Por Rodrigo Lima*
Londres chama para as cidades distantes.
Agora aquela guerra está declarada e a batalha começa.
Londres chama para o submundo.
Saiam do armário todos os garotos e garotas.
Londres chama, agora não olhem pra nós.
The Clash
Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.
Brecht
Os grandes meios de comunicação mundial tem repercutido desde o último sábado a forte onda de violência que se espalha feito rastilho de pólvora na Inglaterra. Originadas no bairro popular de Tottenham, no norte da capital, os confrontos se espalharam para as demais regiões, e para o centro da cidade, já tomando as ruas de cidades como Liverpool, Leeds, Manchester e Birmingham.
A imprensa burguesa tem atribuído os conflitos como um ataque de hordas de criminosos e delinqüentes, procurando vincular as causas da violência e do caos a diversidade étnica presente na periferia de Londres, criminalizando africanos, caribenhos e latinos como os grandes responsáveis pelas manifestações que vem se intensificando no país. Nada mais “natural” por parte da grande mídia em tempos de xenofobismo e racismo crescentes no velho continente.
A ferida que a imprensa burguesa e o governo britânico não querem tocar é no fato de que o estopim dessa revolta, não se deve ao assassinato de um trabalhador pelas mãos da polícia. É na verdade um reflexo dos efeitos da crise e das medidas de ajuste fiscal tomadas pelo governo conservador de James Cameron, que simplesmente produziu a maior contenção de gastos públicos pós-Segunda Guerra Mundial. Essa política fez aumentar o desemprego, que tem afetado sobremaneira os jovens e os imigrantes. A combinação de altas taxas de desemprego somadas aos cortes nas áreas sociais é uma receita explosiva que fez ferver um caldo de revolta adormecido na periferia da cidade. Somem-se a isso os elevados gastos em obras para as Olimpíadas de 2012 que já chegam à quantia de R$ 23,5 bilhões, e a bomba está pronta
Muito se tem noticiado sobre as revoltas, ocorridas na década de 1980, em bairros populares de Londres. Há certamente uma linha que unifica estas manifestações com as ocorridas atualmente. As políticas governamentais da Dama de Ferro e as de Cameron têm mais semelhanças que diferenças. Os jovens trabalhadores de hoje se deparam com um cenário de poucas perspectivas de trabalho, educação e lazer no curto e no médio prazo. A válvula de escape é a violência.
Como uma onda estas manifestações tendem a se intensificar, colocando em xeque o aparato policial inglês e o próprio sistema. Mas sem uma direção política revolucionária do movimento, ele tende a ser rapidamente contido e reprimido. Não se pode super-estimar essa revolta como um principio de revolução social ou algo do gênero. Ao contrário das manifestações juvenis presenciadas na Primavera Árabe, na Grécia, na Espanha ou no Chile, que apresentam um programa mínimo de reivindicações, as manifestações inglesas primam por um caráter espontaneista, que dificilmente refletirá em um acúmulo na organização dos jovens trabalhadores da Inglaterra.
Porém, por outro lado, estas mobilizações mostram o poder que os jovens têm em suas mãos. Que quando se voltam contra o sistema podem colocá-lo em crise, revelando suas mais profundas contradições, que muitas vezes permanecem adormecidas e ofuscadas pela ideologia dominante. Quem sabe estes dias de caos e desordem na terra da Rainha não plante algumas sementes nas possibilidades de organização da juventude contra um rio chamado capitalismo, que em épocas de crise faz suas margens reprimir e sufocar ainda mais as possibilidades de emancipação da juventude e da classe trabalhadora.
Cabe aos jovens ingleses fazerem este rio transbordar de revolta organizada, que possa, quem sabe não só sacudir as bases do sistema, como fazê-lo cair de seu pedestal, em uma perspectiva de um novo modelo de sociedade, o Socialismo.
Mas para isso não bastam palavras, é preciso organização, é preciso teoria, e é preciso prática. Com certeza nesse último quesito, as batalhas que se travam nas periferias da Inglaterra e do Mundo servem como uma grande escola para as mudanças que a juventude e os trabalhadores tanto precisam construir.
*Coordenação Nacional UJC
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