por Runildo Pinto - 14/11/2015
A mídia burguesa contra-ataca ao atentado
coordenado em Paris, aponta seus projéteis mais certeiros de forma tão
criminosa e covarde quanto os ataques ao Bataclan e demais lugares atingidos
pelo horror na cidade luz. A mídia quer passar a ideia de que é uma guerra, é
uma ataque entre os bárbaros (Estado Islâmico, Al Qaeda, Síria, Líbia, Iran,
Iraque, etc...), enfim, o "mundo árabe" e civilizados (EUA, França,
Alemanha, Inglaterra, Arábia Saudita). Não se iludam e não se enganem! O Estado
Islâmico assumiu o atentado e essa questão é muito mais profunda do que a mídia
faz parecer, não é uma guerra entre bons e maus. O envolvimento da União
Europeia, através da OTAN em aliança com os EUA, Israel e Arábia Saudita, vai
além dessa cantilena maniqueísta, configura uma ação do terrorismo de Estado,
disfarçados de donos de um caráter civilizatório e democrático.
O ponto nevrálgico oculto pela imprensa
corporativa conivente com os governos da França, Inglaterra, Alemanha e EUA,
tem o objetivo de fazer a grande massa de trabalhadores do mundo a acreditar
que não há envolvimento destes Estados e que são o suprassumo da liberdade e da
democracia. Vamos clarear a questão, enganam-se o senso comum, mas a verdade
tem que ser evidenciada e, é fato, quem criou a Al Qaeda, o Estado Islâmico e
tantos outros grupos foram os EUA com o objetivo de desestabilizar e depor
governos, com apoio político e operacional da União Europeia, em intervenções
diretas da OTAN e voluntariamente principalmente da França, Inglaterra e
Alemanha.
Os atentados são formas extremas de ação movidas
pela revolta e pela impotência diante das ingerências poderosas e predatórias
promovidas pelos saques dos EUA e da União Europeia sobre a economia dos países
da Oriente Médio e norte da África, trazendo desolação, miséria, desprezo, destruindo
culturas e provocando primeiro divisão e depois conflitos mortais entre etnias,
nessa região, principalmente a países que tradicionalmente não se alinham de
forma submissa aos interesses dos EUA e UE. A UE, pretende tirar proveito da
ave de rapina do maior Estado terrorista do mundo, os EUA, por conta da
fragilidade do euro, da crise econômica na Europa.
O império norte-americano que garante o poder em
seu território à burguesia armamentista, isto é: a indústria armamentista,
precisa manter, o mundo em guerras, já que suas reservas de petróleo e água
estão esgotadas. Abrimos um parênteses aqui, para dizer como a água será
motivação para novas guerras a médio prazo, agora na América Latina, e não é
por menos as bases militares dos EUA, prioritariamente na Colômbia amazônica,
Peru e Paraguai, e dos últimos investimentos em duas superbases militares na
Colômbia e Peru que dão condições para as mais modernas e poderosas aeronaves
militares aterrissarem. Quanto ao petróleo na América Latina fica reservado, o
Brasil com o Pré-Sal. Portanto, os EUA está, também, com um olho na América
Latina, não é por menos que ameaçam, a pretexto, invadir a Venezuela
bolivariana, fecha parênteses.
Voltemos aos atentados em Paris com uma pergunta:
por que Paris? E não, Berlim e/ou Londres? Essa pergunta tem que pairar sobre a
cabeça do mundo, uma desafio para a humanidade, gritar pela voz dos
trabalhadores, pelo internacionalismo proletário do mundo todo, como a única
classe que pode reivindicar luta e fazer frente contra o capitalismo.
Em Paris, sim, pairou a desgraça e consequência
engendradas por políticas historicamente construídas pela França no norte da
África, principalmente no Marrocos e Argélia, mas essa ingerência tem um
caráter predatório muito amplo na região até o Oriente Médio, a França ainda
disputa economicamente e politicamente a região. Uma luta de influencia com os
EUA, esse espaço deixado por estes, a França ocupa sem colocar em risco a
aliança militar. Não é somente uma disputa comercial, vai muito além. Pode-se
ver que é uma pratica política de interesses espúrios, oportunista e fonte de
conflitos de dimensões incalculáveis, no contexto geopolítico do Oriente Médio
e África, que permeia o tecido da população local e principalmente dos grupos
fundamentalistas religiosos e que foram criados e manobrados pelos interesses
de ambos, França-EUA, e deixados de lado depois de usados, a esmo em um
contexto político regional fragmentado, por inúmeros interesses políticos
étnico religioso contraditórios. O alvo foi Paris, e não Londres e/ou Berlim
porque a necessidade histórica Francesa dada pela cartilha de Charles
D"Gaulle é seguida por Hollande, manter uma influência política na região,
e que projete polpudos negócios principalmente na área da indústria bélica. A
saber, a França é o alvo por fatores factuais históricos, políticos e econômicos,
de se manter na região dividindo e apoiando ações que enfraqueça a identidade e
autonomia dessas duas regiões. O apoio a Saddan Hussen e o descontentamento com
o acordo nuclear com o Iran mostram como a França, disputa o norte da África e
Oriente Médio.
A conjuntura orienta o caldeirão de guerra do
Oriente Médio depois de sua guinada para o norte da África, em um conflito
duradouro, se amplia acordos e/ou desacordos de interesses para o leste Europeu
e à América Latina. E será complicado para quem não perfilar, não se alinhar as
políticas e negócios econômicos dos EUA e a UE.
No Brasil, a mídia mais exaltada, a Rede Globo,
na voz do ancora do Jornal da Globo, o Sr. William José Waack, na noite de 13
de novembro, espumava seu ódio contra árabes e africanos, fazendo uma apologia
a democracia burguesa no ocidente, dando aos EUA e a França status de nações
que desenvolveram um alto nível civilizatório e respeito humanitário, de
justiça e liberdades democráticas na Terra. Se acreditarmos nestas vis palavras
delirantes pela raiva, realmente estaríamos assumindo a mediocridade como forma
da barbárie se manifestando na sociedade. Tais argumentações mostram de forma
explicita o quanto a burguesia brasileira é uma burguesia subalterna do capital
internacional, por isso gerou uma classe média infame. Como disse Marilena
Chauí: "a classe média brasileira é uma abominação política, porque é
fascista. É uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação
cognitiva, porque é ignorante". Esse é o contexto da política brasileira,
cria o horror e o medo como forma de prostrar a sociedade e a elite se mostrar
como isenta de responsabilidades sobre o que acontece dentro do Brasil e fora
dele.
O sangue de Paris escorreu sobre o assoalho do
mundo entre os maus e os bons, não sobrou nada, fica o corte? A obliteração
mítica, que não vai além desse maniqueísmo neopositivista e irracional dos
interesses neoliberais. Espero que depois de tantos atentados terroristas, a
sociedade vítima de tais crueldades sistêmicas, não se alie aos governos
hipócritas, a essa repetição aponte para um outro lado, o lado da desconfiança,
porque os governos e a mídia blindam tão perfeitamente os fatos e as origens de
tamanho ódio de tal forma que fique mais no interior de cada cidadão, é isso
que governos e a mídia fazem, apartam os fatos dos interesses econômicos do
capital, da política e inculcam, recalcam no inconsciente coletivo uma lógica
perversa inócua, apagando os traços, o corte real da natureza dos fatos,
prevalecendo o medo na população e reconstituindo o poder coercivo do Estado
sobre a sociedade, se reposicionando de forma neutra e como defensor supremo da
sociedade democrática. Triste fantasia! Que se aguce o senso critico,
descobriremos que a crueldade maior é a falta de capacidade da África e do
Oriente Médio reagir, resistirem e fazerem frente contra os interesses do
capital, por duas claras ações dos imperialistas: a primeira é a conivência das
elites de cada país da região através de seus governos. A segunda: aqueles que
se recusam conciliar, o poder militar dos EUA e UE os depõem à força colocando
títeres governantes a serviço do grande capital, como foi no Iraque e na Líbia.
Assim caminha a humanidade. Enquanto isso vemos uma época onde neutros,
apolíticos e apartidários colocados nas suas cômodas prateleiras do mercado,
dizendo que não tem nada a ver com isso. Mas, a realidade, não tarda a hora,
delineia desdobrados movimentos com direção certeira, vem para atingir suas lentas
romarias de alienação.
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