Camaradas! Entendo que o Prof. Gilson Caroni Filho, apóia o governo Lula. Mas devemos refletir como a esquerda está atuando. Quando a "esquerda" subestima a inteligência da população e confunde sua ação teórico-prática com a direita, algo vai muito mal no universo da luta da classe trabalhadora e da esquerda em geral. No caso do PSOL, e não é a primeira vez, vejamos a eleição para Presidência da Câmara Federal: os parlamentares do PSOL fizeram a votação mais equivocada-distribuiram votos para o candidato pefelista José Thomáz Nono do bloco PSDB/PFL hoje Democratas, para o candidato Aldo Rebelo do PCdoB-situação, votos nulos, abstenção etc... . Demonstra ser um partido difuso. Caso continue assim, o futuro parece cair no fatalismo do PT. A esquerda tem que reavaliar sua atuação, a concepção de partido-centralismo democrático (ver Lenin); concepção de estado e de nação, soberania. Ter claro que o globalismo não requer o estado nos moldes antigos e muito menos nos moldes neoliberais e não é nada que se pareça neutro, vivemos uma ruptura histórica e temos que retomar o caminho da revolução. ( por Runildo Pinto)
O debate político está interditado pelo “jornalismo-torcida”. O tratamento dado pela grande imprensa às vaias contra Lula no PAN aponta que ela segue firme na tentativa de sabotar o governo.
O prefeito carioca César Maia afirmou que as vaias à Lula tiveram um caráter pedagógico. Tem razão. Deixaram evidente que a grande imprensa, na forma como repercutiu o fato, permanece firme na tentativa de sabotar um governo que, mal ou bem, formulou com êxito um projeto pluriclassista. As pautas não comportam qualquer discussão séria sobre os projetos apresentados pelo atual bloco de poder. O debate político está interditado pelo “jornalismo-torcida”. Só há espaço para o denuncismo que despolitiza. Quem se dispuser a uma análise detalhada do comportamento da imprensa que leia as folhas desde 2003. As vaias são editadas diariamente.
Não há o que discutir tamanha a clareza da aliança dos grandes veículos. Ou quem sabe sua amplitude. Deixando de lado eventuais divergências, a grande imprensa coligada dá ao analista atento a certeza de que o jornalismo é uma atividade secundária, quando não ocasional, nos grandes conglomerados de mídia. A desconstrução da imagem do governo é tarefa imperativa. Nunca a hegemonia de classe se fez tão nítida no interior do campo jornalístico. A informação é um penduricalho tático, nada mais.
É nesse marco que se dá uma operação interessante. A blindagem do bloco liberal-conservador vem acompanhada da concessão de espaço ao moralismo abstrato de uma extrema-esquerda que, como destacou Flávio Aguiar, não suporta avanços que lhe roubem espaços de uma retórica tão obsoleta quanto vazia de projetos. Nesses termos, a vaia no Maracanã mostra o ponto de interseção entre a satisfação de conhecidos colunistas conservadores e a alegria juvenil de quadros do Psol e PSTU. Ambos se complementam em seus fins últimos. O arrivismo da esquerda inviável dá à imprensa a fachada de um falso pluralismo. Em troca, os “socialistas de salão” recebem um recorte simbólico que os tornam palatáveis a expressivos setores de classe média. É o que podemos chamar de legitimação recíproca. Os dividendos são imediatos para as duas partes. Com aplausos garantidos e divisão de espaço no pódio da reação.
Como alertamos há pouco mais de um ano,há quem veja autenticidade em simulações estudadas. Firmeza de convicções em ataques pessoais. E diferencial ético em linguagem vulgar. Para estes, a grande novidade no cenário político continua sendo a agremiação liderada pela ex-senadora Heloísa Helena . Apresentada como alternativa à polarização entre PT e PSDB, a senadora sempre mostrou uma determinação invejável. O manifesto da Frente de Esquerda (PSOL-PSTU-PCB) , que lançou sua candidatura, foi taxativo:
"O povo brasileiro não pode ser condenado a escolher entre Lula e Alckmin, dois candidatos que defendem o mesmo programa neoliberal, a mesma prática política marcada pela corrupção que impera no Congresso Nacional e no Governo. A candidatura de Heloísa Helena é uma alternativa real para o povo brasileiro contra estes dois candidatos apoiados pelos banqueiros. A Frente de Esquerda quer libertar o país das garras do capital financeiro e do imperialismo."
