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O que pretende Barack Obama ao escolher o general James Jones, conhecido na intimidade das casernas como o general “Jim Jones” - em referência a um norte americano fanático religioso, homônimo do general, que ordenou o assassinato de 909 fiéis em 1978 na Guiana - para ser seu estrategista na delicada área de segurança nacional dos Estados Unidos?
A biografia do general não é muito animadora – para se dizer o mínimo – em relação à defesa da soberania nacional dos países. Sequer é animadora para a mídia convencional e aos adeptos do politicamente correto, que, durante a campanha eleitoral, viram em Obama uma espécie de mentor de uma nova “revolução americana”. Tanto é assim que a recente (em agosto último) presença deste general Jim Jones na América Latina deixou setores progressistas e mesmo os democratas americanos preocupados, quanto ao ideário da política de defesa, que o novo titular da assessoria de segurança nacional está desenhando para a Casa Branca.
Mais que isso, demonstrando o espírito imperialista que permeia integralmente a sociedade de seu país, mesmo depois da crise, que abalou boa parte de seu modelo de vida e que principiou o fim do sonho americano, o estabilishment dos Estados Unidos mais uma vez inicia um novo governo cercado pelas velhas fórmulas. Retorna ao passado: com propostas, discursos e comentários intervencionistas em relação a outros países, prossegue com a instalação de bases militares na Colômbia, intensifica a guerra no Afeganistão, discurso contra os eternos inimigos dos Estados Unidos e adota uma política agressiva do conceito de defesa da segurança nacional.
Mas, afinal, o que há de semelhanças entre o general James Jones com seu homônimo e falso profeta Jim Jones que provocou aquela grande tragédia religiosa em 1978?
A primeira delas é que ambos serviram no corpo de mariners dos Estados Unidos. Tropa de ataque usualmente utilizada para “defender os interesses americanos em escala mundial”. Para bom entendedor, tropas para intervenções em outros países. Mais interessante que, James e Jim serviram entre o mariners à mesma época: final dos anos 60 e início dos 70, em plena Guerra do Vietnã, um dos momentos culminantes do militarismo americano no século 20.
A segunda similaridade é a grande agressividade verbal, que o general utiliza (e o profeta falsário utilizava em suas pregações) contra seus inimigos e na capacidade de comandar e dirigir com severidade seus comandados, no caso do general. E, por sua vez, manipular e explorar seus seguidores, no caso do homônimo Jim Jones. Ambos sem quaisquer tipo de problemas de manter uma fala mansa, mas contundente contra seus inimigos e aqueles que se rebelavam contra sua autoridade. Em ambos os casos, os comunistas. Mas também aqueles por ele considerados inimigos do país, no caso do general. E os inimigos de sua pretensa religião, por parte do pseudo-profeta Jim Jones.
O general James Jones é também tido na esfera política americana como representante da linha dura no Pentágono e o estabilishment de defesa o tem como um de seus principais interlocutores. Inclusive, é visto como muito próximo daqueles setores denominados falcões, militares que consideram estratégicas as ações ditas anti- terroristas em escala mundial e que, por conta destas, se beneficiam do comércio de armas e tecnologias militares. Afinal, ninguém é de ferro! Esta postura de falcão é outra das razões que justificam o fato do general levar consigo e em sua biografia o apelido de Jim Jones.
Esta carreira militar entre os mariners por 40 anos o tornou um defensor de intervenções externas. Nunca é demais lembrar que, há muitas ações intervencionistas através da força de mariners dos Estados Unidos pelo mundo afora. Enumeram-se entre outras nos últimos 40 anos: as presenças no Vietnã, Barbados, Panamá, Guerra do Golfo e no próprio Iraque. Além de estarem acantonadas nas centenas de bases americanas espalhadas pelos cinco continentes.
James Jones – ou se se preferir Jim Jones - é a face oculta do governo Obama, uma espécie de alter-ego. Enquanto o Presidente discursa “em defesa de pobres” e abraça crianças nas ruas americanas, já ao assumir o cargo, dinamiza o processo de estabelecimento de bases militares na Colômbia, ameaçando o equilíbrio político e tentando militarizar a América do Sul seguindo as orientações do seu Jim Jones
Uma passada de olhos nas gestões internacionais atuais do general James Jones revela que este dá continuidade aos conceitos de defesa nacional e da luta anti-terrorista do republicano Bush, que se tornou uma ameaça permanente à paz mundial. O general, antes mesmo de assumir, fez questão de discursar na associação dos veteranos de guerra americanos, antro da direita americana, onde como não poderia deixar de ser, atacou os inimigos externos do Estados Unidos pela ordem: as organizações “terroristas islâmicas”, o Irã, o governo de Cuba, Hugo Chávez e a Coréia do Norte. Aproveitando o ensejo, defendeu a invasão do Iraque e a intervenção no Afeganistão.
Os admiradores de Obama podem refletir sobre a nova política externa norte americana a partir das palavras e intervenções verbais do general Jim Jones. Um dos exemplos dessa “nova” concepção foi dado recentemente no Brasil, quando declarou que: “Hugo Chávez preocupa muito o governo americano”. E, simultaneamente, defendeu a presença militar dos Estados Unidos na terra de Uribe, a Colômbia.
Mais incisivo e acusador sobre o assunto foi à imprensa estrangeira no final de agosto em entrevista coletiva, na qual afirmou:
“Há evidências do transporte de armas da Venezuela para as Farc. E Chávez, não ajuda o esforço de paz e de segurança da região”, afirmou Jim Jones em reunião com jornalistas em Washington. Simultaneamente, este Jim Jones afirma que a presença de soldados americanos na Colômbia não afetará a segurança nacional colombiana, nem de seus vizinhos, do Brasil inclusive.
Ao falar em soberania nacional, o Jim Jones atual opta por discutir vendas de armas e tecnologia militar. Para ele, estas serão parcerias estratégicas e que, os Estados Unidos procurarão o Brasil para parceiro nos principais acordos militares na América Latina.
Para reforçar seu ponto de vista, trouxe em sua comitiva dois subsecretários de estado, ambos provenientes do Pentágono. A função dos dois é vender armas e tratar de assuntos relativos à transferência de tecnologia militar.
Em síntese, Obama, com seu Jim Jones, em política externa quer se comportar igual ao outro Jim Jones, o ”profeta”. Seu representante para segurança nacional ameaça governos eleitos constitucionalmente, reelege o “terrorismo internacional islâmico” como seu inimigo principal e esquece o discurso sobre a retirada do Iraque. Igualmente ao outro Jim Jones, que instalou no final dos anos 70 uma colônia, que explorava o trabalho escravo e fanatizava seus seguidores, dominando-os pela força, Obama se coloca dentro do viés da militarização e das intervenções para garantir a hegemonia americana. É mais uma prova real de que qualquer político representante dos Estados Unidos nos moldes atuais capitalista, não importando sua origem social, ao se sentar na cadeira mais alta do Salão Oval na Casa Branca desempenhará por definição o script traçado pelo imperialismo.
Rui Veiga é jornalista
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