Grupos empresários de comunicação organizam reunião em Caracas; já Hugo Chávez convoca encontro para denunciar o "terrorismo midiático", condição necessária do terrorismo militar e econômico, segundo o documento final assinado por intelectuais e jornalistas de 14 países
Cláudia Jardim
Correspondente do Brasil de Fato em Caracas (Venezuela)
“ Lá na praça estão os donos dos meios de comunicação dizendo que aqui não há liberdade de expressão. Realmente, eles têm razão, não há liberdade, porque nós, o povo, não temos vez nos jornais deles. Então, é a liberdade de quem que eles estão defendendo?”, o questionamento de Maritsa Carrillo marcava o tom do Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático realizado em Caracas na semana passada.
Conhecido por ter sofrido um “golpe midiático” em 2002 e por ter determinado o fim da concessão do canal de televisão privado RCTV em 2007, o governo da Venezuela promoveu o encontro para fazer frente à reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) organização que o presidente Hugo Chávez considera como o “braço do imperialismo na comunicação”.
Os intelectuais e jornalistas de mais de 14 países que participaram do encontro utilizaram a recente crise diplomática que afetou a região andina e a “campanha em contra” do acordo humanitário na Colômbia, para denunciar que as empresas de comunicação transnacionais utilizam “informações falsas para realizarem uma agressão massiva e permanente contra os povos e governos que lutam pela paz, a justiça e a inclusão", afirmou a "Declaração de Caracas”, emitida ao final do encontro.
O documento afirma que o “o terrorismo midiático é o primeiro passo e condição necessária do terrorismo militar e econômico” e responsabiliza a administração do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pelo o que consideram como uma sistemática agressão contra os meios de comunicação alternativos, populares e comunitários.
A Declaração aponta a SIP - que congrega os donos dos principais jornais da América Latina – e a organização Repórteres Sem Fronteiras como instrumentos de "falsificação da realidade e na difamação globalizada".
Visões antagônicas
A cobertura dos dois eventos também revelou a intensidade da guerra vivida entre Estado e meios de comunicação privados. Na tela do canal de televisão estatal – que transmitia o Encontro contra o Terrorismo – o jornalista brasileiro Beto Almeida – integrante do conselho editorial do jornal Brasil de Fato – propunha a realização de uma Cúpula de Chefes de Estado para discutir o problema do “terror” das mídias. Enquanto isso, no canal privado Globovisión – encarregada da transmissão ao vivo das discussões da SIP –, o representante da Associação Nacional de Jornais se solidarizava, “em nome de todos os brasileiros” com a imprensa venezuelana.
A partir de um luxuoso hotel localizado na Praça Altamira, símbolo da oposição venezuelano, a SIP “resolve condenar as violações por parte do lado governo (Hugo) Chávez aos direitos humanos dos jornalistas, trabalhadores dos meios de comunicação e as constantes ameaças intimidantes (...) contra jornais, a radio e a televisão independentes”, indicou o organismo.
Enquanto a SIP criticava os governos de Cuba, Venezuela e México (o último pela morte de jornalistas) do lado de fora, uma manifestação com teatro de rua organizada pelo outro encontro representava “a manipulação e lavagem cerebral” promovida pelos meios de comunicação. Na representação, o prêmio “Augusto Pinochet de jornalismo independente” foi “disputado” pela CNN e Globovisíón e El Tiempo de Bogotá ficou com a condecoração de “Narcojornalismo”.
Mas os venezuelanos afiliados à SIP tampouco saíram satisfeitos de seu encontro. Seus colegas de grêmio decidiram suavizar a referência que fazem ao governo venezuelano. Decidiram mudar o termo “regime” – utilizado pela oposição venezuelana - e voltaram a empregar a qualificação “governo” da Venezuela em suas declarações. “O cortês não elimina o valente”, justificou Danilo Arbilla, representante dos jornais do Uruguai.
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