Por Runildo Pinto
12/09/2008A encruzilhada bolivariana
O povo boliviano está colocado no ponto nevrálgico da encruzilhada histórica, de um lado um projeto de caráter popular de raízes indígenas e de outro, as elites brancas que por toda história estiveram acomodadas sobre as riquezas naturais, principalmente o gás no território boliviano, como monopólio da classe burguesa. Esse é um conflito provocado por políticas anti-neoliberais que o governo Evo Morales justamente procura implantar, deste modo contraria os interesses das oligarquias bolivianas. O momento é propício pela conjuntura internacional (eleições e crise da economia norte-americana, conflitos Russia-Geórgia, crise energética e movimentos nos países bolivarianos) e interna, que o governo incorpore a condição de vanguarda e amplie o máximo a mobilização popular e almejando reformas mais ousadas.
Ter a clareza que qualquer transformação pretendida passa por um conflito com a nação imperialista estadunidense e para esse enfrentamento é necessária a unidade bolivariana, isto é: uma solidariedade de ações práticas com a Venezuela, Equador, Nicarágua, Cuba, Paraguai; como forma de inibir uma ação efetiva dos Estados Unidos na região. O Presidente Chávez, enxergou essa perspectiva e assumiu uma posição, expulsou o embaixador estadunidense e colocou seu exército à disposição. Evo Morales deve usar de cautela, mas não recuar, nas ações que o momento político exige, e o que a conjuntura suscita e avance no interior do conflito para superá-lo com a vitória do povo, em sua magnitude realista. Em primeiro lugar ter uma agenda política clara para levar a feita a mobilização da população e garanti-la à consciência dos bolivianos. A segunda da necessidade de concretizar o nascimento de uma nova forma societária na Bolívia, pois, se a burguesia vencer estará colocando o povo no ostracismo mais atroz. Lê-se que as elites não estão dispostas a respeitar qualquer expediente democrático, por mais amplo e plural que se empenhe, para resolver o impasse na ordem institucional. A classe dominante não está disposta a aceitar qualquer derrota nesse campo e muito menos quer saber de ampliar os direitos do povo.
A postura do Brasil
O governo brasileiro já sinalizou sua postura, a de mediar o embate. Essa é a condição que o Brasil tem imposto, ou seja, reafirmar sua política externa apresentando-se como a "grande potência" sul-americana. Mediar é uma manobra de habilidade para manter-se neutro, diante dos conflitos e garantir sua conivência e submissão ao governo dos Estados Unidos da América.
O Presidente Evo Morales deve cobrar do governo brasileiro uma atitude e não aceitar a neutralidade. O governo do Brasil tem colocado por inúmeras vezes os Bolivarianos em desvantagem no cenário político internacional, uma condição de oposição às políticas anti-neoliberais, principalmente da Venezuela, Bolívia e Equador.
Essa combinação política oportunista brasileira diante da situação de antagonismo político e ideológico que acontece na Bolívia coloca o governo boliviano vulnerável e a mercê da burguesia deste país. Enquanto o Brasil é o único que consolida sua política de manter-se aparte dos demais, desautorizando e depreciando a unidade latino-americana, proposta pelo movimento Bolivariano, como política externa adotada para combater o neoliberalismo no continente.
Consolidar a resistência contra o neoliberalismo
Os principais bastiões de apoio ao imperialismo estadunidense é a diplomacia Brasileira, a Colômbia armada (a Israel da América do Sul) e Peru na versão mais comum, a da submissão. Somente uma coordenação do movimento Bolivariano: Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua, a adesão do Paraguai com os movimentos sociais de todos os países, poderá consolidar uma operação realmente capaz de mudar geopolítica na América do Sul e Caribe.
Para ferir o neoliberalismo de morte é preciso de uma luta globalizada e o campo de batalha, para começá-la, está dado: a América Latina e Caribe devem lutar potencializando propostas que resgatem a moral identitária dos povos contra a desqualificação das culturas, isto não é retroceder na história, mas avançar para uma outra globalização, solidária que respeite a soberania e a estabeleça a unidade política e econômica, e que impeça a desqualificação da natureza histórica peculiar destes países. Caso contrário a globalização neoliberal dissolverá suas características, seus costumes; essas civilizações perderão seu legado para o livre comércio, capitaneado pelas grandes corporações empresariais, artificializando a vida e concretizando em cada rincão a lógica do mercado, retirando a realização de um dever moral e social, o conteúdo humano da reprodução da vida e a razão intrínseca dos meios de produção.
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