas. Os comunistas criticaram o açodamento que caracterizou a formação da Conlutas, feita em meio à reforma da Previdência, sem a preocupação de manter a unidade entre os setores de esquerda então abrigados na CUT. E mais, realizamos a crítica ao caráter movimentista da Conlutas, onde caberiam, em condições de igual representatividade, sindicatos e movimentos estudantis, movimentos sociais e de solidariedade internacional. Não devemos subestimar a importância de nenhum movimento, mas entender que muitos destes movimentos se situam em esferas diferentes do movimento operário e popular.
Setores do PSOL propõem a criação de uma central sindical e popular. Para o PCB, é necessária a existência de uma entidade sindical com este caráter, que preserve o espaço de atuação sindical dos trabalhadores. A ação conjunta e a construção de uma plataforma do movimento operário e popular deve ser desenvolvida pelo Fórum Nacional de Mobilização.
Os comunistas têm clareza da necessidade de uma organização autônoma da classe operária. O sindicato é uma de suas formas mais importantes dessa organização. Esta organização não pode se bastar ao economicismo e às lutas específicas, erro tantas vezes cometido pela CUT, mesmo em seus tempos de combatividade. Sua afirmação não pode se transformar em negação das demais formas de organizações da classe, como os partidos.
Os comunistas devem priorizar a construção da Intersindical - que, em seu pouco tempo de vida, já trouxe uma rica experiência apara o movimento. O fortalecimento da Intersindical não exclui o diálogo com a Conlutas ou com outras centrais que combatam as reformas do capital. Este diálogo deve ser permanente, reafirmando a necessidade de construção de uma organização autônoma dos trabalhadores.
Neste sentido, o PCB propõe a organização de um ENCLAT (ENCONTRO NACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA), onde o conjunto do movimento sindical e as mais variadas tendências e correntes que lutam pelo socialismo possam debater os reais desafios e dilemas postos hoje para a classe trabalhadora. Este Encontro, que, em nossa avaliação, deverá realizar-se no primeiro semestre de 2008, deverá debater a necessidade da construção, em nosso país, de uma entidade sindical classista, ampla e unificada, que combata não apenas a exploração e a miséria causadas pelo capitalismo, mas que desmascare e derrote as políticas de conciliação de classes e suas representações no movimento dos trabalhadores. A construção desta entidade não deve seguir prazos ou cronogramas rígidos e pré-estabelecidos. O tempo de sua construção, assim como a forma final que terá será definida pelas experiências de luta - como as lutas unificadas contra as propostas governistas de reformas sindical e da previdência - e pelo acúmulo de discussões do movimento, e exigirá uma série de reuniões preparatórias. O ENCLAT, a nosso ver, será o primeiro passo para a construção desta entidade.
Em nosso entender, é necessário que todos os movimentos, grupos e partidos políticos que atuam no meio sindical debatam a construção do ENCLAT, cumprindo seu papel de vanguarda na defesa dos interesses históricos dos trabalhadores, na busca da construção de uma alternativa classista que possa responder aos desafios e necessidades que se impõem, hoje, aos trabalhadores brasileiros.
PCB - PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
17 de Junho de 200

Brasil: Caso Lamarca, a mídia e os saudosos da ditadura

CARLOS LAMARCA, ENCONTRA-SE!


Altamiro Borges-

Actualidade GalizaCIG

"13 de junho do ano 2007 - CARLOS LAMARCA, um herói nacional e internacional".




Tarso Genro; clic para aumentar
Além de criticar o Superior Tribunal de Justiça (STJ), “que considerou, de forma arbitrária e descabida, que Lamarca teria chegado ao posto se tivesse continuado na carreira militar”, o jornal condena as declarações do ministro Tarso Genro (na foto), que avaliou como “juridicamente correto e politicamente adequado a concessão do benefício” e chamou Lamarca de “um símbolo da ‘resistência radical’ á ditadura militar”. Lembrando o sombrio período pré-golpe de 64, quando conclamou a indisciplina dos militares, o Estadão afirma que “a promoção póstuma, verdadeiro prêmio ao facínora desertor, constitui uma provocação às Forças Armadas”. Preocupado com o futuro, o jornalão conservador teme a carga simbólica da decisão na juventude brasileira. (Foto: Brasília, 13/06/2007. O ministro da Justiça, Tarso Genro, fala durante cerimônia de posse dos novos integrantes da Comissão de Anistia, que deverão analisar 30 mil pedidos de absolvição e indenização. ©Marcello Casal JR/ABr).

A decisão da Comissão de Anistia do governo Lula, de fazer uma justiça histórica ao promover para o posto de general o capitão Carlos Lamarca e de indenizar sua família, gerou uma brutal reação da mídia burguesa, que não perde a oportunidade para demonstrar o seu truculento caráter de classe. A revista IstoÉ trouxe uma inoportuna entrevista com o coronel reformado Jarbas Passarinho, ex-ministro dos governos da ditadura, atacando a medida e afirmando, com todas as letras, que “eu faria tudo de novo” –golpe, prisões, torturas e assassinatos de patriotas. Já a TV Globo divulgou a decisão sempre de forma jocosa, como se o guerrilheiro morto na Bahia fosse um monstro e seus algozes fossem os heróis que evitaram a “ditadura comunista”.

As reações mais hidrófobas, entretanto, partiram da revista Veja (sempre ela!) e do jornalão conservador O Estado de S.Paulo. Com o título “bolsa-terrorismo”, o panfleto da famiglia Civita parece ter sido escrito por algum fanático do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) remanescente do período do regime militar. O texto é totalmente editorializado, não tem nada de informativo, e revela uma saudade mórbida da ditadura –talvez como gratidão pelos subsídios estatais que viabilizaram a construção do império midiático da Editora Abril. Já no seu blog da Veja, Reinaldo Azevedo, um raivoso mentor “intelectual” do PSDB, abusa dos adjetivos e chavões para atacar as indenizações às vitimas da ditadura militar previstas na Lei da Anistia.


Blog fascista de Reinaldo Azevedo

“Os terroristas não sabiam, mas estavam investindo em seu patrimônio. Ou da família. Até gente que nunca atirou uma pedra com estilingue recebeu indenizações milionárias como ‘vitimas da ditadura’. Lula é um pensionista, imaginem”, debocha o articulista da “nova direita”, esquecendo-se de citar seus amigos tucanos que também foram incluídos na Lei da Anistia. Após confessar que é “anticomunista, o que só pode ser uma doença”, achincalha com a biografia heróica do guerrilheiro. “Lamarca desertou do Exército em 1969 para integrar uma facção terrorista. Abriu mão de ser um militar. Morreu [não diz que foi assassinado] em 1971. Mas a comissão do Ministério da Justiça resolveu ‘promovê-lo’. Promoção por quê? Por ele ter tentado implantar no Brasil um regime que, em caso de sucesso, não teria matado menos de alguns milhões?”.

Reinaldo Azevedo encerra seu texto na Veja, intitulado “a bilionária bolsa-terrorismo paga pelo Brasil”, de maneira infame: “O Brasil não deve nada a esses caras, incluindo a democracia, que eles tanto detestavam”. Esta mentira histórica descarada é um desrespeito a todos que lutaram contra a ditadura militar e merecia a abertura de processos jurídicos de suas vítimas. Até lideranças do PSDB, que tiveram o reconhecido mérito de lutar pela redemocratização do país, deveriam protestar contra este “jornalista” que a mídia apresenta como “mentor tucano”. Do contrário, elas serão cúmplices das sandices deste provocador fascistóide.


Ranço anticomunista do Estadão

Com o mesmo rancor, mas sem se esconder atrás do falso ecletismo das matérias jornalísticas ou dos bem pagos colunistas, o Estadão expôs sua opinião direitista já no editorial “prêmio ao facínora desertor”. Nele o jornalão conservador afirma que “a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, concedendo pensão equivalente ao soldo de general-de-brigada à viúva do capitão desertor Carlos Lamarca, ultrapassa todos os limites do bom senso”. Após citar outro intelectual vinculado ao PSDB (baita companhia), Leôncio Martins Rodrigues, que afirma que a indenização “é uma recompensa a quem queria instaurar uma ditadura socialista”, o editorial tenta se colocar acima dos poderes da República, como autêntico “partido da direita”.

Além de criticar o Superior Tribunal de Justiça (STJ), “que considerou, de forma arbitrária e descabida, que Lamarca teria chegado ao posto se tivesse continuado na carreira militar”, o jornal condena as declarações do ministro Tarso Genro, que avaliou como “juridicamente correto e politicamente adequado a concessão do benefício” e chamou Lamarca de “um símbolo da ‘resistência radical’ á ditadura militar”. Lembrando o sombrio período pré-golpe de 64, quando conclamou a indisciplina dos militares, o Estadão afirma que “a promoção póstuma, verdadeiro prêmio ao facínora desertor, constitui uma provocação às Forças Armadas”. Preocupado com o futuro, o jornalão conservador teme a carga simbólica da decisão na juventude brasileira.


