Clique na imagem abaixo para ler o texto "O que é Revolução":
, por Florestan Fernandes
Este pequeno livro "O que é Revolução", não pretende ser um equivalente doutrinário sintético do ABC do Comunismo. É uma tentativa de colocar em termos elementares as bases de uma reflexão política sobre a revolução proletária concebida como uma atividade coletiva do proletariado.
Uma bibliografia, neste caso, deveria abranger tudo o que ficou ignorado, o que criaria um fardo negativo ou demasiado pesado para o leitor comum. No decorrer da exposição foi mencionado um ou outro livro, uma ou outra leitura. Recomendaria ao leitor que aproveitasse as pistas indicadas, especialmente que lesse o livro de Victor Serge e completasse esta experiência com o estudo do livro de L. Trotski sobre a Revolução Russa.
Dentro da linha expositiva adotada, faria fincapé nas obras de Kar! Marx: e Friedrich Engels. O leitor poderia tomar a coletânea publicada por Edições Sociais, sob o título de TEXTOS (São Paulo,
1975, 1976 e 1977) e lançar-se avidamente sobre alguns trabalhos. Um primeiro grupo de leituras deveria abranger o Manifesto do Partido Comunista (vol. 3, pp. 7-51), a "Mensagem do Comitê Central à Liga dos Comunistas" (idem, pp. 83-92) e o ensaio clássico de Engels, intitulado Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientffico (vol. 1, pp. 5-60). O segundo grupo de leituras deveria ser dedicado a um exercício que faz falta mesmo a marxistas treinados, seja como "profissionais da revolução", seja como teóricos do "modo de produção": os ensaios devotados à explicação das revoluções do século XIX. Seria bom começar comA Guerra Civil na Fran{a (vol. 1, pp. 155-219), passar por As Lutas de Classes na Fran{a de 1848 a 1850 (vol. 3, pp. 93-198) e por O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte (idem, pp. 199-285), completando pelo famoso estudo de F. Engels As Guerras Camponesas na Alemanha (São Paulo, Editorial Grijalbo, 1977). Essa soma de leituras permitirá chegar à "natureza íntima" da revolução proletária - como ela nasce, se desenvolve e poderá atingir seu apogeu na sociedade capitalista. Com a vantagem de tomar-se, em profundidade, a relação do proletariado tanto com a revolução burguesa em ascensão, quanto com o "terrorismo burguês" e a reação do capital.
Para ampliar o horizonte político do leitor e saturá10 com os temas que dizem respeito à crítica marxista do "oportunismo", do "gradualismo" e do "reformismo" e, ao mesmo tempo, às vias concretas da revolução, indicaria cinco leituras fundamentais. Primeiro, um brilhante ensaio de Rosa Luxemburgo, contido em RefOrma ou Revolu{ão? (São Paulo, Editora Flama, 1946, pp. 9-96) e o pequeno livro doutrinário de Kar! Kautski, O Caminho do Poder (São Paulo, Editora HUCITEC, 1979). Trata-se do verdadeiro debate marxista: o que deve prevalecer - a conciliação ou a luta de classes, voltada para a conquista do poder pelas classes trabalhadoras? Segundo, pelo menos três obras importantes de Lenin, Que Fazer? (São Paulo, Editora HUCITEC 1978), A Revolu{ão Proletária e o Renegado Kautski (São Paulo, Gráfico-Editora Unitas Ltda., 1934) e ADoença Infantil do Esquerdismo no Comunismo (Vitória, 1946). Estas leituras permitem ir dos "casos clássicos" para os "elos débeis" e salientam a necessidade de não dogmatizar a via revolucionária. O capitalismo e o imperialismo geram o "desenvolvimento desigual" e "combinado", ou seja, uma via difícil que torna a necessidade do socialismo ainda mais imperiosa na "parte atrasada" do mundo capitalista. Terceiro, embora tenha ficado de lado a questão da "técnica revolucionária", seria útil pelo menos introduzir uma leitura sobre o assunto. O pequeno livro de Victor Serge, Lo que todo revolucionario debe saber sobre la represión (México, Ediciones .Era, 1972; a edição original é de 1925) parece muito apropriado. Os que pensam que "a revolução se tornou impossível" por causa da repressão terão de mudar de idéia. Toda revolução precisa criar seu espaço político próprio, o que é um desafio especial no que respeita à revolução proletária, que só se desencadeia e deslancha após a conquista do poder (e não antes). Por isso, enfrentar e vencer o terrorismo de Estado nunca é fácil, esteja-se na Rússia tsarista ou em países da América Latina da época atual.
O "grande debate", para muitos, está na inviabilidade da revolução proletária sob o capitalismo financeiro e imperialista. Parece, a muitos, que o Estado capitalista abre-se para baixo e resolve pelo menos os problemas e as necessidades centrais da massa da população trabalhadora. Além disso, esse capitalismo teria criado um Estado democrático que permitiria uma cultura cívica acessível não só à participação operária mas, ainda, a um amplo controle do poder político estatal pela "maioria". A vasta gama de assuntos pode ser apreciada em André Gorz, Estratégia Operária e Neocapitalismo (Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1968, esp. pp. 9-25) e, de uma forma mais refinadamente doutrinária, em Norberto Bobbio e outros, O Marxismo e o Estado (Rio de Janeiro, Graal, 1979) e em Eurocomunismo e Estado, de Santiago Carrillo (Rio de Janeiro - São Paulo, D IFEL, 1978). No livro organizado em função de Bobbio aparece, aqui e ali, uma defesa coerente da "tradição" marxista. No entanto, convém tomar uma posição de luta intransigente, que defenda uma postura verdadeiramente revolucionária dentro do marxismo. Dois livros respondem, de forma diferente, a essa necessidade: Étienne Balibar, Sobre La Dictadura dei Proletariado (México, Siglo Veintiuno Editores, 1977) e Ernest MandeI, Crítica do Eurocomunismo (Lisboa, Antídoto, 1978). Os dois livros são igualmente esclarecedores. O primeiro revitaliza a versão marxista-Leninista da revolução; o segundo realiza uma excursão complexa sobre as várias vias da socialdemocratização do comunismo. Por isso, tornam-se tão importantes para os que não vêem outra saída para a crise do capitalismo que a indicada por Marx e Engels no Manifesto.
Quanto à América Latina e ao Brasil, apresento uma extensa bibliografia em A Revolução Burguesa no Brasil (Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1975). Há evidente interesse, por exemplo, em se aproveitar ensaios como os de Manuel Castells, Ruy Mauro Marini ou Carlos Altamirano sobre a revolução chilena. Todavia, até o presente, apenas Cuba logrou romper o rosário das pseudo-revoluções e das revoluções "interrompidas" das classes dominantes. Por isso, o caso da Revolução Cubana merece atenção especial do leitor. Como ponto de partida, poderia usar o meu pequeno livro Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana (São Paulo, T. A. Queiroz, Editor, 1979). O capítulo lII, especialmente, oferece uma boa base factual e interpretativa para a comparação de Cuba com outros países da América Latina e para se entender como os guerrilheiros foram beneficiados e souberam aproveitar uma situação revolucionária que se constituiu e se agravou ao longo de uma larga evolução histórica. A bibliografia concatenada no fim do livro deve ser aproveitada seletivamente pelo leitor. Como se trata de uma combinação singular de situação revolucionária e revolução, recomendo insistentemente a todos os que queiram aprofundar seu conhecimento sobre as revoluções proletárias de nossa época que leiam com cuidado (e que releiam) as principais obras sobre a Revolução Cubana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário