Este clima perdurou nos anos 1980. Naquela época fui entrevistar, num imponente edifício no centro da capital paulista, um alto membro do Partido Comunista. Ele recebeu-me com desconfiança. Questionou porque estava com o livro do imperialista Foster Dulles (Anarquistas e comunistas no Brasil) e como poderia garantir que eu não fosse da polícia. Respondi que esta já estava bem abastada de informações. Argumentei que o desconhecimento favorece o clima anticomunista da caça às bruxas. E, pensei, ele deveria ser inteligente o bastante para falar apenas o que considerasse oportuno. A entrevista foi realizada.
Esta atitude é compreensiva. Vivíamos um tempo onde a insegurança política ainda era intensa. Minha pesquisa, que resultou no livro História das Tendências no Brasil, ainda era tabu. Era uma época onde a delação como arma política assumia a forma de rótulos (afirmar pelos bastidores que tal pessoa pertencia a tal organização política poderia destruí-lo politicamente). Ocorria a espionagem pelos próprios companheiros que, em eventos políticos, observavam quem votava contra a Articulação, com quem andava e quem eram os amigos (uma vez alguém me disse: “Cuidado com fulano, ele é comunista. Não ande com ele”).
Os profetas modernos instrumentalizavam a estupidez dos seguidores. Eram estes, os que faziam o jogo sujo: espionar, caluniar, denunciar. A vítima passava a ser tratada como uma espécie de criminoso político, um traidor. Talvez os líderes, não acreditassem nestas baboseiras, mas não tinham pudor em apoiar tais práticas, desde que correspondessem aos seus interesses políticos. Havia até quem calasse, mas apoiava os acusadores.
Houve também um tempo em que a delação, feita em nome da ética, da moralidade e da legalidade, até pareceu simpática. Na organização burocrática, o delator se apega às filigranas da legalidade para destruir o outro. Além dos dividendos políticos, este recurso resultar na própria exclusão do oponente da organização. Tal prática atinge as idéias e o indivíduo, suas relações pessoais, familiares etc., extrapolando o campo da luta política.
Do ponto de vista da moral – argumento precioso para o delator – tal recurso não deixa o acusador em melhor situação que o acusado. Na verdade, na ânsia de destruir o oponente, o puritano não atenta para a baixeza do seu procedimento; não toma em conta a essência da situação; desconsidera os fatores que levam a pessoa a se insurgir contra a legalidade instituída; não questiona a própria legalidade, como se isto fosse um detalhe sem importância. O alcagüete, quando lhe interessa, adota um discurso de esquerda, antiburocrático e até mesmo questionador do legalismo.
O que está em jogo é a utilização da organização como meio, o controle de determinados cargos ou posições na estrutura burocrática que garantem o uso dos recursos e privilégios e atendem à sofreguidão dos que ocupam a vida em buscar o poder – ainda que adotem a retórica que nega o poder. O dedo-duro almeja passar por paladino da justiça. Eis como a delação assume a auréola da defesa da legalidade e é utilizada como arma que ultrapassa a política.
Mudam os meios, permanecem os fins. O maniqueísta não percebe os demônios que habitam entre nós, nem que, muitas vezes, intentando o bem, fazem o mal. Vale a pena ler Dostoiévski.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Os nossos demônios
A leitura de Os Demônios, clássico de F. Dostoiévski, me fez pensar sobre a alcagüetagem na política. Procedimento muito utilizado no Estado Novo, quando a simples qualidade de opositor assumia ares de comunismo, foi refinado nos anos da ditadura militar. Talvez o exemplo mais cabal seja o Cabo Anselmo. Esta prática contribuiu para dizimar a oposição aos ditadores.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Por que Zurdo?
O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.
Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda. E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.
Vos abraço com todo o fervor revolucionário
Raoul José Pinto
Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda. E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.