Cinismo e ódio de classe

“As sociedades precisam de seus heróis, de figuras históricas que se tornam modelos de comportamento por seus atos de coragem, generosidade e descortino em defesa de valores fundamentais ao interesse coletivo. Tentar colocar o terrorista Carlos Lamarca nessa categoria histórica é pura aberração. Muitos foram os que lutaram contra a ditadura militar... Seguramente, entre esses não estavam Carlos Lamarca, Yara Iavelberg e seus companheiros da VPR ou do MR-8. O que eles queriam era derrubar uma ditadura e implantar outra, mais cruel e liberticida. Reconhecer a exemplaridade da figura de Carlos Lamarca é fazer reconhecimento de valor de seus métodos de luta pelo poder. É particularmente alarmante que isso ocorra no momento crítico em que o uso da violência dos chamados ‘movimentos sociais’ é não só tolerado, mas enaltecido”.

Nada mais revelador da postura direitista e hipócrita da mídia burguesia. Primeiro tenta negar que Lamarca, que abdicou de uma carreira militar meteórica para lutar contra ditadura, seja um exemplo de “coragem e de generosidade” – o que é exatamente o seu caso e não dos amigos fascistas do Estadão. Segundo, o editorial tenta se apossar cinicamente da história dos que lutaram pela democracia - exatamente o mesmo jornal que conclamou o golpe militar de 1964 e silenciou diante das torturas. E, de quebra, ainda ataca os movimentos sociais da atualidade, revelando o ódio de classe da oligárquica família Mesquita aos os que lutaram, ontem e hoje, contra a opressão e a injustiça. Na prática, o Estadão tem saudades da paz do cemitério da ditadura.


Mentiras da mídia golpista

Num texto carregado de justa indignação, o editor-chefe da Carta Maior, Flávio Aguiar, contesta todos os falaciosos argumentos apresentados pela mídia contra a decisão da Comissão de Anistia. “O primeiro é de que Lamarca era um desertor, um traidor, portanto. Estava fora do exército. Ora, este argumento esbarra na ilegalidade e na ilegitimidade do Estado instalado com o regime de 1964... O regime nazista instituiu o mal como virtude. Em outra escala, é verdade, o regime brasileiro de 1964 fez o mesmo: passaram a ser virtudes a delação, a perseguição, a tortura, a eliminação dos adversários, a censura, a prisão arbitrária... Quantas pessoas tiveram de deixar suas atividades, seus empregos, suas comodidades, por questões de consciência? Lamarca não foi um desertor. Seu gesto foi extremo, é verdade, mas foi motivado em primeiro lugar pelo estado de ilegalidade e ilegitimidade que o país inteiro vivia”.

“O segundo argumento é o de que Lamarca ‘morreu em combate’, e isso é dos azares de quem optou pela luta armada. Ele não estava preso, como, por exemplo, o jornalista Vladimir Herzog, outro ‘suicidado’ pela ditadura. O argumento foge completamente ao espírito de qualquer anistia, mesmo a parcial imposta pela ditadura. Ainda assim ele esbarra na constatação óbvia de que o fim de Lamarca fora decretado antes, como fica evidente pelo modo como ele foi morto, sem chance de defesa nem de fuga, até com dificuldade para andar... Lamarca foi varado por sete tiros ‘ao se levantar’, deitado que estava, prostrado pela exaustão. Em nenhum momento falou-se em qualquer reação, o que mostra que a sentença já estava lavrada”.

“O terceiro levanta dúvidas sobre a natureza da luta de Lamarca. Ele não estaria lutando ‘pela democracia’, mas para instalar uma ‘república socialista’, ou seja, a famosa ou famigerada ditadura do proletariado. Mas este argumento morde o próprio rabo. Fossem quais fossem suas convicções, Lamarca lutava por elas sim, mas lutava também pelo direito dos cidadãos brasileiros terem convicções e poderem exercê-las. A presunção de que isso levaria a tal ou qual beco sem saída ou com outras saídas da história é apenas e nada mais que isso: uma presunção. Havia uma ditadura de fato, a que conhecemos e que hoje qualquer brasileiro de bem deve execrar... Não se pode julgar alguém pelo crime que não teve oportunidade de cometer”.


Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).


[Artigo enviado a www.galizacig.com polo autor, 19/06/2007]

A noite dos morto-vivos



Cabo Anselmo, o mais célebre dos militantes da resistência à ditadura que atuaram armando ciladas para os companheiros, saiu da tumba para provocar sustos e asco ao pleitear reparação de perseguido político à Comissão de Anistia.

