terça-feira, 10 de julho de 2007

Víctor Jara, o músico das mãos decepadas por Pinochet


O sangrento golpe militar do Chile, em 1973, deixou um saldo de mais de 15 mil mortos, 30 mil prisões e centenas de torturados. Entre as vítimas da barbárie pinochetista, estava Víctor Jara, jovem poeta e compositor de música popular, líder da Nueva Canción - movimento que pertence à estética da música de protesto.


O músico chileno Víctor Jara (1932-1973)

Além de grande e inventivo artista, Jara era militante das Juventudes Comunistas. Em 1970, na campanha de Salvador Allende para a presidência do Chile, realizou recitais em todo o país. São dessa época canções engajadas, como El Manifiesto e La Plegaria de un Lavrador.

Com Allende eleito, Víctor Jara assumiu um papel preponderante no desenvolvimento cultural e político do país. Foi­lhe outorgado o cargo de embaixador cultural do governo da Unidade Popular, que desempenhou de 1971 até à sua morte. Na qualidade de embaixador cultural, levou o seu canto a importantes palcos mundiais.

Em 1972, realizou uma volta musical à União Soviética e a Cuba. Foi convidado, no mesmo ano, para o Congresso de Música Latino-Americana, organizado pela Casa das Américas, em Havana. Em seu regresso ao Chile, dirigiu a homenagem que se fez ao poeta Pablo Neruda depois de este receber o Prêmio Nobel de Literatura.

No dia 11 de Setembro de 1973, durante o golpe militar, Víctor Jara foi detido com um grupo de professores e 600 alunos que se encontravam na Universidade Técnica do Estado. Depois da sua apreensão, foi levado ao Estádio Nacional de Santiago - que os militares utilizaram, naqueles dias sombrios, como campo de concentração.

Jarra não obedeceu à ordem militar de parar de tocar seu violão. Teve assim suas mãos decepadas - e misturou gritos de dor com alguns versos de protesto de sua autoria. Foi o bastante para que um insano militar calasse Jarra com um tiro em sua cabeça, ceifando a jovem vida de um grande talento.

Uma testemunha relata que os algozes, ao cortarem as mãos do músico, lhe teriam dito: "Agora pode tocar violão". Dias depois, sua mulher, Joan Jara, identificou o corpo dele, fuzilado e com as mãos amputadas. No estádio, Victor ainda escreveu seu último poema, no qual transparece toda a sua dor e sofrimento, a um passo da morte, contemplando com profunda tristeza o que acontecia com seu país:

"É este o mundo que criaste, meu Deus?
Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?
Como me sai mal o canto quando tenho que cantar o espanto!
Espanto como o que vivo.
Como o que morro, espanto".

Em 1990, a Comissão Verdade e Reconciliação reconheceu que Víctor Jara foi ferido de morte no dia 16 de Setembro de 1973, no Estádio Nacional de Santiago. Seus restos descansam no Cemitério Geral.

O poema a seguir foi citado no primeiro número da revista da Apropuc, inteiramente dedicado ao músico, poeta e compositor chileno. Segundo a publicação, "essa homenagem se estende a todos os artistas que emprestam ou emprestaram seu talento à luta social, à causa dos trabalhadores e, por esse motivo, foram oprimidos, torturados ou assassinados".

Canto para as Mãos Partidas de Víctor Jara

(Por Pedro Tierra)

Quisera chorar teus dedos dilacerados:
raízes do meu canto subterrâneo.

Quisera chamar-te "Hermano"
como a infância dos rios
lava o rosto da terra,

mas minha boca sangrava
um silêncio de canções amordaçadas.

De tuas mãos se dirá um dia:
geravam pássaros de sangue
como as primaveras da lua.

Tuas mãos,
tristes descendentes das canções araucanas,
tuas mãos mortas,
casa de canções decepadas,

tuas mãos rotas,
últimas filhas do vento,

guitarras enterradas sem canto,
sementes de fuzis,
seara de sangue.

Quisera entregar
minhas mãos inúteis
ao cepo de teus carrascos.


Fontes: Rebelión, Adital e Site da Apropuc


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