Laerte Braga
A manifestação de servidores da Universidade de Brasília defendendo a desocupação da sede da Reitoria com receio dos salários atrasarem é mero pretexto e um setor utilizado pelo reitor corrupto para tentar impedir um dos mais limpos e sérios movimentos de reação à bandalha que toma consta do chamado mundo institucional, da ordem, da lei, mas tudo deles, os donos. O mundo que chamam de real e acreditam ser o ideal. Para eles e os que deixam.
Na cidade mineira de Juiz de Fora, a campanha para a eleição do atual reitor teve caixa dois, esquemas por fora e o eleito perdeu entre os professores e estudantes. Ganhou entre os funcionários e nesse estranho sistema que dá um peso que permite a funcionários decidirem o futuro de uma universidade, virou reitor.
Um descalabro diga-se de passagem.
Participação de funcionários no processo deliberativo? Claro, mas com peso maior que estudantes e professores numa Universidade é ferir de morte o processo democrático que se presume vigente.
Foram poucos os estudantes que ocuparam a Reitoria na Universidade Brasília num primeiro momento. Foram muitos os que foram solidarizar-se com os companheiros e enfrentaram o que de pior há no esquema repressivo – seguranças.
O movimento é apartidário, volta-se contra os desmandos de um Reitor, dá continuidade a um processo de lutas que começou na USP ano passado, hoje estende-se a Universidade Federal de Minas Gerais e busca reencontrar os eixos do movimento estudantil, vanguarda na história das lutas populares no Brasil.
Há um costume que nasceu nas máfias e com as máfias. Quando um integrante de uma organização dessas cai, ou seja, é preso, ou pego em delito, a “empresa” liquida o cara, joga-o à própria sorte. “O Poderoso Chefão III” mostra quando o conselheiro vai e sugere a um mafioso preso “os velhos costumes”. No dia seguinte o mafioso aparece morto numa banheira. Cortara os pulsos.
Juiz de Fora, hoje, foi palco de uma operação que se imaginava impossível, tamanha a rede construída para proteger um prefeito corrupto. Alberto Bejani. A GLOBO na cidade em momento algum fez coro com as várias denúncias de corrupção contra o prefeito. As verbas de publicidade são astronômicas para a cidade.
Hoje jogou o prefeito às feras. Pode ser um incômodo, já não serve mais aos grandes chefões.
O JORNAL NACIONAL, editado e apresentado pelo “general” William Bonner (chefe das forças armadas globais na guerra “decretada pela GLOBO contra a Venezuela), aquele que considera o telespectador algo como Homer Simpson, mostrou o protesto de funcionários no esquema comoção com servidores que podem ficar sem receber (mentira), o que significa que ainda estão tentando salvar a pele do reitor.
Para a categoria de servidores públicos é vergonhoso o protesto em Brasília, é imoral, compactua com a corrupção do reitor e se permitem, os servidores da Universidade, serem usados como instrumento da corrupção.
É lógico. Servidores públicos no País têm sido tratados como marginais. O desmonte dos serviços públicos no Brasil no governo de FHC e as dificuldades enfrentadas no atual governo para recompor o que pode ser recomposto, sem falar nas incoerências muitas vezes do próprio governo Lula, tem sido objeto de luta de vários setores dos serviços públicos.
O de saúde por exemplo. Tivesse o município do Rio empregado as verbas para prevenção e combate à dengue em contratação de médicos, técnicos, o problema hoje seria menor e o número de mortos talvez fosse zero.
Não existe meio termo no caso da Universidade de Brasília. O reitor é corrupto, a corrupção está documentada, logo o reitor tem que deixar o cargo, o movimento é legítimo, limpo e de rara coragem em dias que servidores públicos se voltam contra a luta popular.
É conseqüência do peleguismo que grassa em boa parte do sindicalismo brasileiro. Ser sindicalista em muitos lugares significa ter um bom emprego e ser conivente com governos (em qualquer instância) com todo esse processo podre e corporativo que permeia o mundo institucional. Os servidores públicos municipais de Juiz de Fora que o digam.
Nas lutas populares o que é legítimo não precisa ser legal, pois o legal foi montado para que máfias como bancos, ARACRUZ, QUEIROZ GALVÃO, SAMARCO, o grande conselho FIESP/DASLU possam mandar e desmandar, montar e desmontar.
O movimento dos estudantes em Brasília tem cheiro e determinação de coragem, dignidade e bravura diante de um mundo chamado da ordem e da lei onde juízes são presos por concederem liminares para prefeitos pegarem propinas (eles também), ou vão a congressos promovidos por bancos para discutirem juros bancários.
E onde a Corte Suprema, presumivelmente de Justiça dá garantias a plantadores de arroz que invadem e ocupam terras indígenas.
Não há saída nesse mundo e a ocupação da UnB é um passo à frente na luta popular.
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