Vos abraço com todo o fervor revolucionário
Raoul José Pinto
ZZ - ESTUDAR SEMPRE
- A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
- A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
- A era do capital - HOBSBAWM, E. J
- Antonio Gramsci – vida e obra de um comunista revolucionário
- Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
- As armas de ontem, por Max Marambio,
- BOLÍVIA jakaskiwa - Mariléia M. Leal Caruso e Raimundo C. Caruso
- Cultura de Consumo e Pós-Modernismo - Mike Featherstone
- Dissidentes ou mercenários? Objetivo: liquidar a Revolução Cubana - Hernando Calvo Ospina e Katlijn Declercq
- Ensaios sobre consciência e emancipação - Mauro Iasi
- Esquerdas e Esquerdismo - Da Primeira Internacional a Porto Alegre - Octavio Rodríguez Araujo
- Fenomenologia do Espírito. Autor:. Georg Wilhelm Friedrich Hegel
- Fidel Castro: biografia a duas vozes - Ignacio Ramonet
- Haciendo posible lo imposible — La Izquierda en el umbral del siglo XXI - Marta Harnecker
- Hegemonias e Emancipações no século XXI - Emir Sader Ana Esther Ceceña Jaime Caycedo Jaime Estay Berenice Ramírez Armando Bartra Raúl Ornelas José María Gómez Edgardo Lande
- HISTÓRIA COMO HISTÓRIA DA LIBERDADE - Benedetto Croce
- Individualismo e Cultura - Gilberto Velho
- Lênin e a Revolução, por Jean Salem
- O Anti-Édipo — Capitalismo e Esquizofrenia Gilles Deleuze Félix Guattari
- O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum - Antoine Compagnon
- O Marxismo de Che e o Socialismo no Século XXI - Carlos Tablada
- O MST e a Constituição. Um sujeito histórico na luta pela reforma agrária no Brasil - Delze dos Santos Laureano
- Os 10 Dias Que Abalaram o Mundo - JOHN REED
- Para Ler O Pato Donald - Ariel Dorfman - Armand Mattelart.
- Pós-Modernismo - A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio - Frederic Jameson
- Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
- Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
- Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
- Um homem, um povo - Marta Harnecker
zz - Estudar Sempre/CLÁSSICOS DA HISTÓRIA, FILOSOFIA E ECONOMIA POLÍTICA
- A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
- A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
- A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
- A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
- A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
- A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
- A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
- A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky - Lênin
- A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
- Antígona, de Sófocles
- As tarefas revolucionárias da juventude - Lenin, Fidel e Frei Betto
- As três fontes - V. I. Lenin
- CASA-GRANDE & senzala - Gilberto Freyre
- Crítica Eurocomunismo - Ernest Mandel
- Dialética do Concreto - KOSIK, Karel
- Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico - Friedrich Engels
- Do sonho às coisas - José Carlos Mariátegui
- Ensaios Sobre a Revolução Chilena - Manuel Castells, Ruy Mauro Marini e/ou Carlos altamiro
- Estratégia Operária e Neocapitalismo - André Gorz
- Eurocomunismo e Estado - Santiago Carrillo
- Fenomenologia da Percepção - MERLEAU-PONTY, Maurice
- História do socialismo e das lutas sociais - Max Beer
- Manifesto do Partido Comunista - Karl Marx e Friedrich Engels
- MANUAL DE ESTRATÉGIA SUBVERSIVA - Vo Nguyen Giap
- MANUAL DE MARXISMO-LENINISMO - OTTO KUUSINEN
- Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
- Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
- Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
- O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
- O Caminho do Poder - Karl Kautsky
- O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
- O Que Todo Revolucionário Deve Saber Sobre a Repressão - Victo Serge
- Orestéia, de Ésquilo
- Os irredutíveis - Daniel Bensaïd
- Que Fazer? - Lênin
- Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda
- Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
- Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
- Revolução Russa - L. Trotsky
- Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
- Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
- Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina
ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA
- 1984 - George Orwell
- A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
- A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
- A hora da estrela - Clarice Lispector
- A Leste do Éden - John Steinbeck,
- A Mãe, MÁXIMO GORKI
- A Peste - Albert Camus
- A Revolução do Bichos - George Orwell
- Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
- Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
- Aleph - Jorge Luis Borges
- As cartas do Pe. Antônio Veira
- As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
- Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
- Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
- Contos - Jack London
- Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
- Desonra, de John Maxwell Coetzee
- Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
- Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
- Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
- Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
- Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
- Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
- Ficções - Jorge Luis Borges
- Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
- Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
- Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
- O Alienista - Machado de Assis
- O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
- O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
- O Estrangeiro - Albert Camus
- O homem revoltado - Albert Camus
- O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
- O livro de Areia – Jorge Luis Borges
- O mercador de Veneza, de William Shakespeare
- O mito de Sísifo, de Albert Camus
- O Nome da Rosa - Umberto Eco
- O Processo - Franz Kafka
- O Príncipe de Nicolau Maquiavel
- O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
- O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
- O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
- Oliver Twist, de Charles Dickens
- Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
- Os Miseravéis - Victor Hugo
- Os Prêmios – Júlio Cortazar
- OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
- Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
- São Bernardo - Graciliano Ramos
- Vidas secas - Graciliano Ramos
- VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)
ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA
- A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
- A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
- Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
- EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
- Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
- O Diário do Che na Bolívia
- PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
- Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret
ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO
- Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
- Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
- Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
- Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
- Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
- Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
- Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
- Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
- Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário