Caros companheiros, não pude responder antes às perguntas, pois estava viajando por diversas regiões e sem a calma necessária para enfrentar questões tão inquietantes. Agora estou em casa. Infelizmente, ainda não sinto a calma que gostaria frente a essas questões, pois o que nos acalmaria seria ver imensas reações populares, o que nos transtornaria o cotidiano e abriria futuros muitos mais interessantes.
Preliminarmente, há que considerar dois planos: o que já estamos vendo, até aqui, aponta para pouquíssima transformação no processo de concentração internacional de capitais que já vinha ocorrendo. A única diferença é o comprometimento dos recursos públicos de forma ainda mais escancarada com tal concentração. É nesse quadro que respondi às questões. Mas há um segundo plano, que pode ser disparado no momento em que a crise que atinge parcela do capital abatter-se em cheio sobre as populações, tanto nos países centrais quanto nos demais. Até aqui, o intervalo de tempo entre o disparo da crise e seus efeitos mais rigorosos no plano social atua "silenciando" as massas populares.
Há questões novas que nos colocam novos desafios. A profunda interconexão entre os setores produtivos e bancários no plano internacional precisa ser analisada com cautela. Desde 1974 as crises passaram a ter perfil
mundializado, ainda que em algusn casos mais ou menos contidas em certas fronteiras regionais. O caso atual sugere longo tempo de tensão e de concorrência entre países (e mega-conglomerados) para assegurar concentração de capitais capazes de se manter como "players" no cenário internacional. Não parece estar ocorrendo nenhum recuo para o ãmbito nacional e, sim, um aprofundamento da escala mundial de monopolização e concentração, redesenhando as formas de extração de mais-valor ao redor do mundo.
Se for este o caso, a tendência é para um aprofundamento das formas de subalternização do trabalho em escala internacional, correspondendo ao novo patamar de concentração que vem sendo oferecido pelos Estados a seus capitais concentrados e aos grupos "dóceis". Não esquecer que os EUA e a Europa admitiram "auxiliar" trambém capitais de procedência exterior.
2. O que pode acontecer com a economia dos Estados Unidos, sua hegemonia política, ideológica?
Está aberto um período de tensão no cenário internacional, do qual deve emergir nova reconfiguração da hegemonia no cenário internacional. Os EUA seguirão durante bastante tempo - caso não haja revoltas populares internas e internacionais - como ponto central de contenção militar para o capital, embora possam perder pólos de predomínio econômico e monetário, com uma maior difusão de centros e de polaridades (especialmente China e Russia). Assim, seguirão como país dominante, embora talvez não sejam mais dirigentes na mesma proporção que o fizeram até aqui.
Do ponto de vista cultural, deve abrir-se um período de maior diversidade de influências internacionais, mas isso ainda não é claro, pois as agências de mídia prosseguem altamente concentradas e com forte base estadunidense.
3. O que pode acontecer com o sistema capitalista mundial a partir da crise?
Há duas direções imediatas, embora apenas a primeira esteja sendo encaminhada.
A) garantir a concentração de capitais em escala ainda superior (permitir fusões e aquisições baratas aos grandes monopolizadores) e prosseguir com a mesma dinãmica de extração de mais-valor sob formatos diversificados
(tendência ainda maior á redução de direitos associados ao trabalho), com manutenção e, talvez, aprofundamento das expropriações primárias (de camponeses) através do mundo. B) Proteger certos grupos de trabalhadores, tanto em ãmbitos nacionais quanto em alguns setores estratégicos, impedindo uma aproximação de luta entre os diversos segmentos de trabalhadores, já bastante fracionados pelas políticas impostas nos últimos 20 anos. Essa última opção depende da resistência imposta por trabalhadores dos países centrais à utilização sem contrapartidas dos recursos públicos como doação para o capital. Nenhuma dessas duas opções aponta direções revolucionárias, embora a segunda possa figurar como uma espécie de "exemplo" a ser seguido
pelos países periféricos. Essa seria a forma mais próxima de uma caricatura de "welfare state".
Nessa vertente, não é impossível imaginar um sucesso internacional de políticas como "bolsa-família", asseguradas diretamente por parcerias entre empresas concentradas e governos. Elas, entretanto, somente são viáveis como "apassivadoras" das reivindicações populares se aplicadas em larga escala e, para tanto, é preciso capitais de grande porte concentrados. Não é este o caso para a maioria dos países, que terão de defrontar-se com escassez de recursos e com a voracidade das mega-concentrações.
É de imaginar que, uma vez deslanchadas as políticas de subordinação dos trabalhadores que a atual sangria de recursos públicos para o grande capital monopolista-imperialista-mega-concentrado supõe, haja reações populares de novo tipo. Mas ainda não temos como prevê-las. Somente elas permitem um impulso efetivamente revolucionário. Por exemplo, exigir direitos iguais para todos os trabalhadores em cada território nacional (e não apenas para os nacionais ou aos "contratuais") colocaria a questão em novo patamar.
4. O que os governos progressistas dos países do sul, deveriam fazer diante dessa crise?
Apoiar os povos, e não bancos ou conglomerados. Socializar o sistema financeiro (bancos diversos) e as parcelas dos setores industriais que estarão demandando recursos para novas fusões e aquisições (para capacitar sua manutenção na concorrência internacional). Intensificar as formas da socialização do processo produtivo não proprietário - recusar patentes e formas de extorsão, construindo formas internacionais não-proprietárias.
Estatizações e nacionalizações devem ocorrer juntamente com a formação de conselhos populares para seu controle. A experiência boliviana da gestão da água é ilustrativa e precisa ser aprofundada para todos os setores. Mas não basta um segmento, é preciso expandi-la para todos os setores socialmente sensíveis (e não sensíveis para o grande capital). Estabelecer políticas internacionais não-proprietárias e tendencialmente socializantes.
5. O que as forças populares deveriam fazer diante dessa situação?
Não perder a clareza de que serão convocadas por fragmentos e por frações do capital para apoiá-los contra outras frações do mesmo capital. As tensões intercapitalistas - e este é um momento em que elas se exacerbam - se caracterizam por convocar setores populares de maneira "sedutora" e, em muitos casos, também através da utilização da violência paga (milícias e outros). Parece-me ser o momento de elaborar um plano de emergência social e de impor as medidas que consideramos fundamentais, dentre elas: - suspensão das expropriações populares (terra, casa, saúde, educação e direitos do trabalho) - garantia de alimentação, habitação, saúde e educação (dos 2 aos 18) anos para todos SEM MERCADO, sob gestão popular - introdução de políticas de pesquisa, desenvolvimento e utilização de todas as formas não-proprietárias já existentes; - controle de exportação de capitais - somente seriam admitidas as saídas como socialização (entre políticas populares) - expropriação e socialização imediata (com punição dos responsáveis) de empresas, propriedades e bancos com problemas.
Um grande abraço,
Virgínia
Preliminarmente, há que considerar dois planos: o que já estamos vendo, até aqui, aponta para pouquíssima transformação no processo de concentração internacional de capitais que já vinha ocorrendo. A única diferença é o comprometimento dos recursos públicos de forma ainda mais escancarada com tal concentração. É nesse quadro que respondi às questões. Mas há um segundo plano, que pode ser disparado no momento em que a crise que atinge parcela do capital abatter-se em cheio sobre as populações, tanto nos países centrais quanto nos demais. Até aqui, o intervalo de tempo entre o disparo da crise e seus efeitos mais rigorosos no plano social atua "silenciando" as massas populares.
1. Qual é a natureza da crise (profundidade, período, duração, etc)?
Esta é mais uma das crises cíclicas do capital. Marx apontou suas características fundamentais: sobreacumulação e, portanto, desequilíbrio entre os diferentes setores do capital, levando-o a queimar parcela do trabalho morto acumulado, a destruir forças produtivas e, sobretudo, a subordinar de maneira ainda mais feroz os trabalhadores, desta feita de forma planetária. Muitos a consideram apenas uma crise do "capital especulativo", mas isso parece-me, em todos os casos, uma temeridade. Em primeiro lugar, pois o capital especulativo (que existe) não é uma excrescência do capital produtivo (de mais-valor), mas dele faz parte como ponta de lança. Assim, destruição (mesmo se fosse apenas de especula dores) atingiria o capital como um todo. Em segundo lugar, pois se a imagem difundida pela mídia parece ser de destruição apenas de "papéis podres", ela envolve gastos púbilcos internacionais brutais, comprometendo ainda mais solidamente os Estados com o mega-capital-concentrado.Há questões novas que nos colocam novos desafios. A profunda interconexão entre os setores produtivos e bancários no plano internacional precisa ser analisada com cautela. Desde 1974 as crises passaram a ter perfil
mundializado, ainda que em algusn casos mais ou menos contidas em certas fronteiras regionais. O caso atual sugere longo tempo de tensão e de concorrência entre países (e mega-conglomerados) para assegurar concentração de capitais capazes de se manter como "players" no cenário internacional. Não parece estar ocorrendo nenhum recuo para o ãmbito nacional e, sim, um aprofundamento da escala mundial de monopolização e concentração, redesenhando as formas de extração de mais-valor ao redor do mundo.
Se for este o caso, a tendência é para um aprofundamento das formas de subalternização do trabalho em escala internacional, correspondendo ao novo patamar de concentração que vem sendo oferecido pelos Estados a seus capitais concentrados e aos grupos "dóceis". Não esquecer que os EUA e a Europa admitiram "auxiliar" trambém capitais de procedência exterior.
2. O que pode acontecer com a economia dos Estados Unidos, sua hegemonia política, ideológica?
Está aberto um período de tensão no cenário internacional, do qual deve emergir nova reconfiguração da hegemonia no cenário internacional. Os EUA seguirão durante bastante tempo - caso não haja revoltas populares internas e internacionais - como ponto central de contenção militar para o capital, embora possam perder pólos de predomínio econômico e monetário, com uma maior difusão de centros e de polaridades (especialmente China e Russia). Assim, seguirão como país dominante, embora talvez não sejam mais dirigentes na mesma proporção que o fizeram até aqui.
Do ponto de vista cultural, deve abrir-se um período de maior diversidade de influências internacionais, mas isso ainda não é claro, pois as agências de mídia prosseguem altamente concentradas e com forte base estadunidense.
3. O que pode acontecer com o sistema capitalista mundial a partir da crise?
Há duas direções imediatas, embora apenas a primeira esteja sendo encaminhada.
A) garantir a concentração de capitais em escala ainda superior (permitir fusões e aquisições baratas aos grandes monopolizadores) e prosseguir com a mesma dinãmica de extração de mais-valor sob formatos diversificados
(tendência ainda maior á redução de direitos associados ao trabalho), com manutenção e, talvez, aprofundamento das expropriações primárias (de camponeses) através do mundo. B) Proteger certos grupos de trabalhadores, tanto em ãmbitos nacionais quanto em alguns setores estratégicos, impedindo uma aproximação de luta entre os diversos segmentos de trabalhadores, já bastante fracionados pelas políticas impostas nos últimos 20 anos. Essa última opção depende da resistência imposta por trabalhadores dos países centrais à utilização sem contrapartidas dos recursos públicos como doação para o capital. Nenhuma dessas duas opções aponta direções revolucionárias, embora a segunda possa figurar como uma espécie de "exemplo" a ser seguido
pelos países periféricos. Essa seria a forma mais próxima de uma caricatura de "welfare state".
Nessa vertente, não é impossível imaginar um sucesso internacional de políticas como "bolsa-família", asseguradas diretamente por parcerias entre empresas concentradas e governos. Elas, entretanto, somente são viáveis como "apassivadoras" das reivindicações populares se aplicadas em larga escala e, para tanto, é preciso capitais de grande porte concentrados. Não é este o caso para a maioria dos países, que terão de defrontar-se com escassez de recursos e com a voracidade das mega-concentrações.
É de imaginar que, uma vez deslanchadas as políticas de subordinação dos trabalhadores que a atual sangria de recursos públicos para o grande capital monopolista-imperialista-mega-concentrado supõe, haja reações populares de novo tipo. Mas ainda não temos como prevê-las. Somente elas permitem um impulso efetivamente revolucionário. Por exemplo, exigir direitos iguais para todos os trabalhadores em cada território nacional (e não apenas para os nacionais ou aos "contratuais") colocaria a questão em novo patamar.
4. O que os governos progressistas dos países do sul, deveriam fazer diante dessa crise?
Apoiar os povos, e não bancos ou conglomerados. Socializar o sistema financeiro (bancos diversos) e as parcelas dos setores industriais que estarão demandando recursos para novas fusões e aquisições (para capacitar sua manutenção na concorrência internacional). Intensificar as formas da socialização do processo produtivo não proprietário - recusar patentes e formas de extorsão, construindo formas internacionais não-proprietárias.
Estatizações e nacionalizações devem ocorrer juntamente com a formação de conselhos populares para seu controle. A experiência boliviana da gestão da água é ilustrativa e precisa ser aprofundada para todos os setores. Mas não basta um segmento, é preciso expandi-la para todos os setores socialmente sensíveis (e não sensíveis para o grande capital). Estabelecer políticas internacionais não-proprietárias e tendencialmente socializantes.
5. O que as forças populares deveriam fazer diante dessa situação?
Não perder a clareza de que serão convocadas por fragmentos e por frações do capital para apoiá-los contra outras frações do mesmo capital. As tensões intercapitalistas - e este é um momento em que elas se exacerbam - se caracterizam por convocar setores populares de maneira "sedutora" e, em muitos casos, também através da utilização da violência paga (milícias e outros). Parece-me ser o momento de elaborar um plano de emergência social e de impor as medidas que consideramos fundamentais, dentre elas: - suspensão das expropriações populares (terra, casa, saúde, educação e direitos do trabalho) - garantia de alimentação, habitação, saúde e educação (dos 2 aos 18) anos para todos SEM MERCADO, sob gestão popular - introdução de políticas de pesquisa, desenvolvimento e utilização de todas as formas não-proprietárias já existentes; - controle de exportação de capitais - somente seriam admitidas as saídas como socialização (entre políticas populares) - expropriação e socialização imediata (com punição dos responsáveis) de empresas, propriedades e bancos com problemas.
Um grande abraço,
Virgínia
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