sexta-feira, 23 de maio de 2008

Entrevista de Ênio Bacci para o Conversa Afiada


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21/05 - 18h20

O deputado federal Ênio Bacci (PDT-RS) disse em entrevista ao Conversa Afiada nesta quarta-feira, dia 21, que a governadora Yeda Crusius sabia dos desvios de verbas do Detran-RS. Uma CPI da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul investiga o desvio de R$ 44 milhões do órgão.

Bacci, que foi secretário de Segurança Pública no governo do Rio Grande do Sul entre 1º de janeiro e 11 de abril de 2007, disse que avisou a governadora do esquema de corrupção no Detran-RS.

“Eu alertei a governadora que havia irregularidades e que a conseqüência disso foi a retirada do Detran da Secretaria de Segurança e também em questão de um ou dois meses depois a minha exoneração”, disse Bacci.

Segundo Bacci, a própria governador Yeda Crusius já admite ter sido avisada por ele sobre a corrupção no Detran-SP. “Olha, isso já está evidente, claro. A própria governadora diz que eu lhe informei, só que ela alega que eu tenha prevaricado, porque eu que tinha essa informação teria que montar um expediente”, disse Bacci.

Leia a íntegra da entrevista com o deputado Ênio Bacci:

Conversa Afiada – Em primeiro lugar, eu queria perguntar para o senhor sobre as declarações do senhor à CPI da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que investiga o desvio de R$ 44 milhões do Detran. O senhor disse que a Governadora Yeda Crusius já tinha conhecimento desse desvio de verbas, deputado? É isso?

Ênio Bacci – Isso já é tranqüilo, já não há mais nenhum tipo de dúvida porque a própria Governadora, numa entrevista que deu hoje, ela confirma que, realmente, recebeu algumas informações, só que ela acrescenta que podia fazer ou solicitou que eu fosse avante nessas investigações. Curiosamente, quando eu assumi a Secretaria de Segurança, recebi uma avalanche de denúncias e irregularidades do Detran, de uma quadrilha que desviava recursos e disse à Governadora que a minha política seria de tolerância zero. Bandido tem que ser preso e enfrentado, seja ele bandido pequeno ou bandido grande. E o pior bandido é aquele que está dentro do governo, dentro das corporações. A Governadora, disse a ela: há irregularidades no Detran, nós precisamos fazer uma limpa no Detran. Qual é a atitude da Governadora? No dia seguinte, determinou que eu não fizesse nada no Detran porque o Detran sairia da competência da Secretaria de Segurança e iria passar à competência de outra secretaria. Foi para a Administração. Imaginei que lá a Governadora avançasse nas negociações daquilo que eu disse. E o que ocorreu? Eu acabei sendo exonerado porque não abria mão do enfrentamento da bandidagem. E a questão Detran se prolongou até a ação da Polícia Federal, que prendeu e denunciou 44 pessoas.

Conversa Afiada – Deputado, o senhor está dizendo que a Governadora impediu o senhor, na Secretaria de Segurança Pública, de investigar o escândalo do Detran?

Ênio Bacci – Olha, isso pode ser uma presunção do que aconteceu. O que eu posso dizer, em nome da verdade, sem nenhum tipo de dúvidas, é que eu alertei a governadora que havia irregularidades e que a conseqüência disso foi a retirada do Detran da Secretaria de Segurança e também em questão de um ou dois meses depois a minha exoneração.

Conversa Afiada – Agora, a exoneração do senhor foi teve que justificativa?

Ênio Bacci – A governadora justifica que eu não era assíduo a uma ou duas reuniões que ela havia me convidado, mas eu estava no combate à criminalidade e também ao fato de eu fazer a transferência de alguns delegados de polícia e esses delegados acabaram indo para a imprensa e questionando porque não queriam ser transferidos e a governadora, dessa forma, dentro da autonomia que tem, resolveu me exonerar. Eu acredito que isso seja apenas a conseqüência de um trabalho forte que tinha 95% de aprovação dos gaúchos, porque pela primeira vez a gente via polícia na rua e via o bandido temeroso de uma ação forte contra a bandidagem.

Conversa Afiada – Deputado, eu soube que o senhor esteve no Ministério Público do Rio Grande do Sul aí em Porto Alegre, não é isso?

Ênio Bacci – Exato e tive agora com a promotora que cuida do patrimônio público aqui no Rio Grande do Sul, bem como o promotor, a Dra. Luciana Maria Ribeiro Alice e o Dr. Eduardo de Lima Veiga, levando a eles documentos que comprovam diversas ilicitudes, irregularidades, dentro do Dentran. Algumas eu já tinha recebido quando lá estava e outras vieram posteriormente à minha saída: contratos de segurança, imagine, o prédio da segurança tem uma empresa privada cuidando da guarita, ao invés de colocar ali policiais militares, ao custo de R$ 2 milhões por ano. Uma empresa que limpa as delegacias e ganha R$ 6 milhões por ano e nenhuma delegacia que se saiba recebeu visita da empresa para limpa-las. Então, é no mínimo estranho que se gaste dinheiro desse jeito, quando o governo diz que não tem dinheiro para investir na saúde e na segurança. E tem também contratos de veículos locados pelo Detran, que eu vi agora, a cerca de um mês atrás, contratos de veículos a R$ 12 mil por mês, um Marea locado por R$ 12 mil por mês. Doze veículos durante o ano locados a R$ 500 mil por ano. Então é uma farra de com o dinheiro público, que pode até não ser crime, mas que é uma falta de ética e um desrespeito com uma população que não tem os serviços essenciais.

Conversa Afiada – Quer dizer que a gente pode dizer com tranqüilidade que o senhor avisou a governadora sobre isso enquanto o senhor era secretário e que ela retirou de suas mãos a investigação?

Ênio Bacci – Olha, isso já está evidente, claro. A própria governadora diz que eu lhe informei, só que ela alega que eu tenha prevaricado, porque eu que tinha essa informação teria que montar um expediente, só que eu tinha que informar a minha superiora porque era uma questão de governo isso. Isso poderia desestabilizar o governo para que ela desse os rumos do que fazer. E eu não tive tempo, porque eu estive lá durante 90 dias e o Detran esteve sob o meu comando apenas até o dia 09 de fevereiro. A partir dali o Detran não era mais ligado à Secretaria de Segurança. Então, a governadora não nega que eu estive junto à governadora e que eu informei a ela, quando num primeiro momento negava. Então isso já é um sinal de que onda há fumaça pode haver fogo.

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