Olga incomoda. Ninguém sai do cinema alheio a esse belo filme, baseado na obra-prima de Fernando Morais, que desagradou a imprensa e alguns "formadores de opinião". A crítica cinematográfica ficou incomodada, alguns jornais chegam ao limite de praticamente não recomendar o filme, pela baixa avaliação que lhe dão, em comparação com a quantidade de porcarias holywoodianas recomendadas diariamente.
Olga incomoda porque conta a história pessoal de dois revolucionários. Incomoda saber que militantes comunistas são seres humanos, que amam, que sofrem, que são felizes, que se identificam profundamente com as causas pelas quais lutam, que não buscam nenhuma vantagem pessoal, mas sim a justiça e a solidariedade.
Olga incomoda porque recorda as brutalidades repressivas que se cometeram contra os comunistas, aqui e na Alemanha. Incomoda porque a Alemanha -- país ocidental, branco, protestante, anglo-saxão, capitalista -- foi poupada por Hollywood, apesar de ter feito a pior "limpeza étnica" da história, contra judeus, comunistas e ciganos (e quando Chaplin fez O grande ditador, teve de sair dos EUA antes mesmo de o filme ser lançado). O filme de Rita Buzar e Monjardim recorda o papel que a Alemanha, como potência imperialista, desempenhou no nazismo.
Olga incomoda porque revela a vida de militantes, de gente que optou por entregar o que têm de melhor pela revolução, pela luta anticapitalista. E incomoda -- sobretudo os que vivem de interesses, de lucros, de prestígio, de honrarias, de ganhos imediatos, de poder -- saber que outro tipo de vida e de valores é possível, dedicado a verdadeiros ideais.
Olga incomoda talvez por mostrar Fernanda Montenegro, nossa principal atriz, dando vida à mãe de Luis Carlos Prestes, o mais conhecido dirigente comunista brasileiro.
Talvez incomode ouvir a Internacional, em variados arranjos, inclusive como tema de fundo das cenas de amor dos revolucionários.
É possível que Olga incomode também porque é uma produção de ótima qualidade, apesar de procurar fugir dos cacoetes de estilo norte-americano a que tanto nos acostumam nos cinemas.
Mas sobretudo Olga incomoda porque é um filme que toma posição: é de esquerda -- como o são Diários de motocicleta e as fitas de Michael Moore --, quando nos querem convencer de que isso não existe mais, que apenas os critérios estéticos é que contam. E Olga, além do mais, é um belo filme, humanista, que não poupa os carrascos, que diz as coisas pelos nomes que as coisas têm.
Vejam Olga, apesar do que dizem os jornais, apesar da opinião dos conservadores. Que os jovens saibam, que os adultos se recordem, que todos vejam e julguem, com os seus olhos, os seus sentimentos, sua razão e os seus valores.
Olga incomoda e é bom que incomode, em tempos que parecem pedir a todos que já não se incomodem com nada.
Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de "A vingança da História".
Texto de agência Carta Maior
Olga incomoda porque conta a história pessoal de dois revolucionários. Incomoda saber que militantes comunistas são seres humanos, que amam, que sofrem, que são felizes, que se identificam profundamente com as causas pelas quais lutam, que não buscam nenhuma vantagem pessoal, mas sim a justiça e a solidariedade.
Olga incomoda porque recorda as brutalidades repressivas que se cometeram contra os comunistas, aqui e na Alemanha. Incomoda porque a Alemanha -- país ocidental, branco, protestante, anglo-saxão, capitalista -- foi poupada por Hollywood, apesar de ter feito a pior "limpeza étnica" da história, contra judeus, comunistas e ciganos (e quando Chaplin fez O grande ditador, teve de sair dos EUA antes mesmo de o filme ser lançado). O filme de Rita Buzar e Monjardim recorda o papel que a Alemanha, como potência imperialista, desempenhou no nazismo.
Olga incomoda porque revela a vida de militantes, de gente que optou por entregar o que têm de melhor pela revolução, pela luta anticapitalista. E incomoda -- sobretudo os que vivem de interesses, de lucros, de prestígio, de honrarias, de ganhos imediatos, de poder -- saber que outro tipo de vida e de valores é possível, dedicado a verdadeiros ideais.
Olga incomoda talvez por mostrar Fernanda Montenegro, nossa principal atriz, dando vida à mãe de Luis Carlos Prestes, o mais conhecido dirigente comunista brasileiro.
Talvez incomode ouvir a Internacional, em variados arranjos, inclusive como tema de fundo das cenas de amor dos revolucionários.
É possível que Olga incomode também porque é uma produção de ótima qualidade, apesar de procurar fugir dos cacoetes de estilo norte-americano a que tanto nos acostumam nos cinemas.
Mas sobretudo Olga incomoda porque é um filme que toma posição: é de esquerda -- como o são Diários de motocicleta e as fitas de Michael Moore --, quando nos querem convencer de que isso não existe mais, que apenas os critérios estéticos é que contam. E Olga, além do mais, é um belo filme, humanista, que não poupa os carrascos, que diz as coisas pelos nomes que as coisas têm.
Vejam Olga, apesar do que dizem os jornais, apesar da opinião dos conservadores. Que os jovens saibam, que os adultos se recordem, que todos vejam e julguem, com os seus olhos, os seus sentimentos, sua razão e os seus valores.
Olga incomoda e é bom que incomode, em tempos que parecem pedir a todos que já não se incomodem com nada.
Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de "A vingança da História".
Texto de agência Carta Maior
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