O cabo Anselmo saiu da tumba para provocar sustos e asco nas pessoas de bem, no Linha Direta Justiça que a Rede Globo levou ao ar no último dia 5. Trata-se do mais célebre dos militantes da resistência à ditadura militar que, no jargão dos próprios órgãos de segurança, atuaram como cachorros da repressão, armando ciladas para os companheiros. Seu caso voltou à baila por ele estar pleiteando reparação de perseguido político à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

A reconstituição de sua história em tevê aberta teve como ponto alto um episódio que o grande público ignorava (embora já fosse conhecido pela minoria informada), assim descrito por Élio Gaspari em A Ditadura Escancarada:

“A última operação de Anselmo, na primeira semana de janeiro de 1973, (...) resultou numa das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura. Um combinado de oficiais do GTE e do DOPS paulista matou, no Recife, seis quadros da VPR. Capturados em pelo menos quatro lugares diferentes, apareceram numa pobre chácara da periferia. Lá, segundo a versão oficial, deu-se um tiroteio (...). Os mortos da VPR teriam disparado dezoito tiros, sem acertar um só. Receberam 26, catorze na cabeça. (...) A advogada Mércia de Albuquerque Ferreira viu os cadáveres no necrotério. Estavam brutalmente desfigurados.”

Foi chocante também, para o telespectador comum, ficar sabendo que Anselmo, no afã de bem servir à repressão, causou a morte inclusive de sua amante, a paraguaia Soledad Barret Viedma, que estava gerando uma criança dele; e que aqueles militantes estavam antecipadamente marcados para morrer, tanto que Anselmo chegou a pedir pela vida de Soledad, se fosse “possível” poupá-la do destino dos demais.

A realidade, portanto, foi bem diferente dos contos-de-fadas que os sites direitistas propagam, tentando fazer passar por operações policiais rotineiras as atrocidades cometidas pela ditadura militar.

Este Linha Direta, surpreendentemente, não deixou de mostrar os esqueletos que o regime dos generais tinha no armário. Mas, talvez tenha sido condescendente com Anselmo, ao encampar sua versão de que só teria mudado de lado em junho de 1971.

Antigos colegas da Marinha garantem que, durante os eventos que desembocaram na quartelada de 1964, ele já era agente do Cenimar, com a missão de radicalizar ao máximo a agitação entre os sargentos, cabos e soldados, de forma a provocar a indignação dos superiores. Afinal, a oficialidade hesitou bom tempo antes de aderir ao núcleo golpista, só o fazendo quando passou a ser contestada abertamente pelos subalternos.

Perseguido político?
Há outros fatos suspeitos.

Logo após o golpe, Anselmo pediu asilo na embaixada mexicana. Mas, embora fosse uma das pessoas mais procuradas do país, resolveu sair andando de lá, sem ser detido. Logo mais foi preso, exibido como troféu pela ditadura... e logo transferido para uma delegacia de bairro, na qual, diz Gaspari, “Anselmo fazia serviços de telefonista, escrivão e assistente do único detetive do lugar”.

A situação carcerária do ex-marujo, continua Gaspari, não cessou de melhorar: “Com as regalias ampliadas, era-lhe permitido ir à cidade. Numa ocasião surpreendeu o ministro-conselheiro da embaixada do Chile, visitando-o no escritório e pedindo-lhe asilo. Quando o diplomata lhe perguntou o que fazia em liberdade, respondeu que tinha licença dos carcereiros. O chileno, estupefato, recusou-lhe o pedido”.

Finalmente, sem nenhuma dificuldade, Anselmo deixou a cadeia em abril de 1966. Nada houve que caracterizasse uma fuga: apenas constataram que o hóspede saíra e não voltara. Só retornaria ao Brasil em setembro de 1970, iniciando no ano seguinte sua trajetória de anjo exterminador.

Se ficar estabelecido que ele sempre foi um agente duplo, Anselmo não fará jus à anistia federal; caso tenha realmente sido um perseguido político até 1971, seus direitos não são anulados pelas indignidades posteriores.

Portanto, o programa da Globo, ao não aprofundar tal questão, serviu ao principal interesse de Anselmo neste momento. Ele, inclusive, tem posado de vítima nas entrevistas, deixando de vangloriar-se por ter causado a morte de “cem, duzentos” militantes, como antes fazia (aliás, com exagero). No entanto, mau ator, a hipocrisia transparece em sua voz. A pele de cordeiro não lhe cai bem.

De resto, o Linha Direta não aliviou também para a ditadura, de forma que os telespectadores tiveram uma rara oportunidade para conhecer a verdade, num veículo em que ela não é habitual...