Eram palavras fortes, de indiscutível contundência ideológica, e que sinalizavam para uma candidatura capaz de aglutinar os descontentes com os rumos da política brasileira. Era o que supostamente restou de ético de uma esquerda que se entregou aos negócios. O que sobrou incólume após o suposto desmoronamento do PT, de uma nunca comprovada estrutura de compra de parlamentares e do solapamento das instituições do Estado.
Distintos cidadãos, parecia dizer o documento, o sonho não acabou. Ele ressurgia desde o Quilombo dos Palmares anunciando que "é preciso ousar, é preciso criar o novo, o novo é a frente de esquerda". Será? Ou estávamos vislumbrando uma farsa diversionista, docemente embalada por articulistas conservadores e lideranças políticas de direita?
O comportamento errático da imprensa já não deixava dúvidas. Os principais colunistas dos jornalões "adotaram" HH como referencial de uma esquerda desejável. O padrão operacional se repetia em todos os veículos. Abriram-se espaços para a grita moralista da candidata ao preço de desqualificar o conteúdo programático do partido. Um pacto faustiano que ainda une o esquerdismo inconseqüente a uma mídia em campanha.
Se for verdade que os cálculos políticos de candidatos estão na matriz narrativa que elaboram, o universo simbólico do eleitorado deve estar em consonância perfeita com o discurso.. Sendo assim, para quem falava, e ainda fala, Heloísa Helena? O que prevalece em suas intervenções? A marcação de diferença entre sua candidatura e a de Lula, por exemplo, foi construída a partir de quê? De um debate ideológico de fundo ou de considerações meramente moralistas?
No primeiro caso teríamos uma ação pedagógica no campo democrático-popular. No segundo, apesar das intenções da Frente de Esquerda, uma recorrência discursiva bem ao gosto da direita. E dos editores da pluralidade.
Quando questões políticas são redutíveis a qualidades pessoais ou deformações de caráter a grande beneficiária é a direita. Mais uma vez, Flávio Aguiar alertava que “o eterno moralismo que divide a cena política em” bons “e ” maus “administradores, e assim "naturaliza" as diferenças políticas dos projetos, trabalha sempre a favor daqueles que nada querem mudar”
Nesse caso, a extrema-esquerda fala principalmente aos que "no vale-tudo são capazes, de matar, mentir, caluniar". Fala à parcela moralista e autoritária da classe média urbana brasileira. Aos que oscilam entre a dominação arcaica e o anseio pelo moderno. Aos que procuram ocultar a ideologia de autoridade que norteia sua práxis pela modernidade de alguns engajamentos. Provavelmente, quando jovens, participaram de lutas feministas, movimentos contra o regime militar e manifestações contra o racismo. Isso, no entanto, não elimina os traços ideológicos mais fortes que marcam esse extrato: a recusa da cidadania plena, a incapacidade de distinguir entre o público e o privado e a crença no recurso à força como garantidor da ordem.
Destaque-se, aqui, que isso perpassa, mas não condiciona, sua opção partidária. Tanto pode jogar com o PSDB como apostar no PSOL. O imperativo é que a semântica da Casa Grande permaneça hegemônica. E isso a ex- senadora alagoana e seus seguidores asseguram com destemperos calculados. O ranço autoritário e preconceituoso nada de braçada em suas declarações. E tome vaias redentoras. Lembremo-nos de algumas pérolas ditas no calor da campanha pela ex-senadora alagoana.
"Tenho muitos defeitos para que ele precise usar da mentira para me atingir. Mas não vou bater boca com os empregadinhos ministros do presidente Lula, prefiro esperar para bater boca com o patrão deles.
"Tarso não tem o que fazer porque o governo é incompetente. Não vou bater boca com moleque de recado do presidente. Ele que vá arranjar um trabalho para fazer e me tirar da cabeça dele porque está com idéia fixa com Heloisinha."
De fato, tais afirmações, extraídas da Folha de S. Paulo, em 2006, mas publicadas por toda a grande imprensa, soaram como música para os segmentos mais reacionários da sociedade brasileira. Poucas vezes o exotismo pueril se apresentou com tanta radicalidade. O que o PSOL temia (e teme) é o debate programático. Sabe que se for explícito poderá perder parte da direita que lhe dá sustentação. Irônico o destino de um partido que serve como linha-auxiliar da direita. Mal nasceu e o PSOl precisa ser eclipsado pelos holofotes que lhe são oferecidos na tribuna de honra do retrocesso político.
Há algum tempo, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) já havia alertado para o lado cênico de HH. "Acho que tudo o que faz é milimetricamente estudado. Das roupinhas simplesinhas a postergar seus discursos para aparecer ao vivo na hora dos jornais noturnos e até levar uma sobrinha para ficar desenhando no plenário."
De fato, a senadora já aprendeu métodos de representação. Criou o personagem, montou o figurino e produziu o cabelo. Vive enclausurada num roteiro em que não cabe falar em classes, movimentos sociais e projetos políticos. A estrutura de dominação só comporta, em sua narrativa, categorias como "patifes", "ordinários" e "inescrupulosos". É uma estratégia discursiva que lhe assegura holofotes ocasionais, mas ao preço de uma despolitização deplorável.
Lembro-me que, após o I Congresso Nacional do PSOL, um velho e caro companheiro disse entusiasmado a um grupo de professores: “pelo que vi posso afirmar que, em pouco tempo, seremos o PT de 12 anos atrás”.Engano.Não vai, não. O PT não surgiu com arrivismos, marcado por ações pontuais com o que havia de mais atrasado na direita.
Um dos itens da resolução política do partido de Heloisa afirma que “o cenário político do novo milênio demanda o renascimento do projeto socialista. Tudo que renasce está destinado a trilhar novos caminhos. O novo quadro da luta social assiste à emergência de novos sujeitos sociais coletivos e novas formas de participação na política em sentido amplo”. Os “novos caminhos trilhados” despontam de que maneira? Em aplaudir como “espontânea” uma manifestação em que Lula é vaiado e César Maia ovacionado? É esse o renascimento do socialismo demandado pelo novo milênio? Se for, o primeiro passo é reconhecer a César o que é de César. E, unindo-se a fariseus e herodianos, admitir que a nova esquerda, infelizmente, nasceu tão velha quanto as vaias que aplaude.
Desnecessário discorrer sobre uma eventual armação do alcaide.Há, na internet, vídeos que mostram a vaia sendo encenada.Falar da composição social do público presente à abertura dos jogos só comprovaria o componente classista da manifestação.Até o governador tucano Cássio Cunha Lima reconheceu que as vaias partiram de fração da classe média que jamais votou em Lula.
O júbilo com o constrangimento infligido ao presidente está presente em nove entre dez colunistas e editores. Um conhecido jornalista não esconde o regozijo ao escrever em seu blog que “não há um só brasileiro que não esteja feliz com o que aconteceu neste fim-de-semana. A seleção ganhou a Copa América, o vôlei masculino mais uma liga mundial, o vôlei masculino júnior também foi campeão mundial e no Pan, Diogo Silva foi medalha de ouro no taekwondo. Ou melhor: tem um brasileiro que não tá feliz. Lula. Vocês sabem o porquê.” Não há sequer preocupação em dissimular. O jornalismo não só não oculta para quem torce como deixa claro a que facção organizada pertence.
Mas o que deve ser destacado é a incoerência do repertório da esquerda “ética”. Ou bem canta a “Internacional” nos velhos guetos ou entoa “Cidade Maravilhosa” nos braços do PFL. Estar nos dois coros é um sinal perigoso.Aponta para uma conjuntura de fluidez de princípios e sinais invertidos.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa e La Insignia.
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