(por
Runildo Pinto)
A
pretexto da mudança de época que vivemos, o que se pode aproveitar
é o embate, que pouco temos visto entre os intelectuais na virada do
século. E, é por isso, que Noam Chomsky se propõe ao enfrentamento
com o filósofo Esloveno. Porque é muito difícil levar a sério as
"divagações" de Slavoj Žižek, que tenta concatenar "o
morto com o morto-vivo", bem característico da fase de
transição que vivemos - do modernismo para o pós-modernismo -,
onde nada se conceitua, tudo se concretiza e se esfacela no momento
próximo. Mais parece uma especulação, um pseudo-marxismo, do que
propriamente um pensamento dialético sobre o que compõe todo o
movimento da globalização, do neoliberalismo, do descolamento das
pessoas da superestrutura (o conjunto das ideologias religiosas,
filosóficas, jurídicas e políticas de determinada classe social).
Não é difícil
saber que há classes sociais, que há o poder de uma classe
dominante e portanto, luta de classes, mas, é muito difícil
detectar como a dinâmica social geral, e sob o domínio da classe
dominante hegemônica na ampla maioria dos países, que transformou a
sociedade num condução fragmentada de grupos e processos
direcionados pelo fetiche da mercadoria. Há imensos obstáculos para
se detectar a totalidade e protagonizar a unidade em uma composição
social esquizofrênica e que leva o indivíduo-mercadoria a se tornar
uma ser narcisista e profundamente individualista.
Neste cenário a
dinâmica de forças se contradizem o tempo todo, entre sentimentos e
emoções que se misturam e se transferem através das relações com
a mercadoria, fazem as intimidades virem a ser "extimidades",
e a se esgotarem em simulacros de uma vida fugaz, isto é: em
inter-humanidades superficiais, banalizantes em sujeitos medíocres.
É nesse lugar onde aparece o Sr. Zizek! Surge entre ansiedades e
carências de uma sociedade sem referências palpáveis e seguras,
por isso a grande aceitação de suas pseudorreflexões, parecem mais
uma alegoria sensorial, uma transmissão de sensações que não se
conectam, não se apresentam como concretas à vida, e não elabora
com seriedade comportamentos e os processos mentais da sociedade sem
incluir a evolução das classes sociais, do sistema econômico e
político. É o malabarista que encanta pela sua suposta
criatividade, onde, em vez de conectar, filosofia, psicologia,
sociologia, economia e política, faz a desconexão destes, por sua
vez descarta os valores do modernismo na sua totalidade e embarcam
na incerteza de supostos valores que o pós-modernismo pode, a seu ver, estar
embrionado e não estão elaborados, pois vivemos, hoje, com um
pé no modernismo e outro no pós-modernismo.
Há uma
confusão, uma abundância excessiva, exacerbada de liberalismo que
faz com que a sociedade tenha uma falsa sensação de liberdade e
por outro lado careça de estudo crítico (percebam a péssima
qualidade das Universidades), profundidade e aplicação efetiva da
inteligência para o bem comum. O que tem predominado é a esperteza,
em torno de uma mercado movido pelo fascínio da revolução
tecnocientífica, que fez da tecnologia, das telecomunicações o
domínio da política e de uma poderosa força de persuasão da
sociedade mundial por cliches, repetições globalizadas
e como consequência a despolitização generalizada.
Zizek e outros
querem ser protagonistas, aparentam e se autoproclamam donos de uma
"nova dialética, de um novo marxismo", mas padecem na
critica infundada fazendo projeção de uma imagem cultural emergente
fundida em uma visão quimérica a que oferece o sonho bom ou a uma
imaginação exaltada refletida no espelho. Oswaldo Giacoía Jr.
ajuda a esclarecer essa postura: "justamente ai se sacraliza o
profano e aparece o fundamentalismo, no nosso caso, drasticamente sob
a forma do hedonismo que atravessa uma sociedade de consumo
ininterruptamente reposta por uma necessidade de mais consumo e
entretenimento e diversão". E nada mais são, Zizek & Cia,
do que niilistas, mas, não biliosos agarrados aos valores falecidos,
o que há é uma tentativa de escapar do niilismo, uma tentativa de
transformar os valores peremptos em novos valores. Mas eles se perdem
na própria ideologia neoliberal, prestem atenção "neo",
com a intenção de inovar a imaginação política contemporânea,
Zizek em seu livro, "Primeiro como tragédia, depois como
farsa":
A compreensão acertada da existência: “da possibilidade real de que a principal vítima da crise em andamento não seja o capitalismo, mas a própria esquerda, na medida em que sua incapacidade de apresentar uma alternativa global viável tornou-se novamente visível a todos”. Outra questão a ser salientado no livro, a proposta de recuperação da “ideia do comunismo”. Como se não fosse mais possível olhar para trás e, levando em conta os fracassos, pensar em maneiras novas de recuperar tais momentos nos quais o tempo para e as possibilidades de metamorfose do humano são múltiplas. Como se não pudéssemos colocar a questão: não é necessário, muitas vezes, que uma ideia fracasse inicialmente para que possa ser recuperada em outro patamar e, enfim, realizar suas potencialidades? Quantas vezes, por exemplo, o republicanismo precisou fracassar para se impor como horizonte fundamental de nossas formas de vida? A pergunta que Žižek quer colocar é: não seria o mesmo com a “ideia do comunismo”? (do texto de Vladimir Safatle)
Apresentando suas ideias, desta maneira, parece que Zizek não ganharia credibilidade pelos caminhos do mundo, por parte da mídia, da direita, dos oportunistas, dos apartidários, apolíticos e dos intitulados pensadores contemporâneos, descompromissados com o passado histórico, que segundo eles, o deixaram no seu devido lugar, arrancando as raízes da dialética e a colocando na lata de lixo do fim da história. Estes são os iluminados que se consideram “edificadores das novas estruturas” contemporâneas. Por isso, o Sr. Zizek, desfruta de grande inserção e popularidade.
A questão
levantada por ele está correta, o problema é que ao mesmo tempo faz
o caminho inverso: Zizek, faz uma crítica contundente, e nada
construtiva, aos processos políticos desencadeados na América
Latina, primeiro com Cuba e sua revolução que se mantém em plena
globalização em andamento, apesar da queda da URSS, depois a
Revolução Bolivariana, na Venezuela, Bolívia, Equador. Quando diz que a esquerda é principal vítima da crise do capitalismo, nega
toda e qualquer possibilidade de resistência e a possibilidade de
reorganização da esquerda, por consequência, dá grande
credibilidade as manifestações denominadas primaveras Árabes e
recentemente a do Brasil, de repercussões e futuro duvidosos. Ele, a
principio, se mantém coerente dá respaldo a questões indefinidas e
apócrifas, a saber, estanca a possibilidade da via revolucionária
abrindo brecha para uma concepção que procura desqualificar esses
movimentos de esquerda na América Latina, que acontecem por dentro
da globalização.
Por essas
motivações Noam Chomsky, acertadamente, o ataca com veemência,
apresentando que a teoria do Sr. Zizek é falsa, não merece
confiança e credibilidade. Portanto, a afirmação do linguista, de que
não há nenhuma possibilidade de encontrar em todo o trabalho do
filosofo Esloveno alguns princípios a partir do qual você pode
deduzir conclusões e proposições empiricamente testáveis, é
pertinente.
Bom texto Runildo.
ResponderExcluirGostaria também de assinalar os descompromisso de Zizek em relação a atuação política.Seus posicionamentos são característicos de um acadêmico, enquanto precisamos de opiniões políticas e contundentes, assim como ações.
Ele levanta algumas questões importantes mas sua premissas relacionadas de forma equivocada as categorias relacionado ao mal, bem estilo de Ana Arent e a do Estado totalitário, que vem do fascismo que o liberalismo, onde não tem as classes sociais, partindo para uma sociedade de indivíduos totais, ou seja, e concordo com o Manrangoni, há um liberalismo total. Essa é a face do Zizek
Excluir....obrigado Runildo......por me esclarecer.....nunca li Zizek...., obrigado por me poupar....não vou nem perder o meu tempo....., se Avran....não gosta....eu também não vou gostar......muito obrigado.
ResponderExcluirInfelizmente temos que ler o Zizek, tem muita influência pós-moderna.
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