Depois de muita confusão no noticiário sobre o caso dos boxeadores cubanos, uma coisa ficou evidente: houve mesmo muita confusão e pouco esclarecimento na nossa imprensa. Tudo para levar o governo às cordas, em mais uma manobra que acabou não dando certo.
Flávio Aguiar
Houve muita confusão no caso dos boxeadores cubanos que fugiram do alojamento do Panamericano, abandonando a sua delegação, e depois pediram para retornar à Cuba.
A confusão começou no uso seguido de uma palavra inadequada: “deportação”. Não houve “deportação” no sentido clássico da palavra. Desconheço portaria, decreto, ou algo assim nesse sentido. Houve autorização para que deixassem o país num avião fretado pelo governo cubano. Pelo menos até onde se sabe aqui no Brasil eles não foram coagidos a deixar o país de volta para Cuba. Também não houve um processo jurídico em que Cuba pedisse oficialmente ao Brasil a “deportação” dos boxeadores. Caso eles tivessem sido coagidos, a palavra adequada teria sido “seqüestro”, não deportação. Como no caso de Universindo Diaz e Lilian Celiberti, os uruguaios presos em Porto Alegre na década de 70 por policiais do DOPS gaúcho e entregues à polícia uruguaia.
Mas nada disso importa: o importante, na nossa mídia conservadora, era caracterizar a “subserviência” do governo brasileiro ao “ditador” Fidel Castro, para bater em três coelhos com uma só paulada: a política externa brasileira, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal.
Os cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara deram a impressão de na verdade não saberem muito bem o que queriam. Sua fuga não pode ser descrita como uma romântica aventura para escapar a uma cruel ditadura. Pareceu mais uma aventura no sentido mais vulgar do termo, e para confirmar, cito o Estadão (insuspeito quanto a favorecimentos a Cuba) de 13 de agosto. Depois de dizer que, aparentemente, os atletas tinham viajado com outros dois desportistas, o jornal esclarece:
“Na verdade o passeio durou dez dias. Não havia outros dois atletas cubanos, mas sim duas prostitutas, segundo depoimentos de gerentes de pousadas e pessoas que viram o grupo circulando entre Niterói e a região dos Lagos”.
Tudo muito diferente da situação de outro atleta cubano, Rafael Capote, da equipe de handebol, que foi o primeiro a deixar a delegação cubana no Rio. Este seguiu para S. Paulo por conta própria, num táxi, procurou depois a Cáritas do Brasil para ter ajuda na regularização de sua situação, e treina com os atletas da equipe do Sâo Caetano. Não consta que o governo brasileiro planeje “deportá-lo”.
Por outro lado, a atuação dos empresários alemães (pelo menos um é cubano de origem) ficou também envolta em mistério. Como conseguiram agir com tanta desenvoltura? Por que conseguiram deixar o país tranqüilamente, sem sequer serem interrogados para esclarecer seu papel neste episódio tão confuso? Por que suas declarações divergem quanto ao local onde ficaram no Rio de Janeiro (ainda segundo a mesma nota no Estadão, pág. A5)?
Nada disso foi levado em conta pelos que queriam apressadamente socar o governo brasileiro. Mas mais uma vez a manobra, pela pressa, acabou não dando certo, por falta de consistência. Houve acompanhamento do caso pelo Ministério Público Federal e pelo presidente da OAB-Rio, que afiançaram terem os dois pedido para voltar para Cuba.
Chegou-se a comparar, num gesto de alopração, o caso dos cubanos ao de Olga Benário, extraditada pela ditadura de Vargas para a Alemanha nazista, na década de 30. Santa demência!
Resta saber, isso sim, se houve alguma coação em Cuba contra a família dos boxeadores. O tempo dirá. Porque investigar, nenhum dos acusadores do governo brasileiro provavelmente vai.
A confusão começou no uso seguido de uma palavra inadequada: “deportação”. Não houve “deportação” no sentido clássico da palavra. Desconheço portaria, decreto, ou algo assim nesse sentido. Houve autorização para que deixassem o país num avião fretado pelo governo cubano. Pelo menos até onde se sabe aqui no Brasil eles não foram coagidos a deixar o país de volta para Cuba. Também não houve um processo jurídico em que Cuba pedisse oficialmente ao Brasil a “deportação” dos boxeadores. Caso eles tivessem sido coagidos, a palavra adequada teria sido “seqüestro”, não deportação. Como no caso de Universindo Diaz e Lilian Celiberti, os uruguaios presos em Porto Alegre na década de 70 por policiais do DOPS gaúcho e entregues à polícia uruguaia.
Mas nada disso importa: o importante, na nossa mídia conservadora, era caracterizar a “subserviência” do governo brasileiro ao “ditador” Fidel Castro, para bater em três coelhos com uma só paulada: a política externa brasileira, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal.
Os cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara deram a impressão de na verdade não saberem muito bem o que queriam. Sua fuga não pode ser descrita como uma romântica aventura para escapar a uma cruel ditadura. Pareceu mais uma aventura no sentido mais vulgar do termo, e para confirmar, cito o Estadão (insuspeito quanto a favorecimentos a Cuba) de 13 de agosto. Depois de dizer que, aparentemente, os atletas tinham viajado com outros dois desportistas, o jornal esclarece:
“Na verdade o passeio durou dez dias. Não havia outros dois atletas cubanos, mas sim duas prostitutas, segundo depoimentos de gerentes de pousadas e pessoas que viram o grupo circulando entre Niterói e a região dos Lagos”.
Tudo muito diferente da situação de outro atleta cubano, Rafael Capote, da equipe de handebol, que foi o primeiro a deixar a delegação cubana no Rio. Este seguiu para S. Paulo por conta própria, num táxi, procurou depois a Cáritas do Brasil para ter ajuda na regularização de sua situação, e treina com os atletas da equipe do Sâo Caetano. Não consta que o governo brasileiro planeje “deportá-lo”.
Por outro lado, a atuação dos empresários alemães (pelo menos um é cubano de origem) ficou também envolta em mistério. Como conseguiram agir com tanta desenvoltura? Por que conseguiram deixar o país tranqüilamente, sem sequer serem interrogados para esclarecer seu papel neste episódio tão confuso? Por que suas declarações divergem quanto ao local onde ficaram no Rio de Janeiro (ainda segundo a mesma nota no Estadão, pág. A5)?
Nada disso foi levado em conta pelos que queriam apressadamente socar o governo brasileiro. Mas mais uma vez a manobra, pela pressa, acabou não dando certo, por falta de consistência. Houve acompanhamento do caso pelo Ministério Público Federal e pelo presidente da OAB-Rio, que afiançaram terem os dois pedido para voltar para Cuba.
Chegou-se a comparar, num gesto de alopração, o caso dos cubanos ao de Olga Benário, extraditada pela ditadura de Vargas para a Alemanha nazista, na década de 30. Santa demência!
Resta saber, isso sim, se houve alguma coação em Cuba contra a família dos boxeadores. O tempo dirá. Porque investigar, nenhum dos acusadores do governo brasileiro provavelmente vai.
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