Laerte Braga
As FARCs (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas) controlam um terço do território daquele país. A outra guerrilha, a última criada por Chê Guevara, o ELN (Exército de Libertação Nacional) controla um quarto do território da Colômbia. O intenso noticiário sobre as FARCs no Brasil se deve à presença da guerrilha próxima a fronteira do território nacional e por conta disso às constantes imputações da imprensa brasileira sobre a pretensa associação entre a guerrilha e o tráfico de drogas.
O que se percebe de imediato, é que a Colômbia é um país dividido, com boa parte do seu território controlado por forças guerrilheiras (ELN e FARCs têm divergências ideológicas e buscam superá-las para unir forças).
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ofereceu-se para mediar um acordo político, vários já foram tentados, entre as FARCs e o governo central de Bogotá. Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, aceitou a proposta e Chávez pôs-se a negociar com os guerrilheiros, principalmente, a libertação de políticos seqüestrados e em poder da guerrilha, dentre eles Ingrid Bettancourt, candidata a presidente daquele país nas últimas eleições.
Registre-se que na Colômbia, a despeito de oficialmente terem entregues suas armas, existem grupos chamados paramilitares, formados por oficiais do Exército, policiais e pistoleiros a serviço do tráfico e latifúndio funcionando como esquadrões da morte, em ação paralela à das chamadas forças oficiais. Atuam junto com os conselheiros norte-americanos, extra-oficialmente para não dar na pinta.
E mais. Um relatório do FBI divulgado em meados do ano passado aponta o presidente Álvaro Uribe como um dos principais beneficiários do tráfico de drogas. Traficantes financiaram sua campanha à reeleição e os paramilitares são ligados a Uribe que pertence ao grupo.
Na Colômbia existe uma clara intervenção norte-americana através dos chamados “conselheiros militares”. Existem pelo menos cinco mil militares “conselheiros” dos EUA naquele país.
As negociações entre o presidente Chávez como mediador, aceito por ambas as partes, iam tranqüilas e com razoável margem de avanços até que, aí o problema, Chávez garantiu ao presidente Sarkozy, da França, que no início de dezembro conseguiria um gesto de boa vontade da guerrilha. A liberação de reféns franceses e da candidata Ingrid Bettancourt, há mais de um ano em poder das FARCs.
Foi o bastante para que o governo dos Estados Unidos determinasse a Uribe que Chávez fosse recusado como mediador entre as partes. Por que? A quem interessa a paz? Quem ganharia com a libertação de Ingrid Bettancourt e as eventuais declarações públicas que viria a fazer na condição de adversária de Uribe e vivendo agora com um guerrilheiro?
Mostrar a realidade de um país sob intervenção norte-americana e governada por um narco traficante no caso Uribe?
Cairia a farsa. Como a GLOBO no Brasil ia poder continuar mentindo sobre ligações de guerrilheiros com o tráfico de drogas?
Presidentes traficantes são comuns na Colômbia e eram comuns na Bolívia até a eleição de Evo Morales. Um deles, boliviano, um general, Garcia Meza, chegou a ser detido no Brasil onde viveu bom período depois de deposto por um concorrente.
Por detrás de toda a retórica do presidente Uribe da Colômbia o que existe é a mentira diante do temor que a mediação de Chávez resultasse positiva e assim desmistificasse toda a crença imposta aos povos do mundo que Uribe é o bem e as FARCs o mal. Típico do protestantismo norte-americano. Bush é o enviado divino, o resto vive sob influência do diabo e é preciso “libertá-los”, nem que seja com bombas, ou ovos podres, tanto faz. Negócio é garantir os “negócios”.
Num momento decisivo para a Venezuela, o referendo do dia 2 de dezembro quando o país deve dar um salto em direção a socialismo, como permitir que Chávez exibisse o trunfo político de libertar reféns que nem o papa conseguiu? E nem vai conseguir nunca é funcionário de Washington e comandante de um pequeno batalhão de SS.
A alegação de Uribe que Chávez está tentando incendiar o continente é mais ou menos como se você estivesse discutindo o vermelho e de repente passasse a falar no amarelo. Não quer conversar sobre o tema central pois não lhe interessa.
O medo real é um só. O do êxito das negociações promovidas pelo venezuelano. Como ir, por exemplo, isso no terreno das hipóteses, para uma eleição geral com participação das FARCs, do ELN no processo? E o risco da vitória da guerrilha?
É preferível continuar com o sacrifício de inocentes, a violência, a barbárie do estado terrorista de Uribe a ter a paz. É prática histórica dos EUA e não seria diferente numa colônia, caso da Colômbia. Pior, os colombianos começam a perceber todo esse enredo mentiroso e farsesco.
E, de quebra, tentar imputar a Chávez essa conversa fiada de incendiar o continente.
São uns artistas na arte de mentir, enganar e seria cômico não existissem tantos corpos estendidos pelas estradas da Colômbia.
Há uma história que ilustra bem isso que aconteceu. Leônidas da Silva, chamado o Diamante Negro (o chocolate é em homenagem a ele), notável jogador de futebol, alguns acham que igual ou melhor que Pelé, ia em direção a área e o juiz, comprado, apitou uma “irregularidade”. Leônidas voltou-se e perguntou a ele: “o que foi? Perigo de gol?
Ao suspender as negociações de paz Uribe cumpriu ordens de Washington e marcou uma falta inexistente por puro perigo de gol. Gol de Chávez. Nesse jogo não interessa esse tipo de gol em favor da paz e do povo colombiano.
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