Por MAXIMILIEN ARVELÁIZ*
Quando
amanheceu o dia 8 de outubro, os venezuelanos puderam se sentir
orgulhosos. Nosso sistema eleitoral, automatizado e seguro, foi
respeitado por governo e oposição, acompanhado por entidades e
personalidades internacionais e considerado o melhor do mundo pelo
ex-presidente americano Jimmy Carter.
Nossa
população, numa demonstração de consciência e politização,
compareceu em massa às urnas desde a madrugada até que votasse a
última pessoa na fila, já de noite. Alcançamos mais de 80% de
participação do eleitorado em um país onde o voto não é
obrigatório. Não se pode ignorar: a Venezuela é exemplo de
democracia para o mundo.
Diante
de tudo isso, constrange a forma com que os meios de comunicação
internacionais, dentre os quais os brasileiros têm relevância,
custam a enxergar a existência de uma democracia consolidada na
Venezuela.
Seja
por puro desconhecimento da realidade do nosso país, seja em união
a uma campanha internacional contra os avanços da revolução
bolivariana, a mídia privada brasileira fez uma cobertura
desequilibrada do processo eleitoral no país.
É
claro que utilizo aqui o recurso da generalização. Mas, numa
leitura rápida das notícias, salta aos olhos o apoio deliberado da
mídia pela oposição e a tentativa sistemática de deslegitimar o
processo revolucionário em curso na Venezuela.
Grande
parte das reportagens e editoriais priorizou ressaltar as críticas
ao governo Chávez, deu exagerada importância a uma minoria de
pesquisas que apontavam o empate ou a vitória de Henrique Capriles e
ainda alardeou um caos político que viria da não aceitação do
resultado das urnas por parte do governo, supostamente, "ditatorial"
de Chávez.
Ainda
mais graves foram as teses que tentavam buscar explicações para os
mais de 8 milhões de votos a favor da reeleição de Hugo Chávez,
como se não fosse nada menos do que natural a vitória do candidato
que proporcionou uma série de mudanças positivas na vida dos
venezuelanos, tendo reduzido à metade a pobreza extrema nos últimos
13 anos.
O
favoritismo de Chávez foi creditado primeiro a um "populismo"
do presidente "caudilho" e depois ao suposto uso da máquina
pública e abuso de tempo de propaganda televisa. Tal análise,
elitista e preconceituosa, pressupõe que a população, passiva e
despolitizada, troca votos por casas, comidas e eletrodomésticos --o
que é facilmente desconstruído com uma visita ao país.
Mais do
que comparecer às urnas toda vez sempre (entre eleições e
referendos, já aconteceram 16 pleitos desde que Chávez chegou ao
poder), os venezuelanos, incentivados pelo presidente Chávez,
constroem a cada dia mecanismos de participação direta na vida
política do país.
O mais
importante deles são os Consejos Comunales, microgovernos
construídos no interior das comunidades, compostos e geridos por
moradores. Se há um povo despolitizado e passivo, não é o nosso.
A
liberdade de expressão, imprescindível na democracia, também é
facilmente constatável. Os principais jornais da Venezuela hoje, o
"El Nacional", o "El Universal" e o "Últimas
Noticias", são claramente simpáticos à oposição e circulam
sem qualquer censura ou boicote. Quadro similar se dá na TV e no
rádio.
O
que não foi divulgado em quase nenhum meio de comunicação
internacional é que Capriles, cuja família é dona de uma cadeia de
comunicação, teve, segundo estudo do Centro de Análise e Estudos
Estratégicos Aluvión, mais tempo de propaganda eleitoral na
televisão privada do que Hugo Chávez. A propaganda do presidente
ocupou apenas 12% do tempo nos meios privados. A do candidato da
oposição, 88%.
Vencer
o desconhecimento sobre o que ocorre na Venezuela é hoje nosso maior
desafio. Por isso, transmito o convite feito pelo presidente Hugo
Chávez em coletiva de imprensa aos meios de comunicação nacionais
e internacionais logo depois de votar: "Aos que queiram ver uma
democracia pujante, sólida e madura, venham à Venezuela".
Torço para que venham livres de preconceitos e dispostos a enxergar
as verdadeiras razões pelas quais Hugo Chávez foi reeleito com
55,25% dos votos.
*MAXIMILIEN
ARVELÁIZ, 39, é embaixador da República Bolivariana da
Venezuela no Brasil
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