(Frei Betto)
O Editorial no primeiro momento, questiona as condições de uso dos produtos de mercadorias, tanto no capitalismo como na sociedade socialista, estabelecendo o critério das necessidades, descolando a construção da nova sociedade dos princípios humanitários e solidários, da ética; como se não estivessem implícitos e/ou explicita presença nessa construção, como se o processo fosse puramente economicista, quando afirma: “...o consumo desmedido tornou-se o objeto e o sentido da vida humana..”. Confirmando o raciocínio do autor condicionado à idéia burguesa da regulação e do mercado, isto é; pensa na lógica capitalista.
No segundo momento, a visão do editorial mantém o condicionamento burocrático das idéias, sobre o planejamento da sociedade socialista, ainda baseada na concepção de que o povo dá o poder “a alguém-classe social...etc...”, se abstendo da mente que o poder é ganho por uma determinada classe que o ascende. A compreensão que deve dar-se sobre a organização revolucionária é que essa deve emergir na dinâmica dos movimentos sociais, do âmago desses a habilitação do organismo de vanguarda. Assim, não o povo, mas a classe emergente não dá poder a ninguém, a detém, o conquista e adquire sua emancipação.
Simplificar a questão colocando a democracia como um conceito universal., plantando a idéia que este conceito engloba a todos os cidadãos (sem distinção de classe) de uma país, à obrigação política horizontal e solidária entre seus membros é equivocada ou intencional o alcance dessa reflexão que o editorial quer dar. Esconde a luta de classes e universaliza o conceito burguês de democracia, quando reúne no máximo a consulta, o debate e a votação e escamoteia a dominação de uma classe sobre a outra, no caso do capitalismo a ditadura burguesa.
Portanto, a realidade que nos afronta com a políticas neoliberais que permite o vale-tudo ao mercado, as intervenções do império norte-americano na administração de seus interesses no mundo de forma cada vez mais autoritária e belicista e como exemplo destas concepções faz patente no Rio Grande do Sul, o (des)governo Yeda Crusius, à prática dos negócios lucrativos com os bens do estado em beneficio das corporações empresariais e para isso se manter, há que conter os de baixo, os movimentos sociais quanto mais organizados maior a repressão, como o caso do MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Essa conduta da classe burguesa exacerbada, é operada: ora, veladamente (seja no ambiente de trabalho ou no convívio social, seja na força da lei); ora, usa artifício do constrangimento como pratica de cooptação; ora, com medidas explicitamente violentas.
Cabe, então, reproduzir o artigo e os comentários que os Camaradas Grisa e Runildo fizeram quando foi veiculado o editorial em questão.
Editorial:
O desafio do exemplo
12-Mai-2008 - Correio da Cidadania |
O capitalismo é um sistema de produção de mercadorias. Comparada com os milhares de anos em que a economia foi organizada para produção de bens de uso, a produção de mercadorias é bem recente (800 anos). O socialismo propõe que a humanidade volte a organizar-se para a produção de bens de uso. Para a imensa maioria das pessoas, é difícil imaginar como isso se fará em sociedades complexas, cujas necessidades (reais ou artificialmente criadas) aumentaram enormemente e nas quais o consumo desmedido tornou-se o objetivo e o sentido da vida humana. Regrediremos à época das comunidades tribais? Os socialistas respondem: "Pelo contrário, nossa proposta é a construção de uma sociedade mundial, na qual a economia seja planejada. Por meio do planejamento será possível levantar as necessidades, hierarquizá-las, priorizá-las e distribuir a produção segundo critérios de equidade". A fundamentação técnica desse discurso não apresenta maiores dificuldades, ainda mais na era da computação e da internet. Ora, os exemplos concretos não corroboram o discurso socialista. As experiências socialistas mais relevantes de economia planejada centralmente - Rússia, China, Cuba e países do leste europeu - apresentaram resultados ambivalentes, pois, apesar dos aspectos muito positivos, tanto no plano econômico quanto no plano da democracia social, o preço pago foi superior ao que a maioria das pessoas está disposta a pagar. A crítica maior não diz respeito principalmente às restrições ao consumo, que o planejamento impôs à população nos países socialistas, mas sim à forma pela qual o Estado socialista decidiu o que deveria ser produzido e como a produção deveria ser distribuída. O que a maioria teme - e com razão - é o arbítrio do Estado no planejamento econômico e, portanto, a interferência exagerada na sua liberdade de trabalhar, mover-se e decidir sobre sua vida. Isto nos permite tratar o problema em um plano mais geral e mais profundo: como devem ser tomadas as decisões no regime socialista? Se os socialistas que ainda alimentam a esperança de reconstruir o socialismo quiserem ter êxito, precisam somar ao seu discurso exemplos de processos decisórios democráticos. Caso contrário, enredar-se-ão num círculo vicioso inextricável: a idéia não avança por falta de exemplos; como não avança a idéia, não pode haver exemplos. A superação desse círculo vicioso depende apenas dos socialistas. Nada os impede de dar, aqui e agora, o exemplo que falta para convencer as pessoas de que o socialismo pode ser democrático. Basta que organizem, no âmbito interno de seus partidos, processos transparentes de decisão a respeito das posições a adotar nas questões constantes da pauta política do país. Nesse plano, militantes e dirigentes são autônomos e não dependem de ninguém senão de si próprios para organizar processos decisórios baseados na consulta prévia a cada um dos membros do partido. Portanto, processos que possibilitem a participação democrática de todos, sem exceção, tanto no debate quanto na votação para estabelecer a vontade da maioria. Nunca é demais lembrar que o partido revolucionário deve prefigurar, na sua vida interna, as grandes linhas da organização social que pretende instaurar se o povo vier a lhe dar o poder. O exemplo da democracia interna vale mais do que mil discursos. Comentários:
Ninguém fala em ditadura Burguesa!
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