, por Antônio Ozaí
Estes dias assisti o filme O Grande Ditador, de Charles Chaplin. Já o tinha visto na década de 1980, mas foi como vê-lo pela primeira vez. Ao ouvir o discurso do “judeu barbeiro” recordei que o tinha em forma de pôster, o qual foi deteriorado pela umidade da casa em que morava. Compreendi melhor várias falas e cenas. Inclusive porque hoje temos a vantagem das novas tecnologias. O DVD permite acesso a extras, a informações que não tinha naquela época. Por outro lado, a idade também indica acúmulo de conhecimento e experiência, o que também modifica o olhar sobre o objeto. Oxalá, tivesse tempo e condições para reler e rever os livros e filmes do passado!
Um dos trechos que mais admiro do discurso de Charles Chaplin é este: “Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
Foi uma dádiva poder ouvi-lo novamente. Isto me fez reviver antigas reflexões sobre o absurdo da coisificação do ser humano. Mas não podemos ficar presos às reminiscências. A arte se justifica na medida em que nos faz refletir sobre a condição humana presente. Como escreve Carlos Drummond de Andrade: “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.
E, seguindo o poeta, passei a refletir sobre as relações que estabelecemos através de emails e blogs. A tecnologia favorece a comunicação e amplia sua abrangência. Recebemos e enviamos mensagens para dezenas e centenas de pessoas, as quais, na maioria, não teríamos qualquer tipo de relacionamento se não houvesse a internet. Há, inclusive, gratas surpresas como a consolidação de amizades virtuais. Porém, em geral não conhecemos quem está do outro lado à frente do monitor do computador.
A máquina intermedeia a comunicação. Mas em que medida as pessoas reconhecem esta como uma relação humana? Será que reduzimos o “outro” a um email e o/ou um blog? Será que nos damos conta de que o indivíduo que recebe a mensagem e lê o comentário postado num blog é alguém em carne e osso, um ser humano? Será que temos o cuidado de respeitar o “outro” em sua subjetividade ou o restringimos à mera posição de receptor? Será que nos perguntamos sobre quem é o “outro” e como se dá a relação virtual? Ou terminamos por estabelecer relações mecânicas?
Considero necessário refletir sobre a interação que adotamos através da máquina. Devemos nos perguntar sobre o caráter e os riscos presentes neste tipo de relacionamento virtual. Afinal, somos homens e mulheres, seres humanos e não máquinas. Não são emails que se comunicam, mas indivíduos concretos. As máquinas são apenas coisas, objetos. É certo que elas dão sentido e, inclusive, transformam o nosso cotidiano. Por isso mesmo, é preciso refletir sobre quem é o “outro” com o qual nos comunicamos, quem recebe nossos emails, quem são os leitores do blog e os que comentam. Muitos se deixam conhecer apenas pelo primeiro nome; outros preferem o anonimato. Como estabelecer um diálogo profícuo nestas condições?
Às vezes, por exemplo, a crítica padece do desconhecimento do "outro" e da facilidade que o meio permite. Tende-se a abstrair e desconsiderar que a relação, ainda que virtual, é entre seres humanos reais. As palavras não existem por si. As máquinas até facilitam sua difusão, mas não substituem os seus portadores, os seres humanos. Não esqueçamos que são estes que se comunicam!
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