Jun 26th, 2007 by Isabela
A “Diálética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos” de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer embora concluída em 1944 ainda durante a guerra, saiu pela primeira vez em 1947 pela Editora Querido em Amsterdam com o título Dialektik der Aufklärung.
Para comemorar os sessenta anos deste clássico, uma obra rica, fascinante e ainda muito atual, trago capa da primeira edição (à esquerda), capas reduzidas de edições em alguns países e citações extraídas da edição traduzida por Guido Antônio de Almeida (professor de filosofia da UFRJ), publicada pela Jorge Zahar Editor.
Do Prefácio: “Se uma parte do conhecimento consiste no cultivo e no exame atentos da tradição científica (especialmente onde ela se vê entregue ao esquecimento como um lastro inútil pelos expurgadores positivistas), em compensação, no colapso atual da civilização burguesa, o que se torna problemático é não apenas a atividade, mas o sentido da ciência. (p. 11). […] Não alimentamos dúvida nenhuma — e nisso reside nossa petitio principii — de que a liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecedor. (p. 13). […] A naturalização dos homens hoje em dia não é dissociável do progresso social. O aumento da produtividade econômica, que por um lado produz as condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. (p. 14). […] A enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo” (p. 15).
Do capítulo O Conceito de Esclarecimento: “No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. (p. 19 — talvez a parte mais conhecida da obra, não poderia deixar de citá-la) […] O esclarecimento é totalitário. (p. 22) […] Do medo o homem presume estar livre quando não há nada mais de desconhecido. (p. 29) […] A essência do esclarecimento é a alternativa que torna inevitável a dominação. Os homens sempre tiveram de escolher entre submeter-se à natureza ou submeter a natureza ao eu. (p. 43) […] A maldião do progresso irrefreável é a irrefreável regressão. (p. 46 — uma das minhas favoritas). […] É da imaturidade dos dominados que se nutre a hipermaturidade da sociedade.” (p. 47)
“No mundo da troca, quem está errado é quem dá mais; o amante, porém, é sempre o que ama mais.” (Do Excurso I — Ulisses ou Mito e Esclarecimento, p. 75)
Do capítulo A Indústria Cultural: “O que é novo na fase da cultura de massas […] é a exclusão do novo. A máquina gira sem sair do lugar. Ao mesmo tempo que já determina o consumo, ela descarta o que ainda não foi experimentado porque é um risco. É com desconfiança que os cineastas consideram todo manuscrito que não se baseie, para tranqüilidade sua, em um best-seller. Por isso é que se fala continuamente em idea, novelty e surprise, em algo que seria ao mesmo tempo familiar a todos sem jamais ter ocorrido. (p. 127) […] Divertir significa sempre: não ter que pensar nisso, esquecer o sofrimento até mesmo onde ele é mostrado. (p. 135) […] O que se busca é assistir e estar informado, o que se quer é conquistar prestígio e não se tornar um conhecedor.” (p. 148)
O conceito armchair thinking que eles desenvolveram é muito interessante e também vale a pena ser citado. A nota do tradutor diz que literalmente, armchair thinking é “pensamento de poltrona; pensamento ocioso, que não se baseia na prática ou na experiência, especulação.” É do capítulo Elementos do Anti-Semitismo, p. 188, que extraio esta pérola, para finalizar:
Na era do vocabulário básico de trezentas palavras, a capacidade de julgar e, com ela, a distinção do verdadeiro e do falso estão desaparecendo. Na medida em que o pensamento deixa de representar uma peça do equipamento profissional, sob uma forma altamente especializada em diversos setores da divisão de trabalho, ele se torna suspeito, como um objeto de luxo fora de moda: “armchair thinking“.
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