Massacre no bom sentido
A emissão terminou com uma chamada para o chat em que o caso foi debatido pelo ex-preso político Ivan Seixas e o advogado de Anselmo, Luciano Blandy. Foi mais um massacre, desta vez no bom sentido. Ivan levou o advogado às cordas várias vezes, como quando demoliu a versão de que Anselmo teria cooperado com a repressão para não ser, ele próprio, executado.

Se isso é duro de engolir nos episódios ocorridos no Brasil, torna-se absolutamente inverossímil durante a estada dele no Chile. Se não aproveitou a oportunidade para escapar das malhas da repressão quando estava num país democrático e soberano, é porque, como ressaltou Ivan, já pertencia de corpo e alma à ditadura, como assalariado dos órgãos de segurança.

Foi igualmente infeliz o advogado a referir-se ao Genoíno e a mim como ex-militantes cujos casos seriam semelhantes ao do Anselmo. Enviei de imediato respostas e interpelações que os organizadores do chat ignoraram, mas minhas queixas posteriores surtiram efeito e o site do Linha Direta publicou uma nota com minha defesa:

“A acusação que ele me fez no chat, de ter sido delator, foi desmentida em 2004 pelo historiador Jacob Gorender, depois que lhe enviei um relatório secreto militar que viera a público e confirmava inteiramente minhas alegações. Em carta enviada à imprensa, Gorender me isentou de qualquer responsabilidade pela descoberta da escola de guerrilha e o cerco a Lamarca. Exumar essa versão já superada foi uma represália do advogado por eu ter escrito e divulgado, na véspera do debate, um artigo contundente sobre o Cabo Anselmo, intitulado ‘Anistia para um canalha’.”

Foi citada nessa nota também a resposta que o companheiro Ivan deu no próprio chat:

“Eu acho um absurdo o que você está falando. Essas pessoas todas que você falou, elas foram presas, foram muito torturadas e elas não colaboraram. Não passaram a ser assassinas a serviço do Estado. Elas passaram a ser presas e perseguidas. Você colocar em pé de igualdade as pessoas torturadas com um cara desses (Anselmo), me desculpe, mas é inaceitável. Não tem o mínimo sentido. Os critérios para aceitação do processo de anistia com certeza são de perseguição, de pessoas que tiveram suas vidas prejudicadas. Esse cara [Anselmo] foi assalariado, você sabe disso.”

O advogado Blandy depois me escreveu para afirmar que não havia me citado como delator da área de treinamento guerrilheiro em Registro, mas sim como exemplo de militante perseguido pela própria esquerda por causa de acusações infundadas (como, no entender dele, é o caso do Anselmo).

Não foi essa a impressão que ficou do que ele disse no ar, nem foi assim que entendemos o Ivan, eu e o próprio redator da Globo que escreveu a notícia publicada no site. Mas, como Blandy não é um comunicador experiente, admito a hipótese de que tenha sido apenas infeliz na escolha das palavras. Tenho por princípio nunca duvidar, a priori, da sinceridade de ninguém.

Cara de pau consumado
Também nos dias seguintes, Ivan enviou mensagem aos amigos relatando o que aconteceu nos bastidores do chat, até como forma de prevenir-se contra eventuais represálias da direita. Alguns trechos interessantes:

“Lá chegando me deparei com a presença do advogado, junto com o Carlinhos Metralha, torturador da equipe do [delegado Sérgio] Fleury, e o próprio cabo Anselmo.”

“O cabo está mais magro, quase careca, com o nariz aquilino e o queixo pontudo para frente.”

“O cabo foi apresentado ao pessoal da Globo como sendo o Fininho, torturador e membro do Esquadrão da Morte.”

“Em vários momentos comentavam as encenações e confirmavam entre si a semelhança com o que viveram.”

“O momento mais cruel foi quando o torturador perguntou para o Anselmo sobre a encenação do massacre e este respondeu: ‘Ta bem bom’.”

“Afirmei várias vezes que o cabo e Carlinhos Metralha estavam fora da sala e o advogado não negou. Quando terminou, ele me ‘esclareceu’ que não era o cabo, mas Fininho. Respondi a ele que eu conhecia os dois Fininhos e que esse era o cabo. Ele apenas riu e saiu fora da sala.”

“O cara é mais cara de pau do que imaginávamos.”


* * *

Carlos Alberto Brilhante Ustra saiu da tumba para provocar sustos e asco nas pessoas de bem, colocando no seu site e infestando a internet com o artigo “Celso Lungaretti e a organização de Lamarca”, em que repete a receita habitual de misturar calúnias, mentiras, meias-verdades, entulho autoritário retirado dos famigerados Inquéritos Policiais-Militares e daquela documentação secreta cujo paradeiro o governo Lula garante desconhecer, tudo isso interpretado da forma mais tendenciosa e distorcida. Ele segue, com pouca criatividade e nenhum brilhantismo, as lições de Goebbels: martelar uma falsidade mil vezes até que ela passe por verdade.

Torturador-símbolo do Brasil desde a morte do delegado Sérgio Fleury, Brilhante Ustra comandou, entre setembro/1970 e janeiro/1974, o DOI-Codi de São Paulo, o principal órgão de repressão aos grupos de esquerda que pegaram em armas contra a ditadura militar. Já foram apresentadas 502 denúncias de torturas referentes a esse período. Pelo menos 40 revolucionários foram assassinados no DOI-Codi, inclusive o jornalista Vladimir Herzog.

Para se ter uma idéia do nível do samba do crioulo doido ideológico e até cronológico com que Brilhante Ustra tenta em vão me desacreditar, basta este trecho: “Foi a VPR que planejou e organizou o atentado ao Quartel do II Exército, onde morreu o soldado Kosel e outros ficaram feridos. (...) Ele sabia desse atentado bárbaro e, mesmo assim, continuou militando na mesma.”

Ora, seria muito difícil eu sair da VPR em junho de 1968, já que nela ingressei em abril de 1969! Em meados de 1968 eu era apenas um secundarista que ia distribuir panfletos numa Osasco sob ocupação militar e não tinha o mínimo interesse em atentados contra quartéis. Só passei a prestar atenção na luta armada meses depois, quando o recrudescimento da ditadura começou a inviabilizar a resistência pacífica, tornando-a, cada vez mais, suicida.

Finalmente, é emblemático que Brilhante Ustra relacione esse artigo, no seu site, como de sua própria autoria, mas o distribua na Internet com uma assinatura farsesca: os administradores do site www.averdadesufocada.com

Ivan Seixas, no chat do Linha Direta, ressaltou que os veteranos da resistência à ditadura todos assumimos o que somos e o que fazemos, assinamos os textos com nossos nomes reais, não escondemos nossas fotos, lutamos de peito aberto.

Já as viúvas da ditadura e os novos integralistas atuam como fakes e anônimos na Internet, mascaram a autoria de seus escritos e comparecem a estúdios de TV sob falsa identidade, sem que possam apontar nenhuma ameaça real para justificar essas práticas ridículas... salvo o complexo de culpa pelos crimes contra a humanidade que praticaram, coonestaram e/ou defendem. Sabem que merecem punição e punem-se a si próprios com suas paranóias.

São, além de tudo, covardes.


Celso Lungaretti é jornalista e escritor, ex-preso político e autor do livro "Náufrago da Utopia".

terça-feira, 17 de julho de 2007

O que ainda da para ver na TV - Programa Roda Viva


No ar desde 1986, o Roda Viva é o mais antigo e respeitado programa de entrevistas da televisão brasileira. Neste período o programa acumulou um acervo respeitável, que conta com importantes personalidades nacionais e internacionais na área das artes, política, economia, cultura, esportes, educação e saúde.

O programa já entrevistou líderes políticos, escritores, intelectuais, esportistas, filósofos, músicos, cineastas, atores, empresários. Entre eles, Fidel Castro, Michael Bloomberg, Pedro Almodóvar, Peter Mandelson, Raul Alfonsín, Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Ayrton Senna, Luis Carlos Prestes, Antonio Ermírio de Moraes, Ulysses Guimarães, Tom Jobim, Hugo Chávez, Steve Ballmer, Peter Arnett, Evo Morales, Mário Soares, Leonel Brizola, Adolfo Byoi Casares, Oliviero Toscani, Adolfo Perez Esquivel, Alain Touraine, Xanana Gusmão, Antonio Skármeta, Anthony Giddens, Noam Chomsky, Domenico de Masi, José Saramago, Carlos Fuentes, Edgard Morin, Paulo Coelho, Ernesto Sábato, Emerson Fittipaldi, Oscar Niemeyer, Mario Vargas Llosa.

Durante uma hora e meia, todas as segundas-feiras a partir das 22h40, o programa é exibido pela TV Cultura da fundação padre anchieta, uma emissora pública com cobertura de 93% da população do estado de São Paulo.

Retransmitido em rede nacional por 289 outras emissoras de todos os estados brasileiros, Roda Viva tem entre seus telespectadores, uma grande quantidade de formadores de opinião, intelectuais, acadêmicos, estudantes, empresários, ministros, governadores, presidente e parlamentares.

A repercussão de entrevistas com personalidades de renome sempre vai além da transmissão, gerando notícias em outros veículos de comunicação e sendo exibidas até em universidades.

Em seu formato regular, os convidados a participar do programa colocam-se diante de jornalistas e especialistas no centro de uma arena para expor suas opiniões e esclarecer questões relevantes para a sociedade. Foi essa fórmula que levou o roda viva a se transformar num marco no debate democrático e reflexivo em torno de temas e idéias.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

O que os PTistas não quiseram refletir. E o que todo o Comunista deve estar atento.




O PARTIDO









"... a luta interior dá força e vitalidade ao partido; a melhor prova de fraqueza de um partido é sua posição difusa e a extinção de fronteiras nitidamente traçadas; o partido reforça-se depurando-se..."

(trecho de uma carta de Lassale a Marx, de 24 de junho de 1852)

Por que "Olga" incomoda?


Olga incomoda. Ninguém sai do cinema alheio a esse belo filme, baseado na obra-prima de Fernando Morais, que desagradou a imprensa e alguns "formadores de opinião". A crítica cinematográfica ficou incomodada, alguns jornais chegam ao limite de praticamente não recomendar o filme, pela baixa avaliação que lhe dão, em comparação com a quantidade de porcarias holywoodianas recomendadas diariamente.
Olga incomoda porque conta a história pessoal de dois revolucionários. Incomoda saber que militantes comunistas são seres humanos, que amam, que sofrem, que são felizes, que se identificam profundamente com as causas pelas quais lutam, que não buscam nenhuma vantagem pessoal, mas sim a justiça e a solidariedade.
Olga incomoda porque recorda as brutalidades repressivas que se cometeram contra os comunistas, aqui e na Alemanha. Incomoda porque a Alemanha -- país ocidental, branco, protestante, anglo-saxão, capitalista -- foi poupada por Hollywood, apesar de ter feito a pior "limpeza étnica" da história, contra judeus, comunistas e ciganos (e quando Chaplin fez O grande ditador, teve de sair dos EUA antes mesmo de o filme ser lançado). O filme de Rita Buzar e Monjardim recorda o papel que a Alemanha, como potência imperialista, desempenhou no nazismo.
Olga incomoda porque revela a vida de militantes, de gente que optou por entregar o que têm de melhor pela revolução, pela luta anticapitalista. E incomoda -- sobretudo os que vivem de interesses, de lucros, de prestígio, de honrarias, de ganhos imediatos, de poder -- saber que outro tipo de vida e de valores é possível, dedicado a verdadeiros ideais.
Olga incomoda talvez por mostrar Fernanda Montenegro, nossa principal atriz, dando vida à mãe de Luis Carlos Prestes, o mais conhecido dirigente comunista brasileiro.
Talvez incomode ouvir a Internacional, em variados arranjos, inclusive como tema de fundo das cenas de amor dos revolucionários.
É possível que Olga incomode também porque é uma produção de ótima qualidade, apesar de procurar fugir dos cacoetes de estilo norte-americano a que tanto nos acostumam nos cinemas.
Mas sobretudo Olga incomoda porque é um filme que toma posição: é de esquerda -- como o são Diários de motocicleta e as fitas de Michael Moore --, quando nos querem convencer de que isso não existe mais, que apenas os critérios estéticos é que contam. E Olga, além do mais, é um belo filme, humanista, que não poupa os carrascos, que diz as coisas pelos nomes que as coisas têm.
Vejam Olga, apesar do que dizem os jornais, apesar da opinião dos conservadores. Que os jovens saibam, que os adultos se recordem, que todos vejam e julguem, com os seus olhos, os seus sentimentos, sua razão e os seus valores.
Olga incomoda e é bom que incomode, em tempos que parecem pedir a todos que já não se incomodem com nada.

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de "A vingança da História".

Texto de agência Carta Maior

Venezuela cresceu 10% no ano passado e 9% no primeiro trimestre deste ano

, por Luiz Carlos Azenha

Quando eu estava no Brasil, li nos jornais e vi na televisão reportagens sobre a terrível crise econômica enfrentada pela Venezuela, com a escassez de alimentos demonstrando o fracasso da política do governo.

É preciso sair do
Brasil para ter informações menos desequilibradas:

- a
Venezuela cresceu 10% no ano passado e 9% no primeiro trimestre deste ano;
- a inflação é a mais alta da região, 19% ao ano;
- os bancos nunca faturaram tanto, com aumento dos lucros de 33% no ano passado;
- os empréstimos para a compra de automóveis aumentaram 143%;
- os empréstimos em cartões de crédito aumentaram 100%;
- 9 de cada 10 carros de luxo agora são vendidos em prestações;
- os bancos faturaram só este ano U$ 7,5 bilhões em comissões, intermediando a colocação no mercado de papéis da
PDVSA;
- nunca os pobres venezuelanos, muitos dos quais não têm conta bancária, tiveram tanto acesso a crédito quanto agora, inclusive para abrir novos negócios;

A fonte não é nenhum jornal bolivariano.

É o
New York Times.

E, se você não ler estas informações no
Brasil, já sabe o motivo.

Elas não combinam com o 'ditador sanguinário' que tomou conta da vizinhança e ameaça levar para o inferno todo o continente.

Este site fornece informações que acabam com vários mitos sobre a
Venezuela:

http://www.venezuelanalysis.com/

Aumento da renda das classes E, D e C na
Venezuela:



Publicado em 15 de junho de 2007



Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



ZZ - ESTUDAR SEMPRE

  • A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
  • A era do capital - HOBSBAWM, E. J
  • Antonio Gramsci – vida e obra de um comunista revolucionário
  • Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
  • As armas de ontem, por Max Marambio,
  • BOLÍVIA jakaskiwa - Mariléia M. Leal Caruso e Raimundo C. Caruso
  • Cultura de Consumo e Pós-Modernismo - Mike Featherstone
  • Dissidentes ou mercenários? Objetivo: liquidar a Revolução Cubana - Hernando Calvo Ospina e Katlijn Declercq
  • Ensaios sobre consciência e emancipação - Mauro Iasi
  • Esquerdas e Esquerdismo - Da Primeira Internacional a Porto Alegre - Octavio Rodríguez Araujo
  • Fenomenologia do Espírito. Autor:. Georg Wilhelm Friedrich Hegel
  • Fidel Castro: biografia a duas vozes - Ignacio Ramonet
  • Haciendo posible lo imposible — La Izquierda en el umbral del siglo XXI - Marta Harnecker
  • Hegemonias e Emancipações no século XXI - Emir Sader Ana Esther Ceceña Jaime Caycedo Jaime Estay Berenice Ramírez Armando Bartra Raúl Ornelas José María Gómez Edgardo Lande
  • HISTÓRIA COMO HISTÓRIA DA LIBERDADE - Benedetto Croce
  • Individualismo e Cultura - Gilberto Velho
  • Lênin e a Revolução, por Jean Salem
  • O Anti-Édipo — Capitalismo e Esquizofrenia Gilles Deleuze Félix Guattari
  • O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum - Antoine Compagnon
  • O Marxismo de Che e o Socialismo no Século XXI - Carlos Tablada
  • O MST e a Constituição. Um sujeito histórico na luta pela reforma agrária no Brasil - Delze dos Santos Laureano
  • Os 10 Dias Que Abalaram o Mundo - JOHN REED
  • Para Ler O Pato Donald - Ariel Dorfman - Armand Mattelart.
  • Pós-Modernismo - A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio - Frederic Jameson
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA

  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
  • A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Antígona, de Sófocles
  • As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
  • As três fontes - V. I. Lenin
  • CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
  • Crítica Eurocomunismo - Ernest Mandel
  • Dialética do Concreto - KOSIK, Karel
  • Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico - Friedrich Engels
  • Do sonho às coisas - José Carlos Mariátegui
  • Ensaios Sobre a Revolução Chilena - Manuel Castells, Ruy Mauro Marini e/ou Carlos altamiro
  • Estratégia Operária e Neocapitalismo - André Gorz
  • Eurocomunismo e Estado - Santiago Carrillo
  • Fenomenologia da Percepção - MERLEAU-PONTY, Maurice
  • História do socialismo e das lutas sociais - Max Beer
  • Manifesto do Partido Comunista - Karl Marx e Friedrich Engels
  • MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
  • MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
  • Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
  • Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
  • O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
  • O Caminho do Poder - Karl Kautsky
  • O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
  • O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a Repressão - Victo Serge
  • Orestéia, de Ésquilo
  • Os irredutíveis - Daniel Bensaïd
  • Que Fazer? - Lênin
  • Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda
  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
  • O Processo - Franz Kafka
  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
  • O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
  • O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
  • O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
  • Oliver Twist, de Charles Dickens
  • Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
  • Os Miseravéis - Victor Hugo
  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira