sexta-feira, 7 de agosto de 2009

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Presidente da União de jornalistas de Cuba

Entrevista realizada pelo Jornal A Verdade na XVII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, em Florianópolis-SC/Brasil. (Jornalista Paulo Roberto Tiecher de Jesus)


TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ
Presidente da União de jornalistas de Cuba. Foi combatente clandestino durante a ditadura Batista (1957-1958), Militante do movimento Revolucionário 26 de julho, e preso politico em 1958. Secretário Geral Partido Unido da Revolução Socialista nos municípios havaneros de Campo Florido e Jaruco (1962-64), é deputado da ANPP (Assembléia Nacional do Poder Popular da Republica de Cuba), sendo vice presidente da Comissão das Relações Internacionales Asanblea Nacional e representante de Cuba no Foro Interparlamentar das Américas (FIPA).

A VERDADE: Como Cuba reage ao bloqueio midiático, e como os outros povos podem ajudar a romper o bloqueio?

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Em primeiro lugar, o mais difícil para os cubanos é manter, nesses tempos, a independência. Um patriota cubano, José Martí, disse que a independência custa caro, e é preciso decidir a viver sem ela ou pagar seu preço. Os cubanos, muito perto do país que não respeita a independência, decidiram pagar esse preço. Digo isso porque se Cuba houvesse decidido ser uma neocolônia dos Estados Unidos, onde governasse o embaixador estadunidense, não teríamos esses problemas. Mas esse tempo acabou. Os Estados Unidos surgiram como potência quando nós surgimos como nação. Os Estados Unidos queriam estender seu território, ocupar Cuba, mas Cuba tinha dentro, cubanos que não queriam isso. Então se alguém me pergunta qual a característica principal dos cubanos, se é a música, a alegria, a improvisação, eu digo que é o antimperi alismo. Embora não manifestem militantemente ou eloqüentemente seu rechaço a um império, que quer assimilá-los, de uma maneira ou de outra, está presente, inclusive na emigração. Os que se vão, por melhoras econômicas ou diferenças políticas, levam dentro o gene do antiimperialismo. Posso dizer com absoluta responsabilidade, que os balseiros são a esquerda de emigração cubana, porque não se foram de Cuba por problemas de classe, porque eram do regime de Batista ou eram gente rica. Não, foram para remeter dinheiro para a família, no período especial. Creio que isso também está mudado, porque tem dentro de si muito claro o sentimento de nação independente. Explico isso, embora não esteja na pergunta, porque é base para entender muitas coisas. Nesse mesmo enfrentamento, os Estados Unidos, como eram mais fortes, descarregaram todo seu poder contra Cuba. E Cuba não pode responder, sua resposta é moral, sua resposta é o exemplo, a resistência, e isso não tem valor. Cuba é uma potência moral. Eu falei com uma mulher que vive em Cuba e foi ver sua família nos Estados Unidos, ao regressar disse: “Vi muitas coisas. Tudo que falta em Cuba, vi nos Estados Unidos, mas o que sobra em Cuba, não vi lá.” A solidariedade, a amizade, o apoio mútuo, o desinteresse, o altruísmo. Cuba é um país religioso, no sentido da fé, do altruísmo, do sacrifício pelos demais, que muitas religiões esqueceram, fazem negócios. Também há uma devoção ao passado, aos que deram tudo, aos patriotas, essa consciência, essa herança ajuda a enfrentar o bloqueio, que é brutal. Como já vivemos há 50 anos, as vezes não nos damos conta de que há coisas com uma raiz no bloqueio. Porque complica muito, se queremos comprar arroz temos que buscá-lo no outro lado do planeta. Trazer em barco, são 15 dias. O mesmo se passa com os medicamentos. Os Estados Unidos estenderam sua economia, suas empresas pelo mundo e impedem suas empresas no exterior de fazerem suas operações com Cuba. Por exemplo, um hotel do México, o Sheraton não pode hospedar cubanos. Um banco suíço, uma potência financeira, teve que pagar uma multa de 100 milhões porque teve operações com Cuba. Nós temos que fazer muitas operações clandestinas. Nós temos que comprar muitas coisas no mercado negro mundial, pagar mais. Um barco vindo de qualquer parte do mundo, que chegue em Cuba, não pode atracar num porto dos Estados Unidos por seis meses. É uma espécie de quarentena. Nenhuma linha quer fazer isso, por isso cobra mais. Outro exemplo, al gum medicamento de que eles tenham a patente, contra a dengue, a tecnologia, se Cuba quer comprar um avião, não pode comprar nos Estados Unidos. Se vai comprar na Alemanha, e tem um equipamento dos Estados Unidos, por exemplo, um computador, este país não o pode vender para Cuba. Se Cuba quer vender um equipamento médico para qualquer outro país, não o pode comprar um cidadão estadunidense se tem um componente cubano. Se um estadunidense compra um equipamento que tenha um componente cubano, os Estados Unidos o castigam. Eles mantém tribunais, a culpa, para os que mantém comércio com Cuba. É uma aberração total, algo demente, louco, esquizofrênico. O bloqueio é algo esquizofrênico. Um cidadão norteamericano não pode comprar um charuto cubano em Paris. Eles perseguem onde quer que vá, ao que comercia com Cuba. É um país poderoso que persegue dessa forma a um país pequeno. Os cubanos que vivem nos Est ados Unidos são o único grupo emigrante que não pode ir a Cuba quando quer, que não podem enviar dinheiro quando quer. Agora Obama liquidou as restrições postas por Bush, mas permanecem as que havia antes de Bush. Os cubanos lá residentes só podem ir a Cuba uma vez a cada 3 anos. Também diminuiu a quantidade de dinheiro que podem enviar a seus familiares em Cuba. Agora como aparece nos meios de comunicação? É como se uma gotinha de água fosse um tsunami. O níquel cubano não pode ir para as indústrias metalúrgicas estadunidenses, para a indústria automobilística. No caso dos desportistas, é igual, os equipamentos como cronômetros, laboratórios antidoping, tudo que contenha tecnologia estadunidense é muito difícil. São fatores que estimulam o antiimperialismo, mas Cuba não quer o bloqueio. Dizem que Cuba usa o bloqueio para justificar suas dificuldades, mas não é vedade.

A VERDADE: Se Cuba quiser comprar um avião, e o Brasil tem a Embraer, como se comporta o governo brasileiro? Facilita ou aceita o bloqueio?

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Vou explicar outra complicação. Cuba não tem acesso a crédito. Para comprar um avião, tem que buscar quem o tenha para vender e forneça crédito. Ninguém compra avião a vista. Tem que conseguir um banco para comerciar o financiamento, e isso é um problema, porque Cuba não está no FMI, no Banco Mundial, no Banco Interamericano, e os bancos comandados pelos Estados Unidos não fornecem crédito, em nenhum serviço.

Aí há muitas coisas. Uma empresa que não seja dos Estados Unidos, de turismo, por exemplo, de cruzeiro, faz convênio com Cuba, e depois é comprada pelos Estados Unidos. Abre-se um processo de discussão, por causa da propriedade, e isso se passa amiúde e ficamos com a tecnologia, mas sem reposição. No setor dos meios de comunicação, com todos os equipamentos, impressão, maquinário de fotografia, afeta os jornalistas credenciados. Cuba não pode ter jornalistas nos Estados Unidos, enquanto se algum jornalista dos Estados Unidos quiser vir a Cuba, que venha. Como não somos demagogos nem cínicos, estamos pela verdadeira liberdade de expressão, há cerca de 160 correspondentes estrangeiros em Havana. São italianos, franceses, espanhóis, norteamericanos, a AP, a CNN, e nos Estados Unidos há só um jornalista cubano, e na ONU. Se lá houver um terremoto ou o utro problema qualquer, não poderemos cobrir. É a expressão da impotência de um grande país que precisa fazer isso, e os meios de comunicação tem contribuído para ocultar esse drama do público norteamericano, que nada sabe do bloqueio. Se algum dia o bloqueio for suspenso, muita gente não saberá. Então quais os efeitos da nossa profissão? O bloqueio cria uma psicologia na população e também nos jornalistas. Como cubano sofre o bloqueio, mas como jornalista se passa um fenômeno psicológico negativo, mau. Se tudo o que se diz de Cuba é mau, tudo o que digo para lá, é bom. E isso não é bom, não é positivo.

(...É como diz o refrão, é levar água para o moinho, vamos aumentar a lenha para o fogo). E nós como jornalistas sabemos que isso é ruim, que isso é uma tendência ruim que temos que superar para que o povo cubano mantenha a credibilidade).

Há certa educação política da população que compreende que há coisas que não se pode dizer. Se há um empresário canadense, espanhol, israelense ou de qualquer parte do mundo querendo construir um hotel em Cuba, ou uma cadeia de hotéis, os Estados Unidos o pressionam, dizendo que nem o empresário nem seus familiares poderão entrar nos Estados Unidos. Pode ser um industrial rico, que tenha um filho estudando nos Estados Unidos, o pressionam, e que faz um jornalista que tenha essa informação? Publica-a, mas se for nos Estados Unidos não a publica, fica em segredo. Imagine, nosso papel é informar e temos que calar, é uma autocensura, e isso produz dano. Porque às vezes calo sobre o que devo e sobre o que não devo. É um conflito permanente. Até que ponto a informação pode ajudar ao adversário. Nós temos um código de ética, e está tudo isso. Cuidar disso, das reações que podem ser negativas, identificar como uma falta, no jornalismo cubano pode ser sancionado o jornalista que faz apologia reiterada, triunfalismo reiterado, porque produz dano.

Outra manifestação do bloqueio é na Internet. Cuba está rodeada de cabos submarinos, de fibras óticas, todos de empresas norteamericanas, e Cuba não pode conectar-se. Temos que baixar Internet de satélite, e é muito caro. Agora com a colaboração do governo da Venezuela vai se estender um cabo pela Jamaica e Cuba, mais de mil quilômetros. Não só para receber, queremos também transmitir. Conectar a sociedade cubana com a norteamericana.

A VERDADE: Cuba foi expulsa da OEA. Que fará, agora que poderá voltar?

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Cuba considera que foi uma boa notícia, uma boa reação. Que não foi obra da caridade norteamericana, mas da nova América Latina que está surgindo e não aceita o passado. Resolveram suspender a sanção à Cuba. Antes se dizia que Cuba estava a serviço da União Soviética, que já não existe. O mais duro foi quando se calaram quando houve a invasão de Playa Girón, quando mataram os professores, quando o bloqueio foi imposto não disseram nada, por ocasião dos atentados de Posada Carriles nada disseram, e está solto, então consideramos que a OEA não nos faz falta. Isso não resolve problemas em nenhuma parte. Se Cuba estivesse lá, seria uma voz a denunciar, uma voz inconveniente. Nós não temos nenhum interesse em voltar à OEA. Agradecemos profundamente, pois se busca reparar uma injustiça. Agora mesm o, poderiam ter feito uma declaração sobre o bloqueio, Posada Carriles saiu do Panamá e está solto apesar de condenado pelos tribunais da Venezuela e que se fez com esse terrorista?

A VERDADE: É mais importante para Cuba a extinção do bloqueio do que a volta à OEA?

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Claro, claro, em primeiro lugar nós estamos em todas as organizações do mundo. Nas Nações Unidas, agora nos elegeram para a Comissão de Direitos Humanos, estamos nos não alinhados, estamos no UNESCO, na OMC, em toda parte, e temos relações com 179 países, para demonstrar que nós não estamos isolados. Já temos um espaço no mundo, e também com médicos, com professores, com desportistas. Nós propusemos ao Ocidente entrarmos com os médicos e ele com os recursos necessários para acabar com a SIDA/AIDS na África, e estamos esperando a resposta.

A VERDADE: Os Estados Unidos insistem que Cuba não respeita os direitos humanos. Como analisas o fato de estar na Comissão de Direitos Humanos da ONU e ser acusados de violá-los?

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Nós consideramos que direitos humanos são indivisíveis. Não há direitos civis e direitos pela vida, são uma coisa só, e querem aplicar a Cuba os menos importantes. E nós não consideramos que sejam direitos humanos. O fato de não haver partidos não quer dizer que não haja direitos humanos. O tipo de democracia que quando surgiu não havia partidos. Em Cuba não há liberdade para organizar um partido. (...) O q há nos Estados Unidos é uma falsidade. Na União Européia agora mesmo, houve 45% de abstenção. E isso não resulta nada em sua vida. Os programas eleitorais quase todos iguais, ou muito parecidos, e o que vota é o dinheiro Em Cuba não vota o dinheiro, mas as pessoas. Liberdade de expressão, é impossível crer que alguém possa limitar a expressão. Há limites para a liberdade de expressão. Por exemplo, a apologia do fascismo, do racismo. Misturam liberdade de expressão com liberdade de imprensa, que não é mais do que liberdade para os negócios. Em Cuba todos os setores sociais tem órgãos de imprensa, tem meios de imprensa, rádios, tem até televisor, as organizações tem jornais, os periódicos mais importantes de Cuba não são do estado. Em Cuba o estado é o que menos meios tem e nem mesmo há um ministério de informação. Há rádio e televisão nacionais, mas a televisão local é a sociedade que organiza, é o município, a província quem organiza o conteúdo que se publica. Em Cuba não se publica nada contra o povo cubano. As vezes se escandalizam com os cem mil que se vão, mas nada se diz quanto aos que ficam, e são dez milhões e novecentos mil. A que país se abrem as portas, com trabalho garantido, dos Estados Unidos sem que todo mundo vá para lá? Os mexicanos tem um muro a separá-los dos Estados Unidos.

A VERDADE: Como o povo cubano reage ante a ação dos cubanos de Miami?

TUAL PÁEZ HERNÁNDEZ: A televisão, a rádio, são parte de um sistema do governo federal, sobretudo rádio e TV Martí. Nós não temos nenhum inconveniente em que o povo cubano escute e veja a rádio e TV Martí, mas não queremos que isso lhe seja imposto. Nós nos defendemos e fazemos interferência. Nós exigimos da televisão cubana a cada ano, que apresente seiscentos filmes norteamericanos, no canal aberto. Pela televisão aberta para a população. Porque queremos e não porque nos seja imposto. A televisão Martí interfere na nossa programação. Tem uma má programação. É uma programação do que se passa na província, do que se passa no país. É uma indústria que vive disso, lhe interessa ganhar dinheiro. A rádio e a TV Martí ganham 34 milhões de dólares todos os anos, e as outras, ganham 79 milhões de dólares para a subversão, usando a terminologia da Guerra Fria. Usam informações do governo, jornalistas independentes, especialistas, assessores.

A VERDADE: Os Repórteres Sem Fronteira atuam em Cuba?

TUBAL PÁEZ HERNÁNDEZ: O dinheiro dos Estados Unidos, se segue sua pista, e logo se descobre onde vai. Está provado q Repórteres Sem Fronteira recebe dinheiro da NET, uma organização federal dos Estados Unidos, e está a serviço da política e dos donos. Nós denunciamos, mas é uma organização fantasma, q tem um escritório em Paris.

A VERDADE: Cuba é um país pequeno, que recebe solidariedade de organizações de muitos países. Como Cuba vê isso?

TUAL PÁEZ HERNÁNDEZ: Considero que a solidariedade é um sentimento de amor. Se não fosse a solidariedade Cuba não existiria. Cuba é fruto de duas coisas- a decisão dos cubanos e da solidariedade.A solidariedade é obra de pessoas boas, e elas existem em todas as partes, e para nós é um estímulo, um alimento. Nós lutamos não só pelos onze milhões de cubanos, mas também pelos milhões no mundo que tem esperança. Agora, a solidariedade terá durante muito tempo que enfrentar a máquina de propaganda. Também há movimento de solidariedade com os palestinos. É uma razão a mais para lutarmos até a morte pelos amigos que caíram. Por exemplo, na Guatemala, onde foram treinados os mercenários que invadiram Cuba, assassin aram a nove guatemaltecos na rua. O tema dos 5 presos nos Estados Unidos, já penetrou nos parlamentos. A solidariedade é importante para combater a mentira.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Soledad, como um poema - O livro “Soledad no Recife”

05/08/2009

A filha de Soledad com o autor, no lançamento do livro em São Paulo

Soledad, como um poema

“Agora, quase 37 anos depois desse episódio, um escritor pernambucano, Urariano Mota, lança um romance sobre o caso, tendo como personagens centrais o narrador – que o escritor garante ser ficcional embora, como leitor, é difícil acreditar dado o texto poético, apaixonado, platonicamente apaixonado – e Soledad Barrett Viedma, a Sol, bela paraguaia de 28 anos, uma mulher sublime, militante da VPR, que, não se sabe como, tornou-se mulher do homem insensível e traidor que se tornou seu algoz.

Soledad no Recife é um livro de ficção, mas – acredito – só no modo de contar, no texto que parece um poema em que o autor se esqueceu de quebrar em versos. É um romance de valor histórico muito importante nestes tempos em que se tenta recuperar a história recente de um período que os adeptos da ditadura, da tortura, das mortes de opositores, tentam fazer que seja apagado da memória do Brasil e dos brasileiros.”

(Mouzar Benedito, no Observatório da Imprensa, que reproduz texto do seu blog Via Política, http://www.viapolitica.com.br/principal.php)i



Escrito por urariano às 12h27
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21/07/2009

Autógrafos

Quarta-feira, 29 de julho às 18h30

Livro: SOLEDAD NO RECIFE


Autor: Urariano Mota

Editora: Boitempo

Local: Livraria Cultura Conjunto Nacional - Av. Paulista, 2073 - Loja 151 - Artes - São Paulo/SP

Sobre o título:


Nesta quarta-feira, a Livraria Cultura receberá Urariano Mota para uma sessão de autógrafos do livro 'Soledad no Recife'. Com um texto poético que percorre as veredas dos testemunhos e das confissões, o escritor Urariano Mota revive neste romance a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e a traição que culminou em sua tortura e assassinato pela ditadura militar. Delatada pelo próprio companheiro Daniel, conhecido depois como Cabo Anselmo, Soledad morre com um grupo de militantes socialistas, na capital pernambucana, pelas mãos da equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. O episódio, conhecido como 'O massacre da chácara São Bento', revelou-se um extermínio calculado, bem diferente do confronto armado que a mídia, censurada, divulgou. Com caderno fotográfico, o livro traz ainda outras homenagens à Soledad, como o poema de Mario Benedetti, 'Muerte de Soledad Barret'.



Escrito por urariano às 15h00
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30/06/2009

Soledad no Recife em julho

Publicado no site Vi o Mundo, http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/soledad-no-recife-em-julho/

Edição, entrevista e texto: Conceição Lemes

Eu a “conheci” ao ler uma coluna do jornalista e escritor pernambucano Urariano Mota, em Direto da Redação. Fascinou-me na hora. Uma jovem idealista, corajosa, doce e linda, muito linda.Foi torturada e morta no Recife em 1973, grávida, depois de ser entregue ao delegado Sílvio Paranhos Fleury, traída pelo cabo Anselmo , de quem trazia um filho na barriga. O texto era tão terno, carinhoso, delicado. Confesso que me passou pela cabeça os dois terem sido namorados.

Emocionou-me tanto a história, que, imediatamente, quis saber mais de Soledad. Daí nasceu esta conversa com Urariano, que lança, em julho, o livro “Soledad no Recife” pela editora Boitempo. Ele é autor do romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici.

Viomundo -- Por que Soledad? Na sua coluna, você diz que só agora teve condições de mergulhar nas entranhas daquele momento. Por quê?

Urariano Mota -- Há temas que nos perseguem, embora nem sempre a gente perceba. No meu primeiro livro, o romance “Os corações futuristas”, houve Cíntia, uma brava socialista. Já no destino trágico de Cíntia havia um destino de Soledad. A "diferença" é que Cíntia se apoiava em outra pessoa, em outra militante. Enquanto Soledad, pelo menos quero crer e me empenhei muito por isso, Soledad é a pessoa. É a própria pessoa, pelo menos desejo ter realizado isso.

Por que só agora, 36 anos depois? De um ponto de vista pessoal, estou mais apto e cônscio de minhas fronteiras. De um ponto de vista mais geral, digamos, objetivo, o crime contra Soledad é o caso mais eloqüente da guerra suja da ditadura no Brasil. A traição que ela sofreu expressa, com vigor, a traição contra jovens do sentimento mais generoso, que é o sentimento de humanidade, do mundo.

Viomundo -- Era tua amiga? Como ela era?

Urariano Mota -- Eu sou fundamentalmente um escritor. Isso quer dizer, expresso minha experiência vivida, sempre. Ou em fatos biográficos, testemunhados e sofridos, ou em fatos imaginados, recompostos, ressurgidos, que são também, para a literatura, para o artista, fatos testemunhados e sofridos. Soledad não era, ela é minha amiga. Mas não trocamos palavras em sua curta vida. Este livro diz a ela, fala as palavras que não podemos trocar, no Recife da ditadura Médici.

Mais de uma pessoa, para não dizer quase todas as pessoas, pensam que Soledad foi minha namorada, que eu a conheci pessoalmente. Isso vem da narração e da forma apaixonada do relato. Essa impressão surge, veio e vem do livro. Mais de um leitor já recebeu essa impressão. Isso se deve à mistura, em um só corpo, de pessoas e fatos absolutamente reais, documentados, sabidos, ao sentimento que tenho daqueles dias. O documento vivido pela segunda vez. Então, é claro, o elemento "ficcional" virou factual. Como ela era, como ela é, o livro dirá.

Viomundo -- É citado o massacre da chácara São Bento. Que lembrança isso traz?

Urariano Mota -- As notícias, publicadas em todo o Brasil em janeiro de 1973, dos seis "terroristas” mortos no aparelho da São Bento, são absolutamente falsas. As "notícias" de terroristas mortos, naquele tempo, eram reproduzidas com a mesma redação e teor em toda a imprensa brasileira. Vinham da agência de segurança nacional. Jamais houve o “massacre da chácara São Bento”. Houve a execução fria, planejada, de seis bravos militantes. A chácara foi o teatrinho criado para a execução de seis bravos.

Soledad Barret Viedma e Pauline Reichstul – há testemunho público disso - foram assaltadas em uma butique no Recife, de surpresa espancadas sob pistolas e seqüestradas. Em uma mangueira, por trás da butique, a proprietária notou depois sangue, vômito e urina. Isso de modo público, à vista de todos. Jarbas Pereira Marques, outro militante, que aparece entre os terroristas da chácara, foi retirado da livraria onde trabalhava, à luz do dia.
Digo isso no livro, e repito aqui: em uma ditadura, até as datas dos jornais são falsas.

Viomundo -- Soledad foi traída pelo cabo Anselmo, que a delatou ao delegado Fleury. Você conheceu o cabo Anselmo? O que sente por ele?


Urariano Mota -- Eu estudo o seu caráter há muitos e muitos anos. Ele é objeto de minha permanente observação e pesquisa. No entanto, jamais vi na rua o cabo Anselmo. Eu o conheço por seus cadáveres, que ele arrasta como uma cauda. Fui, sou amigo de quem ele perseguiu, traiu e matou.

Ninguém podia imaginar que ele fosse uma infiltração. Anselmo pertence à família dos agentes duplos, dos instrumentos de política que se chamam espiões. Isso quer dizer: ele é um mundo de mentiras. Ele era e é um sistema em que mentiras armam mentiras, que constroem mentiras, sempre. Isso quer dizer, enfim, que tudo quanto esse instrumento dizia e disser, falar, deve ser posto sob absoluta desconfiança, porque ele mente por sistema, por hábito, por defesa, por ataque e natureza. Não se pode acreditar em uma só das suas palavras. Quando ele diz eu amo, eu respeito, o bom senso deve traduzir de imediato, ele odeia e despreza.

Sou de opinião que não importa o seu último nome. Porque ele não tem outro nome nem outra face. Jonas, Daniel, José, com barba, sem barba, magro, gordo, com novos olhos, novas orelhas, novo nariz, nova boca, não importa. Ele será sempre, para onde for, cabo Anselmo, aquele que gerou a morte da sua companheira, que trazia um filho no ventre.

Viomundo -- Soledad morreu jovem, linda. Se ela vivesse no Brasil de hoje, o que estaria fazendo Soledad, em quem votaria, o que a preocuparia?

Urariano Mota -- É a pergunta mais difícil. Mas sei, ou posso ter a esperança de que ela estaria no movimento socialista, com um apoio crítico ao governo Lula. Continuaria linda, pelo fogo que tomava o seu corpo e sua vida, que não se apaga, não arrefece, apenas fica mais maturado. Como um vinho decantado que embriaga melhor.

Para ela, viva neste 2009, digo o que escrevi no livro:

Soledad não é só a mulher bonita, de um ponto de vista físico, cuja fotografia revela apenas uma estação do seu ser. Uma estação imóvel do seu peito dinâmico, e de tal modo que dará ao fotógrafo o que se diz de um mau desenhista, “isto não se parece com ela, não saiu parecido”. E se pedirá então ao fotógrafo o absurdo, a saber, que a máquina, a mecânica, reproduza um ser, a textura, cor e delicadeza da orquídea, da pessoa mesma. Como se fosse possível da flor um close que a isolasse do ar que ela respira, do campo em torno, do cheiro que exala, em resumo, como se fosse possível reproduzir o complexo, a conspiração de sentidos que se dirigem para um único fim, a pessoa, o ser vivo, poderoso em nos despertar amor, afeição, paixão, tar a e paz, que buscamos como a uma miragem. Ainda assim, se sabemos que na flor há um ser inalcançado na fotografia, se comparamos, se transpomos mal, imagine-se então Soledad no lugar dessa flor do campo. Imaginamos mal e mau, já vêem. Flor não se rebela nem canta. Flor nos desperta canção e rebeldia, quando machucada. Mas a pessoa de Soledad, ainda que lembre essa flor - e é irrecusável não lhe ver a pele como o tecido de uma pétala -, e assim a lembraremos pelo vento forte e traiçoeiro que se prepara para a muchucar e destruir, ainda assim, como a superar tal associação, ainda que nos persiga como só uma idéia é capaz de perseguir, hoje, neste dia do seu aniversário, ela está mais bela que antes.

¡Arriba, Sol!


Como aperitivo, encante-se com mais estes dois momentos de"Soledad no Recife"

Primeira vez em que Urariano fala de Soledad no livro

Eu a vi primeiro numa noite de sexta-feira de carnaval. Fossem outras circunstâncias, diria que a visão de Soledad, naquela sexta-feira de 1972, dava na gente a vontade de cantar. Mas eu a vi, como se fosse a primeira vez, quando saíamos do Coliseu, o cinema de arte daqueles tempos no Recife. Vi-a, olhei-a e voltei a olhá-la por impulso, porque a sua pessoa assim exigia, mas logo depois tornei a mim mesmo, tonto que eu estava ainda com as imagens do filme. Num lago que já não estava tranquilo, perturbado a sua visão me deixou. Assim como muitos anos depois, quando saí de uma exposição de gravuras de Goya, quando saí daqueles desenhos, daquele homem metade tronco de árvore, metade gente, eu me encontrava com dificuldade de voltar ao cotidiano, ao mundo normal, “alienado”, como dizíamos então. Saíamos do cinema eu e Ivan, ao fim do mal digerido O anjo exterminador. Imagens estranhas e invasoras assaltavam a gente.

A vontade que dava de cantar retornou adiante, naquela mesma noite. No Bar de Aroeira, no pátio de São Pedro, naquela sexta-feira gorda. Como são pequenas as cidades para os que têm convicções semelhantes! Estávamos eu e Ivan sentados em bancos rústicos de madeira, na segunda batida de limão, quando irromperam Júlio, ela e um terceiro, que eu não conhecia. Ela veio, Júlio veio, o terceiro veio, mas foi como se ela se distanciasse à frente – diria mesmo, como se existisse só ela, e de tal modo que eu baixei os olhos. “Como é bela”, eu me disse, quando na verdade eu traduzi para beleza o que era graça, graça e terna feminilidade.


A morte de Soledad

Chegamos agora mais perto de Soledad Barret Viedma. Excluo-me, na medida do possível, da qualidade daquele que a amou em silêncio.

Há quem considere que a morte de Soledad, nas circunstâncias que conhecemos mais tarde, deu-se em razão de sua ternura. Isso é mais que um namoro, um interlúdio, para dizer que ela esculpiu a própria sorte, porque, diabo, era terna e verdadeira. Com a evidência de um escândalo. Prenhe de ternura até as raias do suicídio. Esse elogio torto, digno da reencarnação e pele de um Anselmo 2, é como um açúcar no sal de sua execução. Um doce, um mel, a lhe correr sobre os lábios entre coices, descargas elétricas e afogamentos. Conviria melhor ser dito que ela, por suas qualidades raras de pessoa, estava condenada.



Escrito por urariano às 08h51
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21/06/2009

SOLEDAD NO RECIFE


Andrés Colmán Gutiérerz *

Este artigo foi publicado no suplemento cultural Correo Semanal, do jornal Última Hora, do Paraguai, no sábado 20 de junho de 2009. Para quem puder acessá-lo em PDF, verá uma foto inédita de Soledad Barret Viedma, que revoluciona até os peitos de pedra.


El regreso de Soledad Barrett


Andrés Colmán Gutiérerz *





Era tan dulce y hermosa que hubiera llegado a ser "Miss Paraguay, carátula, almanaque", dice el poeta Mario Benedetti. Pero la sangre de su abuelo, el gran periodista, escritor y luchador anarquista Rafael Barrett, la tironeaba desde las raíces, conduciéndola a un destino de entrega a la lucha social y política, que forjó su corta, heroica y trágica historia.

Poco se sabe de Soledad Barrett Viedma, nacida el 6 de enero de 1945, hija de Alejandro Rafael Barrett López, único hijo del recordado autor de El dolor paraguayo. En Sâo Paulo hay una escuela y en Río de Janeiro una calle que llevan su nombre, pero en el Paraguay su historia es aún desconocida, apenas fragmentos filtrados a través del clásico poema de Benedetti y la canción de su compatriota uruguayo Daniel Viglietti.

Ahora, Soledad Barrett es rescatada por el novelista brasileño Urariano Mota, quien la conoció personalmente en su Recife natal, y vivió de cerca su trágico fin, cuando, luego de haber militado en organizaciones de la izquierda uruguaya, llegó hasta el Nordeste del Brasil, en 1971, para unirse a filas de la Vanguardia Popular Revolucionaria (VPR), la legendaria guerrilla brasileña, liderada por el capitán Carlos Lamarca, en la lucha por derrocar a la dictadura militar del vecino país.

Soledad en Recife es el título del libro que publicará la Editorial Boitempo, en julio. Se trata de una novela de no-ficción o reportaje novelado, que recrea la valiente entrega de la joven paraguaya a la lucha revolucionaria, y cómo acabó entregada a los represores por su propio amante, el supuesto guerrillero Daniel, quien en realidad era "el cabo Anselmo", un doble agente de la dictadura.

Urariano Mota, nacido en Recife y residente en Olinda, es autor de la consagrada novela Os coraçôes futuristas, que retrata los sombríos años de la dictadura Médici en el Nordeste brasileño, en los años 70.

"Soledad Barrett marcó profundamente mi juventud, cuando la vi en mi ciudad, en 1973. Después de su muerte, tomé conocimiento de tres grandes crímenes: a) su propia y vil ejecución; b) la traición del cabo Anselmo, su propio esposo; c) la muerte de un amigo mío entre los seis ?terroristas' que fueron exterminados con ella", relata el escritor al Correo Semanal.

"Yo tengo por Soledad Barrett amor y admiración, como el libro lo narra en voz más alta que esta declaración", afirma Urariano Mota, acerca de su nueva obra.

"Esta admiración se extiende a su abuelo, el gran Rafael Barrett, escritor olvidado fuera del Paraguay. Así como lo menciono en el libro, Rafael Barrett transmitió a Soledad no solamente la sangre, la herencia de caracteres, sino que él fue su inspiración y su influencia hasta la trágica muerte", declara el novelista.

Eran años de dictadura y terror. También de lucha revolucionaria y amor. Soledad tenía 25 años de edad cuando perdió a su esposo, el brasileño José María Ferreira de Araújo, capturado y asesinado por los militares, en 1970.

En el fragor de la lucha se reencontró con Daniel, antiguo compañero de José María, a quien había conocido en Cuba. Era un militar que lideró la "revuelta de los marineros", en 1964, contra el Gobierno de João Goulart, y se había convertido en héroe para los guerrilleros. Pero la dictadura lo había captado como agente y tenía la misión de delatar a sus compañeros.

Soledad halló en él a un nuevo compañero, sin desconfiar que lo iba a traicionar. La paraguaya estaba embarazada de 5 meses, cuando el padre de su bebé la entregó a los militares, junto con otros cinco miembros de la VPR, el 8 de enero de 1973. Fueron secuestrados y salvajemente torturados hasta la muerte, en una granja de las afueras de Recife, en el caso conocido como "A masacre da chácara de São Bento".

A pocos días de haber cumplido 28 años de edad, la revolucionaria nieta del gran Rafael Barrett acabó su vida de manera violenta, para ser recordada por los versos de Mario Benedetti: "Soledad, no moriste en soledad, por eso tu muerte no se llora, simplemente la izamos en el aire...".

Treinta y seis años después, la guerrillera paraguaya Soledad Barrett vuelve a vivir, gracias a la pluma de un apasionado escritor brasileño.

El escritor brasileño Urariano Mota publica en julio su libro Soledad en Recife, que rescata la heroica y trágica historia de la luchadora y guerrillera paraguaya, nieta del gran Rafael Barrett.


* Periodista, escritor, guionista. Publicó las novelas "El último vuelo del pájaro campana" (1995, Premio de Narrativa El Lector, reeditada en 2007), "El país en una plaza" (2004), el album de cómic "Mediodía en la tierra de nadie (El asesinato del periodista Santiago Leguizamón)" (2006) y el libro de cuentos "El Principito en la Plaza Uruguaya". Recibió el Premio Vladimir Herzog (Brasil, 1985) y el Premio Nacional de Periodismo Santiago Leguizamón (Paraguay, 2000). Es periodista del diario Ultima Hora. Director de Libertad de Expresión del Foro de Periodistas Paraguayos (Fopep).






Escrito por urariano às 14h24
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04/06/2009

A hora de Soledad Barret Viedma

Urariano Mota

Amigos, aquilo que há muitos e muitos anos eu sentia por todos os poros e sentidos, aquilo que meu faro pressentia, que a hora de Soledad Barret Viedma se acercava, agora chegou. Em julho, a Boitempo Editorial publica o meu, o nosso livro, “Soledad no Recife”.

Para quem não sabe, Soledad Barret Viedma foi torturada e morta no Recife em 1973, grávida e traída, depois de entregue a Fleury pela marido, o Cabo Anselmo.

Um dos leitores de Soledad no Recife assim se expressou:

“O livro alcança e fere vários tipos de leitores, desde os que já conhecem a história do ‘massacre da chácara São Bento’ até os que a desconheçam totalmente.

É um relato candente, comovido e comovente, construído desde um ponto de vista original, qual seja, o de uma voz narrativa pertencente a quem tenha conhecido os dois protagonistas históricos da trama, Daniel, aliás, Cabo Anselmo (ou será o contrário?), e Soledad, a jovem idealista assassinada, com os demais companheiros. O relato recupera um clima de época através das letras de música com muita habilidade.

É um relato testemunhal, no sentido bíblico da palavra, e ao mesmo tempo confessional. É testemunhal porque visa dar testemunho, contar uma verdade, trazer à luz fato que revela e elucida”.

Portanto, amigos, não foi em vão esperar tanto tempo.

“Sete anos de pastor Jacó servia

Labão, pai de Raquel, serrana bela;

Mas não servia ao pai, servia a ela,

E a ela só por prêmio pretendia....

... Dizendo: - Mais servira, se não fora

Para tão longo amor tão curta a vida”.

A bela e brava Soledad Barret Viedma volta à vida em julho. Em todas as livrarias.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Antonio Vivaldi




Por Katarina Grubisic, desde Florianópolis-SC/Brasil


Venezzia



Em fins do século XVII a cidade de Veneza estaria mais da metade do ano em festa – o Carnaval – que iniciava 26 de dezembro prolongando-se até dia 30 de junho. Os venezianos de todas as condições então saíam. Possuiam a bauta (máscara de verniz branco, completada por um capuz de seda) que eventualmente preservava o incógnito dos patrícios, nas noites de festa. Todos se encontravam na Piazzeta ou no teatro: os senadores, padres e freiras, cortesãs, comerciantes e pescadores. O carnaval era um espetáculo extraordinário que o povo de Veneza oferecia a si mesmo: ele era ao mesmo tempo público e artista.


De acordo com Roland de Candé: “Veneza era único Estado Italiano a conservar na época uma organização política herdada da Idade Média, a República era uma falsa democracia, uma espécie de ditadura bonachã, onde os patrícios brincam de liberalismo e o povo tem o dever de ser feliz. (...) A nobreza e a burguesia pareciam tão pouco preocupadas com o declínio da República quanto o meio popular. (...) Em suma, numa República decadente como Veneza, a conjugação da água, das máscaras e do refinamento artístico leva a libertinagem. Chegar-se-ía, assim a conclusão de que a liberdade de costumes é fonte de enriquecimento artístico. Capital dos prazeres – Veneza continua sendo uma capital da arte...por conseqüência, talvez. Sua insólita beleza, sempre realçada pela glória de seus pintores, poetas e músicos.”


O mais célebre dos músicos – Antonio Vivaldi (o “Prete Rosso” – Padre Ruivo) que não celebra missa e suscita tantos comentários sobre sua arte, quantos sobre sua pessoa.


Sempre vestido de hábito eclesiástico, ele toca violino como um virtuose, dirige concertos angelicais na Pietá e faz ópera no teatro S.Angelo durante o carnaval.


Il Prete rosso



Antonio Lucio Vivaldi nasceu em Veneza no dia 4 de março em 1678, filho do músico violinista Giovani Battista Vivaldi e Camilla Colicchio. Nos arquivos do batismo consta que no dia do nascimento achavas-se em perigo de vida e por isso só foi batizado dois meses depois. Não se sabe se esse perigo foi devido a sua doença (asma) ou ao grande terremoto ocorrido em março de 1678.


Seu pai tocava na capela ducal de São Marcos que era o foco de tendência moderna na vida musical veneziana e ao mesmo tempo conservatório de riquíssima tradição. Assim é proporcionado ao jovem Antonio um ensinamento ao mesmo tempo humanista e moderno, num clima propício ao desenvolvimento artístico e moral. Giovani Battista também foi um dos fundadores do Sovegno dei Musicisti di Sa. Cecilia uma espécie de Sindicato dos Músicos.


O teatro também vai marcar as obras de Vivaldi. Seu pai consegue um emprego no Teatro Giovani Grisostomo e o músico de tenra idade acompanha o acompanha o pai nos ensaios de grandes óperas que exercem fascínio sobre sua imaginação.


Aos dez anos de idade Antonio Vivaldi é destinado pelo pai a preparar-se para o sacerdócio, sob os auspícios da Igreja S.Geminiano: curiosos educadores cuja liberdade de costumes era notória.

O hábito sacerdotal é então o melhor dos salvos condutos garantindo o respeito do poder civil. Em 23 de março de 1703 Vivaldi é ordenado padre.


É sabido que não exercerá por muito tempo o sacerdócio. A falsa situação desse padre-que-não-reza-missa propicia comentários maldosos, associando um perfume de pecado, em linha geral vantajoso à futura carreira do jovem músico. O próprio Vivaldi teria escrito no fim da sua vida que “faz 25 anos que não digo mais missa devido a uma doença de nascimento que me deixa oprimido”.


No mesmo ano da ordenação o padre de 25 anos já ensinava violino no asilo de meninas Ospedale della Pietá.


Ospedale della Pietá



Ospedale della Pietá era um asilo para recolher meninas órfãs abandonadas oferecendo-lhes uma educação completa, onde a música ocupava um lugar privilegiado. Estes estabelecimentos davam regularmente concertos públicos e pagos cujo sucesso parece ter sido considerável e o lucro interessante.


Vivaldi assume o compromisso de ensinar violino e “violle all’inglese” com “obrigação de instruir as moças na composição e execução dos concertos”.


“Ensinar música a um número considerável de moças indisciplinadas a executar obras muitas vezes difíceis era um ofício duro e particularmente pouco lucrativo. Mas um compositor não podia imaginar algo melhor do que dispor de modo permanente de um conjunto de músicos consumados, capazes de serem instruídos para tocar todos os instrumentos e podendo consagrar todo o tempo necessário a preparar execuções perfeitas.”


Nas antigas Igrejas escuras e poderosas existia um palco com um tipo de cerca de madeira que impedia a orquestra de ter contato com a platéia. Ao entrar ouvia-se o som que vinha desta “gaiola gigante” e tinha-se a impressão de que havia anjos tocando. Certa vez um membro das classes privilegiadas teve oportunidade de ver algumas meninas. Para sua surpresa as meninas “enjeitadas” às vezes possuíam defeitos físicos ou deformações. Quando tocavam, o som era a perfeição de seus talentos e da divina obra de Don Antonio.

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



ZZ - ESTUDAR SEMPRE

  • A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
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  • Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
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  • O MST e a Constituição. Um sujeito histórico na luta pela reforma agrária no Brasil - Delze dos Santos Laureano
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  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA

  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
  • A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
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  • As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
  • As três fontes - V. I. Lenin
  • CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
  • Crítica Eurocomunismo - Ernest Mandel
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  • MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
  • MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
  • Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
  • Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
  • O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
  • O Caminho do Poder - Karl Kautsky
  • O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
  • O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a Repressão - Victo Serge
  • Orestéia, de Ésquilo
  • Os irredutíveis - Daniel Bensaïd
  • Que Fazer? - Lênin
  • Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda
  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
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  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
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  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
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  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
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  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

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  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
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  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira